POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Se tivesse descoberto as delícias do Photoshop
naqueles tempos, o ditador soviético Joseph Stalin certamente iria criar uma
revista semanal à qual daria o nome de “Veja”. Porque os métodos de ambos – o
carniceiro e a revista – na adulteração de fotos parecem ser muito semelhantes, apesar
de separados pelas diferenças técnicas.
Joseph Stalin, que por décadas governou a
União Soviética com mão de ferro, não dispunha de recursos como o Photoshop e o
máximo que conseguia fazer era expurgar os seus desafetos das fotografias. E muitas
vezes também os expurgou da vida real. Hoje em dia não tem estudante de
jornalismo que nunca tenha ouvido falar nos famosos os casos de adulterações de
fotos para falsear a história.
Uma das vítimas mais famosas desse apagamento foi
Leon Trotsky, que se tornou dissidente e foi extirpado em muitas fotos, em
especial quando aparecia ao lado de Lenin. Aliás, este foi um dos casos em que
o ditador não se contentou em simplesmente tirar o seu desafeto da fotografia.
O caso só acabou em 1940, com uma picareta na cabeça de Trotsky, quando ele
vivia exilado no México.
Mas o certo é que o ditador soviético fez
escola. E a brasileira “Veja”, que não curte nadinha qualquer coisa que cheira a
comunista, parece abrigar discípulos dessa técnica de aldrabar fotos.
É o caso da montagem publicada por Ricardo Setti, onde as imagens foram
alteradas para fazer o ex-presidente Lula aparecer abraçado a
Rosemary Noronha, a ex-chefe do escritório da Presidência em São Paulo. E com a presença incômoda da própria mulher.
Todos sabemos que alguns órgãos da grande imprensa
brasileira ainda hoje andam obcecados com essa caça ao homem. Mas esse clima de
vale tudo para ferrar o ex-presidente já está a encher o saco. Pelo que tenho
lido, o jornalista pediu desculpas publicamente. Mas parece uma reação curta e tímida quando todos sabemos estar à frente de um ato que pode ser visto como crime.