POR GUILHERME GASSENFERTH
Com os nove anos de voluntariado
pelos bairros de Joinville, passei a perceber algumas realidades que preferiria
não ter que conhecer. Com as apologias à grandeza de Joinville e à pujança de
sua economia somos forçosamente induzidos a crer que os problemas sociais daqui
são mínimos. Isto está bastante afastado da realidade. Como a pobreza é
escondida, parece que vivemos na Escandinávia. Mas nossos bairros mais pobres
são subsaarianos.
Em Joinville, há 10 aglomerados subnormais, ou seja,
favelas. Um aglomerado subnormal é, para o IBGE, “cada conjunto constituído de, no mínimo, 51
unidades habitacionais carentes, em sua maioria, de serviços públicos
essenciais, ocupando ou tendo ocupado, até período recente, terreno de
propriedade alheia (pública ou particular) e estando dispostas, em geral, de
forma desordenada e densa.”
7.198 pessoas vivem em favelas em Joinville. Para uma cidade
cujo ex-prefeito venceu uma campanha eleitoral ao governo do Estado afirmando
que Joinville não tinha favelas, o número é assustador. Você leitor, sabe onde
estão estas favelas? Provavelmente não.
Observando os dados do Censo
2010, o IBGE informa que dos 277.453 joinvilenses ocupados na semana em que fez
a pesquisa, 11,2% ganhavam salário entre R$ 0,00 e R$ 565,00 mensais, sendo que
o total de habitantes ocupados que ganhavam menos de dois salários mínimos
batia na casa de 53,27%.
Joinville tem alguns índices que
assustam e desafiam o status de cidade com 13º IDH do Brasil. Confiram alguns índices
educacionais: 1,77% das nossas crianças entre 7 e 14 anos estão fora da escola.
1.130 crianças que não estudam. Quando se analisa a idade de ensino médio (15 a
17 anos), o índice sobe para 15,71%. São 4.175 jovens fora da escola nesta
faixa etária. Todas informações quentinhas, agora de 2010.
A situação precária em que alguns de nossos moradores vivem
também é assustadora. 359 residências não tem nenhum tipo de abastecimento de
água – poço, captação do rio, nada. 1.224 casas não tinham geladeira! Só 72,7%
tinham condições de saneamento consideradas adequadas pelo IBGE. 6.203 casas
tinham esgoto a céu aberto! 40% dos domicílios particulares estão em ruas não
pavimentadas. Para a cidade mais rica de Santa Catarina, os números e dados são
muito vergonhosos.
Espero que os leitores esmerem-se para auxiliar esta
população (ainda que tão somente no voto) a sair desta realidade. Estas pessoas
não são assim porque querem, mas porque a falta de oportunidades lhes deu esta vida, se é que se pode usar algum termo relacionado a "viver" para descrever a situação.
Falar para estes joinvilenses de coisas como educação de
qualidade, saúde digna, saneamento e qualidade de vida é como explicar a um
ateu sobre Deus. Não apenas não conseguem acreditar que existe como ainda
zombam de você. Mas é preciso que juntos os façamos acreditar!
Agradecimento especial à amiga Charlotte Maehl por aceitar meu maluco convite de fazer um passeio pela periferia de Joinville para fotografar num belo sábado ensolarado!