segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Lula à la carte








Uma das frases mais bem sacadas que li nos últimos tempos diz o seguinte: o Brasil é o único país do mundo onde tem gente ocupada em derrubar o ex-presidente. O fato é que não passa um dia sem a gente dar de cara com uma notícia a tentar detonar ex-presidente Lula. E, como é normal nas redes sociais, ninguém se preocupa em checar as fontes ou os fatos.


Lula é corrupto? Lula não é corrupto? A escolha parece ser à la carte. Neste exato momento, por exemplo, circulam por aí notícias e boatos que envolvem um hacker, revelações bombásticas, contas no exterior e o escambau. E temos duas versões a correr por aí: uma do Financial Times e outra com textos apócrifos na internet.

VERSÃO FINANCIAL TIMES - Há um artigo escrito por Joe Leahy para o “Beyondbrics”, do Financial Times. O jornalista, que representa a publicação no Brasil, comenta a divulgação dos endereços das propriedades supostamente pertencentes ao ex-presidente Lula, numa ação de um hacker identificado como nbdu1nder (a fonte é a Associated Press). Mas por que o texto não se tornou viral na internet? Porque é sem graça.

O próprio Joe Leahy explica: quem está à espera palacetes no Morumbi, condomínios à beira mar em Copacabana ou fazendas a perder de vista na Amazônia vai ter uma grande decepção. O fato é que, de acordo com o texto, o patrimônio do ex-presidente é compatível com o seu padrão de vida e os imóveis de sua propriedade estão em lugares normalíssimos, com alguns em zonas que podem ser consideradas pobres e sem grande valor comercial.

Aliás, em determinado momento do texto, quando são mostradas fotografias dos locais dos imóveis supostamente de propriedade do ex-presidente, Joe Leahy diz a respeito de um lugar específico: “a julgar pelas fotos tiradas do Google Maps, este não é um lugar que você gostaria de passear à noite, especialmente quando uma pesquisa YouTube mostra vídeos sobre homicídios e outros problemas sociais”.

A VERSÃO INTERNET - Aí surge um texto na internet - apócrifo, como tantos outros - a dizer que nesse caso Lula está a ser ameaçado de chantagem cibernética. O tal hacker estaria a pedir US$ 25 milhões para silenciar sobre eventuais informações comprometedoras relacionadas às finanças do ex-presidente. Ah... e o texto faz questão de salientar que a imprensa nacional - de conluio com Lula - nunca vai divulgar o fato.

Há pelo menos três coisas claras a respeito deste texto e do pessoal que espalha esta versão  na net. 1. Eles insistem na ideia de que a imprensa acoberta Lula, quando a realidade mostra outra coisa. 2. Ninguém quer saber de checar as fontes, porque basta a notícia ser contra Lula e o pessoal fica cego, surdo e mudo. 3. Não importa se o tal hacker está a cometer um crime, porque os crimes são aceitos desde que sirvam para detonar o ex-presidente.

E VOCÊ? Ok... eu acho recomendável tomar cuidado, porque o caso tanto pode trazer alguma coisa importante como simplesmente dar em nada. E você, leitor e leitora, o que acha? Se formos levar em consideração o texto do Financial Times, o tal  hacker deve estar de bengala, porque foi um tremendo tiro no pé. Mas se escolhermos acreditar no texto da internet, apócrifo e sem fontes, vamos achar que o hacker, mesmo sendo chantagista (portanto, criminoso) é um herói.

Alguém entende?

É como diz o velho deitado: “se os fatos não correspondem à minha opinião, danem-se os fatos”.



A Universidade Internacional de La Rioja (Unir), na Espanha, está a lançar o primeiro curso de doutorado online, dirigido a profissionais das áreas de Educação, Comunicação, Direito e Trabalho Social. O curso é uma forma de atender a um público que pretende estudar, mas por ter obrigações profissionais e familiares fica com pouco tempo para se dedicar a uma vida acadêmica tradicional. Que tal, leitor e leitora? É a oportunidade de fazer um doutorado sem precisar sai do Brasil.



David Cameron deve convocar um referendo para saber de a população da Grã-Bretanha quer ficar ou sair da União Europeia. A minha opinião não vale grande coisa, mas fico na torcida para que eles decidam sair. Os caras são uns chatos eurocéticos que nunca querem comparecer nas horas difíceis, mas gostam de aproveitar o mercado único para fazer negócios. Não querem entrar no espírito comunitário? Então, tchau!











“Protesto contra Lula e PT reúne 20 pessoas na avenida Paulista”.
Título do jornal Folha de S. Paulo, ontem.

Alguém consegue entender essa notícia do jornal? Em princípio fiquei a pensar que era uma forma de desmoralizar a meia dúzia de gatos pingados que apareceram no protesto. Mas depois, ao ver um vasto material fotográfico, ficou a impressão de que estavam a atribuir valor jornalístico ao caso. Aí é dose...

FLASH
A Andaluzia é um dos lugares mais belos da Espanha e reserva muitas surpresas, como o Parque Nacional de Donãna, uma extensa área de natureza protegida onde está a Ermida do Rocio, a igreja que aparece na foto. A Virgen del Rocío concentra uma das maiores manifestações de fé dos espanhóis e todos os anos recebe cerca de um milhão de pessoas. As ruas não tem asfalto porque a procissão é a cavalo. Se a igreja parece humilde por fora, é bom dar uma olhada por dentro para mudar de ideia. 


PUB LOUCA
Já imaginou a importância de por o seu rebento numa escola de artes marciais? O filme explica as vantagens.



sábado, 12 de janeiro de 2013

Investir em ciclovias e no uso de bicicletas


POR CLÓVIS MONTENEGRO*
Quando eu era criança na pequena e pacata cidade de Florianópolis, aprendia-se na escola que Joinville era a “Manchester Catarinense”. Era uma alusão à cidade inglesa que foi o berço da Revolução Industrial, como está nos manuais de história. Dizia-se com orgulho que todos os carros brasileiros não saiam das fábricas sem pelo menos uma peça produzida na Fundição Tupy.
Cresci ouvindo que Joinville era também a “cidade das bicicletas”, pois sua geografia plana proporciona às suas dezenas de milhares de operários o uso deste agradável meio de transporte. O controle dos capitães da indústria sobre o governo local viabilizou investimentos para que formasse uma malha de ciclovias, para facilitar o deslocamento dos operários de suas casas aos locais de trabalho.
Quando fui morar em Joinville, em abril de 1990, encontrei lá as suas ciclovias intactas e os mesmos milhares de operários industriais usando suas bicicletas. A situação econômica estava mudando, e a abertura das importações de automóveis agravou as dificuldades da Fundição Tupi. Era uma face perversa do aumento do número de montadoras de automóveis de passeio no Brasil.
Aquele feudalismo industrial de outrora viveu um efetivo desmoronamento.  A Consul foi vendida para o grupo norte-americano Brasmotor, o grupo Hansen se esfacelou e o controle do mercado local de planos de saúde privado pela Unimed virou fumaça. Nesta época formou-se uma elite sindical autônoma, com interesses próprios, e emergiu uma mobilização popular nas associações de bairros.
Hoje a cidade de Joinville, como todos os demais municípios brasileiros, ganhou um prefeito “novinho em folha”. Tudo bem que o senhor Udo Doehler não é exatamente uma novidade na vida dos joinvilenses, mas sempre a entrada de uma pessoa no governo de uma cidade cria expectativas. Como perguntar não ofende, e dar conselhos também não, dou um conselho de graça: resgatem a capacidade de uso e de deslocamento com bicicletas pela cidade.
Estou em Amsterdam, nos Países Baixos, para uma breve temporada de estudos na Universidade Humanística de Utrecht. Os guias turísticos apresentam os costumes locais, e destacam o hábito de pedalar. Todo mundo pedala: crianças, jovens, homens, mulheres e idosos.  Vai-se de bicicleta para a escola, para o trabalho, para as compras, para os encontros, para as baladas.

Canal Utrecht to Amsterdam

Olhando a paisagem urbana de Amsterdam recordei da história de Joinville, que também era uma cidade de bicicletas. Faz quarenta anos que o mundo enfrentou o “choque do petróleo”, mas parece que nada aprendemos. O Brasil investiu no transporte individual automotivo, usuário de combustíveis fósseis. Os governos federais do PT têm caprichado na isenção de impostos para as montadoras.
Joinville e Amsterdam têm em comum o fato de serem cidades no nível do mar. Em Joinville os mangues foram ocupados pelas populações mais pobres, em busca de empregos na indústria e de equipamentos públicos.  Em Amsterdam os charcos foram controlados pela construção de canais. Ambas correm riscos com o aquecimento global, o degelo das calotas polares e a elevação das marés.
O senhor Udo Doehler pode colocar Joinville de outro modo no mapa mundi, se investir em ciclovias e no uso de bicicletas. Ouço dizer que a qualidade do transporte coletivo local (uma concessão pública!) não é boa, e os preços das suas tarifas são tema de conflitos. A ilusão dos tapetes pretos de asfalto também parece ter esgotado a sua capacidade de cooptar a simpatia dos cidadãos. Resta uma volta ao passado como futuro.
Quando assumi a secretaria de Saúde do município na última gestão do senhor Wittich Freitag (em janeiro de 1993), coloquei na minha sala de trabalho uma ampliação gigantesca da foto de uma menina loira atrás do aro de uma bicicleta vermelha, feita pelo grande amigo Paulo de Araújo (na época trabalhando no Diário Catarinense). A foto tinha um tom forte entre laranja e vermelho, e tinha muito a ver com a imagem que fazia de cidade.
Olhando para o passado e para o meu Brasil varonil, daqui de Amsterdam, fico pensando no quanto precisamos investir no controle do uso dos recursos naturais. A humanidade não pode mais seguir obstinada no desenvolvimento econômico como condição para a melhoria da qualidade de vida. Isso é falso. Chega de enganar os trabalhadores brasileiros de que eles precisam comprar carros de passeio cada vez mais novos para demonstrarem sucesso pessoal.
O Instituto de Planejamento Urbano de Joinville se orgulhava de copiar as boas soluções do seu semelhante de Curitiba. Só que aparentemente não conseguiram ir mais longe do que os corredores de ônibus com terminais de integração. Quem sabe não vale a pena fazer como Amsterdam e produzir suas próprias soluções, que servem de modelos par os outros. O Brasil precisa de bons modelos de organização da vida urbana.
Não funciona fazer ciclovias cosméticas, daquelas que vão do nada a lugar algum. Ciclovias precisam estar articuladas com estacionamentos para bicicletas e ter um pequeno marco regulatório de uso. Além disto, precisam estar integradas a outros meios de transporte como caminhadas, bondes, ônibus e barcas. Os carros de passeio precisam ir para o fim da fila entre as opções urbanas.
O morador de Amsterdam se orgulha do seu “cavalo holandês” de duas rodas. O cidadão de Joinville pode voltar a se orgulhar de viver na “cidade das bicicletas”. Seria bem mais do que uma fantástica solução local, com redução do consumo de recursos: pode ser a construção de um exemplo sólido para os demais brasileirinhos. Lula era torneiro mecânico e talvez sonhasse em ter o seu “carrinho”, mas 35 anos depois das greves dos metalúrgicos do ABC não podemos continuar pensando neste sonho como destino. É um abismo.

*Médico. Pesquisador em Ciência da Informação, pós-doutorado pelo Instituto Brasileiro de Informações em Ciência e Tecnologia.  

Van Gogh com pele e cabelos

POR ET BARTHES
Você já imaginou como seria Vincent Van Gogh em carne e osso? Não. Então veja este trabalho do fotógrafo Tadao Cern, que substituiu as texturas no auto-retrato do artista e transformou numa fotografia. Muito interessante.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Messi e Ronaldo

POR ET BARTHES
Cristiano Ronaldo versus Lionel Messi. A Al Jazeera pagou uma grana muito louca por este comercial de televisão.


Cão Tarado


Cão Tarado


Cão Tarado


Sobre bullying

POR FELIPE SILVEIRA

Muita gente que conheço despreza a ideia de bullying, e, consequentemente, a ideia de combatê-lo. Muitas vezes vi e ouvi gente usar o próprio exemplo de vida para dizer que isso é uma bobagem da época atual. Quando ouço isso, a minha vontade é praticar bullying contra a pessoa: “Olha pra você, um adulto frustrado, medroso, que tenta compensar o fracasso na vida com mentiras e atitudes covardes, como a humilhação de outras pessoas supostamente mais frágeis”.

No entanto, como eu sou a favor de combater essa violência psicológica, seja na escola ou em qualquer lugar, guardo o pensamento para mim e tento iniciar um debate mais sadio. Aliás, a própria ideia de ter que sempre “ficar por cima”, de fazer a última piada grosseira em uma discussão, me parece resultado de uma frustração que a pessoa tem consigo mesma.

Uma das coisas que tento dizer é que, mesmo que não houvesse o termo bullying na época de escola da pessoa, havia a humilhação, a crueldade, e o consequente riso em decorrência disso. E isso, por si só, já é bastante grave.

Como eu disse no início, é comum que alguém use o exemplo da própria vida para chamar o combate ao bullying de frescura. “Eu mesmo era chamado de cabeçudo, gordo, rolha de poço, narigudo... e sobrevivi. Isso forma caráter”, dizem. Quando alguém fala isso eu já sei que a pessoa não tem a menor ideia do que é bullying.

Na verdade, nem eu tenho certeza do que é exatamente, mas não é segredo para ninguém que se trata de uma violência contínua, e, mesmo que velada, com a intenção da humilhação. Algo praticado geralmente contra aqueles mais frágeis, sem condições de reagir, de responder ou de simplesmente “tirar de letra” a questão. E essa humilhação vai trabalhando, causando danos irreparáveis nas crianças e adolescentes, que crescem com medos e frustrações que duram a vida toda.

Penso que há um bom trabalho sendo feito em relação ao combate ao bullying, ou, se você não é dessa época, da humilhação do outro. E é justamente nesse momento em que se torna necessário refletir e avançar na ideia. Dizer que você foi perseguido e tá aí vivão não ajuda em nada. No máximo, te torna um anônimo do Chuva Ácida que alivia um pouco a sua frustração ao tentar “ficar por cima” nos comentários.