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Bolsonaro veio passear, causou aglomeração e não trouxe dinheiro. Mas mesmo assim é amado pelos catarinenses. |
sexta-feira, 7 de julho de 2023
Ah, Santa Catarina, sua ingrata...
quarta-feira, 5 de julho de 2023
Falar no diploma de Lula é só conversa para boi dormir
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
segunda-feira, 3 de julho de 2023
Bolsonaro na Prefeitura de Joinville... já!
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Jair Bolsonaro se ferrou. Ficou inelegível e a previsão é de que o seu futuro passe pela cadeia. Desde a leitura da sentença, o choro dos bolsonaristas ainda não parou e as redes sociais estão inundadas pelas lágrimas dessa gente. Depois de tantos malfeitos, os bolsonaristas continuam na defesa do seu “mito”. Faz sentido, uma vez que “mito” e “mentira” são sinônimos. Afinal, quando algo não é verdade, a gente diz: “isso é mito”. Ou não?
Fiquei curioso para saber as reações em Joinville, onde 76,6% votaram no sujeito. Dá o que pensar: já imaginaram que entre cada 10 pessoas há 8 bolsonaristas? É uma cidade difícil para encontrar amigos com dois dedos de testa. O rio Cachoeira também deve ter transbordado com as lágrimas dessa gente. E por falar no rio e em alagamentos, uma das reações que mais chamou a atenção foi a do prefeito da cidade.
Logo após a leitura da sentença de inelegibilidade (eita palavrinha disgramada), o prefeito de Joinville (do partido que se diz novo mas é velho e se diz liberal mas é ultraconservador) vestiu a pele do rapaz cordial e insinuou que a Justiça estava a exagerar na punição. O digníssimo prefeito correu para a sua conta do Twitter em defesa de Jair Bolsonaro, mesmo sem citar o seu nome.
“A liberdade de expressão é um direito constitucional de todos os brasileiros. É lamentável que pessoas sejam julgadas e condenadas unicamente por expressarem suas opiniões. Defendo uma democracia com liberdade de diálogo e de opiniões”. Ora, a nota do prefeito é inconsistente, banal e vazia. Ou seja, em termos de ideias é uma mão cheia de nada. Serve apenas para deixar clara a sua opção bolsonarista.
A inelegibilidade de Bolsonaro parece importante para o prefeito, porque ele raramente aparece na rede do Elon Musk. Desde 2019 foram apenas 42 tuítes sobre assuntos que sequer pedem comentários. Mas se a preocupação é tão grande, fica aqui a sugestão: arranjar um lugar para Bolsonaro no segundo escalão da administração municipal. Afinal, não são cargos “elegíveis” e a escolha podia fazer muito pelo marketing da prefeitura.
E como estou a dar a sugestão, tomo a liberdade de ir mais longe: que tal oferecer a Secretária da Saúde, uma área na qual o ex-presidente tem enorme expertise. Mas faço um aviso: tem que ser rápido, porque a cada dia que passa a porta da cadeia se abre um pouco mais para Bolsonaro. A não ser, claro, que o deputado Zé Trovão, outro representante da cidade, e os seus parceiros consigam fazer passar o projeto de anistia para o ex-presidente.
É a dança da chuva.
quarta-feira, 28 de junho de 2023
Em inglês, os caras até parecem gênios
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Pensamento é linguagem. Quando a gente está a pensar usa palavras e daí a importância de saber o valor exato de cada uma delas. É também uma forma de defesa, porque manipulação das palavras é uma das marcas do capitalismo. Ou seja, é uma estratégia ligada à construção de narrativas que visam proteger e promover os interesses econômicos e comerciais.
A introdução de léxicos estrangeiros, sobretudo do inglês, é uma prática comum no meio empresarial. Já notaram que idiotice dita em inglês fica logo parecendo uma coisa do outro mundo. Mesmo as piores sacanagens ficam parecendo obras de anjinhos. Os gurus da economia, por exemplo, usam e abusam. Duvida? Então vamos ver alguns exemplos de coisas que, em inglês, assumem significados quase inofensivos.
Downsizing – Na língua dos administradores significa uma inocente redução dos níveis hierárquicos de uma empresa. Mas em linguagem de gente quer dizer que algum gestor inepto não soube fazer o seu trabalho e, para salvar o couro, teve que fechar departamentos e demitir uma porrada de gente. Há uma diferença entre dizer “o cara demitiu funcionários” ou “o administrador procedeu a um downsizing na empresa”. Em inglês, o sujeito até parece um Einstein.
Outsourcing – É a tal “terceirização”: uma empresa compra soluções a outra empresa. Ou seja, demite os seus funcionários (que tinham custos laborais e outras coisas mais), perde o know-how acumulado e passa a comprar de outro sujeito que produz com custos menores. E por vezes com os mesmos trabalhadores que foram demitidos.
Team building - É uma estratégia para motivar os trabalhadores e, desta forma, melhorar as performances no trabalho em equipe. O team building pressupõe uma série de atividades em que a colaboração entre trabalhadores e o eixo central. Na realidade são ações que contam com benefícios fiscais e pouco custam às empresas.
Outplacement – Isso acontece depois das demissões do tal downsizing. É quando se tenta recolocar um ex-trabalhador numa outra empresa. Dito em língua de gente simples quer dizer: “Nós te demitimos e estamos nos cagando para ti. Mas somos simpáticos e até indicaremos um consultor para te orientar. Também vamos escrever umas cartinhas para levares a outras empresas. No fim vais achar que nós, que te demos com o pé na bunda, somos mais bonzinhos que a Madre Teresa de Calcutá”.
Empowerment – É empoderamento em português. Significa dividir o poder de decisão com o grupo de trabalho. É uma forma de um superior se livrar de tarefas chatas e passar a batata quente para as mãos dos subordinados. E o chefe sempre tem alguém para pôr a culpa se a coisa sair mal.
Benchmarking – Parece sofisticado, né? É tomar decisões a partir do exemplo de outras empresas. Ou seja, quando um administrador não tem a menor imaginação, ele copia os outros. Copiar é mau. Mas um cara que faz “benchmarking” é capaz de acabar candidato ao Nobel de Economia (que, por sinal, é um equívoco, porque só há Nobel de Física, Química, Medicina, Literatura e Paz).
É a dança da chuva.
Or rephrasing, it's the rain dance.
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Foto: Ron Lach |
domingo, 25 de junho de 2023
Entender fatos complexos com tweets? Não dá...
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há uma diferença notória entre o jornalismo brasileiro e o europeu. É a atenção que se dá ao noticiário internacional. Todos os dias um cidadão europeu é impactado por muitas horas sobre os fatos do mundo. Tudo com analistas que vêm do próprio jornalismo, mas também de especialistas nessa área, sejam acadêmicos ou pessoas com autoridade nas áreas em discussão.
Isso não é uma realidade no Brasil. Lembro, por exemplo, que em tempos passados os grandes expoentes da análise internacional eram jornalistas como Newton Carlos, precursor do colunismo internacional na mídia brasileira, ou Clóvis Rossi, que passou a maior parte da carreira na Folha de S. Paulo. O fato é que não há uma tradição nessa área e o Brasil parece mesmo ser “periférico”.
Quando estava no jornalismo diário, houve ocasiões em que ocupei a função de editor internacional, sempre de forma pontual. Foi o suficiente para perceber a dificuldade do trabalho, uma vez que o acesso à informação era muito limitado. O que um editor de internacional fazia era "baixar" as notícias que chegavam das agências. Não era preciso saber de geopolítica e nem mesmo falar línguas.
Há os fatos. Os jornalistas europeus têm acesso mais direto às fontes de notícias internacionais devido à proximidade geográfica com os principais centros de poder. Isso permite uma cobertura mais abrangente e detalhada dos acontecimentos globais. Além disso, muitos países europeus têm uma longa tradição de jornalismo investigativo e de qualidade.
No caso do Brasil, em primeiro lugar, a distância geográfica pode dificultar o acesso direto às fontes de notícias internacionais. Além disso, os meios de comunicação brasileiros têm uma realidade política, econômica e social específica, que pode influenciar as prioridades da cobertura jornalística. Tudo isso sem falar que o jornalismo passa por dificuldades financeiras.
Não surpreende que hoje em dia, quando temos um evento mundial como a invasão da Ucrânia, mesmo os cidadãos considerados mais instruídas estejam a patinar na análise. Isso é resultado da falta de tradição, de referências ou de uma cultura jornalística sem foco no internacional. Muitos acham possível entender fenômenos complexos com base em ideias desgarradas das redes sociais. Não dá. Tem que estudar.
Isso torna possível que uma certa “esquerda” brasileira acabe aderindo às teses da propaganda russa, uma máquina poderosíssima. Os sites de “referência” dessa esquerda estão subordinados ao ideário de Putin. Não por noções de geopolítica, mas por uma ideia simplória: "eu sou contra os EUA e vou aderir a tudo o que for contra". Mesmo que o regime de Putin seja uma ditadura. Esquerda?
Para terem uma ideia, hoje, num domingo do verão europeu, já ouvi dois programas de uma hora totalmente dedicados ao internacional. Em debate, a ação humanitária na Europa, a reconstrução e o Erasmus (programa das universidades) na Ucrânia, eleições na Espanha, tensão no Kosovo, o legado de Berlusconi e, claro, os fatos envolvendo o grupo Wagner.
Isto é apenas para deixar a ideia de que um cidadão europeu está exposto a mais horas de noticiário internacional do que os brasileiros. E que análises sérias não podem ser feitas apenas a partir de tweets ou sites que sequer têm jornalistas no exterior e limitam-se a fazer um corte e cola de serviços gratuitos (não há almoços grátis). É preciso mais, muito mais…
É a dança da chuva
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Newton Carlos foi um dos expoentes do jornalismo internacional no Brasil |