sexta-feira, 18 de agosto de 2017

A indústria rumo à extinção

POR DOMINGOS MIRANDA
“Um país com 200 milhões de pessoas, quase continental, pode sobreviver sem indústria? Seremos um país no futuro ou um grande shopping center?” Quem disse estas palavras foi Benjamin Steinbruch, diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional e diretor da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Ele é uma das poucas vozes empresariais que vem criticando a desindustrialização do Brasil. Na década de 80, a indústria representava 25% do PIB nacional e hoje não ultrapassa 9%, o mesmo patamar de 1947.

O que chama a atenção é o comodismo dos industriais. No passado ouvíamos as vozes de um Antônio Ermírio de Morais ou de José Alencar da Silva (vice de Lula) fazendo severas críticas aos juros abusivos que beneficiam o rentismo em detrimento do setor produtivo. Hoje, Steinbruch se transformou numa voz solitária clamando no deserto.

Em Joinville, o maior centro industrial de Santa Catarina, as lideranças do setor não se manifestam com contundência sobre o assunto. O último grande protesto dos empresários foi há mais de uma década contra a possível volta da CPMF. Dos políticos, o único que tem se manifestado é o deputado Darci de Matos. Em maio de 2015 ele escreveu: “A alta taxa de juros aliada com uma infraestrutura caótica e carga tributária elevadíssima acabam tirando a competitividade da indústria brasileira. Isto não pode continuar assim. Antes que seja tarde, temos o dever de formar um movimento nacional para salvar a nossa indústria”.

Uma das razões deste comodismo dos industriais é que muitos deles também praticam o rentismo. Ficou mais fácil investir em aplicações, que trazem retorno alto e garantido, do que correr o risco de ampliar a produção da empresa, tendo que se endividar com os bancos. Há ainda uma outra anomalia. Empresas transformam-se em maquiladoras: importam o produto pronto da China e apenas colocam o rótulo como se fosse produto nacional.

Se o país quiser angariar respeitabilidade é preciso ter indústrias de ponta. Estamos voltando ao que éramos na primeira metade do século passado,  um grande exportador de comodities. A situação tende a piorar porque o Brasil está reduzindo as verbas para a área de pesquisa e desenvolvimento.

Para a população, este é um assunto que tem pouco interesse. Os consumidores buscam os produtos e pouco importa se na etiqueta esteja escrito Made in Brazil ou Made in China. Um pouquinho de nacionalismo nesta área vai bem. Só para se ter uma ideia do desmonte industrial, atualmente somos um dos maiores exportadores de minério de ferro, mas importamos a totalidade dos trilhos usados em nossas ferrovias. Só não se indigna com isso quem tem o coração de ferro.

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Extrema Esquerda x Extrema Direita


Cabeça cortada. 1 ano.


O nazismo de esquerda e gente que odeia pensar

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Faz muitos anos, quando ainda vivia em Joinville, ouvi um radialista da cidade dizer que o nazismo era de esquerda. O “jênio” chegou a essa conclusão porque Adolf Hitler pertencia ao Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Se tinha socialismo no nome, não havia dúvidas. O cara levou essa lógica ao limite e associou o ainda recente Partido dos Trabalhadores – que ele odiou desde a primeira hora – ao nazismo.

A afirmação só podia provocar risos, claro. Entre uma gargalhada e outra pensei comigo: “por sorte é só esse apoucado a aparecer com essas ideias... ninguém vai levar a sério”. E eis que mais de 20 anos depois a coisa volta a ganhar corpo. E com força. Há mesmo gente em acesos debates por causa dessa não-questão. Só em países como o Brasil, onde ninguém estuda história, esse tipo de discussão tem pernas para andar.

Não vou entrar na discussão, claro. O tema não merece um minuto do tempo de ninguém. É como entrar num debate com alguém que defende a tese de que a Terra é plana. Não faz sentido. Um debate pressupõe dois lados a argumentar e este é uma daqueles casos em que dois monólogos não fazem um diálogo. É perda de tempo quando os argumentos de um lado são respondidos pelo outro lado com clichês mal amanhados.

Mas não resisto a um comentário sobre os tipos defendem essa ideia. É que eles ressurgiram em força depois dos incidentes em Charlottesville, envolvendo militantes de extrema direita seguidores de ideais nazistas. Quem defende a maluqueira de que o nazismo é de esquerda? A turma do ódio. A turma que odeia história. A turma da escola sem partido. A turma que acredita no MBL. A turma que se “informa” pelo Facebook.

Há mais ou menos aquilo que Kostas Axelos chamou “rejeição do pensamento”. O cenário é de ascensão do anti-intelectualismo. A rejeição do pensamento invade as redes sociais e ganha contorno de uma estranha “ciência”: é tudo ao contrário. O que a pessoa não entende - e não quer entender por imperativo ideológico ou abulia intelectual - é o que ela chama esquerdismo. Enfim, é gente que se recusa a pensar.

Eis um detalhe interessante: o Brasil deve ser um dos poucos países do mundo onde a palavra “esquerdista” é usada como ofensa. No mundo civilizado não é assim. Muito pelo contrário. O mais deprimente é que essas hordas que pululam nas redes sociais são incapazes de perceber a própria ignorância. Porque não perceber o processo de subjetivação-sujeição é parte do próprio processo. Enfim, uma pescadinha de rabo na boca (o eterno retorno).

É a dança da chuva.