POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Faz pouco mais de 20 anos que saí do Brasil. Lembro que, naquele altura, o país vivia uma espécie de apartheid social. Ricos para um lado, pobres para outro. Quem me conhece sabe que sempre uso o exemplo do “elevador de serviço” e “elevador social” como metáfora daqueles tempos. É uma forma de duzer que não havia misturas, porque cada um sabia o seu papel na sociedade. Fico aqui a lembrar como era o fim do século 20.
- Imaginem que naquele tempo as universidades eram coisa só para gente rica. Eu próprio só fui para a universidade porque o meu pai tinha alguns recursos, ainda que parcos. Quando era calouro na Faculdade de Engenharia de Joinville, a minha turma era toda de gente de classe média (para cima) e só tinha um cara que a gente podia chamar de “pobre”. É claro que o coitado não sentou nas cadeiras da faculdade por muito tempo, porque a faculdade era em período integral e ele tinha que trabalhar.
- A saúde também era diferente. Quem dependesse dos serviços públicos estava palpos de aranha. Não havia um modelo como o atual SUS, que tem os seus defeitos mais vai atendendo. O antigo INPS não oferecia dignidade e era um recurso usado apenas pelos pobres. O pessoal com grana tinha planos de saúde privados ou apenas dinheiro para se defender nas emergências. Tem uma coisa que os mais novos nem sonham: o SAMU era uma miragem. Não existia.
- A política era dominada pela plutocracia, que se confundia com os oligarcas e os seus acólitos. Ou seja, os donos do poder enquistavam os seus títeres nas estruturas de poder (Legislativo e Executivo) com o objetivo de proteger os interesses do topo da pirâmide. Quem não se lembra da expressão Belíndia? Uma parte do país era a Bélgica, onde viviam os ricos. A outra era a Índia, onde eram circunscritos os pobres. Nesse tempo, o Partido dos Trabalhadores ainda engatinhava e os seus militantes eram mesmo perseguidos. O partido era a voz dos mais desfavorecidos e propunha mudanças, o que incomodava os conservadores.
- O Poder Judiciário era respeitado. Ou melhor, temido. Mas já naquele tempo os caras ligados a atividades judiciais (pelo lado do Estado) davam um jeito de tirar o máximo de proveitos do sistema. Os aumentos salariais e de benefícios foram sempre muito generosos. Os trabalhadores do Judiciário sempre formaram um elite intocável, que se destacava pelo elevado estatuto social.
- A imprensa tinha alguns títulos combativos (a espasmos) e contava com jornalistas respeitáveis. Mas estiveram sempre sujeitos a interferências das leis do mercado e os humores do poder. No entanto, além de uma ou outra peitada esporádica, no frigir dos ovos a maioria esteve sempre alinhada com o poder. Podia dizer que as coisas eram muito parecidas com o que temos atualmente. Mas não. Hoje é muito pior.
Ops! Pensando melhor, parece que o golpe aplicado pela direita teve esse efeito: fazer o Brasil avançar para o século 20. E trazer aquela velha necessidade que a Casa Grande tem de pôr a senzala no seu devido lugar. Rico é rico, pobre é pobre.
“O Brasil não é só de gente como nós (…) existe gente pobre”.
Michel Temer
“Se não tem dinheiro, não faz faculdade”.
Nelson Marquezelli
“A primeia vez que eu tentei carregar um pobre no meu carro eu vomitei por causa do cheiro“.
Rafael Greca
“O Brasil não é só de gente como nós (…) existe gente pobre”.
Michel Temer
“Se não tem dinheiro, não faz faculdade”.
Nelson Marquezelli
“A primeia vez que eu tentei carregar um pobre no meu carro eu vomitei por causa do cheiro“.
Rafael Greca
É a dança da chuva.