POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O leitor e a leitora não têm a obrigação de saber o que é semiologia ou semiótica**. Para resumir, eu digo: é a ciência que estuda os signos. Mas o que é o signo? É aquilo que está lá para significar alguma coisa. E há poucos significantes mais corrosivos para uma administração municipal do que os buracos na rua. Complicou? Então vamos simplificar.
Em termos semióticos, o buraco é mais do que uma simples cavidade no asfalto. Porque projeta outras coisas. Há quem veja desleixo. Há quem veja perigo. Há quem veja incapacidade dos administradores. O poder imagético do buraco é tão forte que se sobrepõe mesmo às grandes obras. Há mais camas no hospital? Perfeito. Mas se estourar um pneu do meu carro num buraco lá se foi a imagem positiva.
Que tal uma comparação? O poder público põe muita fé na força dos anúncios de televisão, por exemplo, para construir uma imagem. Mas não tenho dúvidas de que o buraco comunica muito mais – de forma negativa, claro – do que qualquer filme publicitário. Porque estão no dia a dia das pessoas e podem mesmo ser considerados armadilhas, como tem sido titulado pela imprensa.
Os buracos têm o poder de criar uma semântica própria. E os seus venefícios são transversais, porque atingem tanto o dono da Ferrari, que não consegue pôr o seu bólido a andar, como o dono do Fusquinha, que teme se endividar com o conserto de uma roda, ou mesmo os passageiros de ônibus, que são obrigados a aguentar o sacolejar nas suas deslocações.
E a coisa salta para o cotidiano, para a linguagem das ruas. É fácil introduzir a palavra “cratera” no léxico do cotidiano e aumentar a dimensão imagética do problema. O que dizer quando, numa forma rústica de sinalização, as pessoas põem galhos, para prevenir os motoristas mais incautos? E quando alguém diz que "tem uma rua nos buracos". Ou ainda quando a ideia dos buracos faz a diversão de humoristas mais corrosivos, como mostra a charge do Sandro Schmidt neste texto.
E a coisa salta para o cotidiano, para a linguagem das ruas. É fácil introduzir a palavra “cratera” no léxico do cotidiano e aumentar a dimensão imagética do problema. O que dizer quando, numa forma rústica de sinalização, as pessoas põem galhos, para prevenir os motoristas mais incautos? E quando alguém diz que "tem uma rua nos buracos". Ou ainda quando a ideia dos buracos faz a diversão de humoristas mais corrosivos, como mostra a charge do Sandro Schmidt neste texto.
Dizem que o diabo está nos detalhes. E os buracos das ruas, parecendo detalhe, na verdade são essenciais para detonar a imagem de qualquer administração pública. E não adianta dizer que o material de pavimentação é bom e que o trabalho é feito de forma diária. Porque enquanto estiver lá, o buraco está a comunicar contra o prefeito. Vou extrapolar: 10 buracos comunicam mais que um jornal inteirinho.
Ok, admito que não entendo de asfalto, de lençóis freáticos ou de trânsito excessivo. Mas entendo de construção de imagem e não tenho dúvidas de que é preciso fazer mais e melhor. Os buracos são outdoors com publicidade negativa. E ter essa percepção não é culpa minha. É da semiologia.
É a dança da chuva.
* Adaptação de texto publicado originalmente no jornal AN em janeiro de 2014. A intenção é mostrar que pouca coisa mudou desde então.
** [Linguística ] Ciência dos modos de produção, de funcionamento e de recepção dos diferentes sistemas de
sinais de comunicação entre indivíduos oucoletividades . = SEMIÓTICA
** [
sinais de comunicação entre indivíduos ou