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POR FERNANDA M. POMPERMAIER
Quando eu fazia o curso de sueco numa turma super miscigenada conheci pessoas de várias culturas e religiões. Nossas diferenças culturais apareciam principalmente nas discussões de temas polêmicos, tradições nos países de origem ou credos. Essas discussões me ajudaram a colocar nossas crenças em perspectiva, questioná-las e tomar novos rumos na educação da nossa filha. Afinal tivesse nascido noutras partes do mundo, minhas crenças poderiam ser totalmente diferentes. Um aprendizado importante veio do comentário da professora frente uma crítica aos suecos. Ela disse: cultura é algo pessoal, muda de família para família. Você conhece um sueco e julga que a maioria é parecida, mas esse pré julgamento só te atrapalha. Com brasileiros, ou qualquer outra cultura é a mesma coisa. Existem alguns comportamentos mais frequentes em alguns grupos, mas cada um é cada um e isso me faz ainda acreditar na humanidade.
No grupo em que eu estava, existia um homem, vindo do sul da Europa, muçulmano, que eu me esforcei para tentar compreender e ser solidária. Mas não deu. Existia um abismo entre as nossas culturas e os pensamentos dele me assustavam. Numa discussão sobre homem e mulher, ele disse que o instinto do homem é algo incontrolável e que a mulher deveria estar sempre em alerta, não se deixando colocar em situações vulneráveis, como por exemplo: ficar num cômodo sozinha com um homem.
Choque.
Ele realmente acredita que o homem é um animal pré-histórico que age único e exclusivamente por instinto e que se estiver sozinho num quarto com uma mulher, não pode deixar passar a tentação da carne. No intervalo ele ainda explicou a teoria das roupas com uma analogia bizarra. Ele disse que mulher é como um biscoito. Se você encontra dois biscoitos no chão na rua, um está coberto e o outro não, qual você come?
Eu tive que ouvir essa frase.
Respondi que tínhamos pontos de vista diferentes, mas não insisti na discussão, não tinha nenhuma chance. Mas ele poderia, por exemplo, explicar, por que existem tantos casos de estupros em países nos quais as mulheres são obrigadas a usar burcas. Se é uma questão de cobrir o corpo, dessa forma todas estariam protegidas. O homem tinha apenas 27 anos.
Sim, nossas culturas são completamente diferentes.
Mas aí, você é surpreendida com o resultado de uma entrevista no seu país, na qual 63% dos entrevistados concordam com a frase: "Mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". Eu sei que a pesquisa tem sido questionada pelas perguntas tendenciosas, pela pequena amostragem, escolaridade e outros motivos. Mas vamos ser honestos, vocês conhecem homem machistas que acham que a mulher precisa "se cuidar" para não ser estuprada? Aliás, vou melhorar, vocês conhecem mulheres que recomendam à outras mulheres que cuidem com a roupa que usam ou os lugares que frequentam para não sofrerem violência? Aposto que você responderia "sim" para ambas as perguntas.
A nossa sociedade AINDA põe a responsabilidade do estupro sobre a mulher!
O que é lamentável, atrasado, primitivo e estúpido.
O machão oferece o perigo e ao mesmo tempo oferece sua proteção à mulher escolhida. O homem ainda tem poder sobre o corpo da mulher, que é sua, seu objeto de prazer.
Eu sugiro a mudança desse padrão e toda vez que algum homem quiser ditar regras, lugares, roupas, das mulheres próximas à ele, que o mesmo vá pra PQP!