terça-feira, 12 de agosto de 2014

No tranco

POR FELIPE SILVEIRA

Acredito que uma coisa puxa outra. Vejamos a Tarifa Zero, por exemplo. Cria-se a empresa pública de transporte coletivo, que passa a oferecer o serviço público gratuito e de qualidade. A população começa a usar gradativamente. Quanto mais gente usa, maior é a cobrança pela melhoria do serviço, que provavelmente seria abraçado pelos usuários. Diminui-se a quantidade de carros nas ruas e o número de acidentes, principalmente com motoqueiros - ah, a diminuição da velocidade máxima é importante para isso. Assim, se reduz de maneira significativa os gastos com saúde pública, já que entram, todos os dias, acidentados aos montes no São José. Também se reduziriam os casos de doenças respiratórias causados ou agravados pela poluição. Com um trânsito mais seguro, mais humano, mais pessoas teriam ânimo para utilizar a bicicleta para suas atividades como trabalho e estudo, o que traria mais qualidade de vida.

Viu? Uma decisão (que não é simples), muitos avanços.

Outro caso é o do IPTU progressivo. Com uma canetada, enfrenta-se os especuladores imobiliários, reduz-se o preço do aluguel e dos imóveis, redefine-se o uso e a ocupação do solo, ocupa-se os milhares de imóveis vazios nas regiões centrais da cidade, beneficiando milhares de famílias, aproximando-as de serviços públicos como escolas e hospitais.

É claro que no atual contexto da política, decisões assim são impossíveis. Nossos políticos estão amarrados aos especuladores, aos grupos que se beneficiam economicamente dos serviços públicos, como transporte público e saúde.

Mas dá para mudar o contexto. Mais do que mudar os políticos que estão lá, e eu acho que isso é importante, é preciso se envolver com as causas, com as lutas. Não estamos muito acostumados, pois aqui em Joinville o troço é mais travado, mas mobilizações populares têm efeito, e são positivos para o povo. O aumento da tarifa, por exemplo, foi cancelado em diversas cidades nas manifestações de 2013. Assim como diversos projetos imobiliários foram barrados Brasil afora.

Dá pra citar mais um monte de exemplos. A legalização da maconha causaria impactos no tráfico de drogas. A desmilitarização da polícia diminuiria a violência por parte do Estado. Mudanças no Código Penal reduziriam a superlotação dos presídios.

Há mais um exemplo, cujas mudanças como consequência fazem ainda mais sentido. Trata-se da democratização da comunicação. Particularmente, acredito que mudanças nesse campo “puxariam” uma série de outras mudanças na sociedade, já que os importantes debates políticos chegariam à população.

Infelizmente, o contrário também funciona. Cada retrocesso puxa outros retrocessos. Mas cabe a nós tentar evitá-los e trabalhar pelos avanços.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Jabuti subiu na Cota 40

POR JORDI CASTAN

Se até o Prefeito Udo Dohler assinou a petição para que não se mexa na COTA 40, é evidente que há algo muito errado na ideia de mexer nela. A gente sabe que jabuti não sobe em toco, assim que quando apareceu na minuta da LOT, elaborada pelo IPPUJ, um jabuti chamado Cota 50, era claro que não tinha subido sozinho.

A LOT é assim mesmo. Não há nada lá que seja resultado do acaso e tudo tem um porquê. Mas o problema é que o pessoal que está mais vinculado ao setor do tijolo - e não estamos falando das olarias - vem perdendo a vergonha. Eles têm ficado mais ousados. E os jabutis começam a pipocar, ao ponto de se terem convertido numa praga. O discurso do prefeito tampouco tem ajudado a moderar os avanços vorazes sobre o solo urbano. Mas o que esse pessoal não tinha entendido é que mesmo na barbárie há limites. E a Cota 40 é um limite intransponível.

Bem que o Executivo tentou no primeiro momento olhar para outro lado, desacreditar, desconsiderar, dizer que eram insinuações, boatos e que não era nada disso. Mas o texto da minuta estava lá, para que quiser ver. 



O convite para a reunião do Grupo de Trabalho para “Estudar a COTA 40” com os carimbos e selos do IPPUJ e do Governo do Município estavam também lá. Houve quem chegasse a insinuar que só poderia se tratar de uma montagem, ignorando a ousadia dos que desejam avançar sobre a Cota 40 e aumentar os lucros das suas especulações.



Uma petição foi lançada na internet e as redes sociais começaram a mostrar a sua capacidade de organização, sua rapidez e sua capacidade de articulação. Facebook, Twitter e Blogs foram as ferramentas da mobilização. O Chuva Ácida foi o primeiro a entender que não se podia furtar a esse debate e depois seguiram os jornais. Inclusive o primeiro comunicado oficial da Prefeitura Municipal sobre o tema foi no Facebook e o próprio prefeito o colocou na sua página pessoal.



Depois Twitter, emails e em poucas horas e dias mais de 600 pessoas colocaram seus nomes na petição. O próprio prefeito inclusive utilizou sua conta em Twitter para confirmar sua posição a favor da manutenção da Cota 40.



A sociedade só acreditou na posição oficial do prefeito quando ele próprio assinou a petição que lhe será encaminhada, solicitando que “Não ousem tocar na Cota 40”. Dois alertas e meus agradecimentos.



O primeiro alerta e a estranha atitude do IPPUJ, que demorou em entender que jabuti não sobe em toco e só desembarcou da defesa da sua proposta de uma Cota 50 depois da posição oficial do prefeito. O prefeito deve olhar com atenção também os outros jabutis trepados nos tocos da LOT, porque há outros. O segundo mostra a força que as redes sociais podem ter quando se trata da defesa de temas de interesse coletivo.  A quantidade de compartilhamentos, de pessoas que passaram a conhecer a legislação que protege a Cota 40 e que passaram a participar do movimento foi surpreendente e suprapartidária. 

O meu agradecimento, primeiro aos companheiros do Chuva Ácida, que levantaram a bandeira da defesa da COTA 40 e escreveram textos sobre o tema e também geraram material para divulgar e esclarecer. E para todos os cidadãos que, de forma individual ou anonimamente, assumiram a defesa do verde urbano. Sem este verdadeiro exército de voluntários que, de forma altruísta se engajaram nesta iniciativa, a resposta não teria sido tão rápida e tão contundente. O meu agradecimento ao prefeito Udo Dohler, que entendeu que só uma mensagem clara poderia ser a resposta correta, e sua assinatura na própria petição atingiu o objetivo desejado.

Não é hora de deitar e confiar que vencemos a guerra. Esta foi só uma batalha e outras virão. A Cota 40 continua ameaçada e deveremos nos manter atentos e vigilantes.



A relação de assinantes da petição será encaminhada ao Prefeito Municipal em meio digital e a petição será formalmente encerrada hoje a meia noite. Se não assinou ainda há tempo.

Meu muito obrigado a todos.

sábado, 9 de agosto de 2014

Industry Minded em Joinville


POR GUSTAVO PEREIRA

Em 1995 o autor contemporâneo Stone, defensor do desenvolvimento sustentável, cunhou um neologismo ao afirmar que os elementos naturais necessitam ter voz,  pois somente através de uma moral coletiva é que a sociedade encontraria respostas para casos tormentosos, em que se contrapõe o utilitarismo e a defesa dos valores coletivos. Segundo Stone, Industry Minded traduz-se numa espécie de afinidade transmitida em que os agentes políticos e poder público adquirem e incorporam o modo de pensamento de agentes econômicos.

A consequência, em um país culturalmente patrimonialista como o Brasil, é que os serviços oficiais encarregados da administração pública convertem-se em feudos e panelinhas suscetíveis de pressões pelos mais variados interesses que não aqueles da sociedade, mediante concertação e relações políticas nebulosas, conflitos entre o público e o privado.

Os exemplos são inúmeros em Joinville, a começar pelo Conselho da Cidade, o nosso querido “covil”, dotado de baixíssima eficácia social. Refratários às mudanças, os Industry Minded asseguraram o controle no setor público municipal, em órgãos colegiados e buscam lançar os tentáculos em outras searas. A cota 40 tornou-se o símbolo da defesa da cidadania e a contradição dos Industry Minded.


Nos bastidores, nosso guia sonha com o aumento da arrecadação, admirando o modelo atávico de construção civil de outras cidades. Mas em público é o bom samaritano acossado a assinar a petição da Cota 40. O estilo rolo compressor dá sinais de desgastes e o pleito de outubro vai decepcionar muitos candidatos Industry Minded, esperançosos que o discurso falacioso da empulhação faça a população continuar a ter memória curta. Atenção Industry Minded, a paciência da sociedade tem limites.

Gustavo Pereira é advogado.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Sobre anões e gigantes


POR CAROLINA PETERS

As declarações do chanceler israelense, o qual chamou o Brasil de anão diplomático, foram, a despeito de certo frisson da oposição de direita (veículos de mídia inclusos), recebidas com algum grau de altivez pelos brasileiros. Tanto que o frisson nem durou muito. Apesar da reminiscência do complexo do vira-latas, existe hoje um sentimento razoavelmente difundido entre nós de legitimidade internacional. Nossos presidentes hoje falam lá fora em língua pátria, e não mais se oferecem a falar na língua que se deseje escutar. E não é por ignorância, senão por dignidade. Nossos posicionamentos dentro da ONU têm relevância e o discurso de Dilma cobrando explicações da Casa Branca no caso de espionagem conduzido pela NSA (agência de segurança estadunidense) teve grande repercussão internacional, apesar do pouco caso da imprensa local.

Mas não vem ao caso nesse momento a imprensa local. Apesar das duras críticas proferidas na assembleia das Nações Unidas, o Brasil não aceitou o pedido de asilo de Edward Snowden. E isso diz mais sobre como estão as coisas aqui dentro do que da porta de casa pra fora.

Foi a discussão que travei há uns meses numa mesa de bar com uma estudante de RI. Ela defendia o princípio de autonomia da política externa com base em teorias das Relações Internacionais; eu pontuei que a dinâmica interna das alianças que asseguram a governabilidade do governo Dilma era, no limite, decisivo para as movimentações internacionais. Acima de qualquer teoria ou escola a que uma ou outra aderisse, nosso desacordo se dava, sobretudo, por adotarmos lugares de fala muito distintos: ela, da diplomata; eu, da militante politica.

Li um artigo interessante na edição francesa do Le Monde Diplomatique: nunca a grande imprensa, em todo o mundo, defendeu tanto o “equilíbrio” na cobertura jornalística. Uma forma sutil, elegante, de se posicionar inevitavelmente por um lado, posto que nesse conflito não existe guerra entre dois Estados Nacionais com seus exércitos, mas um massacre promovido pelo Estado Sionista sobre um povo que teve ao longo das últimas décadas suas terras e seus direitos usurpados. O quadro de mortes nesse momento marca um placar de dois dígitos do lado israelense, contra quatro dígitos do lado palestino. Nenhuma morte é menos lamentável que outra, mas estes números dão dimensão da desproporção com a qual uns declaram não mais que “se defender” (a melhor defesa é o ataque, certo?). E não só pela força bélica, mas telegramas divulgados pelo wikileaks dão conta de acordos entre Israel e Estados Unidos para minar economicamente a região e forçar a debandada do povo palestino. Defender o equilíbrio, aqui, está distante da imparcialidade.

Fomos capazes, com razão, de nos indignar com a alcunha de anões diplomáticos, mas a intervenção real do Estado Brasileiro sobre a investida criminosa do exército israelense em Gaza foi nula. Abrimos mão de nosso porte como um dos maiores compradores de armamento de Israel e nos encolhemos no canto da sala de estar da política internacional sem trabalhar efetivamente pelo cessar fogo na região. A vizinha Bolívia, com o tamanho que lhe cabe, sinalizou sua posição declarando Israel Estado terrorista e voltando a exigir vistos para a entrada de israelenses em seu território.

O que nos impossibilita uma medida enérgica do governo brasileiro de solidariedade ao povo palestino e seu direito a um Estado soberano e à paz, pressionando com medidas de embargo ao Estado Sionista não é nosso tamanho, mas nossas escolhas.

Nossa polícia mata cinco por dia favelas afora. A periferia vive em constante estado de sítio e manifestações são duramente reprimidas e prisões arbitrárias decretadas, contando com tecnologia israelense. Ontem, após semanas de campanha dos movimentos sociais, dois ativistas, destes acusados sem provas foram soltos. Há mais tantos outros inocentes encarcerados, sobretudo negros, como Rafael Braga, morador de rua preso por portar o perigosíssimo desinfetante Pinho Sol, que não contaram com a mesma comoção e seguem sem perspectiva de liberdade. Temos contas a acertar com nosso passado recente, de ditadura, e com nosso presente. A Palestina também é aqui.


quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Algumas perguntas sobre a Cota 40

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Diante da mobilização popular, a qual pede a manutenção de toda a legislação atual sobre a Cota 40 em Joinville (veja o texto de Jordi Castan e o de Felipe Silveira), e a resposta do Prefeito de Joinville, Udo Dohler, dizendo que seu compromisso é deixar a Cota 40 intacta em toda a cidade (clique aqui e veja o texto de José Antonio Baço sobre o assunto), é hora de fazermos algumas perguntas sobre o tema. Afinal, o chefe do executivo vir a público dizer que quer manter a legislação atual tem uma distância enorme até a realização de tal promessa. Necessitamos saber quais serão as ações práticas do Prefeito.

Sendo assim:


  • O Prefeito de Joinville sabe ou não de que há uma minuta de lei que acaba de fato com a Cota 40? Não ficou claro em seu comunicado no Twitter...
  • O Prefeito de Joinville irá pedir para o IPPUJ, órgão que confecciona todas as minutas de lei da LOT, retirar as AUPAs que alteram o efeito prático da Cota 40 e colocam a Cota 50 como nova referência?
  • Por qual motivo as reuniões do "Grupo de Estudos sobre a Cota 40" continuarão (a segunda reunião acontecerá na sede da AMUNESC nesta semana), sendo que a Prefeitura não tem interesse em alterar a lei? Se o grupo continua, é sinal de que existe o interesse de algum conselheiro ou grupo de conselheiros?
  • Por qual motivo o coordenador deste grupo que estuda a Cota 40 é o representante do SINDUSCON (Sindicato da Indústria de Construção Civil) no Conselho da Cidade? Quais os interesses que esta entidade tem para com a cidade de Joinville? A entidade irá se posicionar sobre o assunto, ou fingirá que não tem nada a ver com as reuniões e que elas são uma iniciativa pessoal do seu representante no Conselho da Cidade?
  • Considerando que o Prefeito manifestou-se publicamente contrário ao fim da Cota 40, cedendo aos apelos populares, os representantes do governo no Conselho da Cidade terão a mesma postura? Cobrarão, estes, o fim do citado "Grupo de Estudos"? Ou seguirão em conjunto com os interesses daqueles que querem a continuidade das reuniões?
  • Ou quer dizer que o Prefeito de Joinville não conhecia a minuta da LOT elaborada pelo IPPUJ e não é pontualmente informado com detalhes do que acontece no Conselho da Cidade e deixará os técnicos da municipalidade atenderem a interesses que, comprovadamente, não são os da coletividade?
  • A Prefeitura apresentará, neste "Grupo de Estudos" (caso ele continue), algum contraponto e mostrar a função social que a Cota 40 exerceu ao longo das últimas décadas em Joinville?
Caso estas perguntas não sejam respondidas com efeitos práticos para a sociedade, vislumbramos um cenário muito parecido com o que ocorreu com o feriado da Consciência Negra em Joinville. O Prefeito sancionou o projeto, se dizia a favor, mas no primeiro movimento contrário "deixou a coisa rolar" e nada fez para que o feriado fosse implantado em Joinville. Pelo contrário: sublimou-se perante o discurso ideológico-conservador (e as ações judiciais) de grupos econômicos da cidade - seus doadores de campanha, mostrando que o discurso foi um e a prática foi outra. 

Será que o Prefeito usará da mesma estratégia para "lavar as mãos" e atender o interesse daqueles que são favoráveis à flexibilização da Cota 40? As perguntas estão lançadas. Faltam as respostas. 

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Treta da Cota 40 é mais uma “façanha” daqueles que f**** a cidade

A imagem não tem ligação direta com o tema, mas
tem tudo a ver com Joinville, e, portanto, com
especulação imobiliária
POR FELIPE SILVEIRA

Os especuladores imobiliários f**** esta cidade há uns 165 anos. O primeiro foi o tal do príncipe, que nunca pisou aqui, mas fez fortuna com a terrinha. Quando as bombas explodiram pro lado da corte francesa, lá por meados do século XIX, o monarca lembrou do terreninho que ganhou  logo abaixo dos trópicos e pensou: “Acho que rende um troco neste momento delicado”.

Entrou a Companhia Colonizadora de Hamburgo no negócio, cujo trabalho era lotear e vender os terrenos pros alemães, suíços, noruegueses e outros coitados que sonhavam com uma vida um pouquinho melhor no Novo Mundo. Mal sabiam do perrengue que os esperava na terra alagada e cheia de bicho, mas se viraram. Ah, os colonos contaram com o trabalho duro de escravos locais para abrir as picadas e construir as primeiras casas. Mas pouco se fala sobre isso.

Leia também:
A Cota 40 não é negociável
Apocalipse Now

De lá pra cá, o negócio da especulação imobiliária vai de vento em popa. Segue determinando, como sempre fez, como vai ser a cidade. As características, a expansão, as maneiras de viver a cidade.

Eles ganham dinheiro demais com espraiamento, com verticalização, com flexibilização de cota, com loteamento novo, com vazio urbano, casa vazia e aumento da procura. O aluguel custa caro, a prestação do imóvel custa caro. E o trabalhador precisa morar a 20 km do trabalho, já que o só consegue um canto pra morar na zona sul, enquanto os empregos ficam concentrados na zona norte.

Portanto, quando surge o “boato” de flexibilização da cota, ainda mais sendo proposta pelo covil, digo, conselho da cidade, é preciso ligar os pontinhos. A cota 40 é garantia de preservação ambiental, ainda que insuficiente diante da depredação da natureza praticada aqui (principalmente pelas indústrias). É, também, um tipo de terreno bem caro. Já imaginaram o tipo de cafofo que dá pra construir aos joelhos do Morro do Boa Vista?

Há um jeito bem simples de combater a cretinice dos especuladores. IPTU Progressivo neles! O dispositivo, previsto no estatuto das cidades, é pouco ou nada discutido aqui. Nos jornais – que deveriam fazer o debate sobre questões importantes da cidadania –, silêncio. Na prefeitura e na câmara, cri-cri-cri... Na acij, hahahahaha.

A coisa é simples: ou ocupa ou paga mais IPTU. Abaixaria o preço dos alugueis e dos imóveis, permitindo que mais pessoas tivessem acesso à moradia, e ainda aumentaria a arrecadação do município. Mas é claro que os malditos não vão largar o osso tão facilmente.

Tem que ter luta.

terça-feira, 5 de agosto de 2014

A Cota 40 não é negociável


POR JOSE ANTÓNIO BAÇO

Mudei para Joinville no início dos anos 80 para estudar na Faculdade de Engenharia. E fui morar numa república de estudantes chamada Mosteiro Boca Maldita, que ficava num prédio na esquinas das ruas do Príncipe e Abdon Batista. Uma das coisas mais legais do apartamento era a janela do meu quarto, que dava para o Morro do Boa Vista.

Na época ainda não havia prédios e a vista era ampla. Dava para acompanhar o ciclo da vida na cidade pelas mudanças nas tonalidades da vegetação do local. O espetáculo dos jacatirões a florescer e a dar outra cor ao morro é uma das imagens mais marcantes dessa fase da minha vida (a parte chata eram os “palitos” – as antenas).

Eu vinha do norte do Paraná, onde as árvores haviam sido derrubadas para dar lugar às plantações de soja, e tinha uma desconfiança de que aquela beleza toda pudesse acabar em nome do tal “progresso”. Mas um amigo, que fazia projetos arquitetônicos, explicou que a área estava preservada por causa de uma coisa chamada Cota 40.

Fiquei descansado. Aliás, desde então assimilei a expressão Cota 40 como exemplo de civilidade e de respeito pela natureza. É por isso que a formação desse grupo de estudo para analisar a tal cota deixa um elefante atrás da orelha. Qual o objetivo do tal grupo? O que se pretende? Tenho muitas dúvidas. E uma certeza: a Cota 40 não é negociável.

É natural que tenha surgido uma reação dos cidadãos. A simples ideia de mexer em algo que é exemplar soa a disparate. Tenho acompanhado os esforços das autoridades no sentido de desmentir qualquer pretensão de mudar as normas da Cota 40. O problema é que até agora as explicações têm sido pouco consistentes.

Se excluirmos os especuladores imobiliários, duvido que alguém na cidade seja favorável a alterações na Cota 40 (a não ser que queiram baixar para 30, claro). Portanto, o assunto é muito simples: basta o prefeito vir a público e dizer pessoalmente, de forma categórica, que não vai haver mudanças e os eventuais equívocos serão desfeitosAliás, recomenda-se. 

O que foi feito até agora em defesa da Cota 40 (a criação de uma petição pública e a divulgação do tema e debate nas redes sociais) é apenas uma amostra do que pode ser feito. Até este momento a repercussão do tema tem sido limitada. Mas o assunto tem tudo para ganhar uma outra dimensão e alcançar a maioria dos cidadãos.

O político que der guarida à ideia de alterações na Cota 40 está a pôr a sua imagem na linha de fogo. E vai inscrever o seu nome no livro negro da história da cidade.

É como diz o velho deitado: "A paciência dos eleitores tem limite. E o limite é a Cota 40".



P.S.1.: Este texto foi publicado às 05:06min. Por volta das 06h40min o prefeito Udo Dohler  publicou um twitt a garantir que não tem interesse em mudar a Cota 40. Por mim, está respondida a questão deste texto (destaque em amarelo).





segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Cota 40...melhor não mexer.


Apocalipse Now!

POR JORDI CASTAN


Como no filme de Francis Ford Coppola, Joinville está às portas de uma situação apocalíptica. Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse vêm cavalgando nos seus corcéis e o resultado da sua passagem tem tudo para ser devastador.

A proposta de criar um grupo de trabalho para “estudar” a Cota 40, no Conselho da Cidade, é o início do fim. A Cota 40 é uma marca emblemática de uma cidade que nunca cuidou do seu verde, que avançou sobre fundos de vale, aterrou mangues, desmatou e avançou sobre tudo em nome do progresso, mas que foi capaz de preservar a Cota 40 como um ícone.

Se hoje temos algumas áreas verdes no perímetro urbano foi graças ao fato de, na década de 70, a Casan não conseguir bombear água acima dos 40 metros e a incompetência tecnológica da Casan garantiu a Joinville uma malha verde que, sem maiores sobressaltos, está preservada até hoje.

O joinvilense entendeu a sua importância, tanto que a LOM (Lei Orgânica do Município), a nossa constituição municipal, garantiu a sua preservação no seu artigo 181, fazendo da Cota 40 uma referência de preservação e um exemplo a ser seguido.



Agora um grupo dentro do Conselho da Cidade tem a ousadia de propor, escondendo-se sob supostos “estudos”, a flexibilização da COTA 40, Há inclusive uma proposta, na minuta da LOT, elaborada pelo IPPUJ e aproveitando um invento local denominado AUPAs, que na surdina, permitiria acabar a cota 40, substituindo-a por uma nova cota, a cota 50. Depois nada impediria que novos "estudos" propusessem que fosse criada uma cota 55 ou 60 ou 75. Uma vez rompido o conceito, nada impediria que “estudos técnicos” propusessem novos números e Joinville perdesse o seu referencial verde mais importante.

Se é para acabar com tudo, se o objetivo é, no nome do progresso, propor uma nova Joinville, mais moderna, por que não recuperar o projeto que propunha desmatar o morro do Boa Vista. Quem sabe instalar umas carvoarias para aproveitar a lenha. E, com o barro do morro, aterrar o mangue? Porque não propor que seja permitida a caça das procelosas capivaras e que seja autorizada a venda de espetinho de jacaré na frente da Arena em dias de jogo?

Se a ideia é acabar com o pouco que ainda resta desta Joinville que teima em manter um mínimo de qualidade de vida e de verde, por que não fazer todo o estrago de uma única vez? Assim teríamos uma cidade plana, sem esses morros que tanto atrapalham, sem as arvores que perdem folhas e requerem podas e manutenção periódicas, sem esses manguezais que só servem para criar caranguejo e  que poderiam converter-se em praias artificiais? O que nos impede? 

Ah! O bom senso. Sim, o bom senso nos impede fazer toda essa bobagem. Mas o bom senso tem escasseado por estas terras e há gente que acha mesmo que agora que a Companhia Águas de Joinville dispõe de bombas mais possantes, não há motivo para manter essa tal de Cota 40.

Antes que esses aloprados levem seus “estudos” adiante assine a petição “Não ousem tocar na Cota 40” compartilhe este texto, faça a sua parte, não se omita, porque esse pessoal parece ter perdido a vergonha. 


sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Joenvile

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Vazio, desguarnecido, desocupado, limpo, livre, vago. Desabitado, despovoado. Aliviado, derramado, descarregado, despejado, entornado, esvaziado, vazado. Carente, destituído, falto, privado. Frívolo, fútil, insignificante, oco, superficial, tolo. Baldado, fracassado, frustrado, infrutífero, inútil, vão. Enganoso, fingido, hipócrita, mentiroso. Buraco, espaço, hiato, interrupção, intervalo, lacuna. Oco, vacuidade, vácuo. Nostalgia, saudade. Insaciabilidade, insatisfação. Abandonado, aberto, brecha, branco, claro, ar, cavo, côncavo, devoluto, esquisito, omissão, janela, lugar, nada, área, chocho, imane, inane.

Cidadela Cultural Antarctica, Prédio do Antigo Fórum, Giassi no Mayerle Boonekamp. Bar Tigre, Igreja no Cine Palácio, fogo e estacionamento no Cine Colon. Banda Grossa. UFSC de um curso só, na Univille, na Prudente, no prédio do agiota estrangeiro. Curva do Arroz sem contorno ferroviário, com enchente e sem alunos. Palacete sem príncipe e Palmeiras morrendo. Binários que confundem. Planejamento que não planeja. Cultura sem cultura. Dança por 14 dias. Espelho d'água sem água. Bicicletas no passado, carros no presente. Antiga prefeitura com problemas atuais. Pichação é problema, ser crítico é coisa de não querer o bem da cidade. A Jumenta vai Falar. Joenvile. #issoéArena.

Elite fazendo elitices. Pobres a serem sempre pobres. Segregados, segregadores. Função social é coisa de atrasado. Mentirosos mentindo como se fosse verdade. Imprensa amiga. Margarina. Meritocracia. Bandido bom é bandido morto. Elevados, túneis e pontes. Desenvolvimento é crescimento. LOT, Cota 40 e Faixa Viária. Hospital sem água quente, gestor do privado no público. Público no privado, privado do público. Concessionárias de 40 anos. Passe nada livre. Busscar a falência. Saudosismo sem olhar pra frente. Povo ordeiro e trabalhador. Conservar. Bater o ponto. Acordar cedo. Rotina. Tudo de novo.

Ansiedade, dor, medo, estertor, preocupação.Tortura. Amargura, dor, tumulto. Aflição, angústia, aperto, apertura, ânsia, martírio, passamento, tormento, tortura, tribulação. Paixão, desespero, arranque, combate, piada, prurido, sufoco, termo, opressão, perigo, transe, paroxismo, últimas, absinto, atormentação, traspasso. Ciúme, decadência, declínio, queda. Fim.