terça-feira, 6 de setembro de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Nelson Amorim


POR NELSON AMORIM

Sou leitor do Chuva Ácida há cerca de dois anos, especialmente as colunas do José Baço e Gruner Gruner. Excelente alternativa à mídia corporativista, pois vale lembrar que a linguagem não é neutra e pode ser um forte instrumento de dominação; e seja no aspecto social ou político, não há universalização do direito à livre expressão no Brasil. Ele é apropriado ou pela elite das comunicações ou pela elite econômica, que exercem censura e coação sobre a liberdade de expressão alheia.


Desse ponto de vista, o Chuva Ácida tem o importante papel de representar um mínimo de pluralidade de opinião na tão desgastada democracia brasileira. Parabéns ao Chuva Ácida pelos 5 anos de existência e resistência, seguimos firmes!




Nelson Amorim
é estudante de Direito
na Univille

Fora, primeiro-ministro socialista. Vai para Cuba...
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Um aviso à reacionaria. O primeiro-ministro português António Costa está no Brasil, para uma visita de quarto dias. A agenda prevê até um encontro com Michel Temer, fato que gerou um certo bururu na esquerda portuguesa. É que o mundo sabe do golpe e os democratas não querem ver o presidente ilegítimo nem pintado de verde e amarelo.

Mas por que a visita merece um alerta? Ora, só trouxe o tema para avisar os reaças brasileiros para o perigo. É um risco receber um primeiro-ministro socialista, ainda mais sabendo que o seu governo é sustentado pelo Partido Comunista e pelo Bloco de Esquerda, que também se orienta por ideias “subversiventas”, como diria Odorico Paraguaçu.

Receber socialistas – ainda mais amigos de comunistas – com todas as vênias é o fim dos tempos. Fico a imaginar que esse insulto diplomático não vai passar batido aos reaças. Aliás, já estou a ver a reacionaria a preparar uma reação dura. O pessoal nas ruas com cartazes e palavras de ordem a exprimir o sentimento da gente de bem:

-       Fora socialista.
-       Costa... vai para Cuba.
-       Primeiro-ministro esquerdopata.
-       Pretalha lusitano.
-       A nossa bandeira não será vermelha.
-       Esquerdista com iPhone.

Ok... a esta altura vocês já perceberam que estou de zoa, certo (menos os adiantados mentais anônimos, porque eles são mais lentos)? Mas é apenas para dizer que vocês, reaças, são uns ignorantões e não fazem a menor ideia do que é “socialismo”, “comunismo”, "veganismo" ou qualquer outro “ismo”. E que, pela falta de leitura, não conseguir ir além da repetição de clichês néscios.

Quando a discussão pede ideias, eis o que os reaças têm para trazer ao debate: mentes fechadas e bocas abertas. Como nada entra na cabeça, estão sempre a comer moscas.


É a dança da chuva.


segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Fora!


Eleições em Joinville: há os que partem com vantagem


POR JORDI CASTAN



O processo eleitoral brasileiro é complexo, como quase tudo neste país. Nada esta feito  para ser simples e há uma fascinação pela complicação. O sistema partidário tampouco ajuda, mas isso interessa muito a alguns e muito pouco a outros. Quem disputa a reeleição parte com vantagem. E com uma larga vantagem, diga-se. As chances dos partidos pequenos e dos candidatos novos é muito pequena.

Vamos ficar no exemplo do varejo local. É um mundo político que mais parece uma quitanda ou uma loja de secos e molhados. Qualquer prefeito que queira se reeleger terá maior facilidade em atrair aliados se tiver secretarias e cargos para oferecer em troca de apoio. Apoios que significam tempo de televisão, mais recursos e mais visibilidade. Além da inegável vantagem que representa o permanecer no cargo durante toda a campanha.

No Legislativo, cada vereador tem à sua disposição assessores parlamentares, que poderiam ser chamados “cabos eleitorais”, uma vez que apenas lutam desesperadamente para que seu candidato se reeleja. Desnecessário ter que explicar, ao leitor do Chuva Ácida, que na verdade lutam pelos seus próprios empregos. Manter por outros quatro anos o cargo de assessor parlamentar tem lá suas vantagens, ou deve tê-las pelo afinco com que trabalham pelos seus candidatos. Não é pouco. Mas há ainda a estrutura que a Câmara coloca à disposição de cada vereador. Difícil separar em que momento o prefeito esta sendo prefeito ou candidato, da mesma maneira é difícil saber quando o vereador esta exercendo seu mandato ou fazendo campanha.

Para os outros candidatos, especialmente para os dos partidos menores, o caminho é longo e duro. Faltam recursos, tempo de televisão e rádio e não ha cargos que oferecer. Não tem como obrigar que os detentores de cargos comissionados façam campanha em seus carros ou participem ativamente de caminhadas e mobilizações. Há que afirme que há até uma lista informal de presença, que se faz um controle severo de quem participa e de quem faz corpo mole. 

A verdade é que as melhores propostas até agora estão nos programas e discursos dos que nada têm a perder. São os candidatos que podem permitir-se o luxo de dizer a verdade. Entre os três candidatos que estão na frente nas pesquisas e que têm as maiores estruturas de campanha e tempo de mídia não há nada novo. Não esta com eles a parte interessante da campanha, até porque o que se escutou e viu até agora é mais do mesmo. Há só cheiro de ranço, de “deja vu”. 

Os discursos são cada vez menos convincentes. Estão órfãos de ideias novas e só contam com a vantagem que o sistema lhes proporciona para ganhar uma corrida que é desigual desde muito antes de começar. Ruim para o eleitor, pior para Joinville.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Arno Kumlehn

POR ARNO KUMLEHN

O Chuva Ácida é desses espaços que Joinville precisava e não tinha.

Um espaço para o debate, o contraditório, a polêmica. Um espaço para a construção da cidadania algo tão pouco praticado por estes lados. Um espaço plural e democrático em que todos tem espaço e vez algo pouco habitual em Joinville onde poucos estão acostumados a decidir por todos e nem ouvem, nem escutam as opiniões divergentes.

O Chuva Ácida veio e ficou. Veio para incomodar, para criar desconforto e para dar voz. Sou leitor desde seu inicio e até tenho publicado um ou outro texto.







Arno Kumlehn
é arquiteto
e urbanista

Brasil de Temer: uma tragicomédia em três atos
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

ATO 1 – O GOLPE

Machado – Rapaz, a solução mais fácil era botar o Michel.
Jucá – Só o Renan que está contra essa porra. ‘Porque não gosta do Michel, porque o Michel é Eduardo Cunha’. Gente, esquece o Eduardo Cunha, o Eduardo Cunha está morto, porra.
Machado – É um acordo, botar o Michel, num grande acordo nacional.
Jucá – Com o Supremo, com tudo.
Machado – Com tudo, aí parava tudo.
Jucá – É. Delimitava onde está, pronto.

É chato ter que voltar ao óbvio. Mas mesmo depois da divulgação dessa conversa entre os conspiradores, ainda há gente a rejeitar a tese de golpe. Foi golpe e pronto. Mas por que é importante essa caracterização? Ora, porque a manutenção de um golpe antidemocrático só pode ocorrer por arbitrariedades, negociatas e subtrações de direitos e liberdades. Afinal, como diz o povo, pau que nasce torto até a cinza é torta. Vem coisarada por aí, diria um joinvilense.

ATO 2 – A REAÇÃO AO GOLPE

As pessoas que se sentem usurpadas estão a reagir a quente. Mas o discurso dos defensores de Dilma Rousseff tem alguns erros de avaliação e mesmo algumas ingenuidades. Nada muda o fato de que o golpe foi consumado e Micher Temer é o presidente.

Erro 1: "A história vai julgar os golpistas".
A história não marca hora para vereditos. Aliás, alguém acha que os golpistas vão perder o sono por causa da história? Os caras assumiram a canalhice ao vivo e a cores e em rede nacional. É óbvio que não vão se sentir intimidados por essa coisa abstrata chamada história.

Erro 2: "O mundo está vendo".
Sim. Aliás, fora do Brasil todos sabem que é golpe. Mas o mundo tem mais com o que se preocupar. E se o Brasil volta a ser a velha república das bananas isso faz a alegria dos abutres estrangeiros, sempre prontos para o butim.

Erro 3: "Vai ter oposição".
Claro que vai. Quem teve que lutar pela democracia - essa que acaba de ser violentada - sabe que vai ser como nos tempos da ditadura. Fica meia dúzia a brigar. O resto vai para casa cuidar da vidinha.

ATO 3 – VÃO-SE OS ANÉIS, VÃO-SE OS DEDOS

É fatal. Temer vai governar. Mas a que preço? Para conseguirem manter os seus governos, Lula e Dilma tiveram que acender uma vela para deus e outra para o cramulhão. O problema de Temer é que o seu acordo é apenas com o cramulhão. E o tinhoso é neoliberal. A coisa vai doer para os mais desfavorecidos, claro.

O Brasil sai desse processo fraturado, desmoralizado e com as instituições enfraquecidas. Não havia pior maneira de começar a governar. Eis o erro. Os que hoje comemoram a ascensão de Michel Temer imaginam o fim da crise econômica. Tolice. Mesmo admitindo que o único ponto respeitável do governo de Temer é a sua equipe econômica.

O problema com o time de Henrique Meirelles é jogar no campo da austeridade. E do neoliberalismo, que já vive em descrédito nos países mais desenvolvidos. Não se trata de ser catastrofista, mas só alguém muito desligado da realidade pode achar que a crise brasileira vai acabar. Não vai. Por que razão o Brasil estaria na contramão da economia mundial?

Diagnósticos são perigosos, mas é natural haver números razoáveis no princípio. O problema é que folhas de Excel não enchem barrigas vazias. Ninguém duvida que o ataque vai ser sobre o social e os programas de distribuição de renda que, em grande medida, serviram para alavancar a economia ao longo dos últimos anos.

O futuro pode ser péssimo para os pobres, mas chegará uma hora em que os ricos também terão que pagar a fatura. Eis o perigo. Quando a pressão for generalizada, o que o governo pode fazer para se salvar, ainda mais nessa condição de ilegítimo? Negociar com o diabo e o diabo. E de cedência em cedência abre-se o caminho para a corrupção. Que, por ironia, era o que Dilma Rousseff ameaçava estancar.

É a dança da chuva.


Com Temer no poder, acabou a corrupção. Não é preciso urgência






quinta-feira, 1 de setembro de 2016

CHUVA ÁCIDA 5 ANOS - Victor Vargas













POR VICTOR VARGAS

Na semana passada, fui convidado a escrever sobre o Chuva Ácida. São cinco anos de aniversário de um blog independente que não tem papas na língua. E foi logo dito: “pode falar mal, se for o caso”.

Conheci o Chuva Ácida em 2013, quando resolvi colocar meus pensamentos políticos em um blog. Confesso que tive uma ponta de ciúmes quando descobri que em Joinville já havia um blog sobre política, muito mais interessante que o meu, tanto no texto quanto nas pessoas que ali escreviam. Meu blog se chamou “Política100Vergonha” (nada criativo, eu sei). Nada como uma chuva ácida. E principalmente tocando ácido em assuntos tão delicados.

De lá pra cá, sempre que posso eu entro no site e seleciono alguns artigos para ler. Fiquei lisonjeado por ter sido convidado a escrever sobre um canal de comunicação que tanto admiro, bem como as pessoas que ali escrevem. Fiquei feliz e preocupado. O que dizer? Como abordar o assunto? Como traduzir em palavras, sentimentos que não têm tradução? Nunca havia escrito assim, “por encomenda”.

Eu escrevo o que vem à minha cabeça e ao que toca o meu coração. É difícil trabalhar de outra forma. Por isso mesmo não sou escritor ou jornalista. Sou apenas um cara metido a escrever sobre as coisas que me chamam atenção e reconheço que escrevo mal pra caramba. Mas não o Chuva! Ali não. O ácido que sai dos dedos de seus colunistas não fere a mim. Mas com certeza deixa muita gente corroída por aí.

Esse pessoal do Chuva já foi considerado um bando de malucos, mas não! O que separa a maluquice da genialidade é apenas o sucesso. Eles são visionários, são críticos e são ácidos. E o Chuva Ácida é um sucesso! O Chuva Ácida me ajudou a esclarecer coisas sobre política, ecologia, sustentabilidade e muito mais. Parabéns ao Chuva Ácida por esses 5 anos de crítica ácida e precisa. Vocês vão ao ponto, colocam o dedo na ferida, fazem sangrar, expõem a doença e deixam com que o leitor procure a medicação correta.


Que mais ácido caia desta chuva! 




Victor Vargas é professor,
consultor de TI, analista
de sistemas e desenvolvedor
de software.

https://www.facebook.com/victor.vargas.de.andrade?fref=ts

Sem Dilma, com Temer. E agora?



POR CLÓVIS GRUNER

É mais fácil, cômodo e, a essas alturas e a depender de qual “lado” se está, talvez seja mesmo necessário, acreditar que a agora ex-presidenta Dilma Rousseff caiu não pelos seus erros, mas pelos acertos de seu governo. Esse discurso tem sido repetido, quase à exaustão, desde que o processo contra ela foi instaurado, antes mesmo da vergonhosa votação na Câmara dos Deputados, em maio, que culminou com seu afastamento. Fácil, cômodo, necessário até. Mas equivocado.  

Diferente de parte da oposição de esquerda aos governos do PT – no plano institucional, o PSTU basicamente –, para quem os últimos 13 anos foram uma sequência de equívocos a justificar o “Fora Todos”, acredito que há aspectos positivos da experiência petista. A diminuição da pobreza é um deles, talvez o principal: mesmo que tímidas ante uma estrutura que ao longo de décadas promoveu, sustentou e reproduziu uma desigualdade violenta e perversa, as políticas públicas implementadas pelas quatro gestões na última década são, a meu ver, a principal herança dos governos do partido. E justamente por isso não podem ser responsabilizadas pela derrocada petista.

Ainda que uma precária ascensão de setores menos favorecidos à sociedade de consumo tenha, de fato, incomodado setores das elites e da classe média, Dilma não caiu porque a “casa grande” não suportou ver a “senzala” emancipar-se. Não foram os acertos, insisto, que cimentaram o caminho até o impeachment. Dilma e o PT caíram pelos seus erros, muitos e variados. No plano institucional há, entre outros, as inúmeras denúncias de corrupção; as alianças escusas firmadas para garantir a governabilidade; o balcão de negócios instituído em troca de apoio parlamentar; e o verdadeiro estelionato eleitoral que foi apresentar um programa em 2014 que nunca pretenderam cumprir.

Em grande medida, as escolhas e a conduta institucionais corroboraram para um crescente e cada vez mais naturalizado afastamento do governo petista das pautas e demandas que são, historicamente, caras às esquerdas. A ascensão de Kátia Abreu à condição de aliada e defensora incondicional de Dilma é emblemática desse movimento pendular que aproximou o governo dos grupos e setores mais conservadores. Uma aproximação, no entanto, que começou bem antes de Dilma: José Alencar não foi escolhido para ser vice de Lula apesar de seu perfil religioso, mas justamente por isso. Foi Lula também quem primeiro tomou a decisão de fazer partilha do governo com setores neopentecostais, se aproximando de Edir Macedo e da Igreja Universal do Reino de Deus. Parece muito, mas é pouco e não é só. 

Há ainda, e por exemplo, a indiferença com que foram tratadas as demandas LGBTs (“Não aceito propaganda de opções sexuais” foi a justificativa de Dilma em 2011, quando proibiu a distribuição nas escolas do que os grupos evangélicos, naquele momento seus aliados, chamavam de “kit gay”) e feministas (“Eleita presidente da República, não tomarei a iniciativa de propor alterações de pontos que tratem da legislação do aborto e de outros temas concernentes à família”, afirmou a mesma Dilma lá em 2010). Mas há também a subserviência aos grupos de comunicação; a criminalização dos movimentos sociais, culminando com a assinatura da “Lei anti-terrorismo”; e as “polícias pacificadoras” que, entre outras coisas, ainda não nos responderam onde, afinal, está Amarildo?

A guinada não foi à esquerda – Como disse anteriormente, um dos resultados do percurso apenas sumariamente descrito acima, foi o enfraquecimento, dentro e fora do governo, dos grupos, pautas e demandas dos setores de esquerda. Tendo pouco a oferecer, eles passaram a exercer um papel coadjuvante em um roteiro protagonizado por quem tinha principalmente votos. E de preferência algum dinheiro. Não houve golpe, entre outras coisas, porque o processo que resultou no impeachment foi urdido desde dentro do governo, por partidos e políticos que eram aliados de Dilma e do PT, sua base de sustentação no parlamento e com quem, justamente, o governo negociou alianças e apoio até o limite do possível. 

O governo Dilma perdeu em um processo, sabe-se, que nada tem de jurídico. E à medida que a Lava Jato fugia ao controle e avançava sobre outros nomes que não os suspeitos de sempre, seu poder de barganha enfraqueceu: entre cargos em uma gestão que, virtualmente, já havia acabado, fragilizada também por uma calculada exposição midiática, além de uma crise econômica sem precedentes na curta duração, e a possibilidade de se livrar da cadeia, venceu a segunda. Convenhamos, a escolha não era difícil. Venceram o PMDB, Eduardo Cunha e Michel Temer.

Síndico de um condomínio cujo único interesse é a garantia da impunidade, portanto, Michel Temer é o líder de um governo não apenas ilegítimo, mas criminoso. O que vimos ontem no Senado não foi a vitória de um golpe de Estado, mas algo sem dúvida violento e perverso: a consolidação de uma estratégia política criminosa que atentou contra a democracia, fragilizando-a ainda mais, para acobertar e encobrir a enormidade de falcatruas em que estão metidos os políticos brasileiros, inclusive e principalmente os principais líderes da base aliada do agora presidente Michel Temer. Nesse sentido o impeachment, longe de ser o anúncio de uma “nova era”, é a maneira pela qual a velha classe política não apenas pretende retomar o controle do país, mas escapar da cadeia.

E ela tem pressa. Inelegível, Temer não concorrerá à reeleição em 2018 e a situação, tampouco, tem um nome forte a apresentar como alternativa. A agora oposição, por sua vez, já articula pelo menos três potenciais candidaturas: a de Ciro Gomes, Marina Silva e Lula. Mas essa não é a única dificuldade de Temer, que assume o governo em meio a uma dupla crise, política e econômica, além de amargar índices de aprovação baixíssimos, os mesmos de Dilma e do PT depois de 13 anos de governo. Acrescente-se a isso o fato de 62% dos brasileiros, segundo pesquisa realizada em abril, preferirem a convocação de novas eleições ao impeachment da então presidenta e a posse do vice, e há mais que o suficiente para temer o futuro próximo – com o perdão do trocadilho.

Na prática, temos desde ontem um governo que chega ao poder não apenas passando por cima de 54 milhões de votos mas, ele mesmo, sem respaldo popular (Temer, afinal, foi eleito para ser vice). Sem respaldo e sem compromissos outros que não com aqueles que garantiram sua mudança para o Palácio do Planalto. Michel Temer tem pouco mais de 24 meses para pagar suas muitas dívidas com os grupos, interesses e partidos que o apoiaram, e seus primeiros movimentos ainda como interino deixaram claro que ele pretende quitá-las. À frente de um governo ilegítimo, criminoso e sem respaldo eleitoral e popular, de duas coisas podemos ter certeza: seus credores não deixarão de cobrar a fatura. E ela será alta e amarga.