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quarta-feira, 5 de setembro de 2012
segunda-feira, 6 de agosto de 2012
O juiz e o deputado Tebaldi
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
É um evidência: as plataformas digitais democratizam a opinião e ampliam
a voz de pessoas que antes não tinham lugares de expressão. Há um novo mundo,
senhores. Mas tem gente que parece não ter percebido o fenômeno na
totalidade. E cometem-se erros perfeitamente evitáveis: o deputado Marco Tebaldi foi à Justiça pedir que uma montagem
fotográfica, onde ele é mostrado como ficha suja, fosse retirada do Facebook.
Li um texto sobre o episódio no jornal A Notícia e duas coisas chamaram
a atenção: o pedido de Tebaldi e o estilo da resposta do juiz. No caso do
candidato a fica uma evidência: ele provavelmente não se importa de despender
tempo em processos que à partida não surtirão efeito. E imagino que talvez os
seus conselheiros não estejam muito atentos à lógica das redes sociais. Meus
senhores, vou dizer: caiu na rede é peixe. Na prática, é difícil fazer a coisa
desaparecer. Vocês tiram aqui, reaparece ali. Vocês tiram ali, reaparece acolá.
Já a sentença do juiz Yhon Tostes surpreende pelo tom usado. Em vez da
linguagem cifrada e intrincada que só os juristas conseguem produzir, vi uma
sentença judicial com o estilo de um artigo de jornal. Coisa que nós, simples
mortais, conseguimos entender. E, tal como se faz nos artigos de jornal, houve
mesmo espaço para uma alfinetada no candidato. Escreveu o juiz, segundo o texto
que li em A Notícia:
- Assim, muito embora efetivamente o representante e agora candidato a
prefeito não tenha sido enquadrado em nenhuma das restrições da Lei
Complementar nº 135/2010, a verdade é que, numa visão popular, não pode ser
considerado como um 'ficha limpa', pelo contrário.
Atentem para o detalhe, leitores e leitoras: o juiz usou a expressão
“pelo contrário”. É um statement interessante. Porque qualquer pessoa com dois
dedos de testa consegue imaginar o contrário de “ficha limpa”. Certo? Ooops! Não sou
eu a dizer, mas o juiz. Parece que foi um tiro no pé. Tebaldi não iria ganhar
muita coisa ao tentar tirar o post do ar - pelo contrário, até porque esses posts
desaparecem com o tempo - e ainda teve um juiz a dizer justamente o que ele
tentava evitar.
Marco Tebaldi foi mais longe e, no seu pedido de direito de resposta,
pretendia veicular uma mensagem a dizer: “afirmo que sou candidato ficha
limpa". O deputado e os seus advogados parecem não ter compreendido que
essas coisas não funcionam assim nas redes sociais. Se o candidato quer dizer
que é ficha limpa, ele não precisa ir à Justiça. Só tem que fazer um post com a frase. Simples.
Mas se querem um conselho, caro deputado e advogados, melhor deixarem
para lá, porque há o risco de ser outro tiro no pé. Há uma coisa que a gente
aprende em comunicação: a lógica do “ferro enferruja”. Ou seja, se o tema é
potencialmente mau, melhor deixar quietinho. Além do mais, quem está limpo não precisa
sair por aí a repetir. As pessoas acabam por perceber.
Talvez o conceito de democracia nas plataformas digitais
ainda seja difícil de entranhar. As redes sociais dão voz às pessoas comuns,
democratizam a opinião e põem os políticos num outro patamar. E não sou eu a
dizer, mas sim o juiz na sua sentença, no seu estilo muito próprio:
- Se os comentários depreciativos são justos, se agradam ou não, é outra
história! O que não se pode agora é querer censurar o direito fundamental de
livre expressão.
É isso, juiz Yhon Tostes. Viva a liberdade de expressão!
P.S.: Tem um leitor a
reclamar que falamos muito no candidato Marco Tebaldi. Mas é ele a gerar
notícias perfeitamente evitáveis, como esta.
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