quarta-feira, 31 de maio de 2017

De Costa e Silva a Médici: o consórcio militar-empresarial em Joinville

POR IZAIAS FREIRE*

O professor Renato Ortiz sustenta que o regime de 1964 instaurou uma modernização no país em termos de reorganização da máquina do Estado, urbanização e incentivo das atividades empresariais. Para Ortiz, contudo, foi uma modernização conservadora que garantiu a longevidade do regime, servindo-lhe como uma base social alternativa ao autoritarismo.

Não há dúvidas que em Joinville o aspecto mais sentido dessa modernização foi o incentivo às atividades empresariais. Havia se formado desde 1964 um “consórcio governamental-empresarial” como analisou o historiador Reinaldo Lindolfo Lohn, cujo fulcro repousava sobre a ideia de que os empreendedores privados fossem merecedores de políticas de incentivo e crédito dos governos militares por serem promotores do desenvolvimento. O maior empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico a uma empresa privada nesses anos foi para uma fábrica joinvilense: a Fundição Tupy.

Economicamente, o início da década de 1970 foi de intensas celebrações na cidade para o regime civil-militar. O reconhecimento desse consórcio colaborativo levou a elite local conceder o título de Cidadão Honorário de Joinville a Médici, quando o general-ditador veio cá recebê-lo. Esse consórcio, entretanto, teve outro significado para os trabalhadores.

Na prática, o que se criou foi uma industrialização de baixos salários, base do processo de estabilização econômica e da expansão do setor industrial. A modernização do regime civil-militar amorteceu conflitos, fez a contenção do movimento dos trabalhadores via sindicatos, arrochou salários e ampliou o abismo distributivo, concentrando os ganhos obtidos com o crescimento e o aumento da produtividade.

Nesse período, “Pra frente Brasil”, o hino da ditadura, foi executado diversas vezes na cidade, seja por coro na catedral do bispado ou pela banda do 13º BC, expressão de um otimismo reinventado pelos que diziam que o país inaugurava um novo ciclo: o “milagre econômico”. Um “milagre” que acabaria por revelar-se num enorme complexo de inferioridade, de uma nação que sonhava ser potência, mas que não conseguia resolver problemas básicos.

Os anos Costa e Silva e Médici significaram para Joinville os “anos de ouro”, contudo, não para os trabalhadores que acumularam perdas salariais, amplificando sua condição proletária, mas para o segmento de classe mais eficaz como suporte civil da ditadura na cidade, o empresariado.

*Izaias Freire é Mestre em História, pesquisador da ditadura civil-militar em Joinville e membro do Movimento pra mudar o nome do bairro Costa e Silva.

terça-feira, 30 de maio de 2017

O seu emprego pode virar fumaça? Culpa do digital...

POR LEO VORTIS
Você lembra de ter que escolher entre filmes da Kodak ou da Fujifilm? O que aconteceu às marcas? A Kodak foi para o buraco. A Fuji continua firme e faturando alto. O que aconteceu? Os filmes fotográficos estavam com os dias contados por causa dos avanços tecnológicos e as duas empresas seguiram caminhos diferentes: uma apostou no velho mercado, a outra se adaptou às mudanças.

É assim para as empresas. É assim para os trabalhadores. A tecnologia evolui e algumas empresas e empregos desaparecem. A Kodak, por exemplo, chegou a ter 170 mil trabalhadores. Há um fato que não temos como evitar: certas profissões tendem a acabar, mesmo que a economia gere novos empregos. Segundo a Universidade de Oxford, dentro dos próximos 25 anos pelo menos 47% das funções que existem hoje tendem a desaparecer.

Hoje mostro algumas das profissões que tendem a desaparecer à medida que a revolução tecnológica avança. Algumas parecem óbvias, outras podem até surpreender. Mas como maior ou menor tempo, o fato é que o destino parece estar traçado. A boa notícia é que novas profissões também estão surgindo em diversas áreas, quase sempre ligadas ao digital. Eis alguns trabalhos que, mais dia menos dia, têm a morte anunciada (isso se já não desapareceram).

SERVIÇOS DE REPARAÇÃO
Os produtos eletroeletrônicos estão ficando cada vez mais baratos e compensa mais trocar do que arrumar.
CARTEIROS
Vítimas do email e das redes sociais.
AGENTE DE VIAGENS
Hoje as pessoas já marcam as suas viagens sozinhas, pela internet.
AMOLADOR
Mais vale comprar uma faca nova do que pagar o mesmo preço para afiar.
ENGRAXADOR DE SAPATOS
Há países onde já não existem há tempos.
CAIXAS DE SUPERMERCADO
Nos países desenvolvidos, os supermercados já possuem caixas automáticas com leitores óticos.
SAPATEIROS
O preço de uma meia-sola é quase o preço de um sapato novo.
ALFAIATE
Vítimas das Zaras e companhia.
PEDAGEIRO
Os leitores eletrônicos de números das placas de carros fazem o serviço sozinhos.
MERCEEIRO
Culpa das grandes superfícies, que estão a dominar o mercado por todo o mundo.
BANCÁRIO
As grandes agências bancárias, como a que temos no Brasil, não existem nos países mais desenvolvidos. O homebanking resolve os problemas. Há pessoas que passam meses ou mesmo anos sem ir ao banco.
JORNALISTA (IMPRESSO)
É um trabalho especializado. O problema é que nos grandes jornais internacionais já existem conteúdos produzidos por jornalistas robôs.
LENHADOR
Há décadas a motosserra vem provocando danos.
FISCAIS DE IMPOSTOS E CONTABILISTAS
Em alguns países, a entrega de declarações de impostos é feita online, de forma obrigatória. É tudo automático e mais fácil controlar.
OPERÁRIO FABRIL
As unidades industriais mais modernas têm sempre um elevado nível de automação que dispensa o trabalho braçal.
TAXISTA
Nos países desenvolvidos, as pessoas começam a preferir os transportes públicos. De qualquer forma, a automação dos carros também vai reduzir em muito esse campo de trabalho.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Onde está a bola do jogo? Vem de drone...

POR ET BARTHES

- Ei, já podemos começar o jogo.
- Não! Ainda falta a bola.
- E onde está, afinal?
- Já vem aí. Olha lá em cima.
E aconteceu no domingo, na final da Taça de Portugal, entre Benfica e Vitória de Guimarães. A bola do jogo chegou pelas mãos de um homem a pilotar um drone. É o futuro.



Onde está Udowally? Baixe já o seu aplicativo do jogo


POR JORDI CASTAN
O prefeito sumiu, ninguém viu, ninguém vê. Simplesmente evaporou. E com ele desapareceu, também, o pouco que quedava da sua "gestão". O fato é que na verdade gestão mesmo nunca houve. Houve só pirotecnia, muito discurso, pouco conteúdo e nenhuma ação digna do nome.


Os joinvilenses têm procurado inutilmente pela cidade. Circula um mapa de Joinville indicando os locais em que são maiores as possibilidades de encontrá-lo e aqueles pontos em que a possibilidade é mais remota. Eis uma ideia para o pessoal de tecnologias da informação: criar um aplicativo para Apple e Android que permite caçar o prefeito pelas ruas de Joinville. O nome seria "Onde Está Udowally?". Teria a mesma linguagem de outro aplicativo semelhante, aquele que permite caçar pokemons. O jogo é simples, ganha mais pontos quem ache mais vezes o prefeito.

Há lugares em que é difícil, quase impossível que apareça. E, caso aparecesse, o jogador ganharia muitos pontos. Entre os mais conhecidos: as ruas Piratuba, São Paulo, Santos Dumont e Paulo Schroeder. É bom evitar também qualquer rua sem calçamento porque ele nunca aparece por lá. Os moradores da Otto Bohem nunca o viram, nem os da Tuiuti. Uma vez foi identificado no Iririú. Voltava de uma viagem a Brasília e na volta ficou preso no trânsito caótico. Alguns afortunados jogadores conseguiriam faturar muitos pontos.
Outra vantagem do jogo. Quando estiver parado  horas no transito de Joinville, pode aproveitar para  baixar o aplicativo. E a diversão está garantida. A versão "premium" permite jogar em grupos e faz mais emocionante a captura deste elemento elusivo e furtivo que aparece só de quatro em quatro anos e unicamente em período eleitoral, vendendo balões de ar quente, miragens, espelhinhos e miçangas que apresenta com o nome de "Geston"


Outros locais em que a possibilidade de encontrá-lo é remota são museus e eventos culturais. Afinal, os craques do jogo sabem do boato de que é alérgico à cultura e foge de qualquer manifestação cultural como o diabo da cruz .

Boas dicas de onde encontrá-lo, ainda que pontuem pouco, no setor de frutas e verduras do Angeloni. Essa é uma dica quente passa horas escolhendo frutas e verduras, principalmente nos finais de semana. No seu escritório na Prefeitura, essa é também uma boa dica mas quase não se ganham pontos, porque passa horas em estado catatônico naquele ambiente fechado e insalubre. 

Uma outra dica para os aficionados seria procurá-lo nas imediações da Rua Jacob Eisenhut. Os caçadores que mais pontos seriam os que se atrevesse a adentrar-se nas matas da zona sul, nas proximidades da escola Municipal Professora Lacy Luiza da Cruz Flores. Achá-lo nesta região multiplicaria o número de pontos pro três.

Para quem tiver interesse, eis um exemplo do nível iniciantes (fácil).






sexta-feira, 26 de maio de 2017

Sai da frente, porra! America first!

Durante a reunião de cúpula da OTAN, em Bruxelas, Donald Trump protagoniza um momento embaraçador. Os chefes de estado e de governo caminhavam para fazer a foto de grupo, quando o presiente norte-americano deu um abre alas para cima do primeiro-ministro do Montenegro, Milo Dukanovic. Awkward, Mr. Trump.

O Câmarra das Verreadorres de Xoinville é uma peso morto

POR BARON VON EHCSZTEIN
Guten Morgen, minha povo.

Xente. Sentirrón o meu falta? Eu ainda esdou de férrias no calor do Alemanha e por isso ando meio desaparrecida. Mas tive que escrever por causa das nossas verreadores. O que o Águas de Xoinville anda despexando nos torneiras do Câmara de Verreadores? Nón é água. Só pode ser schnapps. E cachaça daquelas bem brabos, porque os carras parrecem esdar muito doidas. Sich besaufen, sich betrinken. Aprecie com moderraçón.

Tem umas verreadorres que querrem transformar as terminal dos ônibus em capelas mortuárrios. Das ist Wahnsinn. Esdá tudo louco? Mas se é loucurra, vamos em frente. Eles também podiam transferrir o prefeiturra parra o terminal, porque o pessoal lá parrece que anda se finxindo de morto. Ninguém aparrece, ninguém diz nada, ninguém faz nada. Xoinville até parrece um citade fantasma.

E foceis xá imaginarón o sistema de som da terminal? A locutor diz: “Sai agorra, do capela 15, a senhor Tot Faultier, com destino ao citade dos pés xuntos”. Faz sentido. É igualzinho o licitaçón dos transportes públicos. Uma assunto morto e enterrado. Por falar nisso, os empressas de ônibus podem inofar e lançar um nofo tipo de passaxem: de ida e volta parra as vivos e só de ida para as mortos.

Serrá que posso dar um ideia? Que tal fazer um associaçón e transformar as carros funerrárrias em táxi? Os ambulâncias podiam ser Uber. O loucurra nón tem horra parra acabar. Tem uma verreador propondo a “Dia da Atleta das Esportes Eletrônicas”. Perra aí que engasguei de tanto rir. Carramba. Eu gasto mais calorrias quando levanto a braço parra beber cerveja. O nossa Xoinville é um citade sérria, xente.

E quando focê acha que não pode piorrar, aparrece outra verreador querrendo criar a “Dia da Encontro e Exposiçón de Carros Rebaixados, Preparrados e Customizados”. Quatsch! Que absurdo! Quando eu achava que não tinha coisa mais idiota que uma carro rebaixada, aparrece um coisa pior: a dia das carros rebaixadas. Mas não vai funcionar. Com o tantão de burracos nos ruas, como é que essa xente fai chegar no exposiçón?”. Pode demorrar messes.


É cada proxeto que faiz favor, viu. Alle Tassen im Schrank. Esdá tudo forra do casinha? Mas de um coissa eu tenho certeza: o Câmarra das Verreadorres é uma peso morto.

quinta-feira, 25 de maio de 2017

A crônica de um dia incomum... entre as 6 e as 10

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
O dia amanhece ensolarado nesta manhã de primavera em Lisboa. Tomo o pequeno almoço (café da manhã) e, enquanto passo a manteiga no pão, ouço o apresentador do telejornal a falar de um país onde manifestantes invadem e queimam prédios de ministérios. É a Venezuela, penso. Não. É o Brasil. Um país onde um presidente continua acantonado e se recusa a renunciar. É um morto político. Nunca foi um governo, mas agora virou uma versão classe c do “the walking dead”.

No trem, a caminho do trabalho, um cartaz das Conferências do Estoril. O painel de conferencistas é formado por pessoas que “mudaram o mundo”. Gente de peso. Madeleine Albright, ex-secretária de Estado de Bill Clinton, é a cabeça de cartaz. O time conta ainda com quatro ganhadores do Nobel da Paz e figuras como Oliver Stone, Nigel Farage ou Edward Snowden (por videoconferência). Num cantinho, aparece a foto de Sérgio Moro. Não dá para conter o riso com o erro de casting.

A viagem deve durar uns 20 minutos. Aproveito para entrar no Twitter, que é onde encontramos a informação em primeira mão. Tenho uma notificação. É uma mensagem de uma pessoa cujo maior mérito na vida foi nascer de pais ricos, a me apontar o dedo e a falar em “corrupto de estimação”. Podia encetar uma discussão, mas o cara é um seguidor de Jair Bolsonaro. Quer dizer, não tem os dois dedinhos de testa necessários para construir uma frase com sentido. Em frente...

As notícias são muito más, todos sabemos. Vejo a foto de um policial com uma arma na mão ameaçando atirar em manifestantes. Talvez seja mesmo melhor chamar o Exército. Mas para tirar as armas desses policiais mal preparados. Que perigo. Uma pessoa fala em Aécio e sobre ameaças de suicídio. Outra diz que Aécio teria sido preso, mas não tem certeza. Um jornalista fala na briga pelo poder entre a PF e a PGR. E o líder de movimento popular diz que “é o roteiro da queda de Temer”.

Mas nem tudo é tensão. De volta a Joinville, alguém republica um post onde um “jênio” local tinha feito uma promessa. “Vou deixar bem claro, se eu flagrar black brocks, vândalos pseudos esquerdistas e outros movimentos, destruindo bens públicos e ou privados, não vou assistir passivamente. Aproveito para informar que tive excelente treinamento militar, com especialização em armadilhas de selva e urbana. Estão avisados”. É isso. Mal escrito assim mesmo. Você podem dormir sossegados, joinvilenses.

Troco de rede. O Facebook é mais ilustrativo. Há fotos da marcha sobre Brasília, de manifestantes ensanguentados, de gente a apanhar da polícia e outros num choro forçado pelo gás. Imagens do Buzzfeed mostram a cavalaria a avançar sobre a multidão e, logo a seguir, a multidão a avançar sobre a cavalaria. Outro vídeo mostra que lá dentro, no plenário, deputados decidiram partir para a porrada. Mas a imagem mais impressionante é a de um dedo extirpado e abandonado na grama (espero que não seja verdadeira).

Já no trabalho, recebo mensagem de um amigo que vai com a família de férias para o Brasil e tem as passagens compradas. Quer saber se corre algum risco. Não sei o que responder, limito-me a dizer que é melhor esperar pelos próximos acontecimentos. Uma amiga vem até a minha mesa e diz que viu o noticiário da noite anterior. Ficou assustada com o que se passa e pergunta por que o presidente insiste em não renunciar. Digo apenas que talvez ele queira sair, mas está amarrado por muitos interesses.

Daqui a pouco tenho uma reunião de trabalho. Enquanto espero, fico a pensar: “Desrespeitar a democracia é uma coisa fodida. É como estar numa escada e perder o equilíbrio. Porque se erra um degrau, erra todos”. Eis o caminho para o caos. E são apenas 10 da manhã em Portugal (6 horas no Brasil).

É a dança da chuva.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Joinvilenses não ligam para Santa Catarina

POR FELIPE SILVEIRA
O bairrismo joinvilense é impressionante. A cidade catarinense tem no governo estadual Raimundo Colombo, alvo de diferentes pedidos de impeachment na Assembleia Legislativa. O principal secretário do governo caiu, depois de aparecer, junto ao chefe, na delação da JBS. Também apareceram na caguetagem os senadores Paulo Bauer (PSDB) e Dário Berger. Mas qual é o joinvilense que liga pra isso? Não sei se tem 10 em 500 mil.

Mas fala qualquer coisa de Joinville pra ver? “Fora, forasteiros”. Ou pior: faça uma crítica ao bairro do cidadão para ver. Recentemente criamos um movimento para mudar o nome do bairro Costa e Silva, que faz uma homenagem, bizarra, ao general-ditador. A reação tem sido violenta. Tem gente que nem sabe o que é, mas abraçou a defesa da ditadura com unhas e dentes.

O povo daqui não gosta de discutir muito as coisas. Estamos sendo explorados por duas empresas sem licitação que operam o transporte? “Sim, mas olha o tamanho de Joinville, a maior do estado blá blá blá”.

Não que Joinville não fale dos seus problemas. Porém, problema para joinvilense é buraco de rua e falta de policial. Gravidez na adolescência? Crescimento dos números da AIDS? Falta de oportunidades para os jovens? Déficit habitacional gigante? Especulação imobiliária? Gentrificação? São temas que não viralizam, que nem chega a ser pauta no debate.

O bairrismo tacanho leva a uma preguiça intelectual que nos impede o desenvolvimento social e nos leva a tomar decisões ruim. Tanto é que, se dependesse de Joinville, Aécio Neves seria eleito, assim como foram Raimundo Colombo, Paulo Bauer, Marco Tebaldi...

Vale lembrar:

Agora é hora de FORA, TEMER e DIRETAS JÁ!

Um problema sério, um conselho diferente

POR ET BARTHES
Câncer de mama? Eis uma boa forma de mostrar como se faz. É usar um homem. Uma forma divertida de tratar um assunto sério.