sábado, 23 de maio de 2015
sexta-feira, 22 de maio de 2015
Sobre gays, rock e alvarás alucinógenos
POR EMANUELLE CARVALHO
Recentemente a cena do rock em Joinville vem causando arrepios mas infelizmente não pelos arranjos bem feitos, muito menos pelas referências furiosas de contestação social, crítica ao sistema ou pelo crescimento dos espaços para o público mas sim pelo conservadorismo, pelo machismo e pela homofobia propagada por bandas, casas e materiais produzidos por parte deste público.
Não é a primeira vez que isso ocorre aqui na província, brigas ideológicas sempre margearam o cenário. Na década de 90 a acusação de apologia ao nazismo fez com que o cena se estremasse e teve até quem fugisse pra São Paulo depois de matérias vinculadas nos jornais locais.
Ainda no final da década era comum ouvir falar de brigas de skinheads versus punks e punks versus XXX. A cena era basicamente divulgada nos bares, botecos, programas de rádios específicos e zines. A interatividade e a possibilidade de diálogo com outros públicos era significativamente menor bem como a visibilidade das discussões tão necessárias.
O rock embalou uma porção de movimentos contestadores e embora não seja o ritmo curtido majoritariamente dentro do grupo LGBT haviam também bares perseguidos pela polícia na revolta de Stonewall por serem gayfriendly (esse termo só foi criado muito tempo depois), ou seja, onde a comunidade LGBT podia minimamente ser respeitada. Digo minimamente porque vivemos em uma sociedade homofóbica, lesbofóbica e transfóbica, então é praticamente impossível um ambiente livre dessas opressões.
Em meados dos anos 2000, depois de já ter dado a luz ao meu filho, comecei a freqüentar a cena. Fui a centenas de shows no zepa, nas aberturas e fechamentos do garagem, peguei carona pro salão Jacob, as tardes lindas no bar do Luxe, as incontáveis garrafas de Maracujá Joinville no Old Bar, a polícia fechando o Stupp, as tentativas de fazer o bar Funil um ambiente pró roque, no Festival Linguarudos (que foi lindo pra caramba) e vez em outra migrava pra outras cidades como Guaramirim e Jaraguá em busca de um bom show. Paralelamente eu me descobria bissexual e foi uma barra. O ambiente do rock não é acolhedor, pelo contrário, freqüentemente a gente ouve piadas nas rodas dos viados, e freqüentemente tem algum cara querendo beijar mina lésbica a força "pra mostrar como se faz".
Pois bem, nas duas últimas semanas duas publicidades da cena do rock geraram muita indignação nas redes sociais.
Primeiro, a imagem de uma mulher amarrada e ensangüentada dentro do porta malas de um carro, com a figura de um homem com uma cara absolutamente assustadora convocava o povo para um show de roque. A discussão rolou, foi produtiva e os questionamentos de dezenas de feministas rolaram, houve pedido de desculpas da banda que fez o cartaz e posteriormente o mesmo povo começou a chamar aquilo de perseguição e "mimimi". Apologia a violência contra a mulher não é mimimi.
Na mesma semana outro cartaz de um evento de rock circulava. Desta vez uma mulher nua posava com uma garrafa estourada de cerveja entre os seios, a cerveja espirrada lembrava propositalmente sêmen, e a garrafa fazia alusão ao pênis.
Ora, já não nos basta a indústria da beleza, os baixos salários, a falta de creches, a imposição da maternidade, a proibição do aborto, a cultura do estupro e de que "a culpa foi da mulher" é preciso também que as músicas de contestação e os espaços de diversão e confronto social também objetifiquem nossos corpos?
A publicidade pode ser mais inteligente. Melhorem.
E pra fechar com chave de ouro nosso dia de rock, ontem um bar de Joinville não conseguiu a liberação de alvará e culpabilizou a burocracia no país pelo índice de apenados (sim, isso mesmo que você leu) e de brinde disse que Joinville está virando a capital GLS!
Agora, além de destruirmos a família tradicional brasileira também detemos a liberação mundial de alvarás para bares de rock. É amiguinhos, a ditadura gay está chegando.
Pois bem, não é todo mundo do roque que é homofóbico e machista. Nosso querido Freddie Mercury que o diga, fez muito por todos nós!
Um bar precisa lembrar que é um estabelecimento jurídico, e que a internet não é terra de ninguém, onde você pode jorrar seu preconceito e não ser atingindo.
E pra quem fala de não combater a intolerância com mais intolerância:
Minorias não tem o poder de oprimir ninguém. O rock é composto majoritariamente de gente branca, classe média e estudada. Um bando de viado e sapatão não tem condições de perpetuar preconceitos com ninguém não.
Hoje não é dia de rock, bebê!
quarta-feira, 20 de maio de 2015
Há quatro ou cinco anos...
POR FELIPE SILVEIRA
Há quatro ou cinco anos, quando alagava o terminal central, choviam nas redes sociais montagens com o então prefeito Carlito Merss (PT) em botes, motos aquáticas, em cima do Fritz e em qualquer lugar que a criatividade dos internautas sugerisse.
Nos comentários das montagens o ódio se espalhava. Todo tipo de palavrão foi usado contra Carlito Merss e novos foram inventados para isso. Além do ódio, havia a crítica dos moderados. Não xingavam, mas não deixavam de responsabilizar a administração municipal pelos alagamentos e por tudo que era ruim.
Isso ocorre em alguma medida com o prefeito Udo Döhler (PMDB). Mas nada que se compare. Há alguma corneta, uma montagem ou outra, reclamações e piadas com a nova gestão. Mas a carga de ódio é completamente diferente. Aliás, o ódio é elemento ausente na repercussão de notícias que envolvem a nova administração, mesmo que os problemas sejam os mesmos.
Deixar de odiar é, sem dúvida, um avanço. Mas é preciso observar a razão. O governo Udo Döhler simplesmente deixou de ser responsabilizado pela massa joinvilense.
Imprensa
É controversa a relação da imprensa com o governo Udo Döhler. O jornal A Notícia, que pertence ao grupo RBS, recebeu o governo do empresário com uma megalomaníaca manchete “A ERA UDO”. Por outro lado, o jornal televisivo do mesmo grupo tem se voltado mais à comunidade nos últimos anos (por necessidade de audiência), levando a cobranças ao governo municipal. Tenho a impressão que a RBS opera em um “bate e assopra” nos últimos anos.
Mas acredito que neste caso importa menos o modo como a imprensa age do que o modo como as pessoas reagem ao governo. Não há dúvidas que o ódio nacional ao PT, que hoje alcança níveis estratosféricos, tem relação com o ódio a Carlito.
Um negócio da China e Petrobras
Já o ódio ao PT, que prejudicou Carlito, tem relação direta com a imprensa nacional. Um exemplo disso é a maneira como foram tratados os fatos relacionados à economia. Se o fraco desempenho da petrolífera brasileira ganhou todos os holofotes meses atrás, sua recuperação é escondida embaixo do tapete. Boa parte da população não bota fé na exploração do pré-sal, por exemplo, pois a imprensa e as redes levaram a desacreditar no negócio. Enquanto isso a Petrobras bate recorde atrás de recorde de retirada de barris.
Da mesma forma, a população brasileira é levada a acreditar que os recentes negócios com a China não são lá grande coisa. São só 53 bilhões de dólares em investimentos nos próximos anos. Uma notícia das mais impressionantes em qualquer lugar do mundo, mas que é tratada com desdém e desconfiança pela imprensa nacional.
Enquanto isso, na biblioteca
O exemplo acima mostra que a maneira como tratamos a informação importa. Há quatro ou cinco anos o prédio central da Biblioteca Pública Municipal estava interditado, abandonado. Hoje, reformado e bonito, funciona.
Mas a biblioteca pública não deixou de funcionar na gestão petista. Diante do desabamento, que ocorreu por causa de uma reforma porca da gestão anterior, os livros foram levados a um bonito e espaçoso prédio na rua Anita Garibaldi, um pouco mais ao sul.
Alguns meses após a mudança para o centro, encontrei uma funcionária da biblioteca e perguntei sobre a mudança, comemorando a volta. Ela me contou que a população frequentava mais o espaço da rua Anita Garibaldi.
Há quatro ou cinco anos...
Ofereço o texto a Cleonice Heller, que perdeu a vida na terça-feira, 19 de maio, quando a caminhonete em que estava afundou no rio que alagava a rua a qual o automóvel tentava atravessar.
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