sexta-feira, 1 de setembro de 2017

O triste fim da baía da Babitonga

POR DOMINGOS MIRANDA
Um antigo sonho dos joinvilenses, a navegação comercial entre Joinville e São Francisco do Sul, foi descartado definitivamente. O Departamento de Transportes e Terminais (Deter), órgão do governo estadual, vai retirar boias e balizas de sinalização do trecho entre o centro de  Joinville e o bairro Espinheiros. Motivo: assoreamento do rio Cachoeira e da lagoa do Saguaçu. Duas empresas chegaram a colocar barcos de transporte de passageiros, mas ficaram pouco tempo em atividade.

Em outros países a navegação é uma alternativa viável para contornar os constantes congestionamentos das avenidas e rodovias. No passado havia a ligação de Joinville com Florianópolis pelo mar, mas que foi desativada, privilegiando os ônibus. Na década de 90 se falou muito em reativar o trecho de 23 quilômetros da hidrovia entre Joinville e São Francisco do Sul. No governo de Luiz Henrique da Silveira foram investidos R$ 1,3 milhão (valores de hoje) no melhoramento desta via. Mas o grande problema era o assoreamento. 

O principal responsável por este acúmulo de resíduos em seu leito foi o fechamento do canal do Linguado, na década de 30. A ponte da ferrovia foi substituída por um aterro. Isto provocou o fim da conexão hidráulica entre a baía e o Atlântico, acabando com a corrente marítima naquelas águas. Há várias décadas se discute a reabertura do canal, sem que se chegue a uma decisão final.

Também contribui para a catástrofe anunciada a erosão do solo, provocada por desmatamento ou uso inadequado das terras agrícolas. Com isso os sedimentos correm para os rios e vão se acumulando nas águas da Babitonga. Antigamente se fazia a dragagem da via fluvial, mas isso foi proibido pela Justiça. Resultado: corre-se um sério risco de vermos a baía, de 23 quilômetros de extensão e que banha as terras de seis municípios, transformar-se em um imenso manguezal. A profundidade da hidrovia, que era de 15 a 20 metros, hoje é de menos de um metro.

Seria muita irresponsabilidade permitirmos que desapareça a baía, que tem 24 ilhas em seu interior e é um dos maiores berçários de peixes e crustáceos do país. O ser humano habita o seu entorno há mais de 3 mil anos. Os primeiros moradores foram os homens de sambaqui e mais tarde, por volta do século 14, chegaram os povos tupi-guarani, também conhecidos como carijó.

O primeiro homem branco a aparecer na baía da Babitonga, com relato escrito, foi o francês Binot Palmier de Gonneville. Ele deixou a cidade normanda de Honfleur, em 24 de junho de 1503, no comando do  navio L’Espoir, com 60 homens a bordo. Depois de ficarem perdidos no mar, no dia 6 de janeiro de 1504 o navio aportou na foz do que eles imaginavam um grande rio, mas que era a baía. A estropiada tripulação conviveu com os índios carijó até julho daquele ano, quando retornaram à França.

Por toda a sua importância econômica, histórica e ambiental, não podemos deixar que a baía da Babitonga vá se definhando até desaparecer. Precisamos formar um movimento amplo para que soluções imediatas sejam tomadas para evitar o pior. A Babitonga é a pérola do nosso litoral e por isso precisa ser preservada.

terça-feira, 29 de agosto de 2017

Brasileiros em Portugal: apartheid social atravessa o Atlântico?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
A Flaviane é a mulher que trabalha na limpeza aqui na agência, em Lisboa. E como sou um dos primeiros a chegar pela manhã (acreditem, sou um preguiçoso que trabalha muito) algumas vezes a gente passa uns minutos a conversar. O papo é quase sempre sobre o Brasil, porque faz muitos anos ela deixou Curitiba para viver em Portugal. No mês passado, em plano verão europeu, Flaviane tirou férias para receber a filha e o genro, que vinham à Europa pela primeira vez.

Quando voltou ao trabalho, é claro que o tema de conversa foi a visita da família. O que rolou? A filha e o marido adoraram o país, especialmente pela segurança, e tomaram a decisão: voltar ao Brasil para resolver alguns problemas, para depois emigrarem. O caso é apenas um exemplo de uma tendência que se acentuou ao longo do último ano – e um indicativo de que as coisas não estão a correr bem no Brasil.

O número de vistos pedidos por brasileiros não pára de aumentar. Mas desta vez o fluxo migratório tem uma característica interessante. É que os extremos se tocam. Da mesma maneira que as famílias mais pobres vêm para Portugal em busca de uma vida melhor, a imprensa não se cansa de noticiar que as “elites brasileiras” estão a fixar residência no país, a maioria na condição de investidores.

Mas um cheirinho a apartheid social brasileiro também atravessa o oceano. Os emigrantes pobres têm que encarar anos e anos de contribuição sem que consigam a legalização. Os ricos não têm problemas e usam o recurso ao Visto Gold. É uma iniciativa do governo português que garante visto de residência na aquisição de imóveis no valor de 350 mil euros (antes 500 mil). Ou seja, a vida corre bem para os brasileiros com grana. Como sempre...

Um caso de ricos. Um dia destes o jornal Público, por exemplo, publicou uma reportagem com o título “Elite brasileira traz novos negócios para Portugal”. Entre algumas histórias, falou no caso de uma empresária que estava a escolher entre Lisboa e Porto para viver, porque queria fugir da falta de segurança e da instabilidade política e financeira no Brasil. Ops! É um chute meu, mas a moça tinha todo o jeitão de quem vestiu de amarelo.

Um caso de pobres. Faz algum tempo conheci um brasileiro que vivia em Portugal e tinha um padrão de vida que dificilmente teria no Brasil. Vivia num apartamento confortável, tinha o próprio carro e o filho numa escola – pública – de qualidade. Durante o governo Lula achou que era o momento de voltar ao Brasil. E voltou. Mas a partir do ano passado mudou de ideia. Hoje vive em Portugal, onde tenta retomar a antiga vida.

Mudar de país não é fácil. E todos têm os próprios problemas para resolver. Os ricos terão que aprender a viver numa democracia social, onde os caminhos de pobres e ricos se entrecruzam mais vezes e as diferenças de classe têm menor peso que no Brasil. E os pobres têm que a ir à luta para conquistar um lugar. O que não chega a ser novidade e é claramente mais fácil numa sociedade sem apartheid social.

É a dança da chuva.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Uma prefeitura sem a cultura de valorizar a cultura

POR JORDI CASTAN
A cultura não é prioridade em Joinville. Não é segredo. Juntar turismo e cultura, então, é um desserviço a ambos os setores. Cultura deveria ser tratada com a importância que efetivamente tem e merece. Poderíamos começar com coisas simples, até porque as complexas, aqui em Joinville, estão fora de cogitação. Então, a única alternativa seria fazer as fáceis, coisas que o secretário que aí está seria capaz de planejar, executar e colher os resultados. Provavelmente a parte mais difícil é explicar para o prefeito que vale a pena investir em cultura e que com pouco investimento é possível obter bons resultados.

Vamos a um exemplo simples, algo que poderia ser feito, que bastaria querer fazer. Aproximar os alunos da rede pública dos museus. Incentivar que os museus de Joinville sejam lugares de estudo, de desenvolvimento multidisciplinar. Levar mais crianças a se interessar pela arte, a história e a cultura da sua cidade. Um programa que facilitasse o acesso aos museus.

A primeira proposta seria aumentar o horário de visitação dos museus, que hoje funcionam só das 10 às 16 horas. Um horário que está mais voltado a atender os "interesses" e a conveniência do serviço público que os da sociedade. Um caso típico do poste mijando no cachorro. Museus que passam a maior parte do dia fechados não servem a seu objetivo

A segunda proposta seria a de disponibilizar transporte gratuito para os alunos da rede pública para que possam visitar os diversos museus de Joinville. O serviço já existiu no passado, mas com o tempo desapareceu. As escolas que querem visitar algum dos museus de Joinville devem se cotizar para contratar os serviços de uma das duas empresas que monopolizam o serviço na cidade. O orçamento que as empresas cobram pelo serviço é de R$ 400,00. Um absurdo. O poder público não oferece o serviço e tampouco se preocupa para que o serviço seja oferecido por um preço justo e razoável. O resultado é que os alunos são alijados do acesso a rede de museus municipais.

Seria preciso querer. E é esse “querer” que o poder público tem tanta dificuldade em assumir. Digamos, por exemplo, que depois dos horários de pico, um daqueles ônibus que passa a manhã ou parte da tarde estacionado em qualquer um dos terminais urbanos, fosse colocado à disposição das escolas para visitas a museus, sambaquis, parques e espaços culturais, as escolas só precisariam programar as suas atividades e agendar o transporte.

Fácil né? Seria preciso apenas que alguém quisesse. Ou seja, com um pouco de boa vontade e sem nenhum recurso extraordinário, se facilitaria o acesso à cultura a milhares de alunos da rede pública. Mas como em Joinville o problema não é de dinheiro e sim de gestão, já podemos imaginar que esta solução não será implantada.

Em tempo: quantos alunos visitaram os museus de Joinville no ultimo ano escolar? Quanto poderia aumentar a visitação se houvesse um programa de estimulo a visitação? Quais museus são os mais visitados? Qual é o perfil do visitante dos museus? Qual o melhor horário de funcionamento, para o visitante? Vai que o poder público de repente passa a se interessar pela cultura e estimula o acesso a cultura para todos.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Eu, ele e o radinho

POR YAN PEDRO
É comum, entre uma vitória em casa e uma derrota fora (como virou costume nesta Série C), me pegar pensando nas chances que o Joinville teve para evitar este inferno pelo qual estamos passando. Parece coisa de louco ficar remoendo o passado, mas, para mim, é inevitável.

Da surreal noite na qual Jael perdeu dois pênaltis, passando pela derrota improvável do Náutico para o Oeste, o dia que mais me marcou no rebaixamento do JEC em 2016 foi 8 de outubro de 2016, quando percebi que a queda estava praticamente decretada.


O personagem desta foto é desconhecido. Eu não o conheço, sequer vi seu rosto pra registrar o momento. Mas, mesmo assim, sei bem o que ele passou na tarde daquele sábado, e por que ficou ali - parado, incrédulo, colado ao radinho - por mais de cinco minutos depois do apito final.

O rádio, companheiro de quando não havia TV e os holofotes de série A e B, contava o que ele custava acreditar: o Joinville - embora ainda não matematicamente - estava rebaixado para o inferno da terceira divisão.

O que ele poderia pensar naquele momento? Na dificuldade em subir para a Série B, lá em 2011? Na alegria de 2014, quando subimos como campeões para a primeira divisão? Ou na euforia de 2015, que deu lugar a frustração logo no primeiro semestre, com a perda traumática do título catarinense? 

Quando o vi se levantar e ir embora cabisbaixo, um nó envergonhado se formou na minha garganta. Por sorte, ou talvez por já estar mais conformado, consegui segurar as lágrimas. Mas sabia que, a partir daquele 0 a 0 em casa com o Paysandu, o JEC era um paciente em estado terminal, à espera de os aparelhos serem desligados.

Sim, até houve uma breve melhora, mas somente aquela breve e enganadora antes de, finalmente, dar adeus e voltar para o inferno da Série C, da qual não temos certeza de que conseguiremos escapar este ano.






Yan Pedro é jornalista,
cronista esportivo
e torcedor do JEC