quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Este não é um texto sobre o Trump
















POR FILIPE FERRARI


Eric Hobsbawn, um dos maiores historiadores do século XX, certa vez falou que o tempo mais difícil para um historiador é escrever, é aquela na qual ele vive. Afinal, ele está imerso em seu próprio tempo, sem a distância que muitas vezes o objeto científico demanda, e o sujeito histórico, que escreve sua própria história e de seus contemporâneos está sujeito a um bombardeio de opiniões, sejam ela dos pares, da mídia ou de qualquer outro meio. E nesse ponto, Hobsbawn brilhou ao descrever o seu século, o século XX, na obra A Era dos Extremos.

Senti isso na pele ao querer escrever um texto sobre a eleição do Donald Trump, e no processo, me deparei com mais de dez abas abertas no meu navegador com os mais diversos textos. Desde a análise apocalíptica de John Carlin para o El País, até o ponderamento ao avesso do filósofo Slavoj Žižek. Tanta gente melhor do que eu estava tendo dificuldades para entender o fenômeno, então por que eu conseguiria? O Clóvis Gruner colocou essa semana em sua conta no Facebook uma fala que traduz exatamente o que eu senti:
“Quer dizer, a gente não consegue serenidade pra tentar entender o que "realmente aconteceu" nas nossas eleições municipais, e acha que vai conseguir fazer análise sensata das eleições estadunidenses?”

Já que eu não sou nenhum Hobsbawn, e não tenho essa pretensão, vou discorrer sobre o uso de termos. O Felipe Silveira foi brilhante ao pedir que “Melhoremos” a algumas semanas atrás, especialmente quando falamos. Nessas eleições estadunidenses, o que muito se viu foi a comparação de Trump a Hitler, e muitos chamando o estadunidense de fascista. Esse é um excelente exemplo. O termo “fascista” não pode ser usado levianamente. Senão, acaba que nem no conto do menino que gritava “lobo! Lobo!”. Quando aparecer o fascismo, ninguém mais vai acreditar. Trump é racista, misógino, sexista, e insulta sempre que pode mexicanos, muçulmanos, negros, emigrantes e mulheres (e fala fino com o Putin). Obviamente Trump é um problema, mas ainda creio que ele vai ser mais um problema para os próprios estadunidenses (e para os mexicanos) do que para o resto do mundo. E agora, pensar que a maioria do eleitorado estadunidense concorda cegamente com esse discurso de ódio, é fazer uma análise tão rasa quanto falar que o Rio de Janeiro é em sua maioria fundamentalista religioso. Os problemas são outros.

Os Estados Unidos jamais se tornarão um país fascista, no sentido histórico-sociológico da palavra, pois as próprias instituições da democracia norte-americana impedem esse movimento. A história do Grande Irmão do norte é construída obviamente na exclusão social dos negros, do genocídio indígena e outras problemáticas, mas é lá também que surgiu um Martin Luther King, um Harvey Milk, um Muhammed Ali, e várias outras figuras que lutaram pela liberdade e pela justiça social. Como eu sou um otimista, e gosto das simbologias, ouso dizer que os Estados Unidos são maior do que Trump. A América (o continente, óbvio), é maior que Trump. Que nossos irmãos americanos do norte lembrem-se sempre das suas palavras fundadoras, escritas por Thomas Jefferson (com uma grande pitada de John Locke): “que todos os homens são criados iguais, dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estas são a vida, liberdade e busca pela felicidade”.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

O inverno logo ali: o que fazer para parar Bolsonaro 2018?

POR FELIPE SILVEIRA

A perspectiva é a pior de todas: Bolsonaro 2018. Se não é isso que se desenha, algo muito diferente disso não vai ser. Alckmin, Aécio ou até mesmo alguma surpresa por aí. Embora estes sejam mais civilizados do que o Bolsa, seus governos e posicionamentos não deixam que nos enganemos.

Eu nunca acreditei nas chances de Bolsonaro presidente, mas até a primeira hora deste 9 de novembro eu não acreditava na possibilidade de Trump ser presidente dos Estados Unidos. Aí temos Crivella, Dória, Sartori, Greca, ACM Neto, Brexit, Le Pen, Putin e tantos outros com discursos semelhantes que não temos como fingir que o perigo não existe. Por isso, deixo aqui minha sugestão para tentar parar o pior que está por vir.

1) Assuma sua responsabilidade e organize-se
Você é um sujeito ou uma sujeita política. Exerça essa competência, faça a sua parte. Não finja que você não é parte responsável pelos rumos do mundo. Não diga “eles”, diga “nós”. Queira ou não você está nesse jogo chamado democracia. Organize-se, faça algo, busque alguma atividade coletiva ou crie a própria trincheira individual. Não estou dizendo que é preciso entrar em um partido político, embora eu recomendo, mas que apenas não se engane achando que já está fazendo algo com compartilhamentos ou no seu trabalho. Por outro lado, não menospreze o trabalho dos outros. Aliás, a quantidade de votos nulos no Brasil e o baixo índice de votação nos EUA mostram que a apatia política tem sido uma das grandes armas dos conservadores.

2) Pare de queimar a esquerda
Uma coisa é fazer a crítica honesta e justa, outra é essa queimação geral em que se meteu o campo progressista. A busca por vilões, por culpados, por erros entre a própria esquerda demanda quase toda a energia que precisamos para frear o retrocesso que se desenha ali na frente.

3) Crie pontes
Em algum momento da história nós tivemos a capacidade de dialogar com o outro. De, a partir dos fatos, ouvir, argumentar, contrapor, explicar e chegar a alguns acordos. Dessa maneira, nós refinavamos os argumentos. Infelizmente, fomos substituindo essa conversa pelo desprezo ao outro, pela lacração e coisas similares. Só que isso gerou um problema mais grave ainda: nós passamos a ter tantas certezas que já não sabemos a razão pra isso. Por não fazer esse exercício de dialogar, de ouvir e de responder, nós não sabemos mais os argumentos. Afinal, eles não são mais necessários quando desprezamos o outro. Estou convencido de que o caminho é outro.

4) Estude e refine seu argumento
Uma onda de anti-intelectualismo varre o mundo ao lado da onda conservadora, se é que se pode dizer que são ondas diferentes. É preciso estudar para ter algo a dizer sobre o mundo e se posicionar nele com algumas bases. Comece pelas suas certezas. Questione a razão pela qual você acha que algo é certo. Leia alguns textos sobre o assunto. Preste atenção nos argumentos de quem pensa diferente de você e reflita sobre eles. Construa a sua própria argumentação.

5) Pare de torcer na política
A ideia de torcer pelo seu time político é tentadora, mas a razão nos obriga a ter outra postura. Ultimamente a esquerda tem feito algo que a direita é especialista, que é compartilhar conteúdos altamente bizarros de blogs e sites travestidos de jornalismo. Sem ler o texto, saímos espalhando mentiras sobre adversários porque isso nos favorece politicamente. É um erro grave do ponto de vista pragmático, pois nos tira a credibilidade, mas é acima de tudo um erro no campo da ética, algo que não podemos nos permitir. Nossa postura crítica tem que ser constante.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Quantos leitos de UTI? Os mesmos que nos anos 90...












POR JORDI CASTAN

Você acreditou que a saúde estava bem e que tinha melhorado nesta gestão? Meu conselho é que não acredite em mitômanos e não fique doente até finais de 2018. E torça para não precisar da UTI porque pode descobrir, da pior maneira, que foi iludido pela propaganda eleitoral. Eis o fato: Joinville tem hoje o mesmo número de leitos que 25 anos atrás. 

No primeiro mandato, Udo Dohler foi eleito com o discurso de seu perfil e experiência como gestor e seu conhecimento da área da saúde. O eleitor acreditou e votou nele. Nem a saúde está melhor, nem a sua gestão pode ser considerada modelo ou referência. No tema da saúde, um bom exemplo das mentiras contumazes é o numero de leitos de UTI. Alguém sabe ao certo quantos novos leitos foram criados entre 2012 e 2016? Foram 14, 16 ou 18? Na gestão Udo Dohler, o Ministério Público cobrou o aumento de leitos de UTI e a romaria de secretários de saúde teve muito a ver com a pressão do MP por melhoras numa área crítica da gestão municipal. 

Com sorte só em 2018 aumentará o numero de leitos de UTI. A realidade hoje é que tanto no São José, HMSJ como no Regional HRHDS há o mesmo número de leitos de UTI que na década de 90. Isso mesmo. Uma situação vergonhosa e que escancara a série de péssimas administrações municipais que temos sofrido. Está prevista, para a próxima semana, o lançamento da licitação para aumentar de 10 para 20 o número de leitos de UTI no regional, uma obra que está prometida desde 2012.  

No Hospital São José, o prazo para passar dos 14 leitos de UTI atuais para os 29 previstos venceu no ano passado. A administração municipal tem dificuldade em cumprir prazos. Entregar obras na data prevista é algo que não se vê por aqui. Apesar da pressão do MP, o edital só será lançado na próxima semana e a obra deve se estender por todo o ano de 2017, com entrega prevista só para 2018. Ainda bem que o prefeito entende de saúde e de gestão. Já imaginou se não fosse esse seu forte? Administração do tempo deve ter sido outra das aulas que o prefeito gazeteou.

Os mentirosos contam com uma ferramenta formidável para espalhar as suas mentiras: a credulidade dos inocentes. Tivemos um show de mentiras na campanha eleitoral e o resultado foi que o mais mentirosos venceram. A culpa não é só dos mentirosos profissionais, porque o eleitor gosta de ser enganado. Prefere acreditar no que quer acreditar, do que na verdade. Aqui nenhum político se elegeria falando a verdade. A verdade é desconfortável e preferimos mentiras piedosas, desde que bem contadas.

Se analisarmos a campanha vencedora em Joinville teríamos uma longa lista de mentiras repetidas até ser convertidas em verdades. No melhor estilo Goebels, o gênio da propaganda nazista que levou Hitler ao poder e o povo alemão a acreditar piamente na sua máquina de propaganda.  

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A sociedade deve tolerar os intolerantes?


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
E se fosse você, leitor e leitora, a apontar os “caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil”, como propôs o tema da redação do Enem? Fico a imaginar a molecada a bater cabeça, porque a questão  não é de simples resolução. Pelo contrário. Aliás, imagino que a maioria tenda a focar a discussão na religião, quando o cerne do problema está na tolerância (apesar de haver entrecruzamentos).

O Brasil é um país com déficit democrático e isso abre caminho para a intolerância. Mas qual o perfil do intolerante? É a pessoa que, na relação social, vê as suas posições como "naturais". Portanto,  justas. E erra feio. A intolerância só vivifica num ambiente onde há uma concepção errada da história - ou onde a história for uma abstração completa. A intolerância faz a história evaporar-se, deixando apenas o “natural”, expresso num rastilho de frases feitas e certezas unívocas.

O intolerante é incapaz de reconhecer o Outro. Ele é, o Outro não é. Para o intolerante, o Outro atenta contra a essência do ser humano. A sociedade só faz sentido quando todos acabarem por se tornar o mesmo. Ou seja, quando a sociedade for a corporificação das suas projeções. O intolerante reconhece apenas um lugar na sociedade: o que julga ser seu e, por isso, natural. E esse lugar só pode ser ocupado pelo Outro quando o Outro se converter ao seu credo, seu sexo, sua cor. Mas há coisas inconvertíveis...

Eis a questão: devemos tolerar os intolerantes? O Brasil é um caso de estudo. Protegidos pela tolerância, muitos grupos religiosos não disfarçam a sua intolerância. É um fato que remete para aquilo que Karl Popper chamou “paradoxo da tolerância”. O que é? Diz Popper: “se formos de uma tolerância absoluta, mesmo para com os intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados, e com eles a tolerância”. Parece ser uma aporia.

Em que pese a minha rejeição a Popper (por outras razões), acho que esse aviso merece ser levado em conta. Tolerar os intolerantes é um risco. Mas o Brasil está incubar uma espécie de cripto-teocracia, onde as igrejas adquiriram um peso político que nenhum partido do arco do poder ousa enfrentar. Pelo contrário, nenhum projeto de poder passa ao largo da bênção desses religiosos. 

É exagero? Claro que não. Há poucos dias uma pesquisadora lançou o aviso de que a estratégia evangélica é ocupar o Executivo para chegar ao Judiciário. Há dúvidas? Melhor não dormir de touca. Porque esses movimentos religiosos estão a tomar posse dos aparelhos de Estado e inauguraram um novo modo de produção: o teocapitalismo selvagem, onde a sacanagem é feita em nome de Deus. E nem é preciso falar de nomes, porque todos sabemos quem são e os métodos que usam.

O crescimento da presença dessa gente na política nacional está a dar-lhes poder e a transformar a sociedade numa espécie de cripto-teocracia. E já se vê, aqui e acolá, muita gente a tentar talibanizar a vida dos brasileiros. O que esperar desse fenômeno? Coisas boas não serão, com certeza. Afinal, para onde os fundamentalistas podem levar a sociedade? Para o fundo, claro. Melhor não esquecer, em hipótese alguma, que a intolerância é parteira do ódio.

É a dança da chuva.

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Mito e realidade: os próximos quatro anos também serão medíocres














POR JORDI CASTAN

O resultado das urnas mostrou que o joinvilense preferiu seguir acreditando. É verdade que o baixo nível da maioria dos candidatos, no primeiro turno, e a absoluta falta de opções, no segundo turno, empurraram o eleitor a votar no ruim conhecido.
Começa agora o segundo mandato. Os que agora esperam pelo Udo real, podem esperar sentados. O real é um mito. Não apareceu antes porque não existe. A sua imagem de gestor é uma patranha, resultado de um bom marketing e pouco mais. Uma mentira como tantas outras que nos venderam e que os crédulos preferem acreditar. Há uma fascinação, quase infantil, com a imagem idealizada do colonizador que desbravou a floresta hostil.


Há também a ilusão da honestidade, do trabalhador incansável, do valor de madrugar. Há no DNA do joinvilense esta imagem idealizada do líder, do capitão da indústria, do empresário de sucesso. E é nessa imagem que o eleitor depositou a sua esperança de uma cidade melhor. Quanto maior a esperança maior será o tombo. Sem escusas para não fazer, o mito se desmanchara no ar. Agora com as contas em dia e com todos os projetos prontos Joinville viverá quatro anos de realizações. Só que não. Os próximos quatro anos serão tão medíocres como os últimos.
Pesou a favor de Udo a falta de opção do eleitor. Darci inspira ainda menos confiança. O Udo não ganhou, não teve a maioria dos votos dos joinvilenses. Os outros candidatos perderam e o eleitor ficou órfão de outras opções melhores. O eleitor desta vez votou sabendo que escolhia o “honesto que não faz”. Escolheu minimizar o prejuízo. Quem não faz, tampouco faz grandes estragos. É o que se denominou: “não rouba e não faz”.
Udo sairá deste primeiro mandato menor do que entrou e sairá do segundo ainda menor. Será uma sombra do que foi. A sua imagem de líder realizador e de gestor competente está definitivamente arranhada. O maior risco é que a única imagem que ainda consegue projetar - a de honesto - também acabe desgastada ao final da nova gestão. Em tempo, posar de bonzinho e utilizar capangas para atacar opositores e desafetos não pode ser considerado um exemplo de moral ilibada. É mais típico de covardes e pusilânimes. 

É questão de tempo para que o mito seja corroído pela realidade. E o tempo é implacável. 

Escolhas e neurônios



POR SALVADOR NETO


Uma declaração feita esta semana na mais poderosa rede social causou turbulência na província de Joinville, capitania de Santa Catarina. Rosane Bonessi, a secretária de Gestão de Pessoas do governo Udo Döhler (PMDB), recém-reeleito prefeito, no auge do seu ardor pelo chefe e no calor da disputa dos votos no segundo turno de uma eleição acirrada contra Darci de Matos (PSD) escreveu o seguinte: “Já reparou que quem tem neurônio vota no Udo? Vc (sic) conhece alguém inteligente que não vá fazer isso?”

No afã de puxar o saco do chefe, chamou a todos os pouco mais de 200 mil eleitores que decidiram votar em Darci, anular, votar em branco ou mesmo não votar, dos seguintes antônimos em relação a palavra "inteligente": ignorante, pacóvio, imbecil, idiota, tonto, parvo, estúpido, estulto. Ela, professora de cursos superiores (?!), já tem um histórico de declarações contra servidores (leia aqui), agora estendeu sua superioridade e suprema humildade também aos eleitores que não pensam como ela. Nada novo no jeito de governar e tratar as pessoas que foi a marca do primeiro governo Udo, e pelo visto, também o será no segundo.

Ocorre que é preciso ensinar a esta Secretária que em primeiro lugar ela ocupa por indicação política um cargo público, portanto, é paga regiamente com o dinheiro público que vem dos bolsos destes inteligentes que votaram em seu chefe – segundo ela – mas também dos idiotas, estúpidos e imbecis – que também segundo ela não tem neurônios, tampouco são inteligentes. Ou seja, ela é paga, é funcionária dos cidadãos joinvilenses. Ela deve satisfações, trabalho, e respeito a quem é seu verdadeiro chefe: o povo. E não há registros de que a digníssima secretária tenha se retratado, também é marca registrada do atual governo que jamais se redime dos seus erros.

É bom lembrar também à professora secretária de que nascemos com mais de 100 bilhões de neurônios e com eles vamos até o fim das nossas vidas. Neurônios são as células que impulsionam a atividade cerebral. Mas elas dependem de algo fundamental, muito importante: a qualidade do conteúdo que colocarmos nestes neurônios. Se o conteúdo for ruim, grosseiro, autoritário, é lógico o resultado que teremos. Se colocarmos informações como respeito, educação, humildade, boas informações teremos resultados muito melhores. Portanto, somente ter neurônios, um que fosse, nada significaria. Mas o que inserimos de conhecimento, educação, fará com que tenhamos algo de bom a nós mesmos e às pessoas que nos cercam, isso sim faz a diferença.

O fato é que as manifestações desastradas e desrespeitosas da secretária do prefeito Udo Döhler aos eleitores merecem ação rápida do chefe. No mínimo exigir retratação pública na medida e alcance da infeliz declaração. E claro, quem sabe uma demonstração de que realmente alguém manda na gestão, com a substituição da secretária. Ambas as coisas dificilmente acontecerão porque há traços inequívocos de autoritarismo nas informações contidas nos neurônios tanto do chefe quanto da sua subordinada. O resultado? É este que lemos nas redes sociais e vemos no dia a dia da gestão peemedebista.

Eleição, Secretária, nada tem a ver com neurônios e a quantidade que cada ser humano tem em seus cérebros. Tem a ver com escolhas que cada eleitor faz. E as faz com o que tem de informações contidas, e claro desenvolvidas, em seus cérebros. No caso a maioria dentro das regras eleitorais escolheu o seu chefe. Mas 200 mil cidadãos também deram outra mensagem, e merecem respeito. Tiveram outras escolhas que não as suas. A democracia nos oferece essas possibilidades. Neste retrato do momento, o conteúdo nos neurônios de parte da população escolheu a continuidade. Amanhã, pode escolher outra saída com base em outro retrato. É da vida e seus momentos.

Todos têm seus neurônios, bilhões deles, e mais que isso são pessoas que merecem respeito por suas escolhas, opiniões, votos. Afinal elas pagarão por essas escolhas. Ao escolherem continuar com a buraqueira nas ruas, a falta de remédios, o abandono dos bairros, a falta de diálogo, etc, etc, preferindo a hipótese simplista do slogan mãos limpas, receberão o que decidiram. Simples assim.
Recomendamos mais conteúdo inteligente, cordial, respeitoso e educativo para seus neurônios Secretária, com a diversidade de ideias, opiniões. Seria ótimo enquanto continuar neste cargo público ao qual nos deve satisfações, um pedido formal de desculpas, e muito mais respeito com quem paga seus salários. Todos que escolheram e os que não escolheram o seu chefe, são os seus verdadeiros chefes. A estes, com neurônios e suas escolhas, deve prestar contas dos seus atos. 

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

De costas para a Lagoa












POR RAQUEL MIGLIORINI

Na semana que passou, assistimos à destruição de muitas praias do litoral catarinense, provocada pela maré alta e por ondas de mais de 4 metros de altura. A água entrou em casas, prédios, invadiu ruas e encheu as avenidas beira-mar de areia.

Joinville entrou para a lista de cidades atingidas por se situar no nível do mar e o Rio Cachoeira, que tem sua foz na Baía da Babitonga, cortar a cidade. Entre a Baía e o rio, temos a Lagoa do Saguaçu, um dos mais ricos ecossistemas catarinenses. Esse ambiente sofre, há anos, um processo de degradação que os joinvilenses assistem passivos, virando as costas para o problema.

A degradação da Lagoa do Saguaçu e da Baía da Babitonga teve início na década de 30 com o fechamento do Canal do Linguado, para passagem de uma estrada de ferro. Essa construção impediu o fluxo de maré e o processo de assoreamento começou. Seria cômodo pararmos aqui, mas os anos seguintes foram mais cruéis. Na década de 50, a grande empresa de fundição se instalou às margens da Lagoa e continuou o processo de assoreamento, depositando ali a areia usada no processo de fabricação das peças de ferro. Parte dessa areia também aterrou manguezais nos arredores do bairro e, pelo movimento das marés, acabou na Lagoa também.

Esses dois eventos seriam suficientes para explicar o processo de degradação ambiental e a dificuldade de navegação e pesca nessa área. Mas, o crescimento populacional em Joinville, no início deste século, trouxe um componente a mais para a tão sofrida Lagoa: excesso de matéria orgânica jogada no Rio Cachoeira na forma de esgoto doméstico. A quantidade de esgoto era tão absurda que o Ministério Público Estadual ajuizou uma ação contra a prefeitura porque, em 2006, apenas 10% da bacia hidrográfica do Rio Cachoeira tinha seu esgoto tratado.

Os prazos foram prorrogados algumas vezes e em 2010 começou a ampliação da rede coletora de esgoto pela Companhia Águas de Joinville. Problema solucionado? Não. Duas das empresas contratadas para a execução do serviço fizeram um trabalho tão porco que o resto da areia utilizada para refazer as calçadas abertas eram deixadas  nas ruas e, claro, levadas pelo sistema de drenagem até o Rio Cachoeira e,  consequentemente,  para a Lagoa do Saguaçu.

O mesmo Ministério Público abriu uma ação contra a fundição para reparar os danos ambientais causados na região. O dinheiro (R$ 800 mil à época) foi utilizado num Termo de Ajustamento de Conduta com a Prefeitura de Joinville para fazer o Parque Municipal das Caieiras, visando a proteção ambiental e arqueológica de uma área no Bairro Adhemar Garcia. 

A empresa construiu  a Unidade de Conservação e o ônus do cuidado e manutenção ficou para a Prefeitura. A maioria dos moradores sequer sabe  onde fica esse Parque. Os que sabem, não freqüentam porque o local é mal cuidado, com o Mirante interditado e passarelas quebradas. Não existe Plano de Manejo, não tem banheiros na parte de trás (que é bem distante da entrada), não se pode comer nada lá dentro, os fornos das caieiras estão desmoronando e não há vigilância na parte de trás do Parque  que dá acesso para a Lagoa do Saguaçu. Em suma, temos um termo de conduta bem difícil de ser digerido.

As pessoas acham maravilhoso ir para o interior da França e sentar às margens do Reno, ou em Paris navegar no Sena. Em Londres, ver o pôr-do-sol no Tâmisa e tirar belas fotos. Em Joinville, podemos ver a linda Lagoa do Saguaçu do alto do Morro do Finder, do Mirante no Morro do Boa Vista e no Parque Caieiras. Mas a população vira às costas para esse espetáculo da Natureza há mais de 70 anos.



terça-feira, 1 de novembro de 2016

O que esperar de Joinville com Udo de novo?

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

JOINVILLE GOSTA E REELEGER PREFEITOS - Nos últimos 20 anos, somente Carlito Merss (PT) não conseguiu tal feito. A reeleição de Udo Dohler (PMDB), consumada no último domingo, revela a força do partido na cidade, bem como uma poderosa resposta ao projeto de sucessão do governador Raimundo Colombo (PSD), derrotado aqui, em Blumenau e em Florianópolis (numa desvirada maluca de Gean Loureiro, também do PMDB).

Após uma campanha que, confesso, me despertou uma indiferença como há tempos não via, precisamos contar os pontos do resultado. O continuismo de Udo pode ser um alento para quem defendia "deixar o homem trabalhar", como se quatro anos não fossem suficientes, embora tenha traços de pioras em vários segmentos da gestão pública.


"Queremos transformar a cidade de Joinville: mais justa e segura"

Essa frase de Udo para o jornal ND minutos após ser confirmado o vencedor do segundo turno preocupa. Tudo porque seu vice, Coelho, é inimigo declarado dos movimentos sociais da cidade (sobretudo o MPL), e tem um histórico de preconceito, repressão às minorias e tudo aquilo que não combina com a justiça social. Aos duvidosos, convido a leitura de seu Twitter e Facebook.

- "Vice não manda!", diriam alguns. Ocorre que o militar foi escolhido "a dedo" para a vaga, trazendo consigo a imagem de que o novo governo tornará a cidade mais "segura". Já está mais do que provado: segurança pública não se resolve com mais policiamento (a campanha prometeu triplicar o número de agentes da guarda municipal), mas com uma cidade menos desigual.

SE FOR MANTIDA A ESTRATÉGIA DO PRIMEIRO MANDATO -  Nesse caso, a redução das desigualdades será uma coisa para fantasia e confetes, apenas. Este é o mesmo prefeito que não investiu um centavo sequer em políticas de direitos humanos, juventude e afins, por exemplo (lembram do feriado da Consciência Negra?). É o mesmo articulador da LOT entre ACIJ, executivo e legislativo (creio que seja desnecessário, mas lembro de todas as coisas ruins e ultrapassadas presentes na nova lei de ordenamento territorial e que foram amplamente descritas aqui no Chuva) muito antes de se eleger. Sem esquecer dos escândalos da saúde (adulteração das filas para consultas), dezenas de intervenções do Ministério Público em seu governo, as promessas não cumpridas (300km de asfalto, ponte do Adhemar...) e a política de educação fajuta (tablets "para todos os alunos", reformas a la Luiz Henrique da Silveira, e o "aumento de vagas" com o corte do turno integral das creches).


"Vamos fazer três pontes"

Para piorar, o rodoviarismo estampado na capa da página online do jornal AN. Ainda que o Plano Diretor e o Plano de Mobilidade dissessem para investir prioritariamente em transporte público, Udo vai repetir a promessa de pontes, obras caras e que não trazem tanto efeito assim, em comparação com o mesmo investimento em outras políticas urbanas, por exemplo. Para quem não lembra, o primeiro mandato não fez a licitação do transporte coletivo porque foi omisso e não comprou uma briga judicial contra as empresas de ônibus da cidade, apesar de Dohler não nutrir amores pelos Bogo. Como resultado, o contrato foi renovado temporariamente, sem qualquer tipo de transparência e até hoje estamos sem saber o que, de fato, vai acontecer.

UDO NÃO TOLERARÁ CRÍTICAS, COMO SEMPRE - Marca de seu primeiro mandato, uma equipe totalmente articulada com as redes sociais sempre monitorou os passos e os discursos contrários à gestão. Considero que esse foi o setor mais atuante dos últimos quatro anos. Afastou funcionários sem motivo aparente (Lia Abreu que o diga...) e sempre botou a culpa nos outros. Não há nenhuma perspectiva diferente nesse sentido, infelizmente. 

"Temos de contar com todos os joinvilenses"

Outra frase estampada no AN, construída por puro marketing e que só faz sentido para aqueles que pensam igual ao empresário. Tanto que um de seus slogans na reta final foi "ao invés de reclamar, trabalhar", mostrando como se sente intocável e não receptivo às ideias contrárias, parte importante da construção social e do bom debate democrático. Pelo contrário: Udo foi um grande reclamão, chamando movimentos articulados de "arruaceiros", "gente que quer o atraso", e essas coisas todas que só servem para desqualificar quem pensa diferente, uma pedra fundamental para se dar bem em Joinville. Seu primeiro mandato não foi muito democrático, e tampouco o segundo será. É só juntar os discursos proferidos com a sutileza das suas ações nos bastidores para comprovar tal afirmação. 

APESAR DA REELEIÇÃO - Udo não tem cacifes para se alçar ao governo do Estado, como esbravejam alguns por aí. Os movimentos são mais complexos e o partido possui outros caciques ansiosos na fila, como Mauro Mariani e Pinho Moreira. O certo é que em âmbito local será extremamente dominante, ordenando uma maioria absoluta na Câmara de Vereadores e absorvendo dissidentes de Darci (o cara que quer ser "a voz dos que não têm voz", começando por si próprio) com cargos e novas alianças políticas, o que é bem normal considerando o nível dos 19 eleitos em Joinville. 

Com a ACIJ nas mãos há quase uma década, reeleito e administrador de grande maioria no legislativo, não haverá desculpas que se sustentarão na imprensa (amplamente favorável ao seu primeiro mandato, diga-se de passagem) ou nos livros de história. Udo tem uma condição rara em suas mãos e que não existia nessa cidade desde a década de 1960. Quem dera se usasse isso em favor da maioria, pobre, segregada e amplamente marginalizada, né?

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Udo Dohler é seu empregado. Exija que faça melhor...















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O eleitor escolheu Udo Dohler. O voto é soberano, nada a dizer. É natural que os vencedores comemorem o resultado. Que os comissionados enviem recados para os desafetos. Que puxa-sacos espontâneos suspirem por cargos. Que integrantes da coligação queiram cobrar o preço do apoio. Faz parte do jogo. Mas é hora de olhar para a frente. Quando acabarem as comemorações, é bom o pessoal voltar ao trabalho com muito empenho, porque é preciso fazer mais e melhor.

Udo Dohler não é bobo. E sabe que a cidade de primeiro mundo apresentada na campanha é apenas falastronismo marqueteiro. Os eleitores também não são bobos. E sabem que os quatro anos da atual administração tiveram mais buracos do que queijo suíço (no sentido figurado e na realidade). Aliás, os 136 mil votos contra e alguns sustos durante a campanha são a evidência de que Joinville não é uma Shangri-la. O resultado das eleições constitui um aviso de que é preciso mudar a forma de governar.

Será que muda? É difícil. Udo Dohler traz como marca pessoal o fato de ser um autocrata pouco dado a frufrus democráticos. Além disso, o transcurso do primeiro mandato fez com que o prefeito fosse abalroado pela realpolitik, o que provocou uma mudança na rota original: a figura do gestor foi posta de lado e Udo Dohler tornou-se mais um político. E como tal passou a ter o olhar nas urnas. O oposto do que defendia em 2012. É o tipo de perfil que impede de fazer projetos para além de quatro anos.

O estilo autocrático de Udo Dohler contagiou outras instâncias de “poder” na administração pública. O autismo político levou à arrogância e ao distanciamento do povo. Fica a ideia de que os eleitores são meros figurantes no puzzle político. A sensação é a de que os ocupantes do prédio na Hermann Lepper imaginam ser donos de Joinville. Não são. De fato, são apenas empregados do cidadão. Udo Dohler é empregado dos joinvilenses. Os comissionados são empregados dos joinvilenses.

Nenhum empregador (o cidadão, repito) quer ser ignorado pelo seu empregado. É hora de exigir mais resultados e menos publicidade. Há muito por fazer. Tapar buracos, cuidar da saúde ou planear a cidade. E não é favor. É obrigaga﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽﷽mples baba-ovos suspir Citora.e inteligente e humana iem recados para os seus desafeitos. Que simples baba-ovos suspirção. Não é hora apenas de deixar o Udo trabalhar, como ele pedia na campanha. É hora de exigir que ele trabalhe... e defenda o interesse comum. Ou seja, que defenda os interesses dos seus patrões, que são os mais de 300 mil eleitores que votam nas eleições.


É a dança da chuva.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

O racismo é ambidestro



POR FELIPE CARDOSO

Na polarização entre direita e esquerda, impeachment ou golpe, azul ou vermelho, o racismo permanece intacto. Mesmo com tanto tempo de debates e acirramentos entre esses dois polos de pensamentos, raramente vimos episódios de inclusão e verdadeira preocupação para resolver os reais problemas dos negros e indígenas.

Se do lado direito não encontramos, na maioria das vezes, o reconhecimento da existência do racismo em nossa sociedade, do lado esquerdo, encontramos tal reconhecimento acompanhado do racismo velado, que torna-se perceptível apenas com análises de algumas posturas e ações daqueles e daquelas a quem costumamos chamar de camaradas.

Engana-se quem pensa que a luta antirracista esbarra somente na onda conservadora e reacionária da direita que insiste em produzir e martelar constantemente a ideia de “vitimismo”, “meritocracia” e “racismo reverso”.

Ela também fica presa ao discurso vazio e com a falta de prática real da esquerda para o combate efetivo ao racismo estrutural e institucional presente na nossa sociedade. Quando não é silenciada por aqueles militantes brancos que se apropriam do discurso de que o problema existente é o “de classe”. Como se não tivessem acesso a História mundial (que tanto cobram da direita) sobre a colonização e escravidão. Deixando de lado as nossas pautas, tornando-as secundárias, tornando invisível a nossa luta.

A luta antirracista esbarra também na visão de alguns militantes de esquerda que insistem em colocar celebridades negras, que detém algum poder aquisitivo, como vilãs ou como objeto do capitalismo, esquecendo-se realmente da cor predominante que controla o sistema. Parece que alguns militantes de esquerda sofrem ao ver um negro com poder aquisitivo ou exercendo alguma representação de poder, mesmo sentimento que muitos que têm o pensamento voltado aos ideais da direita transparecem. E isso é somente mais um reflexo do nosso passado escravagista que não permitiu a sociedade a se acostumar a ver o negro em posições de poder político, econômico e cultural.

Justamente por isso, os negros e negras ficam reféns da representação na mídia oligárquica que trabalha a estereotipagem negra sempre de maneira negativa, pejorativa, desde as novelas e jornais até a publicidade. E isso também se repete em alguns poucos veículos midiáticos e de imprensa progressistas e de esquerda existentes no país.

Um exemplo disso é a capa recente de uma edição do jornal Le Monde Diplomatique, em que mostra um negro, nu, desdentado e alienado com as novas medidas adotadas pelo atual governo de Michel Temer. A imagem pode ter várias leituras de sua representação, mas analisando de acordo com o nosso contexto e histórico é notório o racismo. A animalização do corpo negro, a representação do negro como um ser politicamente alienado, ignorante, alheio aos acontecimentos, pobre e desvalido do senso crítico e político. Tal representação fica descaradamente racista ao lembrarmos que os veículos de imprensa da esquerda, durante a onda de protestos contra a ex-presidente Dilma, destacaram a presença maciça de pessoas brancas e de classe média presentes em tais atos. Isso prova como é descabido e racista tal capa, induzindo a interpretação dos leitores do jornal a culparem os negros pobres do país pela guinada à direita.

Tal representação relembra os anúncios publicitários e imagens jornalísticas do período colonial e pós-escravista em que utilizavam os mesmos recursos para ridicularizar e culpar os negros pelo atraso do país.

Isso se deve ao fator histórico a que fomos condicionados. Desde a colonização dos países africanos por países europeus, o mundo conheceu, interpretou e enxergou o continente africano, seus habitantes e descendentes em diáspora sob a ótica eurocêntrica, ou seja, com a visão branca, europeia, colonizadora. Então, tanto os brancos de direita, quanto os de esquerda, construíram e constroem suas visões de acordo com essa visão racista, com esse olhar do colonizador.

Tudo isso gera na cabeça de nós, negros e negras, a falta de perspectivas e nos faz acreditar e aceitar o racismo como algo que está posto e que devemos aceitar, sobrevivendo com tais injustiças. Faz-nos crer que o racismo é um fator natural que sempre existiu e sempre existirá, tornando-nos impotentes, não sabendo para onde ir, em que caminho trilhar ou seguir.

E é aí que realmente mora o problema: a naturalização do racismo. Stuart Hall* (2016, p. 171) afirma que:

“A lógica por trás da naturalização é simples. Se as diferenças entre negros e brancos são “culturais”, então elas podem ser modificadas e alteradas. No entanto, se elas são “naturais” – como acreditavam os proprietários de escravos –, estão além da história, são fixas e permanentes. A “naturalização” é, portanto, uma estratégia representacional que visa fixar a “diferença” e, assim, ancorá-la para sempre. É uma tentativa de deter o inevitável deslizar do significado para assegurar o “fechamento” discursivo ou ideológico”.

E mais adiante, ao definir hegemonia, Hall (p. 193) diz que:

"A hegemonia é uma forma de poder baseada na liderança de um grupo em muitos campos de atividade de uma só vez, para que sua ascendência obrigue o consentimento generalizado e pareça natural e inevitável".

Isso nos faz refletir sobre a hegemonia branca, que está presente e na liderança de vários segmentos da sociedade (mídia, moda, política, economia), inclusive em organizações, entidades e movimentos de esquerda, que podem contribuir com a naturalização do racismo.

Então, cabe a nós, negros e negras, insistir e investir no entendimento do racismo como algo cultural e histórico, construído, estruturado e ramificado na sociedade. Pois somente assim conseguiremos alterar e modificar tal cultura. E fiquemos atentos e atentas, pois a tentativa de naturalização e fixação do racismo está tanto na esquerda, quanto na direita. E nós, nós continuamos negros.

*HALL, Stuart. Cultura e Representação. Rio de Janeiro: Ed. PUC Rio: Apicuri, 2016.