POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há um movimento que tenta dar um ar de legitimidade ao golpe.
Os articuladores do impeachment já entenderam que Dilma Rousseff não vai
renunciar – o que faria o golpe parecer legítimo – e agora tentam construir
uma narrativa própria. A intenção é criar um discurso que inocente a palavra
“golpe”. Não adianta. Golpe é golpe. Quem adere ao golpe é golpista. E
golpistas odeiam a democracia.
Nos últimos dias, surgiu uma meia dúzia de juristas pingados
a defender a tese de que impeachment sem crime não é golpe. Traduzindo o
palavrório: é conversa para boi dormir. Por mais gente togada que apareça a
dizer o contrário, golpe é golpe. Essa gente quer esculhambar o estado de
direito. A construção da tal narrativa em juridiquês só tem um objetivo: dar um
álibi moral para os sacripantas cívicos. “Não é golpe, é legal”, dirão aliviados.
A “gente de bem” que adere ao golpe vive numa espécie de
terceiro mundo mental. Não importa se o impeachment está a ser articulado pela
pandilha Temer-Cunha-Aécio-Serra, políticos de caráter
duvidoso (para ser simpático) e sobre os quais recaem indícios mais que suficientes
para serem investigados. Mas se for para apear Dilma Rousseff do poder, os
adesistas do golpe não se importam de chafurdar na mesma lama. É o grau zero da
moralidade.
Os golpistas se esforçam por construir uma narrativa
auto-indulgente. Mas é gato escondido com o rabo de fora. Não dá para disfarçar, apesar da ajuda sentenciosa de velha imprensa nacional. Em sentido contrário, no
exterior a comunicação social despertou para o tema e denuncia
a existência de golpe. A palavra começa a aparecer cada vez com maior
frequência nas manchetes dos jornais. A opinião pública mundial também começa a
acompanhar essa tendência.
E, por fim, que tal um exercício de imaginação? Se Dilma
Rousseff for impedida, como será o dia seguinte? Os políticos articuladores do
golpe, por terem uma agenda própria, já sabem o que vão fazer. Tremei,
incautos! Mas e a tal “gente de bem” que se deixou manipular e aderiu à narrativa
golpista? Terá noção do que aconteceria no dia a seguir ao golpe? Pensem. Porque se pensarem vão perceber que a agulha da bússola não está a apontar para o Norte.
É a dança da chuva.
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A imprensa internacional chama o golpe de golpe |