quarta-feira, 23 de setembro de 2015

O zapzap e o fascismo

POR FELIPE SILVEIRA

O desinteresse pelo conhecimento, penso, é um das mais graves causas e também consequência da múltipla crise que vivemos. Reparem nos seus ambientes, entre seus amigos, sua família, seu trabalho. Note a maneira como eles se informam, o que pensam sobre o mundo, como interagem socialmente. De modo geral, e há muitas exceções, estão todos ocupados com frivolidades, mas fazendo delas o referencial para as suas vidas.

O whatsapp tem ocupado, dia após dia, o posto de fonte de informação de uma parte considerável da sociedade. E lá na terra de ninguém há desinformações das piores espécies, trabalhando as mentes mais diversas, e muitas vezes fragilizadas, mentes.

Outra mudança de hábito provocada pela tecnologia e que interfere na questão é a informação por meio de canais de youtube. Eu, por exemplo, assino algumas dezenas deles. Mas tenho notado que é um hábito cada vez mais comuns de crianças, adolescentes e jovens. E, se por um lado há excelentes canais de informação, alguns dos mais populares se caracterizam pela edição socada de cortes, gritos, palavrões e "reflexões" que demonstram indignação com "tudo que está aí".

Não se trata aqui de ser contra as inovações, os novos hábitos, e muito menos de tratar os jovens como tontos alienados. Pelo contrário, cada nova tecnologia nos abre um universo de possibilidades e os jovens de hoje são pura potência e energia que é capaz de mudar o mundo. Mas se trata de refletir e entender como tudo isso nos afeta cotidianamente. E, se a crítica à política do "pão e circo" é mais velha do que Roma, é preciso reconhecer e entender como ela se apresenta hoje.

A desinformação é o adubo do fascismo que cresce a cada dia no Brasil. Eu imagino que tipos de conversas há nos whatsapps dos marombeiros da zona sul do Rio de Janeiro. Ou que tipo de informação busca um jovem que se torna neonazista. Fico pensando o que eles falam de imigrantes, dos "comunistas do PT", quais posts do Bolsonaro curtem.

A desinformação também impede que a sociedade veja as causas da violência que a assombra. Assim, pede mais violência como solução. Nessa levada, fica revoltada online, começa a curtir páginas de promoção do ódio e até a comemorar quando esse ódio se expressa em forma de violência, seja ela física ou simbólica.

Mas o pior do desinteresse pelo conhecimento é que ele impede a reflexão sobre uma solução para os problemas do país. Afinal, sem o povo não é possível mudança alguma. Mas o povo está ocupado demais recebendo, absorvendo e espalhando ódio no whats.

Culpar o povo, no entanto, é inútil. Quem deveria ter feito algo e não fez enquanto pode foi o Estado brasileiro, como destacou o jornalista e meu querido professor Samuel Lima na última vez que o vi. Ele lembrava da Conferência Nacional de Comunicação realizada no governo Lula, cujas metas propostas foram solenemente ignoradas pelo governo. Pensei, então, no que o Estado deixou de fazer em outros campos, como a educação. Ou de que forma o governo incluiu o povo na construção de um projeto de país. Os dias de hoje mostram que, se fez algo, foi insuficiente.

Mas nunca é tarde, embora tudo sugira o contrário, para mudar essa realidade. O conhecimento está aí, doido pra ser encontrado, usado e abusado. Basta que algo promova este encontro entre nós e ele. Quem sabe nós mesmos.


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Prefeitos para Joinville? A coisa vai de mal a pior




POR JORDI CASTAN


Parece que para o pessoal do Chuva Ácida o processo eleitoral já começou. E já temos as análises sobre os possíveis candidatos. Mas ainda é cedo para todo esse debate, pois muita água tem que correr embaixo das pontes do Cachoeria. Mas dois pontos estimulam este debate extemporâneo.

O primeiro é a sensação de que este governo já acabou. A bem da verdade acabou sem ter chegado a começar. O que, diga-se de passagem, é uma situação esdrúxula para quem ia a dar um choque de gestão. O resultado é uma grande decepção. A inação e a falta de ações concretas, unidas ao desencanto do eleitor, sepultaram esta gestão.

Mesmo assim Udo Dohler surge como candidato natural. E  a seu favor tem a mediocridade dos outros candidatos. Para evitar cair na teoria de escolher o “menos ruim” é bom lembrar que o menos ruim segue sendo ruim. Escrevi sobre isso aqui no Chuva Ácida e repito: escolher o menos ruim representa escolher o ruim. Sabendo que é ruim.

O outro risco que devemos enfrentar em 2016 é o de fazer a escolha do candidato que seja “bom o suficiente”. E se o menos ruim era ruim, corremos aqui o risco de cair na mesma armadilha. Ou seja, escolher um candidato que não seja suficientemente bom para os desafios que Joinville tem pela frente. Esta nova versão do “menos ruim” ganha força na medida em que começam a pipocar os nomes dos pré-candidatos e aos poucos vão colocando as manguinhas de fora.

A pergunta que volta uma e outra vez:  Joinville não tem candidatos melhores? Uma cidade como a nossa deve amargar permanentemente a sina da mediocridade? E condenar o eleitor a escolher entre o "menos ruim" e o que é "bom o suficiente". Como se Joinville não merecesse mais.

Reconheçamos que o poder público ajuda a consolidar essa cultura do "bom o suficiente". Não há uma única obra pública nas últimas décadas da que possamos nos orgulhar, que tenha sido bem feita, no prazo e de acordo com o projeto e pelo preço orçado. Como se os joinvilenses não merecessem mais que isso que aí esta: asfalto casca de ovo, parques sem árvores é que não são mais que praças, esgoto que não esgota, hospitais que são só anexos ou duplicações que são só arremedos de binários, para citar apenas alguns casos.

Assim que em 2016 teremos as opção de escolher entre o gestor que não faz, o incompetente que não fez, o corrupto condenado, o bom moço que de bom não tem nada ou o mitômano compulsivo, ainda que nesta última categoria cabe mais de um candidato. A escolha continua difícil e o futuro parece a cada dia mais incerto.