sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Uma nova catraca para a juventude


POR JESSICA MICHELS

Este é um convite para uma conversa as margens do lago do MAJ (Museu de Arte de Joinville). É meu primeiro texto no Chuva Ácida e, por esse motivo, acho necessário avisar que sou relativamente jovem, tenho 26 anos, e minha premissa de debate é exatamente sobre o acesso da população jovem à cidade.  

Há uma discussão acontecendo, mais um burburinho talvez, que prevê cercar o espaço do jardim do MAJ. Não sei detalhes sobre esse possível projeto, se ficaria aberto até meia-noite ou talvez se haveria mais policiamento nessas áreas. Reconheço que são informações necessárias para se discutir a justificativa real desta ação, mas enquanto elas não estão públicas, vamos antecipando a conversa. 

Para quem não conhece (sim, infelizmente tenho que trabalhar com essa ideia), o Museu de Arte fica na região central da cidade. No espaço (que é público, sempre bom reforçar), além do museu (uma estrutura belíssima que já foi residência de Ottokar Doefffel), temos um amplo jardim e um pequeno lago. E esse lugar tem sido frequentemente ocupado pela juventude nos fins de semana para realizações de piqueniques, luaus, saraus e tudo mais. Por ser um lugar com ‘gente jovem reunida’, sabemos que incomoda. 

Os eventos recentes que ocorreram no jardim do MAJ apontam mais de duas mil pessoas circulando naquele local numa noite. Um luau/sarau que tinha como simples objetivo distribuir amor e entrosamento com as pessoas, respeitando toda a diversidade. E trouxeram muitas considerações sobre o gerenciamento dos resíduos que foram acumulados, sobre a falta de banheiro, sobre o barulho e outras problemáticas que devemos discutir também em outro momento. 

Mas sobre simplesmente cercar este espaço público e limitar o acesso, eu fico realmente entristecida com a proposta. Penso que já há grades demais na cidade, há catracas demais. Além da falta de dinheiro para alguns programas privados, ainda temos uma tarifa abusiva de transporte público, que dificulta - e muito -, o acesso da juventude para todas as possibilidades de lazer, esporte e entretenimento. Seja para assistir a uma peça teatral gratuita na Ajote ou ir ao cinema no shopping, ou até mesmo o acesso para participar de um culto de uma igreja moderninha de Joinville. 

A juventude não tem espaços. A juventude não tem acessos. A juventude vem sofrendo um cerceamento constante. Não tem esporte, lazer, cultura acessíveis em todos os bairros. E depois, temos que suportar as duras críticas sobre a marginalidade e a vulnerabilidade dos nossos, sobre a criminalidade e o tráfico de drogas.  

E o questionamento: o que é um espaço público?
E dependendo desta resposta, me pergunto também: 
- Para onde vamos, então?


Piquenique organizado no jardim do MAJ pela autora em agosto de 2016. Foto: Débora Michels.

16 comentários:

  1. Lamentável se de fato essa informação for verídica.

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  2. Duvido! Mas eu duvido mesmo que essa fotografia com jovens fazendo "piquenique" motivasse os dirigentes públicos a cercar e impedir a livre circulação de pessoas nos jardins.
    Talvez esse "piquenique" não seja realmente um "piquenique", se é que me entendem...

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    1. São iniciativas exatamente como essa da fotografia que motivaram a administração vislumbrar a ideia de cercamento, sim. No entanto, neste da fotografia, tinha bem pouca gente, comparada com os últimos que multiplicaram a quantidade de pessoas.

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    2. Fala claro, tá cheio de adolescente lá fumando maconha.

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    3. Sim... 2 mil pessoas lá fumando maconha.

      É cada um que me aparece...

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  3. Lamentável que iniciativas sejam prejudicadas por esse tipo de proposta, mesmo ainda não sendo oficial. Joinville sofre com poucas iniciativas culturais, e quando surgen, são prejudicadas por propostas assim. Eu, como frequentador dos eventos pró diversidade (e compartilho da admiração pela luta social pertinente), afirmo que esses eventos devem ser discutidos e medidas devem ser tomadas, mas para proposciar melhorias e incentivar que mais eventos assim aconteçam, não só no MAJ, mas em outros ambientes da nossa querida cidade.

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  4. Lamentável que iniciativas culturais sofram com esse tipo de proposta. Nossa cidade já sofre com poucos eventos culturais ( e mais ainda com a falta de público quando eles acontecem). Eu, como frequentador dos eventos pró diversidade, (compartilho de uma admiração pela luta social pertinente) acredito sim, na necessidade de medidas em relação ao evento, mas no intuito de melhora-lo e propiciar que mais eventos aconteçam, não só no centro da cidade, mas em outros ambientes da cidade. Espero que não se concretize o que foi retratado aqui sobre o futuro do MAJ, e torço para que nossa cidade possa viver a plenitude de seu cenário cultural e social.

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  5. Seria lamentável. .. A cerca da vergonha!

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  6. Qualquer coisa que reúna gente sem pagar ingresso e numa praça em Joinville é considerada subversiva.

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  7. Oi Jessica
    Parabéns pela estreia. Aqui em São Paulo isso também tem acontecido. Tem gente querendo murar a Praça Roosevelt e a Praça do Por do Sol. O jeito é ocupar e discutir.

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  8. Está triste a situação, o jardim do Museu de Arte é maravilhoso, acaba sendo o único refúgio para os jovens na região central de Joinville, visto que não temos parques arborizados acessíveis na cidade como Curitiba. A prefeitura que se preocupe em proporcionar mais espaços culturais e de entretenimento gratuitos para os jovens joinvilenses ao invés de cercar o pouco que ainda temos.

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  9. Você conhece a periferia da cidade onde mora? (sim, infelizmente tenho que trabalhar com essa ideia)...

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    1. Oi, Anônimo. Então, moro no centro há 10 meses. E morei 25 anos na zona sul de Joinville. Sou do rolê Itaum, Parque Guarani, Fátima, Panaguá, João Costa. As outras pontas da cidade (com outras zonas periféricas) eu conheço superficialmente sim. Conheço a cidade, de bairro a bairro, mas de maneira geral mesmo. De qual periferia você está falando? A da zona sul eu conheço.

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  10. "Qualquer coisa que reúna gente sem pagar ingresso e numa praça em Joinville é considerada subversiva." - disse tudo

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  11. Muito bom seu texto, mas o que seria uma igreja moderninha?

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    1. Acredito que a autora se refira a igrejas que permitem públicos usualmente excluídos de outras igrejas, tais como homossexuais, usuários de drogas, tatuados, colocam limite de idade para seus adeptos, etc.

      Em geral, isso engloba Onda Dura, Bola de Neve e outras como estas.
      É uma visão bem superficial que estou apresentando apenas para mostrar o quão são diferentes das tradicionais católicas e evangélicas.

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