sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Pacto


País sob o domínio do medo: únicos organizados são os delinquentes

POR DOMINGOS MIRANDA
Mais uma vez o crime organizado leva o pânico a Santa Catarina. Isso acontece metodicamente desde 2011 e já pode ser colocado no calendário oficial. Em uma semana ocorreram mais de 50 ataques dos bandidos. Policiais morreram, sedes de órgãos de segurança foram atacadas, ônibus incendiados etc. Muitos discursos foram feitos, mas, efetivamente,  nada de prático para solucionar o mal. É claro que este é um problema mais amplo, que não dá para ser resolvido sem uma maior intervenção do Governo Federal, que está imobilizado diante de suas ilicitudes e incompetências.

O narcotráfico é o pior problema para os países da América Latina nos últimos 30 anos. Hoje, o Brasil transformou-se na principal rota do tráfico para o mundo. Somente no primeiro semestre deste ano a venda de drogas rendeu cerca de R$ 20 bilhões aos traficantes. Estes tem muito dinheiro e podem corromper policiais, políticos, juízes e até mesmo membros das Forças Armadas. A série Narcos, mostrada pela Netflix, põe a nu esta realidade na Colômbia, nas décadas de 80 e 90. Agora somos nós que estamos sentindo o mesmo problema.

Se não houver uma ação coordenada dos três poderes não é possível encontrar uma saída para este grave problema. O coronel reformado da PM do Rio de Janeiro, Íbis Pereira, explica: “Para a gente reduzir violência tem que ter três coisas: vontade política, engajamento da sociedade e visão de longo prazo. Você só consegue visão de longo prazo se tem plano e se consegue institucionalizar o plano”. No Brasil não temos nada disso. Hugo Acero, que foi um dos coordenadores da luta contra o narcotráfico na Colômbia, em 2008 deu palestra em Joinville e disse: “Os únicos que estão organizados no Brasil são os delinquentes”.

Marcola, o líder da maior organização criminosa do país, está preso há vários anos em uma prisão de segurança máxima. Pessoa de uma inteligência incrível, leitor voraz de clássicos da literatura, comanda o crime de dentro da cadeia e tem planos de longo prazo. O seu ex-advogado já foi secretário da Segurança Pública de São Paulo, Ministro da Justiça e agora está no Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma entrevista ao jornal O Globo, desafiava: “Estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês morrendo de medo”.

Se a corrupção se alastrou por todo o andar superior do poder, o que esperar? O coronel Íbis Pereira confirma que “a violência e a corrupção andam juntas”. Virou coisa comum no noticiário ouvirmos que tal juiz ou desembargador vendeu sentença. Há pouco tempo, um traficante condenado a 65 anos de prisão foi colocado em liberdade. A polícia encontrou meia tonelada de pasta de cocaína em helicóptero de senador e nada foi apurado. Ou melhor, uma juíza determinou que a imprensa não pode usar o termo “helicoca”.

Portanto leitores, o futuro não é muito promissor. Aliás, Marcola usa uma frase de Dante que define bem o momento atual: “Lasciate ogna speranza voi cheentrate! Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno”.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

No dicionário de Udo, “cimento” vem antes de “ambiente”

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Às vezes pergunto se Udo Dohler gosta de Joinville. Ou dos joinvilenses. Ok... muita gente fica ofendida com este tipo de questionamento – os chauvinismos são sempre bacocos – mas o fato é que quem gosta cuida. Repito: cuida. No entanto, não parece que o atual prefeito esteja particularmente empenhado em cuidar do futuro da cidade e dos seus cidadãos. Afinal, parece não haver ações de fundo nesse sentido.

Exagero? Udo Dohler está a lavar as mãos na questão do licenciamento ambiental. É grave. A propósito, memórias recentes permitem dizer que está a lavar as mãos nas águas vermelhas do Cachoeira. Mas o ambiente é razão para tanto barulho? O cidadão comum pode pensar de forma objetivista: “a gente tem que fechar os olhos para certas agressões à natureza porque o importante é ter empresas, progresso, emprego”. Nada mais errado.

O processo civilizacional aponta no sentido contrário. O ambiente é essencial para acautelar o futuro da cidade e a qualidade de vida dos cidadãos. O tempo é de construir cidades modernas, inteligentes e inclusivas. E, ainda melhor, ganhar com a nova economia (já não tão nova assim). Mas o atual prefeito é um homem com o mindset no século 19 e, no seu dicionário, as palavras “chaminé” e “cimento” vêm antes de “ambiente”.

Há perguntas a fazer. Por que Udo Dohler está a se demitir da defesa do ambiente? Por que está a rejeitar a obrigação de, enquanto prefeito, defender as atuais e futuras gerações de joinvilenses. Deixemos de barato. Afinal, seria impensável ver confirmado o que escreveu o co-blogger Jordi Castan esta semana: “uma decisão tão desatinada que leva a pensar que esteja a atender outros interesses que não os da sociedade joinvilense”.

Eis a tragédia histórica. Ao longo dos tempos, os prefeitos de Joinville têm mantido a cidade amarrada ao passado, com modelos clientelistas e métodos ultrapassados. O leitor eleitor pode questionar as prioridades e pensar: isso de meio ambiente é frescura dos ecochatos, porque tem é que cuidar da saúde, da educação e dos transportes. Claro que sim. O problema é que uma coisa não exclui a outra. Pelo contrário.

Fica a dúvida. Talvez o atual prefeito esteja mais preocupado com o seu próprio projeto político – esqueçam lá a conversa do gestor, porque as decisões são sempre políticas – do que com a modernização da cidade e o bem-estar dos joinvilenses. Afinal, quem só olha para a árvore acaba por não ver a floresta. Ops! Péssima metáfora. Porque, como ficou evidente, árvores e florestas não interessam muito lá pelas bandas da Prefeitura.

Ah... e não duvido que a esta hora os chiens de garde do prefeito já estejam a arreganhar os dentes:
- Quem não vive na cidade não pode falar. Porque fala de uma cidade virtual, vista pela internet, e não sabe sobre a cidade real.
E eu responderei:
- É só uma questão de quilômetros. A entourage de Udo Dohler vive acantonada na torre de marfim do poder na Hermann Lepper e, por não praticar a democracia e não dialogar com o exterior, também só vê uma Joinville virtual.

É a dança da chuva.

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Cineminha.


Udo Dohler: primeiro a gente tira ela...

POR RAQUEL MIGLIORINI
A FUNDEMA foi extinta em 2013, ou seja 23 anos após sua criação. O prefeito mal assessorado encasquetou que o modelo de fundação estava falido, indo na contramão dos demais municípios da federação. Fundações possuem autonomia jurídica e financeira, dando mais agilidade a processos burocráticos e no recebimento de verbas federais para financiar projetos. O consultor do prefeito não viu nada disso. Ironia do destino, agora a Prefeitura recorre a uma fundação para “resolver” o licenciamento ambiental em Joinville.

O primeiro motivo colocado para a extinção da FUNDEMA e criação da SEMA – Secretaria de Meio Ambiente – foi que, com todos os recursos concentrados na Secretaria de Planejamento e Administração, ficaria mais ágil e mais barato comprar insumos. Ocorre que o FMMA – Fundo Municipal do Meio Ambiente – não pode ter seus recursos utilizados para fins diferentes dos citados na Lei 3558/1997 e Lei Complementar 418/2014. Ou seja, não pode se misturar com outros recursos municipais.

O segundo motivo foi a agilidade nos processos do licenciamento ambiental. Processos ambientais, principalmente de médio e grande porte, são bastante complexos. Necessitam estudos, entregues pelas consultorias, que nem sempre são feitos de maneira adequada, valendo o uso de uma expressão tipicamente brasileira: “feitos nas coxas”. Os técnicos precisam analisar várias vezes até que algo concreto seja apresentado. Existem técnicos que implicam com tudo mas esses casos são exceções, e não regra, como prega o prefeito.

Parece ser senso comum pensar que a preservação ambiental atrasa o progresso, leva os empregos para a cidade vizinha e deixa a cidade sem recursos. Acontece que um governante sério não pode agir pelo senso comum. Precisa de estudos, da análise histórica, da troca de experiências e, principalmente, do uso de técnicas modernas que garanta qualidade de vida mesmo com o crescimento populacional. Pelo que temos visto, nosso prefeito pensa que preservação da qualidade ambiental é perda de tempo e papo de bicho grilo desocupado e que a devastação é parte inerente do crescimento. Despreza qualquer ação que preserve os ecossistemas da cidade.

Como posso ter certeza disso? A transferência do licenciamento ambiental para a FATMA, além de um retrocesso sem precedentes e perda total de autonomia, não veio acompanhada de outra reforma dentro da SEMA que garanta maior fiscalização para impedir invasões a mangues ou APP de rios, construção de mais galpões de reciclagem, controle de ruídos, mais Educação Ambiental etc. Tudo o que vemos é o sucateamento. Esse ódio cego aos setores ambientais é coisa de gente que pensa pequeno e não tem visão de futuro. Não bastasse pensar assim, cometeu mais um agravante: fez toda a mudança à revelia do COMDEMA – Conselho Municipal de Meio Ambiente.  

Primeiro ele tirou a FUNDEMA, depois toda a possibilidade de fazer de Joinville uma cidade verdadeiramente admirável e desenvolvida. Seguiremos como uma colônia, que terá seus recursos naturais esgotados para enriquecimento de poucos.