quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Peça de teatro em um ato: um projeto para Fakeville

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

ATO I
Sobe a cortina. Vereador de Fakeville está reunido com assessores. A sala está à pinha porque, afinal, é preciso ter um batalhão de assessores a pensar na cidade e no bem-estar dos cidadãos.

Vereador -  Minha gente, preciso de ideias. Quero deixar uma marca pessoal nessa minha passagem pela Câmara de Vereadores. Alguma sugestão? Algo que agrade ao maior número de pessoas...
Estagiário rindo à bandeira despregada – Diga que vai se demitir... uah uah uah.
Vereador – Seu animal. A tua sorte é que tu tem as costas quentes. Só te aceitei aqui porque tive que fazer um favor ao meu cumpradre. Mas pisa miudinho...
Assessor de imprensa – ... por falar em animal, isso pode ser uma boa ideia. O pessoal não é louco por cães e gatos nas redes sociais. É só pôr uma foto de um bichano que as curtidas viram uma loucura. Filhotinho de cão, então, nem se fala.
Vereador – Bem pensado. Tu é um daqueles caras que valem o dinheiro dos impostos dos contribuintes. Vamos a isso. Que tal criar o Dia do Bicho de Estimação?
Assessora jurídica – Não quero jogar água no chope de vocês, mas já existe uma semana da Proteção dos Animais, que é coisa bem parecida.
Vereador – Puta que o pariu. Quem a besta que apresentou o projeto?
Assessora jurídica – O líder da oposição...
Vereador – E vocês não me avisam? Seus incompetentes. Fiquem a saber que este mês vou ficar com uma parte dos vossos salários só de sacanagem.
Assessor de imprensa – Não pode, vereador. O senhor já leva essa grana faz tempo.
Vereador – Ah... e tu, seu incompetente, deixou essa merda chegar à imprensa. Imagine que até aqueles caras lá do Chuva Ácida ficaram a encher o saco.
Assessora jurídica – Processa...
Vereador – Melhor não. Sacomé... gato escaldado...
Assessor de imprensa – Que tal do Dia do Torcedor do FEC – Fakeville Esporte Clube? Quase todo mundo na cidade torce pelo time.
Assessora jurídica – Já existe e acho que é coisa do próprio FEC. E o prefeito diz que as coisas do time são área de propaganda dele.
Vereador – Porra, assim não dá. Quero ideias, seus incompetentes...
Aspone – Que tal o Dia do Colunista da Imprensa Cor de Rosa?
Vereador – Explica...
Aspone – Todo mundo gosta de sair nas colunas de notícias cor de rosa. Mesmo os pobres, que nunca aparecem, gostam de saber por onde andam os ricos...
Vereador – Claro. É perfeito.  Como não pensei nisso antes? Já para os vossos gabinetes e comecem a trabalhar no projeto. Agora vai...


P.S. – Este ato de uma peça de teatro é mera ficção. Qualquer semelhança com personagens da vida real terá sido mera coincidência.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A prova dos nove de Udo Dohler


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Podia escolher outros fatos. Mas vamos focar apenas alguns pontos específicos para fazer uma análise do governo de Udo Dohler. O resultado não é bom, porque no frigir dos ovos a obra realizada até este momento está muito aquém das expectativas criadas. E antes de mais nada, deixo claro que ninguém pode duvidar que o prefeito esteja a fazer o seu melhor. Mas esse melhor parece ser pouco, muito pouco. Então, vamos à prova dos nove.

1.     Udo Dohler passou, para os eleitores, a ideia de que não era um político como os outros. Insistiu-se na imagem de um craque da gestão que ia pôr a cidade nos eixos. Só que mal assumiu e acabou refém do que há de mais atrasado na política da cidade: pressões por cargos, joguinhos de poder, o tráfico de influência. O político veio à tona, o gestor submergiu.

2.     “Não falta dinheiro, falta gestão” foi o mote da campanha. Mas não demorou a surgirem as primeiras lamúrias (ainda hoje persistentes) sobre o fato de não haver dinheiro. Lembro de ter ouvido, no início do ano, um secretário a dizer, numa rádio da cidade, que só haveria dinheiro se viesse do Governo Federal. É a única saída?

3.     Aliás, não deixa de ser estranho, para uma cidade que precisa da grana de Brasília, que o vice-prefeito tenha arroubos juvenis e viva a pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Já escrevi aqui que essa falta de sentido de Estado pode ser prejudicial para a cidade. No entanto, ninguém ouviu falar que o prefeito tenha dado um puxão de orelhas no seu vice, a pedir mais contenção.

4.     A promessa de uma Joinville para o ano 2030 esbarra nas ações concretas. A LOT – Lei de Ordenamento Territorial continua a ser torpedeada por pessoas preocupadas com a mobilidade, o meio ambiente e a qualidade de vida. Não dá para entender, por exemplo, essa coisa da construção de prédios altos, de 20 andares ou algo parecido. As cidades do futuro caminham em sentido oposto. O prefeito deve ser fã do filme "Blade Runner". A cidade de Rick Deckard, o caçador de androides, parece inspirar o seu ideal de futuro. Prédios enormes, nenhuma área verde, ambiente sufocante. Aliás, nem Deckard gostaria. Porque a última cena da edição original do filme mostra um voo sobre uma floresta, onde sobressaem o verde e o ar puro.

5.     Joinville tornou-se uma cidade de maquetes, de 3D e de ozalids. Quem nunca viu o filme em 3D da duplicação da Santos Dumont, com canteiro central, ciclovia, rotatórias e elevados? E que tal lembrar a maquete da ponte que liga o Adhemar Garcia ao Boa Vista? E a planta da proposta de ampliação da Arena Joinville? Qual dessas obras está realizada? Pergunta retórica.


6.     Udo Dohler sempre salientou a expertise no setor da saúde. E o que acontece? Falhas atrás de falhas. Nem é preciso uma análise exaustiva. Basta lembrar uma nota do jornalista Jefferson Saavedra, publicada há poucos dias: “o Hospital São José é o novo alvo de pressão do Ministério Público na saúde de Joinville. Nesta semana, a promotora Simone Schultz apresentou ação de execução contra a Prefeitura e o hospital alegando descumprimento de parte do acordo fechado em março do ano passado entre duas promotorias e o município de Joinville”. Nem mais.

7.     Outro fato que não passou batido. O anúncio do fim do turno integral para crianças de 4 a 5 anos nos CEIs a partir do ano que vem. É uma medida paliativa que resolve o problema da Prefeitura, às voltas com questões legais e administrativas, mas transfere o problema para os pais trabalhadores. Ora, os administradores são eleitos para resolver os problemas dos munícipes e não para acrescentar mais dificuldades.

8.     Os buracos de rua são um fantasma que persegue a atual administração. Por mais investimentos que haja em comunicação, nem mesmo uma imprensa amiguinha - e não raro submissa -  pode ignorar coisas do cotidiano. Faz poucos dias reeditei aqui um texto em que abordava a questão. Não adianta ter um filme bonito na televisão ou um anúncio criativo no jornal, porque os buracos na rua são muito poderosos e destroem qualquer imagem positiva. Não adianta investir tanto na velha mídia, porque os novos meios digitais, em especial as redes sociais, tomaram o palco para exercer um novo tipo de fiscalização e pressão.

9.     Enfim, o nó górdio. A administração Udo Dohler tem demonstrado ser um deserto de imaginação. Tudo é feito pelos padrões políticos de sempre. Não surge qualquer iniciativa out of the box. Nada surpreende (pelo menos positivamente). Ora, quando falta dinheiro é hora de usar a criatividade. Há coisas simples que podem ser feitas sem muito dinheiro. Mas quando faltam imaginação e criatividade, é a morte do artista.

É a dança da chuva.

P.S. Não venham os comissionados falar em mundos virtuais. Os tempos são outros.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Bipolar.


Não falta dinheiro na Joinville das maravilhas



POR JORDI CASTAN

O prefeito se elegeu com o mote de que não faltava dinheiro, que o problema de Joinville era a falta de gestão. O eleitor foi facilmente levado a fazer a ligação entre a figura do empresário de sucesso e a necessidade de alguém que fizesse uma boa gestão.

Três anos depois, as ruas de Joinville parecem uma praça de guerra. Em alguns pontos os buracos parecem crateras. Praças e espaços verdes estão abandonadas. As filas na saúde continuam escandalosas e só não estão pior pela intervenção do MPSC.  
Fornecedores recebem os pagamentos com atraso, em alguns casos quase meio ano. E o secretário de Infraestrutura admite publicamente que não há recursos para os programas de pavimentação comunitária.

O discurso ufanista da época de campanha deixou lugar a dura realidade do dia a dia. O joinvilense descobre que se não falta dinheiro o que falta mesmo é gestão. E se mostra cada dia mais irritado, porque se sente enganado. Se houvesse um Código de Defesa do Eleitor, muitos joinvilenses estariam neste momento pedindo o seu voto de volta. O discurso de que a prefeitura comprava mal e pagava caro, porque no pagava em dia continua atual. Os problemas na área da saúde tampouco se resolvem.

As metas divulgadas no fantasioso Plano 15 nunca saíram do papel. E a situação não é mais grave porque não faltam recursos para publicidade e a imprensa tradicional. É sensível a generosidade e responde com tanta amabilidade que radialistas e jornais publicam na integra o material produzido pela Secom (Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal), que apresenta diariamente uma imagem idílica e fantasiosa de Joinville.


Na Joinville das Maravilhas se gerenciam com tanta eficiência os problemas que a solução para resolver a falta de vagas nos CEIs é típica desta gestão tecnocrática. Reduzir o horário, acabar com o turno integral e deixar desatendidas as mães que trabalham. Neste quesito faltou além de gestão, planejamento. É difícil encontrar um único aspecto em que esta administração possa deixar saudades.

Em tempo e para que não tudo sejam criticas. Ouve-se que nos próximos dias a Associação Joinvilense dos Borracheiros  autônomos homenageará, no seu baile de gala, o prefeito municipal, O presidente da Associação, Negão da Borracharia, personagem conhecido das redes sociais, declarou recentemente que "nunca na historia de Joinville furou tanto pneu e nunca as borracharias faturaram tanto". 


Pensando bem, as homenagens não devem ficar só nessa. E faço a sugestão. Que tal a Associação dos fabricantes e revendedores de amortecedores deve nomear o Prefeito Udo Dohler seu presidente de honra e fazer-lhe entrega da comenda "Amortecedor de ouro" pela sua contribuição ao desenvolvimento do setor?