POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Hoje o tema são as cotas raciais nas universidades. Mas descansem os
leitores porque não pretendo retomar o debate-boca que precedeu a votação no
Supremo Tribunal Federal, na semana passada. Houve argumentos de sobra dos dois
lados e tempo mais que suficiente para a discussão. Os juízes decidiram, está
decidido.
A intenção é falar da reação dos conservadores que insistem em não engolir a coisa. Ah... mas como, segundo um estudo nos EUA, um conservador é alguém com menos “matéria cinzenta na área do cérebro associada à compreensão da complexidade”, vou falar numa linguagem que eles poderão compreender: o jargão do futebol.
Então vamos lá, meu povo. O resultado do jogo foi 10 a 0. E quando um time toma uma goleada dessas, não adianta inventar desculpas. Não faz sentido pôr a culpa no árbitro e dizer que ele está a roubar. Também é besteira pôr a culpa do gramado, na bola ou na torcida. Uma goleada é uma goleada. Apito final!
Mas não. Nos últimos dias tenho lido um chorrilho de imprecações de uma pequena burguesia que demonstra uma insidiosa incapacidade de ser solidária. Uma gente que se orienta pela filosofia da vaca: cagando e andando para os outros. Ora, meus senhores, a sociedade brasileira tem uma dívida histórica a pagar: o apartheid social, que é quase sinônimo de apartheid racial, ao longo de séculos. Há dúvidas?
Isso faz lembrar uma das frases feitas preferidas dos
conservadores:
- Eu não dou o peixe, ensino a pescar.
Mas quando chega a hora de ensinar a pescar – e para isso abrir espaços nas universidades públicas – torcem o nariz e fazem beicinho. Ora, vamos fazer as contas: o que a pequena burguesia tem a perder? Quase nada. Umas poucas vagas para os seus pimpolhos e nada mais. Aliás, não deixa de ser tão antigo quanto irônico: os caras defendem a iniciativa privada, mas fazem questão de ter os filhos nas universidades públicas.
- Eu não dou o peixe, ensino a pescar.
Mas quando chega a hora de ensinar a pescar – e para isso abrir espaços nas universidades públicas – torcem o nariz e fazem beicinho. Ora, vamos fazer as contas: o que a pequena burguesia tem a perder? Quase nada. Umas poucas vagas para os seus pimpolhos e nada mais. Aliás, não deixa de ser tão antigo quanto irônico: os caras defendem a iniciativa privada, mas fazem questão de ter os filhos nas universidades públicas.
Uma coisa é inquestionável. Quando a mão invisível do
mercado não funciona, a mão visível do estado tem que atuar. E atuou neste
caso, deixando a sociedade está obrigada a pagar uma dívida histórica. Então, qual
a razão para o berreiro dos opositores das cotas? Não podendo mudar as decisões
da Justiça, não podendo mudar o governo, talvez seja a expressão do secreto desejo de mudar o povo – do
qual decididamente parecem não gostar.