POR CHARLES HENRIQUE
O Bolshoi, mais famosa companhia de balé do mundo, abriu uma filial em Joinville há mais de dez anos, atraída (dentre várias aspirações políticas) pelo nosso
nickname de “Cidade da Dança”. A sensação de lá pra cá é de que as portas do Bolshoi poderiam estar mais abertas para a população num geral. No atual momento elas se encontram entreabertas para poucas apresentações e audições.
Tudo se justifica se levarmos em conta o dispêndio de dinheiro que as iniciativas pública e privada promovem para manter esta entidade, e compararmos com a contrapartida social da mesma:
“O repasse por isenção de impostos representa quase metade do orçamento total que a Escola do Bolshoi dispõe. A outra fatia - cerca de R$ 3,5 milhões - é completada pelo governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte.” (ANotícia, 8/2/2012)
Aliás, este repasse do Governo do Estado é o maior investimento em políticas culturais aqui em Joinville. Encaram erroneamente o Bolshoi como uma política pública. Esta prática começou com o então Prefeito que trouxe esta escola de balé pra cá, e, quando ele se tornou Governador, só a ampliou.
Qual a contrapartida da Escola pelo investimento? Em 2011, mais de 50% dos selecionados são moradores de Joinville, e, com o lançamento do projeto “Bolshoi para Joinville” tivemos algumas apresentações aqui na cidade. Um avanço se compararmos a anos anteriores. Porém, quando a Casa da Cultura foi interditada e centenas de crianças ficaram sem as suas aulas de balé, o Bolshoi não foi solidário. Quando me refiro a “se voltar mais para a comunidade” é justamente sobre esse aspecto comunitário que o Bolshoi não tem: é uma escola comandada pelos russos (com sua metodologia mundialmente reconhecida) e que recebe muito dinheiro de investidores, sem diálogo com a sociedade.
Entretanto, como tem investimento público e é encarado como política pública, só apresentações e jovens locais selecionados para serem “alunos” não bastarão. O Bolshoi precisa usar de seu grande nome para difundir pela região a sua qualidade, somando mais ainda com a cultura já existente por aqui. Visitar as escolas da região com maior freqüência, promover intercâmbios com outras academias de dança, reverter os ingressos das apresentações para entidades beneficentes, e cobrar do Estado para a vinda de um curso superior gratuito em Artes na UDESC (universalização do acesso ao conhecimento) são alguns exemplos.
A Escola de Balé da Casa da Cultura, as outras companhias de dança, e todos os demais envolvidos com este segmento, por enquanto, assistem de camarote a centralização dos recursos do Governo do Estado aportados no Bolshoi, sem nenhum intercâmbio, ou troca de experiências. A cidade está perdendo uma grande oportunidade, pela falta de articulação de um lado e desinteresse do outro.