*Uso e expressão "casamento gay" para efeitos de título (por ser mais curto).
sexta-feira, 22 de maio de 2015
quarta-feira, 20 de maio de 2015
Há quatro ou cinco anos...
POR FELIPE SILVEIRA
Há quatro ou cinco anos, quando alagava o terminal central, choviam nas redes sociais montagens com o então prefeito Carlito Merss (PT) em botes, motos aquáticas, em cima do Fritz e em qualquer lugar que a criatividade dos internautas sugerisse.
Nos comentários das montagens o ódio se espalhava. Todo tipo de palavrão foi usado contra Carlito Merss e novos foram inventados para isso. Além do ódio, havia a crítica dos moderados. Não xingavam, mas não deixavam de responsabilizar a administração municipal pelos alagamentos e por tudo que era ruim.
Isso ocorre em alguma medida com o prefeito Udo Döhler (PMDB). Mas nada que se compare. Há alguma corneta, uma montagem ou outra, reclamações e piadas com a nova gestão. Mas a carga de ódio é completamente diferente. Aliás, o ódio é elemento ausente na repercussão de notícias que envolvem a nova administração, mesmo que os problemas sejam os mesmos.
Deixar de odiar é, sem dúvida, um avanço. Mas é preciso observar a razão. O governo Udo Döhler simplesmente deixou de ser responsabilizado pela massa joinvilense.
Imprensa
É controversa a relação da imprensa com o governo Udo Döhler. O jornal A Notícia, que pertence ao grupo RBS, recebeu o governo do empresário com uma megalomaníaca manchete “A ERA UDO”. Por outro lado, o jornal televisivo do mesmo grupo tem se voltado mais à comunidade nos últimos anos (por necessidade de audiência), levando a cobranças ao governo municipal. Tenho a impressão que a RBS opera em um “bate e assopra” nos últimos anos.
Mas acredito que neste caso importa menos o modo como a imprensa age do que o modo como as pessoas reagem ao governo. Não há dúvidas que o ódio nacional ao PT, que hoje alcança níveis estratosféricos, tem relação com o ódio a Carlito.
Um negócio da China e Petrobras
Já o ódio ao PT, que prejudicou Carlito, tem relação direta com a imprensa nacional. Um exemplo disso é a maneira como foram tratados os fatos relacionados à economia. Se o fraco desempenho da petrolífera brasileira ganhou todos os holofotes meses atrás, sua recuperação é escondida embaixo do tapete. Boa parte da população não bota fé na exploração do pré-sal, por exemplo, pois a imprensa e as redes levaram a desacreditar no negócio. Enquanto isso a Petrobras bate recorde atrás de recorde de retirada de barris.
Da mesma forma, a população brasileira é levada a acreditar que os recentes negócios com a China não são lá grande coisa. São só 53 bilhões de dólares em investimentos nos próximos anos. Uma notícia das mais impressionantes em qualquer lugar do mundo, mas que é tratada com desdém e desconfiança pela imprensa nacional.
Enquanto isso, na biblioteca
O exemplo acima mostra que a maneira como tratamos a informação importa. Há quatro ou cinco anos o prédio central da Biblioteca Pública Municipal estava interditado, abandonado. Hoje, reformado e bonito, funciona.
Mas a biblioteca pública não deixou de funcionar na gestão petista. Diante do desabamento, que ocorreu por causa de uma reforma porca da gestão anterior, os livros foram levados a um bonito e espaçoso prédio na rua Anita Garibaldi, um pouco mais ao sul.
Alguns meses após a mudança para o centro, encontrei uma funcionária da biblioteca e perguntei sobre a mudança, comemorando a volta. Ela me contou que a população frequentava mais o espaço da rua Anita Garibaldi.
Há quatro ou cinco anos...
Ofereço o texto a Cleonice Heller, que perdeu a vida na terça-feira, 19 de maio, quando a caminhonete em que estava afundou no rio que alagava a rua a qual o automóvel tentava atravessar.
terça-feira, 19 de maio de 2015
LHS e o Cisne renhido
POR DAUTO J. DA SILVEIRA*
Há duas formas de se explicar o interesse da mídia dominante catarinense e de alguns setores produtivos e sociais em reverenciar o ex-governador Luiz Henrique da Silveira. A primeira delas é a tentativa de colar à sua experiência política, construída em torno de interesses imediatos de grupos reitores, especialmente, catarinenses, a um figurino político intocável, inquestionável. A tentativa, portanto, é de demonstrar que não há outra forma de agir politicamente. Essa estratégia, tão fecunda, dissolve qualquer debilidade que possa surgir e eclipsar o “sucesso” do ex-governador e tira do horizonte as possibilidades reais de se enfrentar os problemas que assolam o nosso Estado.
A segunda forma de explicar é caudatária da primeira, ou seja, é o ocultamento dos interesses burgueses que corriam na veia do ex-governador que nos fornece a chave explicativa da defesa angustiante da mídia catarinense. Não é exagero dizer que o ex-governador, ao longo da sua vitoriosa vida política, demonstrou comprometimento, sagacidade e um considerável traquejo com os seus negócios. A manutenção e ampliação do prestígio político, que se manifestava de forma impactante nas urnas e, porque não dizer, no apreço, ainda que ingênuo, de boa parte dos joinvilenses não é algo que deva ser desconsiderado nesta análise. Ocorre que todo este espectro político não teve como ponto de partida o intento de transformar profundamente a sociedade: a única forma capaz de tornar um político verdadeiramente prestigioso.
Para ser sincero o ex-governador sempre foi um político de extrato burguês e que não possuía nenhum laço identitário com a classe trabalhadora. Era o representante orgânico dos interesses de setores da burguesia catarinense e joinvilense. Mesmo vindo de um período em que fez oposição ao regime militar, nunca se destacou por ser um político das massas, de um político que pensasse à frente dos limites liberais da política, razão pela qual sempre atuou com certa liberdade dentro do congresso militar. Por tal condição não avançou um milímetro na luta pela superação das desigualdades sociais. Ficou muito reconhecido por sua “habilidade” ou por sua “articulação política”. Não obstante aos seus “traquejos políticos”, tudo era realizado de acordo com os interesses reduzidos. Isso é mais verdade se olharmos a teia complexa de relações políticas, partidárias, sociais e comunicacionais que estavam jungidas ao seu crivo. O controle desta teia é o que ainda explicava a sua condição de “cacique político” do Estado de Santa Catarina.
Se o que estamos a dizer faz sentido o projeto de poder lançado com a formação da tríplice aliança, enquanto marca desta capacidade de articulação, enfraquece-se com o seu falecimento. Ainda que os interesses possam ser mantidos, o vazio deixado levará algum tempo para ser preenchido; se é que possa ser preenchido diante da crise política e institucional que passamos.
Diante do esgotamento do sistema político liberal e de coalizão (enquanto forma de governar) só terá chances reais aquele político que estiver a integrar um projeto político efetivamente popular; que socialize os rendimentos do estado, portanto proponha um ataque aos interesses privados, dissolva as formas de prestígio social e as formas de poder dominante. Obviamente que estamos a falar de um político de “novo tipo”.
* Professor e Sociólogo
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