sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Em Santa Catarrina não falta dinheirro, falta xestón


POR BARÃO VON EHCSZTEIN
Voll geil! Até que enfim. A nossa querrida prefeito decidiu chutar a balde. E falou, lá na xornal, que quer renunciar e deixar o Prefeiturra em april. Mas nón precissam ficar tristes e nem chorrar, xoinvilenses, porque é tudo parra melhor: a nossa querrida prefeito vai virrar a nossa querrida governador. Podem comemorrar, catarrinenses, porque agorra foceis vón ter uma governo de verdade. Ein prosit! Uma brinde.

Eu nón gosto de me meter nos coisas da política. Das ist nicht mein Bier. Nón é o meu cervexa... ops... nón é o meu praia. Mas agorra o coisa anda. Todo mundo sabe que em Santa Catarrina não falta dinheirro, falta xestón. E com uma xestor profissional, que resolveu todas as problemas de Xoinville, vamos construir a Santa Catarrina dos próximas 30 anos. É como a xente diz no meu querrida Alemanha: “Abwarten und Tee trinken”. Esperre e veja...

Xá imaginaram? Agorra Santa Catarrina vai ter o mesma estilo de governo que transformou Xoinville num citade de primeira mundo. Se a nossa querrida prefeito – e futurra governador – promete, pode acreditar porque vai cumprir. Parra começar, vai acabar esse wasserkopf, aquele administraçón cheia de comissionadas inúteis na governo da Estado. Como ele fez em Xoinville. Ein Schwein haben! É muita sorte, catarrinenses.

Mas tem um coisa que me deixa encafifado. O que vai acontecer com Xoinville quando a nossa querrida prefeito for ser governador? Quem assume o Prefeiturra é a vice. E dessa mato nón sai Coelha. Xente, eu sou conservadorra, mas fico parrecendo uma anjinho perto dele. A Coelha é muito... como é aquela palavra que as kommunist gosta de ussar... ah... lembrei... reacionárria. Nón tem “alle Tassen im Schrank"... nón joga com a barralho todo.

Mas vamos esquecer a Hase, porque o horra é de comemorar. É Santa Catarina a caminho da primeiríssima mundo (mas é melhor nón ir pela Santos Dumonte). Viva a nossa querrida prefeito. Viva a nossa futurro governador. Achtung, palim, palim! Vai ser uma tremendo sucesso, porque nón tem segreda, aqui é trabalho.

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

A Notícia - 95 anos.


O Rio, a insegurança pública e a irresponsabilidade política


Muito se comentou, nos últimos dias, sobre o temor expresso pelo general Eduardo Villas Bôas, comandante do Exército, de que os militares enfrentem uma nova Comissão da Verdade caso atuem no Rio sem nenhum respaldo jurídico excepcional. A preocupação, manifestada durante reunião do Conselho da República e da Defesa Nacional, se soa uma excrescência à primeira vista, deixa de sê-lo se lida com mais vagar.

Para uma instituição que prendeu, estuprou, torturou e assassinou sem nunca ter sido chamada à responsabilidade, mesmo o trabalho de uma Comissão cujos resultados práticos foram próximos ao zero pode constranger de alguma forma sua costumeira impunidade. Mas o comentário de Villas Bôas ganha outro sentido se o colocamos lado a lado à entrevista do Ministro da Justiça, Torquato Jardim, concedida ao Correio Braziliense.

Ele parece não ter dúvidas quanto a natureza da intervenção, nem tampouco sobre os seus efeitos. De acordo com Torquato Jardim, “não há guerra que não seja letal”, e quando se trava uma guerra tão peculiar, que ele classifica de “assimétrica”, todos são potencialmente inimigos, mesmo uma criança bonitinha, de 12 anos, que ninguém sabe o que faz depois que sai da escola.

A retórica belicista não é nova em se tratando das comunidades periféricas, onde se acumulam cadáveres assassinados em incursões policiais eugênicas. E tampouco é novidade que sua população seja tratada como inimiga: durante a cobertura televisiva dos confrontos entre manifestantes e policiais em junho de 2013, por exemplo, um ex-membro do BOPE, Rodrigo Pimentel, censurou um soldado que descarregou uma metralhadora com tiros para o alto porque “uma arma de guerra, uma arma de operação policial em favelas, não é uma arma pra ser usada no ambiente urbano…”.

No discurso de um ministro que se diz da Justiça, esse tipo de retórica ganha outros significados. O primeiro e mais imediato é que, sob o pretexto de combater o crime, em especial o chamado crime organizado, e diminuir os índices de violência, o Estado está a declarar guerra contra uma parcela de sua população – ou talvez seja mais correto dizer, está a aprofundar uma guerra já declarada há muito tempo.

Mas há coisas não ditas nas entrelinhas do discurso de Torquato Jardim que merecem nossa atenção. Ela denota, de um lado, a total ausência de planejamento, um conjunto de intenções, alguma coisa que sinalize uma preparação por parte do governo a fundamentar a intervenção. O despreparo pós-decreto caminha pari passu e é o complemento à total opacidade dos governos, federal e carioca, sobre os números que justificam a intervenção.

Uma guerra contra os pobres – É verdade que parte da cidade do Rio de Janeiro vive um cotidiano de violências por vezes extremo, incluindo a violência policial. Mas não se trata de um problema limitado ao Rio, que ocupa o 12º lugar nos índices de homicídio por 100 mil habitantes. Em janeiro, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o governador Pezão, descartaram intervenção do exército durante o carnaval, solicitada pelo prefeito Marcelo Crivella, alegando que o efetivo policial era suficiente para garantir a ordem.

Além disso, não há informação sobre os resultados efetivos de operações anteriores em que as Forças Armadas interviram, ainda que mais pontualmente, na cidade. Especificamente no caso da ocupação do Complexo de Favelas da Maré, entre 2014 e 2015 – no governo Dilma, portanto –, além dos 600 milhões consumidos aos cofres públicos e a chacina que resultou na morte de nove moradores, nada mais sabemos.

Se a intenção era estrangular o tráfico, não funcionou, e tampouco há indícios de que funcionará agora. Antes pelo contrário, mesmo que consiga eventual e provisoriamente fragilizar os traficantes que mandam nos morros e o Comando Vermelho, a intervenção tende a fortalecer o grupo paulista PCC, cuja atuação aparentemente mais organizada e ramificada que o CV, já conseguiu uma vez parar uma cidade do tamanho de São Paulo.

No fim das contas, o que sobra é a motivação política, tomada a expressão aqui no seu pior sentido. De um lado, o governo Temer consegue com ela jogar para a frente a votação da Reforma da Previdência, promessa que fez ao mercado mas que estava a ter dificuldades em cumprir. Além disso, proporciona um espetáculo midiático bem ao gosto de muitos eleitores, alguns sinceramente amedrontados pela percepção que têm de estarem sitiados pela violência, outros simplesmente dispostos a apoiar qualquer medida autoritária e truculenta.

Para um governo que amargava índices abaixo de vergonhosos de aprovação, pode ser a chance de uma sobrevida, principalmente se a intervenção conseguir que o tráfico e os índices de violência recuem temporariamente. Mesmo que eles voltem a subir e que tudo retorne à “normalidade”, as eleições já terão passado, e Temer e seus cúmplices têm a chance de, talvez, manterem seus mandatos. E esse parece ser o único projeto que realmente interessa. Que ele seja pontuado pelo sofrimento de corpos e vidas precárias, não importa, porque nunca importou, a um governo que os considera e trata como inimigos.


terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Tem pão com mortadela grátis na Havan

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Vocês viram o vídeo do empresário Luciano Hang, das lojas Havan, por causa de uma manifestação numa de suas lojas em Chapecó? O homem não gostou nadinha. Em tom um tanto belicoso, diz que o povo “quer disciplina, quer ordem, quer progresso, quer trabalho, não quer essa bagunça”. Tem ironia aí. As lojas têm aquelas breguésimas estátuas da liberdade... mas nada de liberdade de manifestação.

O ponto alto do filme é o momento em que ele oferece pão com mortadela e carteira de trabalho aos manifestantes. O alvo é certinho. Todos sabemos para quem é o pão com mortadela. A carteira de trabalho, diz o empresário, é para o radicais que passam anos e anos sem trabalhar (parece que os 12% de desempregados não entram na conta). E arremeta: “o trabalho dignifica”. Ufa! Quase saiu um “o trabalho liberta”.

Tem lapso freudiano no discurso. “Vocês que ficaram 14 anos no poder e ainda não arranjaram emprego, ainda não arranjaram casa, ainda não arranjaram terra? Vão trabalhar, malandragem”, ironiza. Opa! Devemos entender que, para o empresário, o poder só serve se for para se dar bem? Ora, ora, ora. Isso não é bonito vindo de uma pessoa que, já se sabe, tem pretensões políticas.

Se fosse num país desenvolvido, a empresa teria problemas (brand building is a bitch), porque a sociedade civil estaria rotinada para responder. Os cidadãos e os consumidores. Mas não no Brasil. Não em Santa Catarina. Há um fator crucial a considerar: Luciano Hang tem grana. E em sociedades atrasadas isso é fonte de poder. Quanto mais dinheiro, mais poder. O empresário pode fazer os discursos de ódio que quiser sem ser contestado.

Muita gente vive acagaçada pelo poder do dinheiro. E a mídia catarina, que vive de pires na mão e é sempre subserviente às verbas publicitárias das empresas, também cuida para não fazer marolas. O assunto vai passar batido e não haverá contraditório. Ninguém tem coragem de peitar o homem e contra-argumentar. Aliás, se houver alguma manifestação, será de apoio. Discursos para o lumpencoxinhato são sempre bem recebidos em Santa Catarina.

É a dança da chuva.


No Rio, um manual de sobrevivência em tempos de intervenção

POR ET BARTHES

Um sinal inequívoco de uma sociedade doente. No Rio de Janeiro, três jovens negros sentiram a necessidade de criar um vídeo com dicas de sobrevivência em tempos de intervenção. O publicitário Spartakus Santiago, o repórter Edu Carvalho e o youtuber AD Junior são os autores deste "Intervenção no Rio: Como Sobreviver a uma Abordagem Indevida".

As razões são as que todos sabemos e para as quais alguns fazem ouvidos moucos. Por serem negros estão mais expostos às arbitrariedades, à violência e aos excessos da polícia. O vídeo faz uma série de recomendações de como agir em caso de abordagens indevidas por parte dos que têm a “autoridade” do lado. “Estamos aqui a fazer este vídeo porque, infelizmente, nós negros somos sempre vítimas de abusos e retaliações", diz Edu Carvalho.