quinta-feira, 3 de abril de 2014

Homens ditadores vão pra PQP!

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POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Quando eu fazia o curso de sueco numa turma super miscigenada conheci pessoas de várias culturas e religiões. Nossas diferenças culturais apareciam principalmente nas discussões de temas polêmicos, tradições nos países de origem ou credos. Essas discussões me ajudaram a colocar nossas crenças em perspectiva, questioná-las e tomar novos rumos na educação da nossa filha. Afinal tivesse nascido noutras partes do mundo, minhas crenças poderiam ser totalmente diferentes. Um aprendizado importante veio do comentário da professora frente uma crítica aos suecos. Ela disse: cultura é algo pessoal, muda de família para família. Você conhece um sueco e julga que a maioria é parecida, mas esse pré julgamento só te atrapalha. Com brasileiros, ou qualquer outra cultura é a mesma coisa. Existem alguns comportamentos mais frequentes em alguns grupos, mas cada um é cada um e isso me faz ainda acreditar na humanidade. 

No grupo em que eu estava, existia um homem, vindo do sul da Europa, muçulmano, que eu me esforcei para tentar compreender e ser solidária. Mas não deu. Existia um abismo entre as nossas culturas e os pensamentos dele me assustavam. Numa discussão sobre homem e mulher, ele disse que o instinto do homem é algo incontrolável e que a mulher deveria estar sempre em alerta, não se deixando colocar em situações vulneráveis, como por exemplo: ficar num cômodo sozinha com um homem. 
Choque. 
Ele realmente acredita que o homem é um animal pré-histórico que age único e exclusivamente por instinto e que se estiver sozinho num quarto com uma mulher, não pode deixar passar a tentação da carne. No intervalo ele ainda explicou a teoria das roupas com uma analogia bizarra. Ele disse que mulher é como um biscoito. Se você encontra dois biscoitos no chão na rua, um está coberto e o outro não, qual você come?
Eu tive que ouvir essa frase. 
Respondi que tínhamos pontos de vista diferentes, mas não insisti na discussão, não tinha nenhuma chance. Mas ele poderia, por exemplo, explicar, por que existem tantos casos de estupros em países nos quais as mulheres são obrigadas a usar burcas. Se é uma questão de cobrir o corpo, dessa forma todas estariam protegidas. O homem tinha apenas 27 anos.

Sim, nossas culturas são completamente diferentes. 
Mas aí, você é surpreendida com o resultado de uma entrevista no seu país, na qual 63% dos entrevistados concordam com a frase: "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Eu sei que a pesquisa tem sido questionada pelas perguntas tendenciosas, pela pequena amostragem, escolaridade e outros motivos. Mas vamos ser honestos, vocês conhecem homem machistas que acham que a mulher precisa "se cuidar" para não ser estuprada? Aliás, vou melhorar, vocês conhecem mulheres que recomendam à outras mulheres que cuidem com a roupa que usam ou os lugares que frequentam para não sofrerem violência? Aposto que você responderia "sim" para ambas as perguntas. 
A nossa sociedade AINDA põe a responsabilidade do estupro sobre a mulher!
O que é lamentável, atrasado, primitivo e estúpido.

O machão oferece o perigo e ao mesmo tempo oferece sua proteção à mulher escolhida. O homem ainda tem poder sobre o corpo da mulher, que é sua, seu objeto de prazer. 

Eu sugiro a mudança desse padrão e toda vez que algum homem quiser ditar regras, lugares, roupas, das mulheres próximas à ele, que o mesmo vá pra PQP!

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Tá serto.


Coisas de academia

POR ET BARTHES

Será que você ja viu algo parecido na sua academia? Mais uma produção do Parafernalha.




Espancar os números


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

A autoria da frase é atribuída a Millôr Fernandes (não sei se confere): “estatística é a arte de espancar números até que eles confessem”. Um dia destes dei de cara, aí pelas redes sociais, com um gráfico do “The Wall Street Journal” sobre os pedidos para a remoção de conteúdos do Google, apresentando o Brasil como o país mais ativo nesse sentido.

O gráfico era usado num post que não trazia disfarces: “Brasil é um dos países que mais censura a internet. O Marco Civil protege você ou os políticos?” Ora, o que isso quer dizer? Simples. Eu odeio o Partido dos Trabalhadores, odeio o Governo Federal e, portanto, também vou odiar o Marco Civil. Nada mais interessa. Nem os fatos.

O raciocínio do post é simples: como eu só acredito no que quero, os números terão que dizer o que eu quero que digam. Ou seja, vou olhar apenas para o que me interessa. E fica fácil, porque o gráfico mostra que o Brasil efetivamente está em primeiro. Então, é só pôr tudo no mesmo saco que o Marco Civil e esperar que os outros partilhem.

Ora, qualquer pessoa com dois dedos de testa vai desconfiar. Para começar, é preciso saber que os EUA são o país que produz maior número de requisições para a retirada de conteúdos da internet. Mas parece que neste caso o que serve para os EUA não serve para o Brasil. A democracia deles deve ser mais democrática que a nossa.

Se a pessoa não estiver mal intencionada, então vai entender fácil. Os dados são referentes ao segundo semestre de 2012, ano de eleições no Brasil. E um olhar mais atento para a infografia faz ver que quase metade das requisições são baseadas na lei eleitoral. Isso explica por que os números do Brasil subiram nesse período.

Aliás, basta uma olhadinha para perceber que os outros itens têm a ver com processos de difamação, pornografia, direitos autorais, incitação ao ódio e por aí vai (ver gráfico abaixo). Aliás, se quiserem culpar algum governo talvez seja possível usar as seis - vou repetir, seis - ocorrências referenciadas (pena que a peça não clarifique se é Federal ou Estadual).

É importante salientar que o Google publica um “Relatório de Transparência”, onde mantém informações sobre os pedidos de remoção de conteúdos, seja de governos ou tribunais de países em todo o mundo. Os números apresentam tendência de crescimento, mas como mostram as imagens no fim deste texto, no Brasil a origem dos pedidos não é o Governo Federal.

Portanto, dizer que o Marco Civil pretende trazer censura é balela. Mas imagino que a iniciativa talvez assuste os que querem fazer do digital uma não-terra sem lei. Porque propõe, logo nos primeiros artigos, a “responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei”. Portanto, não temos que ter medo. É só para quem estiver fora da lei.

O gráfico publicado pelo jornal norte-americano é claro.