sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Ignorância, brutalidade e estupidez, diz Stephen Fry sobre Bolsonaro

POR ET BARTHES
Por causa do documentário “Out There”, sobre a homofobia no mundo, o cineasta inglês Stephen Fry esteve no Brasil para uma entrevista com o deputado federal Jair Bolsonaro. Um encontro que não deixou boas memérias para o diretor britânico, que é gay assumido e disse nunca ter visto tanta ignorância, brutalidade e estupidez numa única pessoa.

“Esta foi uma das conversas mais sinistras e deprimentes que eu já tive. Bolsonaro é o típico homofóbico que eu encontrei em todas as partes do mundo, com a mesma ideia de que os gays vieram para dominar o mundo, recrutando crianças e abusando delas. Mesmo em um país avançado como o Brasil, existe esse ódio entre as pessoas sem informação”, disse Fry.

E com as eleições à porta, o britânico decidiu publicar uma mensagem de repúdio ao candidato à presidência. Stephen Fry e Jair Bolsonaro. O encontro entre um homem habituado às democracias desenvolvidas, onde os valores civilizacionais se levantam, e outro que insiste em fazer o Brasil descer para o nível do Sudão do Sul. A seguir, o depoimento e a entrevista.



quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Anatomia de um desastre

POR CLÓVIS GRUNER
Na última sexta (28), José António Baço, meu colega de blog, publicou texto onde, sob o título “10 razões para o fracasso de Bolsonaro”, defende que a candidatura do deputado fascista está, como o título sugere, “condenada ao fracasso”. E vaticina: “Perdendo ou ganhando, o fato é que o candidato nada tem a oferecer ao país. Não tem uma proposta. Não tem um programa. Não tem uma orientação”.

Tudo isso é verdade. Mas se concordo com Baço no varejo, discordo dele no atacado: independente do resultado das urnas, Bolsonaro é o grande vitorioso dessas eleições, e por diferentes razões. Uma mais imediata: mesmo que não se eleja presidente, sua candidatura mobiliza votos suficientes para garantir bancadas parlamentares numerosas e fortes o bastante para barganharem, com os governos, cargos e retrocessos.

Além disso, levaremos anos para reconquistar o mínimo de civilidade, se é que conseguiremos, no debate público, depois que naturalizamos excrescências até há pouco tratadas como exceção. O estrago que uma campanha movida à  fake news, disseminação do ódio contra minorias, intolerância à democracia, às liberdades individuais e aos direitos humanos os mais elementares causa, não pode nem mesmo ser mensurado no curto prazo.

Bolsonaro é, de fato, um fenômeno: na história política recente, apenas Eduardo Cunha rivaliza com ele quando se trata de comparar políticos que, oriundos do chamado “baixo clero”, ascenderam tão rapidamente a posições de prestígio. Mas, diferente do antigo aliado, Bolsonaro disciplinou a sede com que foi ao pote e sobreviveu ao tsunami que, em graus variados, atingiu parte do “alto clero” nos últimos dois ou três anos.

Foi isso, e não sua suposta honestidade (e quem o diz não sou só eu, mas o próprio, em entrevista ao Jornal Nacional), que o manteve longe das manchetes policiais. Por outro lado, ele foi hábil o suficiente para se descolar rapidamente tanto de seu passado próximo ao PT – ele pertenceu à base de sustentação dos governos Lula e Dilma –, quanto de sua aliança e de seu partido, o PSL, com o governo Temer.

Há muitas, inúmeras razões, para temer Bolsonaro. Democratas à esquerda e à direita, têm alertado para os constantes ataques do candidato às minorias, seu desprezo às liberdades individuais e aos direitos humanos, e do quanto isso, entre outras coisas, compromete a imagem do país entre as nações desenvolvidas. Mas boa parte de seu eleitorado parece disposto a votar nele, não apesar, mas justamente por isso.

Como na Venezuela – Talvez porque se sintam desconfortáveis em viver em um país onde, como em sociedades de democracia mais estável, mulheres, negros e LGBTs têm seus direitos os mais básicos garantidos – por exemplo, o de perceberem salários iguais ou de não serem agredidos e assassinados em função de sua etnia e orientação sexual. É possível que vejam em Bolsonaro a possibilidade de voltarmos a algum estágio anterior, mais próximo da sociedade do século XIX, época em que, acreditam, a família tradicional brasileira não era ameaçada pelas minorias.

Mas Bolsonaro não representa apenas um atraso civilizacional, nos costumes e liberdades. Um passeio por suas declarações e de alguns de seus principais assessores, como o candidato à vice, o general Mourão, e o pretenso futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, além de uma leitura atenta de seu programa de governo, sinalizam mais claramente que o retrocesso será muito mais amplo. E nem seus eleitores mais devotos escapam dele.

O general Mourão, por exemplo, já falou em “autogolpe” e em “Constituição sem constituinte”, redigida, de acordo com ele, por um grupo de “notáveis” e submetida depois ao crivo de um referendo popular, sem a interferência da oposição. Uma proposta semelhante ao processo que culminou, na Venezuela chavista, com a promulgação da Constituição bolivariana que vigora por lá atualmente.

Em entrevista recente, o próprio Bolsonaro afirmou não reconhecer outro resultado que não a sua vitória, e já defendeu também a ampliação de 11 para 21 o número de ministros no STF, para que possa nomear a maioria dos juízes durante seu mandato. Não sei se os comentaristas anônimos sabem, mas foi o que fizeram os generais brasileiros e também Hugo Chávez, na Venezuela, e por uma razão: controlar o judiciário é um dos princípios elementares de qualquer ditadura, à direita e à esquerda.

Mas talvez você seja daqueles que acredita na existência de ditaduras do bem, as de direita. E não se importa com porões clandestinos funcionando, quem sabe para eliminar de vez os tais 30 mil que a ditadura brasileira deixou de matar, desde que o Estado seja eficiente e o mercado, livre. Bom, nesse caso, sugiro revisitar urgentemente o histórico de votações de Bolsonaro em seus pouco produtivos 30 anos como deputado federal.

Ele pode ter mudado, é verdade. Mas temo que não para melhor. Mourão já vociferou contra o 13º, essa “jabuticaba” paga aos trabalhadores brasileiros – ele não parece incomodado com os cerca de 5 bilhões gastos anualmente em pensões a filhas solteiras de militares. Bolsonaro votou a favor da reforma trabalhista e defende a criação da carteira de trabalho verde-amarela, que não garante os direitos da tradicional carteira azul, e que costuma vender como solução ao desemprego.

Uma singular noção de eficiência – Sabemos no bolso de quem tais medidas impactarão mais drasticamente: nos mesmos que pagarão mais com a alíquota única do Imposto de Renda. A proposta de Paulo Guedes e Bolsonaro, de um percentual único de 20%, favorece quem tem renda maior e pagará menos imposto, e obriga os de baixa renda a desembolsar mais. Traduzindo: ganham os mais ricos, perdem os mais pobres. E há o retorno da CPMF; Guedes o defende, Bolsonaro diz que não. Mas como se trata de um mentiroso contumaz, não há porque acreditar nele.

Tem mais? Tem. Bolsonaro é contra o Bolsa Família; acha que a “molecada” tem “tara pelo ensino superior”, e por isso quer limitar o acesso dos menos favorecidos às universidades públicas extinguindo as cotas; defende o ensino à distância desde a alfabetização; e aposta na disciplina espartana do ensino militarizado, alheio ao fato de que qualidade em educação depende principalmente de investimentos que, entre outras coisas, valorizem os professores, suas carreiras e seus salários.

A única novidade do programa de Bolsonaro naquilo que ele afirma ser especialista, a segurança, é garantir que o cidadão comum, sem nenhum tipo de preparo ou treinamento, seja responsável direto pela sua proteção e do seu lar. Afinal, para que política pública se o “cidadão de bem” está disposto a morrer defendendo ele mesmo as fronteiras do lar e, de quebra, armar o bandido, só pelo prazer de portar e exibir um segundo falo?

Antes de levar um “cala a boca” e ser obrigado a cancelar suas aparições públicas, Paulo Guedes, cuja carreira era obscura até encontrar um beócio para chamar de seu, defendeu zerar o déficit público em um ano vendendo todas as estatais e todos os terrenos do governo federal – a proposta está no programa de governo de Bolsonaro. A expectativa, afirma, é conseguir arrecadar até 1 trilhão de reais aos cofres públicos.

Não sei dizer se por “todos os terrenos” devemos entender também os que incluem prédios públicos, e se Bolsonaro pretende transferir a estrutura governamental para imóveis alugados. Mas economistas sérios já alertaram para o fato de que a participação do governo nas estatais passa longe do trilhão – gira em torno de 140 bilhões. Além disso, não é possível privatizar todas as estatais em apenas um ano – vender empresas públicas não é como ir à feira no final de semana.

Anti-petistas, o grosso do eleitorado de Bolsonaro, costumam acusar quem votou em Dilma Rousseff na última eleição, de sabermos o que estávamos a fazer e que, por isso, não há motivos para reclamação. Na devida proporção, eles têm alguma razão. Mas devolvo a provocação: o desastre social, político e econômico de um governo Bolsonaro está devidamente anunciado. E demasiadamente explicado para desautorizar dizer depois: “eu não sabia”.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

Acordaremos dia 8 com um Brasil rachado


POR JORDI CASTAN
Já escrevi aqui sobre o risco da polarização, dos extremismos, e da ruptura social que representa. Era previsível que a teoria do pêndulo fizesse oscilar o eleitor pós-ditadura, na direção de opções de esquerda, do mesmo jeito que agora é completamente previsível que depois de décadas de governos de esquerda o eleitor opte por votar em candidatos de direita. O problema reside na falta de opções. Não há opções reais de direita. Assim o eleitor fica dividido entre um ex-militar reformado com um discurso confuso e retrógrado e um bando de extremistas de esquerda cujo líder está preso por corrupção, condenado em segunda instância.

O quadro é desesperador. Para agravar ainda mais, Fernando Haddad diz que não quer repassar os erros de todos os envolvidos (em seu partido e nos governos de que formo parte) porque são muitos. Eu gostaria que os repassasse, que os expusesse e que não precisasse buscar conselho e apoio com um presidiário.

Não escondo que minha opção política será o partido NOVO, o único que apresenta até agora uma alternativa real a termos mais do mesmo. E entenda-se “mais do mesmo” como a institucionalização da corrupção, a roubalheira e a união mancomunada de todos os partidos, ou da sua imensa maioria, em torno de um projeto de poder, de aparelhamento do estado e da preservação de privilégios e sinecuras infinitas e insustentáveis.

No dia 7 de outubro não votarei no 17, até porque no atual quadro político não acredito que nenhum candidato possa ganhar no primeiro turno e não entrarei no jogo fácil de deixar de votar no candidato que defende as propostas e programas em que acredito, para votar em outro que representa um salto no escuro.

O que facilita a escolha no segundo turno é que tudo se encaminha a colocar o eleitor frente o dilema de votar no conhecido ou no desconhecido. E, neste caso, pesa muito o que já sabemos. Assusta o rancor, a falta de autocrítica, a incapacidade manifesta de reconhecer os erros e querer corrigi-los. Sem reconhecimento da culpa o PT e os partidos que orbitam no seu entorno, querem converter esta eleição num plebiscito que legitime suas roubalheiras, seus desmandos, seus abusos.

O retorno do PT e do que ele representa ao poder, seria a volta ao atraso, mais troglodítico. Seria realinhar o Brasil a Maduros, Evos, Kims, Castros, Obiangs e outros líderes totalitários, dos que qualquer país ou pessoa decente deveria manter prudente distância.
O resultado das urnas permitirá que o eleitor tenha tempo para refletir. Um tempo para pensar no Brasil que queremos. Hoje dois pontos chamam a atenção. O país está rachado entre os que estão a favor e os que estão contra um mito. A eleição converteu-se num plebiscito para escolher qual dos dois mitos vencerá. Não há como entender a furibunda dedicação de essa parcela do eleitorado, que destina mais tempo a ser contra um candidato, que a defender e divulgar as propostas do seu próprio candidato.

O resultado das urnas determinará se são mais os milhões que votaram em Ali Babá e a sua corja de ladrões ou os que acreditaram num mito. O eleitor foi jogado num beco sem saída. Se ganhar um será a legitimação da corrupção e a veneração da máxima que diz que “o fim justifica os meios” e que mesmo condenados e reconhecendo seus crimes merecem ser votados e voltar ao poder. Se ganhar o outro estaremos apoiando a volta da direita mais radical, a que flerta com o extremismo e o totalitarismo, e que se apresenta como não sendo corrupto. O drama é que as duas únicas alternativas possíveis sejam estas.

E tudo isso sem falar nas opções para os legislativos. Porque seja quem seja quem seja eleito terá que negociar com Assembleias, Congresso e Senado. Haja estômago. s

Enquanto isso, no país de Bolsonaro - MEMEZEIRO


domingo, 30 de setembro de 2018

Kennedy Nunes acaba de atualizar a definição de babaquice

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
As definições de babaca acabam de ser atualizadas. E é tudo obra do deputado estadual Kennedy Nunes, que publicou, no Facebook, uma dos posts mais cretinos da semana (ou, quem sabe, de sempre). Com a intenção de pegar uma carona na “popularidade” de Jair Bolsonaro, o deputado joinvilense publicou uma imagem onde, vestindo uma camiseta do candidato à presidência, reproduz o gesto de simular armas com os dedos.

Está tudo errado no post. Primeiro porque o deputado, na caça ao voto a qualquer custo, tem as suas ligações religiosas. Todos sabemos que, entre outras coisas, Clarikennedy Nunes tem um grupo musical chamado “Dedos de David”, onde se apresenta como “evangelista”. Ou seja, no caso deste post os dedos de David evangelizam para a violência. O problema é que parece ser mais um tiro no pé. Ou na inteligência.

Mas nada tão ruim que não possa ficar pior. Na foto exibida no post, as mãos do deputado aparecem ao lado de uma singela inscrição numa camionete. “Deixem nossas crianças em paz!”, pede a frase. Uau! Como alguém pode pedir para deixar as crianças em paz ao mesmo tempo em que mostra as mãos em claro incitamento à violência? É importante lembrar que o dedos deste “david anão” (porque Kennedy não passa de um anão mental) fazem o gesto de armas.

A iniciativa provocou repulsa nas redes sociais. E não passou despercebida, por exemplo, aos olhos da professora universitária Valdete Daufemback. “Como pode ser tão contraditório? Prega a paz e segurança às crianças, mas incita a violência armada. Não tem explicação para esta insanidade. Estou chocada, nem tanto por apoiar o 'coiso', mas pela foto mesmo! Está com a feição muito estranha, hostil, raivoso, sem alma, espírito carregado de indiferença, sem empatia, um ser muito diferente daquele que conheci”, reflete.

E, para finalizar, a professora Valdete Daufemback questiona: “o que o tornou assim?”. A resposta talvez seja simples. As tetas da política são um vício. E levam à falta de escrúpulos na caça ao voto. Diz o deputado, no seu post, que em “meio à realidade do nosso país deixada como triste legado pelo PT (Partido dos Trabalhados)(sic), bem como respeito aos meus eleitores, estou posicionando o meu voto para presidente no Jair Bolsonaro. Quem mais está comigo?”, escreveu Kennedy Nunes.

Ok… o texto até acaba por ser o de menos. Todos sabemos que num estado como Santa Catarina, sempre em linha com o atraso político, e numa cidade como Joinville, onde Max Weber enlouqueceria, isso até pode render uns votinhos. Mas no plano geral é apenas babaquice. Aliás, a charge do Sandro Schmidt (logo ali abaixo - ou aqui) é perfeita. Mas de uma coisa não tenham dúvidas. Se a eleição fosse para Babaca-Mor da cidade, Kennedy Nunes tinha o meu voto.

É a dança da chuva.


Fez isto...
... significa isto.

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Aleluia?


10 razões para o fracasso de Bolsonaro

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Mesmo que consiga ir para o segundo turno, como tudo indica, ou até vencer as eleições, o que vai ser muito mais difícil, a candidatura de Jair Bolsonaro está condenada ao fracasso. Perdendo ou ganhando, o fato é que o candidato nada tem a oferecer ao país. Não tem uma proposta. Não tem um programa. Não tem uma orientação. E o pior: o “prestígio” vem das franjas mais desinformadas da sociedade. A base de apoio de Bolsonaoro é formada por uma turba movida pelo ódio (de classe ou não), pelo obscurantismo e pela baixa qualidade cognitiva.

Por que Bolsonaro vai fracassar? Apresento aqui 10 razões:

1. Porque nunca, em toda a história, um candidato teve tamanha rejeição do eleitorado feminino. E, diga-se de passagem, a recusa é bem mais que merecida. Aliás, nos últimos dias parece haver uma tentativa de “amaciar” o palavrório. Mas é um problema que não se resolve com mudanças no discurso. Há uma trajetória onde sobram imagens, declarações e até gestos de violência física (como no caso da deputada Maria do Rosário). Enfim, atitudes inaceitáveis e que ultrapassam os limites da civilidade.

2. Porque é um homem de grandes limitações intelectuais. No popular: é muito burro. Bolsonaro tem um vocabulário limitado e é incapaz de ler a realidade. Não sabe sequer formar frases. “Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo”, diria Wittengstein. Daí a formular pensamento é uma viagem quase impossível. Na real, Bolsonaro é do tipo que, quando abre a boca, ou entra mosca ou sai besteira. Não dá para pôr fé num homem que não faz sinapses.

3. Porque a própria direita se sente desconfortável com o seu nome. Ao recusar a democracia e defender a ditadura, o candidato da extrema-direita põe qualquer democrata – seja de esquerda ou de direita – em sobressalto. Nos dias que correm, ficar colado à imagem de Bolsonaro é uma maldição que poucos políticos estão dispostos a enfrentar. É por essa razão que ele só consegue atrair o que há de mais repugnante na vida brasileira. Magno Malta, Alexandre Frota, Silas Malafaia e quetais.

4. Porque parte da velha imprensa, que sempre apostou as suas fichas numa “solução” de direita, já começa a achar que apostar em Bolsonaro é ir longe demais. Há um preço a pagar para manter a esquerda longe do poder, mas no caso de Bolsonaro alguns títulos já começam a manifestar a ideia de que é um preço alto demais. Porque como já diz o velho ditado, “cria corvos e eles te furarão os olhos”. Até a “Veja”, habituada a viver na lama, está a abandonar o pântano: “em processo, ex acusa Bolsonaro de furtar cofre e omitir patrimônio”, escreve, numa matéria que tem o claro objetivo de torpedear o candidato.

5. Porque a sua imagem está associada a um populismo tosco e a propostas erráticas. Não surpreende que tenha havido uma autêntica maratona para escolher o candidato a vice. Todos lembramos das recusas. Janaína Paschoal, para citar a mais famosa, foi sondada e recusou. E vários nomes de fora da política que foram cogitados – Luciano Huck, Bernardinho, Datena ou Joaquim Barbosa – sempre recusaram. No final, o candidato teve que se contentar com “escolha” meia-boca (de fato, ele sequer teve escolha) do general Mourão, um personagem que encarna o que há de mais apodrecido na política.  Enfim, é o vice possível. Um cadáver político que anda por aí a espalhar o mau cheiro das suas ideias.

6. Porque só os maluquinhos de babar na gravata são capazes de apoiar um homem que defende a ditadura, a tortura e os torturadores. A ideia de ter um presidente capaz de cultuar a imagem de um torturador do calibre de Brilhante Ustra, um dos mais ignominiosos nomes da nossa história recente, é ir longe demais. É um passo muito abaixo da linha da dignidade e que poucos se atrevem a cruzar.

7. Porque é um candidato terceiro-mundista (na melhor das hipóteses) com propostas terceiro-mundistas. Bolsonaro sequer pode ser considerado de extrema direita. Marine Le Pen é extrema direita. Mateo Salvini é extrema direita. Viktor Orbán é extrema direita. Mas ainda assim a coisa acontece num outro nível. As extremas-direitas têm projetos políticso – não interessa discutir aqui o quanto são ruins –, enquanto Bolsonaro não tem um programa, apenas ideias soltas e muitas delas baseadas em tolices. É apenas extrema burrice.

8. Porque não há intelectuais entre as suas fileiras. Ou seja, não há ninguém com estofo intelectual para pensar o país. E se Bolsonaro vencer? Como será o dia seguinte? Fica tudo entregue ao tal Paulo Guedes, que já demonstrou não ser flor para cheirar. Aliás, é aí que mora o perigo. É tanta dependência de Guedes que qualquer pessoa é capaz de prever o que vai acontecer em caso de vitória: Bolsonaro vai ser uma marionete e o país será governado por Guedes.

9. Porque sempre que alguém abre a boca é preciso chamar os bombeiros da campanha. É só ver o recente caso da jabuticaba, envolvendo o seu vice, o famigerado general. Falar no fim do 13º salário e do abono de férias é mexer no vespeiro, porque fala a todos. Nem mesmo os maluquinhos bolsominions ficam tranquilos. Enfim, os homens atiram para todos os lados e até agora não tem acertado uma. É por isso que boa parte da famosa coxinhada, as pessoas que querem evitar a volta da centro-esquerda ao poder, recusa a ideia de Bolsonaro. É muito provável que em lugares como Santa Catarina (e Joinville, em particular) o candidato tenha maior votação. É da praxe, num dos estados mais reacionários do país. Aliás, vale lembrar, foi aí também que Aécio Neves obteve a sua vitória mais fulgurante nas últimas eleições.

10. Porque não há uma argamassa ideológica capaz de dar massa crítica ao movimento formado pelos seus seguidores. As pessoas não estão ligadas por ideias consistentes e o ideário é colado com cuspe. O “bolsonarismo” aglutina o pior do país em termos civilizacionais. Fascistas, fundamentalistas, sexistas, homofóbicos, gente violenta e toda espécie de reacionários estão na linha da frente. Não há militantes, apenas manifestantes. E é o tipo de gente que rejeita a inteligência e que, por falta de habituação à política, acaba por desmobilizar rapidamente. É só encontrar um novo “mito”.

É a dança da chuva.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

A difícil escolha do candidato a governador de Santa Catarina

POR JORDI CASTAN E JOSÉ A. BAÇO
JOSÉ A. BAÇO - Então, Jordi, já escolheste o teu candidato a governador?

JORDI CASTAN - Putz...sei que não será o Merísio e ter que votar no Mariani me dá urticária. Mas estou indo pelo voto útil para dificultar a eleição do Merísio.

JB - Voto útil significa...

JC - Voto útil significa não anular o voto, para não facilitar a  eleição de candidatos piores.

JB - Mas, pelo que entendi, são todos "piores".

JC -Para o governo do Estado não vi nenhum que tenha alguma proposta que mude alguma coisa. Teremos mais do mesmo. Mesmice. E você até prefere anular, não votar ou jogar uma moeda ao ar.

JB - Podes votar no Décio Lima...

JC - Aaaarrghh! Já expliquei que não voto em gente associada à corrupção… menos ainda se estão sendo processados.

JB - Bem... Se não votas em gente associada à corrupção é melhor nem sair de casa no dia das eleições.

JC - Mas olha o perfil do cara. Quem poderia votar num cara com esse perfil?

JB - Ora, sabias que "corrupto" tem outros significados? Um deles é "apodrecimento”. É a isso que me refiro. O buraco é mais em baixo...

JC - Esqueci que tem eleitor que gosta de candidatos com um perfil como este. Atenção que não o chamei de nada...mas quem é acusado de improbidade é ímprobo. Então, melhor pensar em outro nome para SC.

JB - Deixa ver se entendi. Se tiveres que escolher entre o Décio Lima e o Merísio ficas com o Merísio?

JC - Ah não! O Merísio eu conheço... nesse não voto nunca. E mais: recomendo não votar nele. Nesse caso não tenho a menor dúvida. A dúvida seria entre os outros nomes colocados.

JB - Ah ah ah… se ainda fosse possível votar de novo no Colombo...

JC - Colombo quem? Não lembro de ter um governador com este nome, nem que tenha feito alguma coisa de boa por Joinville. Tem um cara com esse nome que tem aparecido pela vila abraçado ao prefeito, mas de concreto não tenho visto nada. Não sei quem é. Ah… e tampouco votarei no Comandante Moises. Assim que as alternativas vão se reduzindo mais e mais.

JB - Então tá feia a coisa...

JC - Conheço pessoalmente e sei da seriedade do Leonel Camasão, do PSOL, mas é difícil votar em candidatos deste partido.

JB - Eu voltava no Camasão... Isso sim é votar contra.