segunda-feira, 13 de abril de 2015

O Plan MOB e os almoços grátis

POR JORDI CASTAN


Estranho o silêncio do IPPUJ sobre o Termo de Cooperação firmado entre uma reconhecida empresa internacional no segmento de mobilidade urbana, a EMBARQ e a Prefeitura de Joinville. Em março de 2014, a parceria entre a EMBARQ e a PMJ foi comemorada com festa, discursos e foguetório. Mas o que está difícil de entender é por que não se divulga o teor deste Termo de Cooperação tão generoso. Será que em Joinville existe almoço grátis? 

Uma entidade responsável por elaborar o Plano de Mobilidade Urbana em Nova York trouxe seu time de técnicos e especialistas para a terra dos sambaquis e trabalhou de graça durante um ano, colhendo dados, realizando análises e prognósticos, orientando a equipe técnica do IPPUJ. Participei da audiência pública sobre o Plano de Mobilidade e na mesa principal estava o representante da EMBARQ junto as autoridades. Quem leia o documento pode ficar com a impressão que o Plano de Mobilidade foi elaborado pela Embarq, com a assessoria do IPPUJ e não o contrário.

Nem a Lei de Acesso à Informação - aquela lei que obriga o agente público a ser integralmente transparente, sob pena de incidir em improbidade administrativa - tem servido para que munícipes obtivessem cópia do misterioso Termo de Cooperação da Embarq. A pesar do vereador Maycon Cesar ter feito dois pedidos de informações sobre o dito termo de cooperação, a informação ainda não chegou ao Legislativo. Claro que em se tratando do IPPUJ o cumprimento de prazos não é o forte.


Voltando à audiência pública. Foi informado - e deve estar registrado - que a Embarq não está cobrando pelo serviço. Depois, de forma rápida e pouca clara, foi acrescentado que seria remunerada com o resultado do seu trabalho. Não sei porque acho esta histária tão estranha. Trabalhar sem cobrar? No mundo da ficção os super heróis acho que não cobram nada por salvar a humanidade dos supervilões. No mundo real a única que de fato tem se dedicado a fazê-lo tem sido a Madre Teresa de Calcutá.

Nenhuma das duas imagens se quadra muito com a da Embarq, uma ONG brasileira com sede em Washington e que pode estar de olho em parte dos R$ 500 milhões que estarão disponíveis para mobilidade, verba carimbada do Ministério das Cidades, o do Ministro Kassab, que esteve por aqui nestes dias. E se fosse verdade esta hipótese, não seria essa una forma de ludibriar a lei das licitações? Porque será que este termo de cooperação técnica não aparece?

Porque o prefeito aprovou por Decreto o Plano de Mobilidade Urbana e não o enviou para o Legislativo, através de um projeto de lei, como fizeram inúmeros municípios brasileiros (Belo Horizonte, em MG, é um bom exemplo). O prefeito de “mãos limpas” tem o dever de abrir esta Caixa-Preta e mostrar o que diz o Termo de Cooperação firmado com a Embarq. Seria interessante ver se em Joinville tem “almoço grátis” e se não tiver, qual é o problema em mostrar? Ao fim das contas documento público tem que ser público.

sábado, 11 de abril de 2015

Os milicos e a bomba gay

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Foi há algum tempo. Li, reli e treli, mas foi difícil acreditar na notícia publicada num jornal aqui do velho continente. Documentos secretos divulgados recentemente revelavam que o Pentágono teria considerado a hipótese de fabricar uma bomba sexual. Mas não tirem conclusões apressadas. Enganam-se as senhoras mais espevitadas que já estão a pensar numa espécie de “sex bomb”, um homem que seja uma autêntica máquina sexual.


O objetivo era mesmo criar uma arma de guerra. A tal bomba seria uma arma química não-letal, mas de forte efeito moral. Ou imoral. A proposta consistia em desenvolver uma espécie de bomba-afrodisíaco que faria os soldados homens atingidos nas linhas inimigas ficarem sexualmente atraídos uns pelos outros. Acredite se quiser.

Não dá para imaginar a fórmula dessa poção do amor, mas ia ser uma loucura com a viadagem* instalada nas trincheiras. Imaginem, por exemplo, uma cidade invadida por terroristas barbados, todos apaixonados uns pelos outros. É de tirar o turbante para essa ideia genial. O eixo do mal iria se tornar o eixo das malucas**.


Aliás, a tal arma teria efeitos culturais e merece uma reflexão: o que ia acontecer com aqueles fundamentalistas doidões que acreditam encontrar 75 virgens no paraíso? Sairiam de cena os homens-bomba, para dar lugar a “gays-bomba” dispostos a morrer e encontrar 75 marmanjos de barba rija no outro mundo.


BICHOS E HÁLITO - Guerra é guerra. Quando se lê a reportagem percebe-se que a engenhosidade dos militares norte-americanos não tem limites. Não contentes em espalhar a paneleirice*** nas hostes inimigas, os sujeitos estavam sempre dispostos a abrir a caixa das maldades. Outra das formas para estropiar os inimigos era a criação de armas – também químicas – que atraíssem vespas, ratos e outros bicharocos para as posições inimigas. A ideia era tornar impossível a permanência nesses lugares e conquistar terreno no campo de batalha sem nenhum esforço. Sinal dos tempos: guerras feitas com bichos e bichas****.


Os caras do Pentágono são muito imaginativos. Segundo a reportagem, um dos projetos apresentados pretendia criar um produto capaz de causar um tremendo - e duradouro - mau hálito no inimigo. A ideia era detectar os soldados que tentassem passar disfarçados entre os civis. Já fico a imaginar um ponto de checkagem. Em vez de passaporte e carteira de identidade, o teste do bafômetro: os tipos teriam que bafejar na cara dos fiscais, que receberiam treino especial para reconhecer o bafo-de-onça.


O problema é que poderia haver algumas contra-indicações. Porque se essa bomba fosse usada ao mesmo tempo que a primeira – a que transformava todos em paneleiros – o caldo ia entornar. É que ia criar muitos problemas de relacionamento. Os caras iam ficar muito chateados, porque não há nada mais broxante do que a tal da halitose. Já imaginou um terrorista barbudo a perguntar para o outro:


-      Queridinha. O que foi que você comeu? As meias do Benjamin Netanyahu?


Parece piada, mas segundo o jornal essas propostas foram feitas em 1994 por um laboratório da Força Aérea do Ohio. É por coisas como estas que os Estados Unidos são a maior potência bélica do planeta. Os milicos são pura imaginação.

É como diz o velho deitado: “Em época de guerra qualquer buraco é trincheira”.






* Hoje em dia não pode falar “viadagem”, mas o texto é meu e eu escrevo o que quiser.
** Não pode falar malucas, mas não resisti ao trocadilho "mal-malucas".
*** Paneleirice é viadagem em português de Portugal. Mas como ninguém sabe, tudo bem.
*** Também não pode falar "bicha", mas o texto é meu e eu escrevo o que quiser.

Tuitaço no Chuva #5


sexta-feira, 10 de abril de 2015

Pare de ajudar em casa

POR EMANUELLE CARVALHO

Frequentemente, em conversas com amigos, conhecidos e até em nossos ambientes de trabalho é relativamente comum ouvirmos a frase: “Eu me preocupo com minha mulher, ajudo bastante em casa”, ou então “Tenho um bom marido, ele me dá uma mão com as tarefas”.
Então, caro amigo te peço uma coisa:
Por favor pare agora. Pare de ajudar a sua mulher em casa. Pare de dar uma mão. Apenas pare.
Bom, eu vou explicar o motivo. Nós mulheres somos constantemente assediadas em virtude dos trabalhos domésticos. Tudo começa na infância – e a projeção de tudo isso ainda na gravidez – quando somos ensinadas que vassourinha, fogãozinho e bonecas são brinquedos exclusivamente femininos, sempre voltados a tarefas e cuidados com o lar.
É claro que ensinar a criança a cuidar de seu próprio lar é excelente, mas pera lá, nós não somos ensinadas, naturalizamos aquele serviço como sendo exclusivamente nosso, e a partir daí criamos um processo de aceitação e de negação da divisão das tarefas do outro:
_É coisa de mulher.
Ainda na infância, perdemos, antes mesmo de entender como funciona o mundo, boa parte de nosso empoderamento enquanto mulheres, quando nossos irmãos, primos e vizinhos meninos ganham legos, que estimulam a criatividade, carrinhos que ensinam todo o processo de lateralidade e diversos brinquedos que os ensinam a construir, demolir, refazer, desmanchar enquanto são sempre condicionados a entender que todo o restante do processo de cuidado e higiene são dados a nós por carma, o carma de ter sido lida pela sociedade enquanto mulher.
Muitas de nós, ainda na infância aprendemos a lavar, secar, guardar pratos e louças e no início da adolescência  já temos ‘’que aprender a cozinhar se quiser começar a namorar’’. Nossos sentimentos são condicionados a capacidade de cuidar de um lar. Nosso vigor sexual está aliado a nossa ‘’sensibilidade’’ e a capacidade de reprimir nossos desejos em prol do outro. Passamos a adolescência fazendo enxovais que contém apenas utensílios e roupas para, adivinhem? O cuidado com o lar.
No chá de panela enquanto na periferia ou nos altos condomínios as mulheres em sua maioria estão fazendo brincadeiras vexatórias, vocês homens (em uma relação heteronormativa é claro), estão fazendo despedidas de solteiro. Em qualquer festa ou atividade que haja no mundo essas analogias estarão presentes, em algum grau.
Mas você só está querendo ajudar certo? Errado.
Quando você se dispõe a ajudar a sua mulher você está assumindo seu papel de privliegiado e beneficiando-se dele, tomando-se como um ajudador e não de divisor de tarefas. As tarefas domésticas precisam ser dividas de forma igualitária. Você meu amigo homem, não ajuda é casa, você é tão responsável quanto ela nos afazeres domésticos, nos cuidados com os filhos, na responsabilidades que necessitem de cuidados de higiene e limpeza fora de casa.
 É preciso que os homens compreendam que já absorvemos e naturalizamos muitas dessas tarefas. Que já nos acostumamos a fazer trabalho dobrado no emprego para ser reconhecida como boa profissional. Que já nos acostumamos a ser a pessoa a fazer o café, levar o salgado e lavar a louça nas festinhas que tem como objetivo descontrair e esquecer o ‘’trabalho’’.

É necessário que nossos companheiros, maridos, amigos entendam que não é natural que eles esqueçam artefatos de higiene, de limpeza, comidas e outros cuidados. Não é engraçado o marido esquecer a papinha da criança. Não é nada divertido quando ele deixa a comida queimar. É extremamente estressante, porque só volta a lembrar que eles ‘’não nasceram pra fazer isso, e tudo está dando errado porque estão tentando nos ajudar’’.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Para você que é chamado de coxinha, reaça, paneleiro...


POR VANDERSON SOARES

Este blog tem uma grande variedade de escritores e voluntários que todos os dias agraciam o intelecto de seus leitores com textos que refletem a atualidade de Joinville e do Brasil de um modo geral. Às vezes textos ácidos, irônicos, cheios de bons argumentos, que nos fazem pensar em como melhorar nossa sociedade. Uma boa parcela destes escritores são assumidamente de esquerda, outros mais ao centro, nenhum de extrema direita (ainda bem!).

Este texto vai pender para a direita, mesmo que eu não seja de lá. Esta semana tomei conhecimento de 2 informações e de um acontecimento que me incentivaram a vir aqui hoje defender o ponto de vista da classe média:

1) A figura logo ao final deste texto, com uma publicação de alguém desabafando que gerou milhares de compartilhamentos;

2) Sílvio Santos já foi quem mais contribuiu para o Imposto de Renda, mesmo não sendo o mais rico do país;

3)  Dilma passou, oficialmente, o poder de articulação política para Temer

Ok, concordo que os 3 pontos são um pouco aleatórios e, talvez, aparentem ser desconexos, mas tem uma íntima ligação, que tentarei expor nas linhas abaixo.

Sobre a classe média. Muitos intitulam-na de coxinhas, reaças, retrógrados e afins.  Não sou de direita, sou contra qualquer forma de preconceito, sou contra o ódio e sou a favor da igualdade de possibilidades a todos.

Defendo, em partes, as bolsas que este governo tem dado. Seus incentivos e, principalmente, a abertura do ensino superior para classes que antes tinham muito mais dificuldade para chegar lá.

O que não dá de concordar é que um cidadão de classe média, autônomo ou empresário de pequeno e médio porte seja intitulado dos nomes que falei acima, simplesmente por defender a sua realidade. A figura 1 explica um pouco do ponto de vista que quero defender.

Sem emprego gerado pelas pequenas e médias empresas de pessoas da classe média, não há emprego e assim, aqueles que financiaram sua casa no Minha Casa Minha Vida não poderão pagar suas parcelas. Se não há emprego, não pagarão as parcelas dos carros que compraram com aquela baixa do IPI, não conseguirão pagar as contas de luz que os condicionadores de ar necessitam.

Mas então você quer que os pobres continuem na masmorra e o pessoal da Casa Grande continue com seus benefícios? Não, claro que não. Sou a favor destas medidas, quando acompanhadas de estratégias sustentáveis. Agora, dá-se de tudo para um lado e colocam-se impostos sobre tudo do outro lado. A balança não se equilibra.

O governo, e os principais defensores da esquerda, atacam a classe média por irem contra algumas medidas, mas vejam, é a classe que mais trabalha e que mais produz e que, em troca, apenas recebe mais impostos pra pagar em troca de nada. Coloquei o item 2, sobre o Imposto de Renda do Sílvio Santos, para mostrar como o nossos sistema é incorreto.

No ano em que Sílvio Santos foi quem mais pagou Imposto de Renda ele nem sequer figurou entre os mais ricos do Brasil. Como pode isso? Se o Imposto de Renda é proporcional à renda, como pode o que não mais ganhou, ser o que mais pagou? O PT não estava no poder quando Sílvio foi quem mais contribuiu para o IR, mas não fez nada em seu governo para mudar isso. Continuou a esfolar a classe média e nem sequer mexeu no bolso de quem realmente tem dinheiro para contribuir. Ao invés de por em pauta a taxação das grandes fortunas, preferiu meter goela abaixo impostos para a classe média.

Repito, sou a favor de proporcionar a todos o mesmo ponto de partida. Todos tem direito a educação, saúde e alimentação adequada. Mas não apenas tirar de um lado e colocar no outro, sem pensar na sustentação destes projetos.

Entrando no item 3, quero dizer que Dilma fracassa mais a cada dia. No segundo mandato de Lula e em seu primeiro mandato, só fizeram dívidas, realizaram aquilo que defendiam como sendo o correto, mas não pensaram na continuidade disso. Não tinham cacife pra manter isso tudo.

Hoje estamos assim:
- Levy manda e desmanda na economia, de modo a conseguir pagar o rombo gerado nos últimos anos;
- Eduardo Cunha, do PMDB, presidente da Câmara dos Deputados;
- Renan Calheiros, do PMDB, presidente do Senado Federal;
- Michel Temer, do PMDB, Vice Presidente da República e Dilma, ontem mesmo, deu a ele poderes para articulação política;
- PT fez coligação com o PMDB para se eleger.

Agora eu te pergunto, você que defende com unhas e dentes o PT, Dilma e Lula. Qual é a sensação de esperar tanto tempo para estar no poder, fazer tudo aquilo que o partido defendia, não conseguir manter, endividar o governo e agora, paulatinamente, realizar uma renúncia branca, entregando o poder assim, oficialmente, ao PMDB, partido que o PT tanto atacou por tanto tempo?

A Ética dos Meios não se aplica na resposta. O PT fracassou e toda a sua história em defesa dos trabalhadores começa a cair por terra, suas teorias não mais são sustentáveis na prática, como diziam ser. 


quarta-feira, 8 de abril de 2015

No início, tudo era escuridão...


A condição feminina

Angelus Novus, de Paul Klee
POR VALDETE DAUFEMBACK NIEHUES

Desde as manifestações do dia 15 de março, solitariamente tenho pensado sobre a trajetória da condição feminina, a qual envolve uma constante luta pelo rompimento de uma herança patriarcal, cuja transposição de valores seculares em busca da autonomia, revelou ter sido muito custosa e que deixou para sempre um relógio.

Os episódios de ódio manifestados nas ruas por tantas mulheres contra a pessoa da presidente Dilma balançaram minhas tão caras convicções sobre a conquista da autonomia feminina, expulsando-me da zona de conforto adquirida a partir da leitura de décadas de estudos publicados por pesquisadores. 

Não estou me referindo à liberdade de se expressar ou participar de manifestações, uma iniciativa que considero legítima. Refiro-me à maneira de como se expressaram, de como se reportaram a uma mulher, independente do cargo que ocupa, que só por isso já deveria haver respeito, uma vez que a presidente representa o Estado.  

A linguagem, os gestos, a brutalidade com que palavrões de baixo calão tão facilmente foram proferidos, deixaram-me perplexa porque era surreal cada cena, cada agressão verbal, revelando falta de ética na comunicação, sem contar com a falta de noção sobre política e história. Mas sobre isso prefiro nem comentar neste momento porque muitas delas talvez sejam vítimas de sua própria ignorância. E antes que alguém possa se irritar porque utilizei este conceito, sugiro uma visita em qualquer dicionário para entender que ignorante é aquele que ignora, que desconhece determinado assunto, portanto, não se trata de xingamento. 

Envergonhada fiquei ao assistir tanta sandice desrespeitosa. Lembrei da feição do Angelus Novus do quadro de Klee, citado por Benjamin, que tentava se equilibrar diante dos ventos da destruição percebida, da constante catástrofe que o deixavam horrorizado, enquanto que os vencedores entenderam ter conquistado o futuro e que precisavam apenas de reformas para garantir o seu domínio. 

Que a dominação masculina é um fato, sabemos. Que esta desigualdade de gênero foi construída historicamente, sabemos. Que as mulheres tiveram uma história de luta para vencer minimamente essa dominação e conquistar espaço no mundo do trabalho, da política, dos direitos, e que para isso muitas perderam a vida, também sabemos. Então, se foi uma luta constante para conquistar direitos e vencer a opressão masculina, se pela primeira vez uma mulher está no cargo máximo da representação política, como explicar que mulheres atacaram desrespeitosamente a pessoa de Dilma Roussef, presidente da República? 

Como afirmou Simone de Beauvoir, “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. Nessa trajetória de construção de seu ser, ela aprendeu o valor da submissão, da rivalidade, da fantasia. A sociedade lhe reservou um espaço privado, o papel de fêmea e a dependência de um poder masculino que ela aprendeu a admirar e se sentir segura com sua presença. Sustenta ainda a autora, que essa educação permitiu que a mulher desenvolvesse uma relação de solidariedade mecânica, não orgânica onde há a compreensão de um universo de realidades, mas apenas uma parte na qual ela se esforça com afinco para cumprir a função a que está incumbida. “Não somente ela ignora o que seja uma verdadeira ação, capaz de mudar a face do mundo, mas ainda perde-se no meio desse mundo como no coração de uma imensa e confusa nebulosa” (O segundo sexo, p. 365). 

Beauvoir, ao escrever este livro, em meados do século 20, analisou a condição feminina no contexto dos valores burgueses. A condição de submissão fez da mulher uma prisioneira de sua própria vida. No entanto, já se passaram gerações, as conquistas são evidentes para além da vida privada, mas talvez o seu espírito ainda se encontre prisioneiro a uma tradição que concebe a figura masculina um sinônimo de segurança, de respeito e, assim, se explica essa atitude inconsciente de fazer xingamentos a uma mulher que não esteja neste círculo de submissão feminina. 

terça-feira, 7 de abril de 2015

Tem medo de quê, bolsonarete?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Ah ah ah. Desculpem, leitor e leitora, mas hoje tenho que começar o texto com um riso de escárnio. É que acabo de encontrar uma matéria muito interessante num jornalão estrangeiro e não posso deixar passar batido. Eis o resumo da ópera: a homofobia é uma coisa de bate mais forte nos indivíduos que têm desejo por pessoas do mesmo sexo. Ou seja, homossexuais que não saíram do armário.

Vou repetir: muitos dos homofóbicos têm um gay adormecido dentro deles, mas louquinho para acordar. Ok… essa afirmação surge sempre que tem debate boca sobre homofobia. Mas não sou eu a dizer. A diferença é que agora ela vem referendada por um estudo realizado nas universidades de Rochester e da Califórnia, nos Estados Unidos, e de Essex, na Inglaterra.

Não é um daqueles estudos malucos que só servem para sorver dinheiro e sustentar acadêmicos preguiçosos. Os resultados são para levar a sério. Tanto que foram publicados no “Journal of Personality and Social Psychology”, da American Psychological Association (publicação que os bolsonaretes não leem, claro).

Podia ficar aqui a sacanear os homofóbicos, mas vou me limitar a relatar os principais detalhes do estudo, que faz uma análise construção da identidade dos indivíduos e das influências da família nesse processo. Então lá vai:

1. Em grande número de casos, a homofobia afeta pessoas que se sentem atraídas pelo mesmo sexo, mas acabam ficando no armário.

2. Na maioria dos casos, a homofobia e o preconceito acontecem por culpa do autoritarismo dos pais, que reprimem e rejeitam os desejos dos filhos. Os homossexuais têm medo da reprovação dos pais, caso admitam desejo por pessoas do mesmo sexo.

3. Os jovens que crescem em ambientes repressivos tendem a mostrar uma desarmonia entre o que dizem e o que sentem em relação a pessoas do mesmo sexo. No estudo, as pessoas que se declaravam heterossexuais – mas não o demonstravam implicitamente, segundo os pesquisadores – eram mais propensas à hostilidade contra os homossexuais.

4. O estudo afirma que as pessoas homofóbicas vivem em constantes batalhas contra elas próprias. Óbvio...

5. Tudo indica que a homofobia pode ser uma reação de quem se identifica com os homossexuais, mas luta para rejeitar o fato.

Viram? Mas se você é homofóbico, fica pelo menos um boa notícia. A culpa dessa "autofobia" não é sua, bolsonarete, mas dos seus pais repressores.


É como diz o velho deitado. “Ah... se os armários falassem”.


segunda-feira, 6 de abril de 2015

PlanMOB: 5 anos de atraso

POR JORDI CASTAN


Com sete anos de tempo e cinco anos de retraso sobre a data prevista, Joinville aprovou por decreto o Plano de Mobilidade. O Plano Diretor (Lei 261/08) estabeleceu que o prazo para elaborar o Plano Diretor de Mobilidade era de dois anos a partir da sanção da lei. É bom lembrar que o dito Plano Diretor de Mobilidade deveria ser uma Lei Complementar.

Joinville tem se convertido no paraíso para os praticantes da fantasmagoria e dos seus adeptos fieis. Há uma Joinville oficial, irreal, fantasmagórica em que prevalecem os que fazem aparecer coisas irreais, e na que não faltam iludidos que juram de pés juntos serem verdadeiras as fantasias que acreditam ver.

O fantascópio é lanterna mágica que utilizam os vendedores de ar, os ilusionistas que vendem eficiência, gestão e planejamento onde só há empulhação, imprevidência e enrolação. O prefeito acabou de publicar o decreto com o que pretende validar e fazer valer o PlanMOB, o Plano de Mobilidade. Pretensamente um documento que definira as diretrizes, as estratégias e as políticas públicas de mobilidade para a Joinville do amanha.

Estranho que o prefeito tenha escolhido fazê-lo por decreto. Deve ter sido a pressa, a falta de planejamento e a imprevidência os que o tem levado a cometer um desatino como este. Se o prefeito não fosse advogado de formação, poderia ainda alegar desconhecimento, o que não seria o caso.




Pode alegar falta de tempo, prazos estourados ou que Joinville perderia o acesso a importantes recursos federais para investir em mobilidade e não estaria mentindo. Mas estaria faltando à verdade e tentando iludir aos munícipes. Porque um bom gestor, e esse foi o lema principal da campanha que o elegeu, deve saber estabelecer prioridades, cobrar resultados, conhecer e cumprir os prazos, para evitar que Joinville perca o acesso a importantes recursos federais.

Faria bem se gerenciasse Joinville com diligência, cobrando dos seus secretários eficiência e eficácia e não acreditando nas imagens que ele mesmo criou resultado unicamente da pura fantasia e da ilusão quimérica de quem confunde fantasia e a realidade e deixa de poder diferenciar uma da outra.

Gestor que tolera este tipo de incompetência entre seus subordinados não deve ser considerado competente e pode ver suas trapalhadas e as da sua equipe questionadas em outros foros e repudiadas pela população.



domingo, 5 de abril de 2015

10 medidas para reformar politicamente o Brasil

POR VANDERSON SOARES

Dias atrás estava um amigo dos tempos de ensino médio publicou em sua timeline do Facebook alguns aspectos, que em sua opinião, seriam os principais pontos de mudança para uma efetiva Reforma Política em nosso tão desgastado país. Trocamos algumas ideias a respeito, diminui e agrupei alguns pontos, modifiquei alguns conforme minha visão e eis logo abaixo o compêndio deste debate. Creio que muitas pessoas vão em manifestações e vomitam palavras de ódio no Facebook por simplesmente desconhecer nosso sistema político.  Digo isto, pois, se um argumento sequer é jogado na mesa, as ofensas começam a brotar e o hipotético rico debate nem chega a ver a luz do dia. Não se chegam em conclusões lúcidas quando o ódio, o desespero e, principalmente, as paixões partidárias permeiam a mesa redonda do debate. 


1)  Eleições a cada 5 anos, para todos os poderes, sem possibilidade de reeleição: Hoje, a cada dois anos temos eleições. Não dá nem tempo de esquecer as desavenças criadas por uma que já vem uma enxurrada de informações, muitas vezes não tão verdadeiras, sobre outros níveis hierárquicos. Esta medida diminuiria a presença dos grandes caciques de estarem diretamente envolvidos na campanhas de seus afilhados. Economizaríamos em propagandas e poderíamos acompanhar melhor o trabalho dos eleitos. Também evitaria que alguém saísse de um cargo para se candidatar a outro. Com o fim da reeleição, evitaríamos que um candidato que já ocupa um cargo, fique seis meses trabalhando em sua campanha ao invés de administrar ou legislar no cargo que já ocupa. É como se pagássemos o salário a um funcionário para que ao invés de trabalhar, se dedicasse aos seus interesses pessoais em horário de expediente.

2)  Punição para promessas de campanha que não foram cumpridas ou sequer trabalhadas pelo candidato: Esse é um pouco difícil, pois a linguagem nos permite mil interpretações, mas alguém se eleger baseado nas promessas de “defesa pelos direitos dos homossexuais”, por exemplo, e em seu período de mandato nem sequer apresentou uma proposta, nem que seja para ser rejeitada, é digno de punição, pois mentiu e induziu seus eleitores ao erro.

3)  Obrigatoriedade de curso superior: Este é delicado. Muitos podem dizer que isso inibe a participação de uma parcela significativa da sociedade na representação dos interesses do povo. Ainda creio que cultura e entendimento técnico mínimo sejam necessários. Quem não tem algum preparo, é mais facilmente enganado, mais facilmente conduzido ao erro e mais propenso a sugerir medidas baseadas em suas experiências individuais de vida do que das observações maiores sobre a cidade, estado ou país. São horizontes diferentes, bem maiores, e um entendimento mínimo do funcionamento orgânico do governo é necessário. Sou flexível a aceitar um mínimo de horas de cursos e treinamentos sobre assuntos correlatos à administração pública.

4)  Salários justos com revisão dos benefícios: Eu concordo com salários altos, pois se não, as boas mentes não se sentiriam atraídas pelo serviço público, porém discordo de benefícios que são incoerentes com a realidade do povo. 14º, 15° salários, plano de saúde exorbitante, refeições com valores abusivos são incoerentes com o poder público, pois raramente se encontra semelhança de benefícios no setor privado.

5)  Requisito de ocupação de cargo no legislativo municipal para ocupar cargo no legislativo estadual ou nacional e o mesmo para o executivo: Não estamos elegendo alguém para aprender o exercício da função na sua mais básica essência.

6)  Fim do financiamento privado para as campanhas, teto de gastos com campanhas, financiamento público das campanhas e fim do horário eleitoral gratuito: Essas medidas evitariam a dívidas de favores às empresas financiadoras por parte dos políticos, evitariam a mistura heterogênea de partidos em busca de poder e de minutos de televisão através de macabras coligações.

7)  Fim da vida pública para julgados em corrupção, sendo prescrito ou não: o cidadão que foi julgado culpado e condenado por corrupção, nunca mais poderia por os pés na vida pública. Muitas vezes a prescrição salva o mais podre bandido e ainda permite que se reeleja. Ainda, fim dos privilégios vitalícios para condenados.

8)  Reajustes salariais para políticos baseados no Salário Mínimo ou IPCA: Se nosso salário sofre aumento baseado em IPCA e Salário Mínimo, porque lá seria diferente? Isso evitaria o absurdo do político votar a favor do próprio aumento

9)  Fim das nomeações política no STF e na PF: Aquela história de vou indicar meu amigo, mesmo que despreparado, para este cargo, pois num possível julgamento ele será meu advogado e não o juiz.

10)   Maior número de votos = candidato eleito: É muito comum alguém se eleger não porque conseguiu a maioria dos votos, mas sim porque o seu partido conseguiu. Um exemplo: o Tiririca ao se eleger, não apenas se elegeu, como elegeu mais 2 ou 3 amigos de seu partido, pois fez tantos votos que a legenda permitiu que mais alguns subissem ao pódio, mesmo que outros candidatos de outros partidos tivessem obtido mais votos.


São 10 medidas que sugiro para uma Reforma Política. Não as defendo como imutáveis, inflexíveis ou as apresento como sendo a solução indispensável para o nosso falido sistema político, mas que, com certeza, contribuiriam para diminuir severamente alguns dos maiores cânceres que continuam a prejudicar o corpo de nosso país.