POR JORDI CASTAN


2015 será o ano em que falaremos muito de crise. Aqui mesmo
no Chuva Ácida o debate já começou. Valdete Daufemback Niehues publicou o post Crise! Qual crise com a sua visão da crise. Assim, enquanto há quem pergunte onde está a crise, também há quem ache que já estamos nela. Há opiniões para todos os gostos e especialistas
de todas as tendências, prontos a defender com argumentos abalizados os seus
argumentos. Começo avisando que não sou especialista no tema e que aguardo com
interesse os comentários a favor e contra.
O Brasil vive um momento ímpar. Nunca se consumiu tanto e nunca se pagou tão caro por produtos de qualidade equivalente aos
disponíveis em mercados de outros países. Vez por outra aparecem informações e estudos
mostrando que o mesmo carro que aqui custa X
em outro país custa Y. Tênis, roupas, perfumes, cosméticos e as
bugigangas eletrônicas mais comuns são outros produtos que permitem fazer
rápidas comparações de preços e tirar conclusões. O brasileiro, quando viaja ao
exterior, rapidamente faz a mesma descoberta que qualquer turista que aqui
chegue. No mesmo momento em que desça do avião e tenha contato com a nossa
realidade econômica, vai perceber que o Brasil está muito caro. Na verdade, os preços por estes
lados estão cada vez mais fora da realidade internacional. O que se tem como
resultado é que a maioria de destinos turísticos frequentados por brasileiros se
regozijem com a chegada de milhares de ávidos consumidores com dinheiro e com um
prazer quase compulsivo por consumir. O bom e velho "tá barato, me dá dois”, em
alguns casos chega ao ponto de “tá barato, me dá três”.
Em 1986, a revista The Economist criou o Índice Big Mac, com
o objetivo inicial de servir de referência para acompanhar o valor real das
diferentes moedas. O popular hambúrguer da Mc Donalds se converteu assim em um
indicador fiável de valor e permite avaliar se uma moeda esta mais o menos
valorizada. A lógica é que os preços do Big Mac tenderiam ser parecidos em
diversos países e mostrariam o valor “correto” de cada moeda. A base é a
chamada Paridade do Poder de Compra (PPP, por sua sigla em inglês) comparando
preços de produtos e serviços idênticos, neste caso um hambúrguer. Como
exemplo, o preço médio em 2015 de um Big Mac nos Estados Unidos é de 4,75 dólares,
na China é de 2,77 dólares, ao câmbio oficial, o que, grosso modo, mostra que o
Yuan esta abaixo do seu valor em 42%.
Claro que a ideia não é usar o hambúrguer como um indicador
veraz. Mas é uma referência interessante, tanto que há vários livros que o citam
e tem sido objeto de mais de 20 estudos acadêmicos. Para o brasileiro que sofre
na pele o impacto das primeiras medidas do pacote de maldades que o governo
lançou semana passada, é interessante poder utilizar indicadores fáceis de
entender, fora a sua própria percepção na hora de fazer a compra do supermercado.
Para aumentar a credibilidade do índice e evitar que se crie
a imagem que em países pobres o preço é menor porque os salários são mais
baixos, o índice incorpora o cálculo da correção entre o preço do hambúrguer é
a renda per capita para 48 países, entre eles o Brasil, o que permite avaliar
melhor se uma moeda esta sobre o subvalorizada.
Para os otimistas de plantão, o Brasil vai muito bem porque o
nosso Big Mac é o 4º mais caro do mundo, só superado por Suíça, Noruega e
Dinamarca e na frente de Suécia, Estados Unidos, Canadá e toda a zona do Euro.
Os países em que o Big Mac é mais barato são Ucrânia, Rússia e Índia. Tirem
suas conclusões.