segunda-feira, 25 de março de 2013

Efeito BMW em Araquari


POR GUILHERME GASSENFERTH
Uma comitiva catarinense viajou à cidade americana de Spartanburg, na Carolina do Sul. O objetivo da missão era conhecer o impacto que a fábrica da BMW causou naquela pequena cidade do leste americano.

Uma reportagem publicada em ANotícia em 23 de março dá conta que a comitiva, formada mormente por políticos, está empolgada com o que viu em solo yankee. Crescimento econômico, desenvolvimento, vitalidade e efervescência urbana contagiaram os catarinenses, que querem fazer de Araquari uma Spartanburg com a vinda da BMW.

Esqueçam.

A primeira diferença é que Spartanburg está nos Estados Unidos e Araquari está no Brasil. Nos Estados Unidos, há desenvolvimento avançado por causa da infraestrutura. No Brasil, há algum desenvolvimento apesar da infraestrutura.

Nos Estados Unidos, a sociedade é muito organizada e participativa. Alexis de Tocqueville já preconizava em sua obra-prima “A Democracia na América” (1835) que a organização da sociedade em associações é fundamental para o desenvolvimento. Os Estados Unidos são ricos em associações, em comércio, em lazer, em esporte, em história, em conhecimento.
Spartanburg tem teatro, tem estádio, tem museus, tem bibliotecas, tem livrarias, tem diversas opções de lazer. Já Araquari... tem a Festa do Maracujá como epicentro da sua vida cultural e de lazer.

Mas não é na infraestrutura, nas opções de lazer, na cultura ou na organização que focarei para explicar porque o desenvolvimento visto em Spartanburg nunca será alcançado na Capital Catarinense do Maracujá. Vou prender-me aos aspectos educacionais.
Em Spartanburg, uma cidade com 40 mil habitantes, há uma universidade e sete faculdades, duas delas fundadas no século XIX. Em Araquari, com cerca de 25 mil habitantes, há uma faculdade com cursos ligados a agricultura e poucos alunos – e frequentada por poucos araquarienses. Não há boas escolas de ensino fundamental em Araquari.

Li uma vez um livro interessante, chamado “A História dos Estados Unidos”, escrito por três brasileiros e um canadense que vive e trabalha no Brasil. Num capítulo ele aborda a importância e ênfase que os EUA dão à educação. Para ilustrar, apoia-se em uma Lei do Estado de Massachussets, publicada em 1647 (quando nós não éramos sequer um país, mas uma grande fazenda portuguesa), que obriga que quando um lugarejo chegar a 50 famílias, estas deverão cotizar-se para pagar um professor para ensinar às crianças do local.

A qualidade da educação é o maior paradoxo que vivemos. Não há neste país uma alma que contrarie o senso comum de que sem a educação não há salvação. Os mais renomados intelectuais, os mais gabaritados políticos e os mais leigos compatriotas tem na ponta da língua o mantra de que é preciso investir na educação para que o Brasil alcance um dia patamares satisfatórios de desenvolvimento. Mas o investimento apequenado que chega onde deve produz igualmente pequenos resultados.

A culpa, meus caros, não é da nossa vizinha Araquari. Não pensem que falo mal daquela cidade, mas tão somente contextualizo as diferenças que existem entre uma cidade dos Estados Unidos e uma cidade brasileira. O problema é sistêmico, conjuntural e está muito distante de ser resolvido.

Se eu pudesse escolher uma instituição de Munique a instalar-se por aqui não seria a BMW ou a Audi, mas a Universidade de Munique Ludwig-Maximilians. Deixo claro que não sou contra a instalação da fábrica de motores da Baviera, mas só quero demonstrar que o efeito BMW de Araquari será diferente substancialmente do efeito BMW em Spartanburg.

O negócio é que podem vir BMW, Google, NASA e o próprio Palácio do Planalto a instalar-se em Araquari, Joinville ou onde for. Se não atraírmos e/ou desenvolvermos primeiramente boas opções de educação, acessíveis a todos; se igualmente não pensarmos em desenvolver a cultura e o lazer; se não investirmos com eficiência em infraestrutura e urbanismo; sem planejamento consistente de longo prazo sendo levado a sério; sem combater a burocracia e a ineficiência do gordo Estado brasileiro; jamais poderemos chegar sequer perto do resultado ‘miraculoso’ que a BMW deu à cidade estadunidense.

domingo, 24 de março de 2013

Uma cidade machista


POR FERNANDA M. POMPERMAIER
Existem pessoas que realmente acreditam que machismo não existe. 

A verdade é que essas pessoas não percebem as sutis atitudes machistas presentes no nosso dia-a-dia. 


Falta de informação, de percepção e um mínimo de empatia são alguns dos motivos.

Tem quem não veja o tratamento diferenciado que dedicam ao filho homem e à filha mulher; a estúpida idéia de que existe mulher para casar e mulher para sei-lá-o-que; o pensamento ultrapassado de que a mulher é que deve ser responsável pelos filhos e pela casa; que mulher tem que ser magra e bonita para mostrar para aos amigos; que mulher deve "se comportar, ser feminina" ou seja, não protestar, ficar quieta e aceitar; que mulher não tem o direito de se irritar ou reclamar que "já está de tpm" ou é "mal amada" (ninguém fala isso de um homem, não é?!); que vivemos numa cultura que legitimiza o estupro em "certas ocasiões" e até culpabiliza a mulher citando a roupa que estava usando ou o lugar onde estava na hora do crime.  Para ficar claro, isso não existe. Estupro é sempre um crime e se a mulher disse Não! apenas uma vez, é motivo suficiente para o parceiro párar tudo. 

Esses julgamentos ignorantes e machistas dão suporte para homens ciumentos e possessivos agredirem suas parceiras todos os dias no Brasil, essa semana, infelizmente, em Joinville. 


Uma mulher de 28 anos, que deixa 2 filhos, assassinada pelo marido, por ciúme, alimentado pelo machismo. 


E o mais revoltante, desculpa a família enlutada, é saber que a tragédia foi anunciada e as pessoas não reagiram. Sabe por que? Porque em briga de marido e mulher não se mete a colher.  Mete sim! Principalmente quando você vê sua filha, cunhada, irmã, sobrinha ou vizinha levando empurrões e pontapés do marido. ISSO NÃO É ACEITÁVEL! Em nenhum tipo de relacionamento. Nunca. Quem cala é conivente. 

Ele era um homem bom e perdeu a cabeça? Me poupe. Ele sempre foi um doce de marido respeitador e amável mas de repente solta o braço na mulher? Como assim?
Alguns trechos da reportagem do Anotícia do dia 20/03:

"Andreza morreu na madrugada de terça. Ela havia sido vítima de agressões do marido na tarde de segunda-feira. Como o casal estava na casa do pai dela, João Cardoso Amaral, 63 anos, a cena foi presenciada por outras pessoas da família. (...)

 Em depoimento, Luís confessou que agrediu a mulher, porém sem a intenção de matá-la. Ele contou que tinha bom relacionamento com a esposa, mas que perdeu a cabeça depois de descobrir uma traição." 

Na frente da família! Na casa do pai! E o cara nunca demonstrou nenhum comportamento de ciúmes, possessividade e agressividade? Ele era super bonzinho e de repente, do nada, ele chuta a mulher.


"À polícia, Luís Carlos Mellies admitiu que chegou a agredir Andreza, mas que teria agido apenas para controlar a mulher, supostamente agitada. Conforme o delegado Wanderson, o marido reconheceu que as discussões começaram por causa de mensagens trocadas pela mulher com outras pessoas na internet. (...) Investigadores levaram Luís Carlos até a casa dele na manhã de terça-feira para recolher o computador e vistoriar a suposta cena do crime. Andreza deixa dois filhos. O pai de Andreza, João Carlos Amaral, diz ter se surpreendido com o desfecho da briga porque considerava o genro um segundo filho. — Era um homem bom. Não pude mais ver o que aconteceu depois da briga na minha casa, mas acredito que ele tenha perdido a cabeça —, lamenta."


Ou seja, o pai da vitima sente compaixão pelo cara, que, coitado, deve ter perdido a cabeça. O comportamento do genro não foi reprimido pelo sogro, que deve ter pensado: Quem nunca, né.?! Quem nunca bateu na mulher? Eu lembro muito bem da polêmica quando o Bruno (ex goleiro do flamengo, lembra?) fez uma declaração apoiando o amigo Adriano que tinha batido na mulher, dizendo o famoso mantra dos machistas extremos:"quem nunca, né". Deu no que deu. 


O machismo mata!


E ele começa a plantar seus fundamentos dentro das nossas casas, quando reprimimos as meninas e mandamos os meninos às casas de mulheres (famosas Marlennes) para ele aprender direitinho que mulher é objeto pra gente usar. Que algumas merecem respeito e outras não, e a distância entre essas duas podem ser algumas mensagens na internet. 


Reportagem: http://anoticia.clicrbs.com.br/sc/noticia/2013/03/marido-que-agrediu-companheira-e-indiciado-por-homicidio-em-joinville-4080470.html


Foto: http://juntos.org.br/2012/11/25-de-novembro-dia-internacional-de-combate-a-violencia-contra-a-mulher/combate-violencia-domestica/

sábado, 23 de março de 2013

Viagem de Dilma: o que a imprensa não me disse

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Confesso que, n0 início, o assunto da grana gasta pela presidente Dilma Roussef na viagem à Europa não me interessou. Afinal, é um tema recorrente que vez por outra surge por aí pelo mundo (até aqui mesmo neste pequenino Portugal). Mas quando vi, nas redes sociais, o pessoal ligado ao partido do poder pedindo desculpas pelo ocorrido fiquei curioso.

Aliás, o que me fez escrever sobre o assunto foi uma notinha do Guilherme Gassenferth, ex-integrante do blog, no Facebook. Ele reproduzia a charge (ali abaixo) com o seguinte comentário: “Que patada certeira no PT/governo federal a charge do Iotti em ANotícia hoje, não? É indefensável, infelizmente”. E os comentários que se seguiam eram todos a desancar a presidente.




Mas se todos - opositores e defensores do partido da presidente - estão em acordo é motivo para olhar a questão mais de perto.  Afinal, quando todos estão a pensar igual, é porque ninguém está a pensar. E aí baixou o bicho jornalista em mim. Fui dar uma pesquisada e, depois de muito ler, fiquei com muito mais perguntas que respostas.

Se eu ainda trabalhasse numa redação de jornal, tentaria esclarecer algumas questões. Mas não lembro de ter lido, na grande imprensa brasileira, alguém a fazer as perguntas óbvias que mesmo um jornalista inexperiente teria a obrigação de fazer:
Pergunta 1. Quantas pessoas são precisas numa viagem presidencial?
Pergunta 2. Qual é a estrutura necessária para um governo em viagem poder governar?
Pergunta 3. Qual é o custo diário médio diário de uma viagem presidencial?

Procurei, procurei, procurei. Mas na imprensa brasileira, ao não ser que a coisa me tenha escapado, parece que ninguém perguntou e ninguém respondeu. Só parece importar a indignação do populacho e dos desafetos do partido no poder. Eu entendo que o tema desperte paixões nas mentes mais simples, mas a imprensa tem que manter o rigor.

Tudo isso fez lembrar um caso parecido, que aconteceu nos States faz uns meses. A chazista Michelle Bachmann (queria saber que chá ela bebe) foi à televisão dizer que uma viagem do presidente Obama à Índia iria custar US$ 200 milhões por dia aos cofres públicos. Foi um berreiro. O pessoal afeito ao Tea Party tentou estimular uma onda de indignação. Mas logo as pessoas perceberam que a informação era falsa e a coisa parou.

Mas como estava no tema, aproveitei para ver se os jornalistas norte-americanos tinham feito a lição de casa. E não é que fizeram? Fiquei a saber que uma viagem de um presidente dos Estados Unidos a outro país custa a bagatela US$ 10 milhões por dia. A explicação, dada há alguns anos por um porta-voz de George W. Bush, pareceu-me convincente: “é preciso recriar uma mini Casa Branca”.

Então pergunto: qual seria o valor aceitável para uma viagem de Dilma Roussef? Não sei. Mas a grande imprensa parece não gostar de fazer as perguntas certas e não ajuda a esclarecer. Pelo contrário, prefere estimular o irracionalismo de uma indignação balofa, desinformada e com rancores de classe.

Ou é desatenção minha ou acho que as perguntas ainda não foram respondidas. Aliás, se o leitor e a leitora chegaram até aqui na leitura deste texto vão perceber que não fiz qualquer julgamento de valor. Até porque acho a visita ao papa uma tremenda parolice. Mas acho interessante refletir sobre o papel da imprensa, que prefere o "auê" à informação.

P.S.  E antes que apareça alguém a dizer que estou a fazer a defesa de Dilma (coisa que não estou) explico que já no tempo de FHC achava essa discussão uma babaquice. Os presidentes dos países têm que poder viajar com a dignidade que o cargo exige. Ou querem que a presidente vá dormir no Ibis Budget?

sexta-feira, 22 de março de 2013

Dias muito loucos – Udo corta lanche, James quer proibir cerveja na rua e Acij vende camiseta pra juntar um dinheirinho pro São José

POR FELIPE SILVEIRA

Vivemos tempos muito loucos mesmo. É o tal de dois mil e crazy. Pra você ver como a situação não tá fácil pra ninguém, olha como tá difícil para os empresários da Acij (Associação Empresarial de Joinville).

Reconhecidos por eles mesmos e por alguns historiadores safados como os bastiões da pujante e ordeira Joinville, nossos adorados empresários (afinal, eles dão um monte de emprego pro povo por bondade!) ficaram, de repente, mais ou menos depois de Udo Döhler se tornar prefeito, preocupados com a saúde do povo. De repente perceberam que o nosso hospital municipal, o São José, vive superlotado e tem problemas de infra-estrutura, o que gera desconforto e atendimento precário para a população. Devem ter achado um absurdo.

Mas, como a situação não tá fácil pra ninguém e não dá pra botar a mão no bolso assim pra investir em melhorias no hospital, nossos valorosos empresários tiveram uma brilhante ideia: vender camisetas.

Fico pensando em como não pensaram nisso antes. Esta brilhante ideia que sustenta diretórios acadêmicos, escoteiros e associações atléticas e de moradores há anos pode, claro, salvar a saúde pública municipal. Você que está aí sentado, por favor, levante e aplauda esta louvável ação de pé.

Mas, por favor, não desconfie de politicagem. Não ache que a ação tenha a ver com o fato de um colega empresário ser prefeito e precisar dar uma ajeitada no Zequinha. Não me venha com insinuações de que isso jamais seria feito no ano passado, quando o Carlito (PT) era prefeito. É óbvio que aconteceria, mas faltou a ideia.

Mais aplausos.

A última – Disse que a venda de camisetas era a penúltima porque depois disso rolou mais uma evidência desses tempos doidos. Udo, The German, anunciou ontem que os servidores que trabalham seis horas não têm direito a intervalo. Dizem que tá na lei. Eu digo que o bom senso pegou a BR e se mandou.

A antepenúltima – Essa vem da Câmara. O vereador James Schroeder (PDT) entrou na vibe do conservadorismo, que eu chamo carinhosamente de Onda Udo, e teve a brilhante ideia de proibir o consumo de bebida alcoólica nas ruas da cidade. E se você não vê um atentado à liberdade aí, meu amigo, você tem um problema.

Levante e aplauda.