segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Teremos que esperar outros 30 anos?


POR JORDI CASTAN


Ninguém acredita mais na Joinville do futuro. Mas insiste em querer a Joinville do presente. Os problemas que atrapalham a Joinville de hoje não se resolverão daqui 30 anos, porque requerem soluções hoje. Mas o que encontrarão os joinvilenses daqui três décadas?

Nesta Joinville fantasiosa, em que não se resolvem os problemas de hoje por conta de estar preparando a cidade do futuro, estamos vivendo o contrassenso de não ter nem uma nem outra. A Joinville de hoje é definitivamente um navio navegando a esmo, sem rumo. A Joinville de amanhã é uma quimera que existe unicamente em alguns gabinetes, em vídeos promocionais e em desenhos fantasiosos.

Não há nenhum projeto concreto de como será ou como poderia ser esta cidade. Nenhum documento permite que conheçamos essa Joinville melhor, mais moderna, inovadora, socialmente mais justa, próspera e feliz que todos almejamos. Essa ideia de prometer uma vida melhor num futuro, para justificar os sacrifícios e o sofrimento que experimentamos nesta, soa a conversa de mercador de ilusões.

Quando, em 1973, Joinville elaborou seu plano diretor, a cidade projetou um futuro que permitia sonhar. Avenidas duplicadas, infraestrutura adequada, grandes parques. De tudo aquilo pouco ou quase nada foi feito e já lá vão mais de 40 anos. A duplicação da Ottokar Doerfel, a construção da Almirante Jaceguay, o alargamento das ruas Blumenau e João Colin, a duplicação da Marques de Olinda, por citar apenas algumas. São obras de infraestrutura que, se executadas, teriam feito de Joinville uma cidade mais moderna e melhor preparada para se desenvolver. Até um parque linear ao longo do Rio Cachoeira estava previsto. Nada foi feito e ninguém parece muito preocupado com isso.

À falta de um projeto de cidade para o futuro, temos o direito a sonhar com uma outra Joinville. Postos a sonhar poderíamos sonhar com uma cidade sustentável, eficiente, plural, diversa, inclusiva e inovadora. Uma cidade verde, que invista em prevenção em lugar de gastar em correção. Com educação em período integral, com parques públicos de qualidade, com infraestrutura adequada para o seu desenvolvimento.

Hoje o máximo a que podemos aspirar é um binário aqui e outro ali. Com sorte talvez um dia se conclua a obra do mirante e o arremedo de duplicação da avenida Santos Dumont. Das pranchetas do IPPUJ sairá nada melhor que isso. Nem das cabeças dos nossos governantes devemos esperar muito mais. Assim a Joinville dos próximos 30 anos deverá ser uma cidade remendada, apequenada, que desistiu do futuro sem nem sequer ter passado por um presente digno.

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A mágica da multiplicação de vagas em CEIs



POR SALVADOR NETO

Joinville é a cidade onde se fazem milagres, até na educação infantil. De uma só canetada 600 vagas apareceram do dia para a noite na rede pública municipal. A receita? Acabar com o turno integral para 600 crianças, aproximadamente. Neste quadro de circo eles cortam para aumentar. Só esqueceram das crianças, seus pais e suas mães. 


Os autores da mágica são o prefeito Udo Döhler, o secretário da Educação, Roque Mattei, e claro, a bancada governista formada por quase todos os 19 vereadores. Esta semana inclusive o líder do governo no legislativo, vereador Claudio Aragão (PMDB), encerrou reunião da Comissão de Educação – que preside – diante dos protestos de dezenas de pais e mães que não sabem o que fazer diante dessa “mágica”. Democrático o vereador governista não acham?
 
Os fakes governistas, os bajuladores aninhados em cargos do governo, ou mesmo fora dele em empregos terceirizados, podem me chamar de chato. Para este jornalista isso é um elogio. Sou obrigado a retomar o lema que marcou a eleição de Udo em 2012: não falta dinheiro, falta é gestão. Tal frase, que levou milhares a votar no empresário peemedebista, hoje soa como palavrão para a rapaziada do outro lado do rio Cachoeira.

Entendo, é difícil explicar o inexplicável hoje após quase quatro anos de governo que não disse a que veio. Após os fiascos na saúde – o alcaide se diz conhecedor há 40 anos, portanto presume-se que conhece do riscado -, na infraestrutura, mobilidade urbana, embelezamento e manutenção da cidade, suas praças, ruas (buracos brigam entre si nas vias centrais, e muito mais nos bairros), agora eles brindam os pais e mães joinvilenses com um presentão em outubro, mês das crianças e dos professores: tirar direitos para fazer nascer vagas para mais crianças.

Segundo a Prefeitura, e seus planejadores, o município prevê mais quatro mil matrículas na faixa de idade entre 4 e 5 anos. E que o atendimento na educação infantil vai aumentar de oito mil para 12 mil crianças nesta faixa de idade em 2016, quando as matrículas a partir dos quatro anos já serão obrigatórias por lei. Ao eliminar o turno integral para aquela faixa etária, aponta o secretário Roque Mattei, a rede ganhou novas vagas em número proporcional às matriculas desativadas.

Ora amigos e amigas, pais e mães que foram surpreendidos a menos de três meses do final do ano com este anuncio, onde anda a tal gestão profissional? Após três anos, com dados disponíveis ano a ano, não sabiam que a demanda aumentaria? Que investimentos na educação são permanentemente necessários?

Vamos buscar compreender então a gestão Udo, lenta como as tartarugas gigantes de Galápagos: é difícil criar tantas vagas, faltam verbas, etc, etc, etc. Mas o governador Colombo do PSD, é aliado e vive aqui assinando convênios. A presidenta Dilma também, pelo menos é o que diz o Prefeito. A verdade é que além da gestão, falta também criatividade, agilidade, vontade política.

Aliás, se há vontade política no sentido de fortalecer a iniciativa privada que possui escolas de nível como a UNISOCIESC, de onde o secretário Roque é oriundo, Elias Moreira, Bom Jesus, Santos Anjos, e tantas outras, e tantos outros centros de educação infantil por toda a cidade, porque não compram essas vagas e resolvam o problema?

Porque não utilizam estruturas do Estado que estão a cair por falta de alunos durante o dia, noite, e também por não ter manutenção, ocupando esses lugares ociosos para colocar nossas crianças e evitar o desespero de pais e mães? Ou o Prefeito, Secretário e Vereadores governistas do PMDB, PSDB, PSC, PDT, e outros menos votados creem que é fácil fazer a mágica com o bolso dos outros?

Enquanto os pais são desrespeitados, vendo seu direito retirado, o Prefeito viaja ao exterior e organiza uma espécie de festa das cadeiras com o vice-prefeito Rodrigo Coelho (PSB) e o presidente da Câmara de Vereadores, Rodrigo Fachini (PMDB): eu viajo, vocês assumem um bocadinho cada um, sem brigar. Eles brincam de governar, e o povo chora em meio à falta de saúde, vagas na educação, buracos nas ruas, matos em praças, bairros abandonados ainda esperando os 300 km de asfalto.

No governo Udo agora falta tudo. Dinheiro, gestão, e vergonha. Dizem por lá também que não tem segredo, tem trabalho. Os cidadãos já viram que na verdade tem é muito segredo, e pouco trabalho. Joinville virou Sucupira. Resolvam o problema das vagas sem o sofrimento de pais e mães. É o mínimo que um gestor público deve fazer.


É assim, nas teias do poder... 

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Peça de teatro em um ato: um projeto para Fakeville

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

ATO I
Sobe a cortina. Vereador de Fakeville está reunido com assessores. A sala está à pinha porque, afinal, é preciso ter um batalhão de assessores a pensar na cidade e no bem-estar dos cidadãos.

Vereador -  Minha gente, preciso de ideias. Quero deixar uma marca pessoal nessa minha passagem pela Câmara de Vereadores. Alguma sugestão? Algo que agrade ao maior número de pessoas...
Estagiário rindo à bandeira despregada – Diga que vai se demitir... uah uah uah.
Vereador – Seu animal. A tua sorte é que tu tem as costas quentes. Só te aceitei aqui porque tive que fazer um favor ao meu cumpradre. Mas pisa miudinho...
Assessor de imprensa – ... por falar em animal, isso pode ser uma boa ideia. O pessoal não é louco por cães e gatos nas redes sociais. É só pôr uma foto de um bichano que as curtidas viram uma loucura. Filhotinho de cão, então, nem se fala.
Vereador – Bem pensado. Tu é um daqueles caras que valem o dinheiro dos impostos dos contribuintes. Vamos a isso. Que tal criar o Dia do Bicho de Estimação?
Assessora jurídica – Não quero jogar água no chope de vocês, mas já existe uma semana da Proteção dos Animais, que é coisa bem parecida.
Vereador – Puta que o pariu. Quem a besta que apresentou o projeto?
Assessora jurídica – O líder da oposição...
Vereador – E vocês não me avisam? Seus incompetentes. Fiquem a saber que este mês vou ficar com uma parte dos vossos salários só de sacanagem.
Assessor de imprensa – Não pode, vereador. O senhor já leva essa grana faz tempo.
Vereador – Ah... e tu, seu incompetente, deixou essa merda chegar à imprensa. Imagine que até aqueles caras lá do Chuva Ácida ficaram a encher o saco.
Assessora jurídica – Processa...
Vereador – Melhor não. Sacomé... gato escaldado...
Assessor de imprensa – Que tal do Dia do Torcedor do FEC – Fakeville Esporte Clube? Quase todo mundo na cidade torce pelo time.
Assessora jurídica – Já existe e acho que é coisa do próprio FEC. E o prefeito diz que as coisas do time são área de propaganda dele.
Vereador – Porra, assim não dá. Quero ideias, seus incompetentes...
Aspone – Que tal o Dia do Colunista da Imprensa Cor de Rosa?
Vereador – Explica...
Aspone – Todo mundo gosta de sair nas colunas de notícias cor de rosa. Mesmo os pobres, que nunca aparecem, gostam de saber por onde andam os ricos...
Vereador – Claro. É perfeito.  Como não pensei nisso antes? Já para os vossos gabinetes e comecem a trabalhar no projeto. Agora vai...


P.S. – Este ato de uma peça de teatro é mera ficção. Qualquer semelhança com personagens da vida real terá sido mera coincidência.

terça-feira, 13 de outubro de 2015

A prova dos nove de Udo Dohler


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Podia escolher outros fatos. Mas vamos focar apenas alguns pontos específicos para fazer uma análise do governo de Udo Dohler. O resultado não é bom, porque no frigir dos ovos a obra realizada até este momento está muito aquém das expectativas criadas. E antes de mais nada, deixo claro que ninguém pode duvidar que o prefeito esteja a fazer o seu melhor. Mas esse melhor parece ser pouco, muito pouco. Então, vamos à prova dos nove.

1.     Udo Dohler passou, para os eleitores, a ideia de que não era um político como os outros. Insistiu-se na imagem de um craque da gestão que ia pôr a cidade nos eixos. Só que mal assumiu e acabou refém do que há de mais atrasado na política da cidade: pressões por cargos, joguinhos de poder, o tráfico de influência. O político veio à tona, o gestor submergiu.

2.     “Não falta dinheiro, falta gestão” foi o mote da campanha. Mas não demorou a surgirem as primeiras lamúrias (ainda hoje persistentes) sobre o fato de não haver dinheiro. Lembro de ter ouvido, no início do ano, um secretário a dizer, numa rádio da cidade, que só haveria dinheiro se viesse do Governo Federal. É a única saída?

3.     Aliás, não deixa de ser estranho, para uma cidade que precisa da grana de Brasília, que o vice-prefeito tenha arroubos juvenis e viva a pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Já escrevi aqui que essa falta de sentido de Estado pode ser prejudicial para a cidade. No entanto, ninguém ouviu falar que o prefeito tenha dado um puxão de orelhas no seu vice, a pedir mais contenção.

4.     A promessa de uma Joinville para o ano 2030 esbarra nas ações concretas. A LOT – Lei de Ordenamento Territorial continua a ser torpedeada por pessoas preocupadas com a mobilidade, o meio ambiente e a qualidade de vida. Não dá para entender, por exemplo, essa coisa da construção de prédios altos, de 20 andares ou algo parecido. As cidades do futuro caminham em sentido oposto. O prefeito deve ser fã do filme "Blade Runner". A cidade de Rick Deckard, o caçador de androides, parece inspirar o seu ideal de futuro. Prédios enormes, nenhuma área verde, ambiente sufocante. Aliás, nem Deckard gostaria. Porque a última cena da edição original do filme mostra um voo sobre uma floresta, onde sobressaem o verde e o ar puro.

5.     Joinville tornou-se uma cidade de maquetes, de 3D e de ozalids. Quem nunca viu o filme em 3D da duplicação da Santos Dumont, com canteiro central, ciclovia, rotatórias e elevados? E que tal lembrar a maquete da ponte que liga o Adhemar Garcia ao Boa Vista? E a planta da proposta de ampliação da Arena Joinville? Qual dessas obras está realizada? Pergunta retórica.


6.     Udo Dohler sempre salientou a expertise no setor da saúde. E o que acontece? Falhas atrás de falhas. Nem é preciso uma análise exaustiva. Basta lembrar uma nota do jornalista Jefferson Saavedra, publicada há poucos dias: “o Hospital São José é o novo alvo de pressão do Ministério Público na saúde de Joinville. Nesta semana, a promotora Simone Schultz apresentou ação de execução contra a Prefeitura e o hospital alegando descumprimento de parte do acordo fechado em março do ano passado entre duas promotorias e o município de Joinville”. Nem mais.

7.     Outro fato que não passou batido. O anúncio do fim do turno integral para crianças de 4 a 5 anos nos CEIs a partir do ano que vem. É uma medida paliativa que resolve o problema da Prefeitura, às voltas com questões legais e administrativas, mas transfere o problema para os pais trabalhadores. Ora, os administradores são eleitos para resolver os problemas dos munícipes e não para acrescentar mais dificuldades.

8.     Os buracos de rua são um fantasma que persegue a atual administração. Por mais investimentos que haja em comunicação, nem mesmo uma imprensa amiguinha - e não raro submissa -  pode ignorar coisas do cotidiano. Faz poucos dias reeditei aqui um texto em que abordava a questão. Não adianta ter um filme bonito na televisão ou um anúncio criativo no jornal, porque os buracos na rua são muito poderosos e destroem qualquer imagem positiva. Não adianta investir tanto na velha mídia, porque os novos meios digitais, em especial as redes sociais, tomaram o palco para exercer um novo tipo de fiscalização e pressão.

9.     Enfim, o nó górdio. A administração Udo Dohler tem demonstrado ser um deserto de imaginação. Tudo é feito pelos padrões políticos de sempre. Não surge qualquer iniciativa out of the box. Nada surpreende (pelo menos positivamente). Ora, quando falta dinheiro é hora de usar a criatividade. Há coisas simples que podem ser feitas sem muito dinheiro. Mas quando faltam imaginação e criatividade, é a morte do artista.

É a dança da chuva.

P.S. Não venham os comissionados falar em mundos virtuais. Os tempos são outros.


segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Bipolar.


Não falta dinheiro na Joinville das maravilhas



POR JORDI CASTAN

O prefeito se elegeu com o mote de que não faltava dinheiro, que o problema de Joinville era a falta de gestão. O eleitor foi facilmente levado a fazer a ligação entre a figura do empresário de sucesso e a necessidade de alguém que fizesse uma boa gestão.

Três anos depois, as ruas de Joinville parecem uma praça de guerra. Em alguns pontos os buracos parecem crateras. Praças e espaços verdes estão abandonadas. As filas na saúde continuam escandalosas e só não estão pior pela intervenção do MPSC.  
Fornecedores recebem os pagamentos com atraso, em alguns casos quase meio ano. E o secretário de Infraestrutura admite publicamente que não há recursos para os programas de pavimentação comunitária.

O discurso ufanista da época de campanha deixou lugar a dura realidade do dia a dia. O joinvilense descobre que se não falta dinheiro o que falta mesmo é gestão. E se mostra cada dia mais irritado, porque se sente enganado. Se houvesse um Código de Defesa do Eleitor, muitos joinvilenses estariam neste momento pedindo o seu voto de volta. O discurso de que a prefeitura comprava mal e pagava caro, porque no pagava em dia continua atual. Os problemas na área da saúde tampouco se resolvem.

As metas divulgadas no fantasioso Plano 15 nunca saíram do papel. E a situação não é mais grave porque não faltam recursos para publicidade e a imprensa tradicional. É sensível a generosidade e responde com tanta amabilidade que radialistas e jornais publicam na integra o material produzido pela Secom (Secretaria de Comunicação da Prefeitura Municipal), que apresenta diariamente uma imagem idílica e fantasiosa de Joinville.


Na Joinville das Maravilhas se gerenciam com tanta eficiência os problemas que a solução para resolver a falta de vagas nos CEIs é típica desta gestão tecnocrática. Reduzir o horário, acabar com o turno integral e deixar desatendidas as mães que trabalham. Neste quesito faltou além de gestão, planejamento. É difícil encontrar um único aspecto em que esta administração possa deixar saudades.

Em tempo e para que não tudo sejam criticas. Ouve-se que nos próximos dias a Associação Joinvilense dos Borracheiros  autônomos homenageará, no seu baile de gala, o prefeito municipal, O presidente da Associação, Negão da Borracharia, personagem conhecido das redes sociais, declarou recentemente que "nunca na historia de Joinville furou tanto pneu e nunca as borracharias faturaram tanto". 


Pensando bem, as homenagens não devem ficar só nessa. E faço a sugestão. Que tal a Associação dos fabricantes e revendedores de amortecedores deve nomear o Prefeito Udo Dohler seu presidente de honra e fazer-lhe entrega da comenda "Amortecedor de ouro" pela sua contribuição ao desenvolvimento do setor?


domingo, 11 de outubro de 2015

A intolerância religiosa também está aqui


POR FELIPE CARDOSO

Não é só em outras cidades que casos de intolerância religiosa acontecem. Aqui, na cidade dita civilizada e nas cidades vizinhas, o fanatismo tomou conta, seguindo a tendência que vem avançando, nos últimos anos, nas terras tupiniquins. 

Neste domingo, um terreiro foi atacado por alguns moradores da vizinhança que agrediram, depredaram e ameaçaram um pai de santo, no bairro Santa Mônica, em Araquari. 

Estamos voltando para a Idade Média. O fundamentalismo religioso está ganhando força. O discurso moralista, infundado e inverídico tem sido propagado diariamente por padres e pastores que se utilizam da Bíblia para expressar o ódio contra outros grupos, religiosos ou não. 

Engraçado que nunca vemos o povo de santo nas praças, nos ônibus, ou indo de casa em casa pregar a salvação, ou tentando nos amedrontar com a falácia de que o fim do mundo está próximo. Muito menos invadindo igrejas e assembleias, ameaçando ou quebrando imagens, ou agredindo fiéis. Imagine se fossemos reclamar de barulho para cada igreja que além de berrar utilizam microfones e caixas de som para realizar suas orações. 

Todos esses fatos só deixam mais evidente o verdadeiro objetivo de algumas igrejas: amedrontar, anunciar o caos para, assim, seguirem lucrando e conquistando cada vez mais poder. A bancada evangélica está aí. É uma realidade.

Seria cômico, se não fosse trágico.

E como não relacionar essa ocorrência com o racismo? Umbanda e Candomblé são religiões de matrizes africanas. São parte da cultura de África presentes no nosso país. Em terras de “um só povo”, essas religiões são inadmissíveis. Não correspondem com a “verdadeira” cultura do estado que luta para esconder a sua multiculturalidade. A presença dessas religiões em Joinville e região são uma das várias provas de que a população negra existe e que luta, diariamente, para se ver representada e ouvida. 

A educação eurocêntrica nos ensina a ver com bons olhos a religião cristã e ver com maus olhos as religiões de matriz africana. A desconstrução dessa visão da cultura negra passa pelo estudo, pelo diálogo, pelo conhecimento. Só há conhecimento entrando em contato, conversando, pesquisando, visitando. Mas o que vemos é o crescente número de professores cristãos que demonizam tais religiões e fazem questão de não ensinar ou ensinar de maneira errada para seus alunos as culturas vindas de África, desrespeitando a Lei 10.639.

Toda essa ocultação histórica, somada com doses cavalares de fundamentalismo e moralismo, geram a ignorância e a intolerância. 

Não pense que essa onda conservadora irá afetar apenas a liberdade das minorias. Logo, logo ela chegará até você (isso se ainda não chegou), tentando lhe impor o que você deve ou não fazer, como deve viver, a quem deve seguir, como deve se portar, falar e agir.

Precisamos de mais autonomia, mais liberdade. Não precisamos de mais restrições e censura. O povo de santo exige e merece respeito. A população negra, as mulheres e os LGBTs também. 

Nem um passo atrás deve ser dado, devemos continuar caminhando, escrevendo e propagando a nossa história e a nossa cultura. 

Vai ter batuque. Vai ter Orixás. Vai ter cânticos. Vai ter muito povo de santo. Vai ter muito axé! 

Santa Catarina também é negra. Aceitem!

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

E já se passaram 4 anos - CHUVA ÁCIDA 4 ANOS


POR JORDI CASTAN

O que começou quase como uma brincadeira, um divertimento, uma forma de estimular o debate, o diálogo e o contraditório - numa cidade e numa sociedade que prefere a unicidade de pensamento e que lida muito mal com as opiniões divergentes - acabou vingando. E o Chuva Ácida é uma realidade.

Desde a definição do nome, o formato, a criação do blog, a escolha dos primeiros nomes, as primeiras decepções e principalmente os primeiros posts, os primeiros leitores e os primeiros comentários parece que já passou uma eternidade. E foi só ontem. Quatro anos não são nada, mas é o tempo suficiente para mostrar que a ideia vingou. Hoje o Chuva Ácida tem leitores fiéis, anônimos ainda mais fiéis e colaboradores mais ou menos constantes. Mas, principalmente, o Chuva é leitura obrigatória para assessorias e formadores de opinião que precisam ter outras fontes e conhecer outras opiniões além das oficiais.

Escrever regularmente, dar a cara para bater, expressar abertamente opiniões e assinar não é para fracos. É preciso ser disciplinado, comprometido com o projeto, ter estômago de avestruz e ter o que dizer. Blogueiros de boteco até há muitos, pois a conversa em volta de uma cerveja parece um esporte nacional. Mas o Chuva Ácida é muito mais que isso. E é muito mais que isso porque Joinville carecia de um espaço com estas características. E, como o José António Baço sempre diz, somos os primeiros em ousar. Haverá melhores, mais ácidos, mais diversos... mas o pioneirismo do blog esta aí para quem quiser ver.

Agora é hora de reinventar. Porque o Chuva Ácida tem esta capacidade de estar constantemente se inventando e se reinventando. E fazer isso com colaboradores espalhados pelo mundo, que se encontram num mundo virtual não deixa de ser uma experiência nova, desafiadora e estimulante.