quarta-feira, 11 de junho de 2014

O capital político de Carlito Merss


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Quem imaginaria, há pouco menos de dois anos, que a gente ainda toparia com essa frase aí pelas redes sociais: “volta, Carlito”.  O fato é que todos a temos visto repetidas vezes nas últimas semanas. É a prova de que em política os anúncios de fins de carreira são sempre exagerados.

Não há dúvidas de que o slogan está a ser repetido pelos seguidores do ex-prefeito – o Partido dos Trabalhadores ainda mantém militantes mais fieis às ideias do que aos empregos – mas é possível notar-se também uma mudança na percepção da população joinvilense mais atenta à política local.

Carlito Merss tem vento favorável para resgatar de vez a imagem que construiu ao longo da sua carreira e que viu ameaçada pela cassação dos seus direitos políticos – já restituídos por decisão do Tribunal Superior Eleitoral – e pela sua passagem pouco feliz à frente da Prefeitura de Joinville.

Os jogos políticos são sempre cheios de fluxos e refluxos, de alianças e rompimentos, de acordos e desacordos. Mas em Joinville a coisa é levada ao extremo: os interesses pessoais eliminam quase por completo a defesa de qualquer ideário. Os aliados de hoje podem ser a faca nas costas de amanhã. É preciso estar sempre vigilante.

O ambiente é de tal forma infausto que ganha quem estiver do lado de fora. É o caso de Carlito Merss que, por estar longe dos holofotes, fica fora do alcance da mira dos seus adversários e críticos. E agora tem apenas que escolher a estratégia certa para restabelecer a sua imagem junto ao eleitorado.

Há alguns fatores capazes de beneficiar ex-prefeito na reconquista do seu espaço. Um deles é não ter que, neste momento, conviver com uma criptomídia ou paramídia que nunca disfarçou a sua hostilidade e que não lhe deu um dia de sossego enquanto esteve à frente da Prefeitura de Joinville.

O segundo é a ajudazinha que a atual administração está a dar. O fato de ainda estar em marcha lenta e de deixar  muitos eleitores preocupados mostrou que governar uma cidade como Joinville não é assim tão fácil. Nem mesmo com tudo a favor, como é o caso. Aliás, parece ser o principal motivo para um revanchista "volta, Carlito".

Enfim, o ex-prefeito tem tudo para recuperar o seu capital de imagem. E talvez a travessia do deserto não venha a ser tão longa quanto muitos vaticinaram. Diz o velho ditado que prognósticos só no fim do jogo, mas os que consideraram Carlito Merss uma carta fora do baralho talvez tenham que repensar.

Duvido que ele queira tentar uma volta à Prefeitura. Mas como já disse alguém: em política  só não vi porcos a andar de bicicleta.

terça-feira, 10 de junho de 2014

A história se repete, a cidade enche e o governador "sobrevoa"

Foto tirada na BR 280, próxima à SC 413
Foto cedida por Eduardo Schmitz
POR FELIPE SILVEIRA

Para o governador, uma enchente “rápida e pequena”¹. Para quem rala para pagar a prestação da geladeira, do fogão e do sofá, uma tragédia que afeta todo o planejamento e as pequenas conquistas das famílias. Para cada vida perdida, uma tragédia imensa para todos nós.

Quantas vezes a população de Santa Catarina terá que passar por isso? Quantas vezes o poder público vai lamentar a tragédia após sobrevoar as regiões afetadas de helicóptero, como se isso fosse alguma atitude louvável?

Até quando teremos que ver gente bem-intencionada fazer uma correria para enviar mantimentos e cobertores para as populações atingidas que não tem o que comer nem como se cobrir? Até quando vamos ouvir promessas de planos de prevenção?

E o pior de tudo isso é ter que ler por aí a clássica “Sempre encheu, sempre vai encher” de um monte de gente que não ousa pensar nas verdadeiras responsabilidades.

É importante saber que toda essa região foi construída com base na exploração imobiliária. No caso de Joinville, o queridinho príncipe (virou nome de feira de rua, com direito a bonequinho e tudo) ficou sem dinheiro lá por 1848 e decidiu fazer uma grana com a terrinha que ganhou como dote. Ah, terra que foi roubada pela coroa portuguesa. Aí começou a vender – via Companhia Colonizadora de Hamburgo – para os trabalhadores europeus que sonhavam com uma vida melhor por aqui, já que pela Europa tava bem difícil. Eles chegaram aqui e já foram enfiando o pé na lama, enquanto o príncipe nadava na grana dos pobres.

Pior que há alguns indícios de preocupação por parte do príncipe com os imigrantes nos livros de história. Aí eu penso nisso e me vem à cabeça esses passeios de helicóptero sobre as áreas atingidas...

A história se repete. A especulação imobiliária, pedra fundamental desta cidade, continua com sua função central nas decisões políticas. A LOT está aí para não me deixar mentir, né?

A história se repete e o povo sofre. O rio transborda, a cidade enche, a terra desliza. O povo sofre. Até decidir fazer algo...


¹ Raimundo Colombo pediu desculpas pela declaração, a qual afirmou ser mal-interpretada. Veja a retratação aqui.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A escolinha do Professor RaimUdo

POR JORDI CASTAN

As reuniões matutinas do secretariado municipal foram um dos temas que tomaram a maioria das rodas num recente encontro gastronômico-social. É o tipo de encontro em que a comida é preparada para que seja possível utilizar só o garfo, porque as facas estão todas enfiadas nas costas dos próprios convidados. São eventos promovidos por jornalistas, colunistas sociais e outros transvestidos em profissionais da imprensa com feijoadas, costeladas ou carreteiros. O objetivo encoberto é fazer uns trocados e ter acesso em primeira mão a comentários e boatos lubrificados com cerveja e destilados. 

Um dos vários secretários municipais presentes discorreu sobre o formato e a efetividade das reuniões do colegiado, que em geral se realizam bem cedo pela manhã. O formato lembraria, se for verdadeira a versão apresentada pelo secretário, o de programas de humor que repetem a mesma fórmula: no Brasil um dos mais conhecidos levou o nome de “Escolinha do Professor Raimundo” e era capitaneado pelo saudoso Chico Anysio. Houve outros programas que repetiram o modelo, como a Escola do Golias, mas o formato era em tudo semelhante e conseguia com facilidade o seu objetivo de fazer rir com facilidade, estereotipando alunos e professores, sem outra pretensão que a de provocar o riso.

A reunião começa de madrugada, com a chamada dos presentes. Aqueles que faltem ou cheguem tarde devem justificar e podem receber uma chamada de atenção. É boato que alguns secretários municipais tenham apresentado bilhete assinado pelos pais, para justificar o seu atraso, isso no passa de pura invencionice da oposição. Depois de feita a chamada e anotados com caligrafia esmerada os nomes dos faltosos, que correm o risco de ficar sem sobremesa, a reunião da início com a leitura detalhada da ata da reunião anterior. Uma leitura feita pelo próprio alcaide, que, com entonação monótona, relata tudo o que foi decidido e determinado na reunião anterior. A leitura pode levar mais de uma hora, passada a qual cada secretario tem direito a dois minutos. Os responsáveis pelas pastas estratégicas chegam a dispor de três minutos para relatar o que fizeram ou justificar o que deixaram de fazer. Transcorridas quase duas horas a reunião é encerrada.

A administração baseada no modelo de cobranças é típica de um chefe autocrático, aquele que fala todo o tempo, conhece os problemas melhor que ninguém e aponta soluções, sem chegar a analisar com profundidade o problema e suas causas, assim não há necessidade de ouvir a sua equipe, que escuta em silêncio a espera das diretrizes que emanarão do próprio prefeito. A gestão moderna, seja ela pública ou privada, exige um perfil de liderança diferente. Hoje é a vez dos líderes, aqueles que são capazes de motivar pessoas comuns a obter resultados surpreendentes. Liderar equipes exige um perfil diferente, não só há que escutar, pois é preciso saber ouvir e aceitar que o chefe pode não ter sempre toda a razão. Para quem foi forjado no modelo autocrático do século 19  é tarefa difícil entender a complexidade da liderança do século 21 e os novos desafios da gestão pública, numa cidade com mais de 500.000 habitantes.



O resultado das reuniões, que deveriam servir para ser o celeiro de novas ideias e alternativas que permitam resolver os graves problemas que o município enfrenta, são  longos solilóquios que ninguém mais escuta, eternos monólogos repetitivos e cansativos que mais parecem mantras para invocar o milagre da ação inexistente.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

LOT, Udo, James Schroeder e João Martinelli

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

#1
A nova Lei de Ordenamento Territorial, em discussão desde 2010 em Joinville, é alvo de grandes interesses imobiliários e econômicos, como sempre relatamos aqui no Chuva Ácida. A transformação de áreas rurais em áreas urbanas pode trazer lucros inimagináveis para especuladores e loteadores da cidade, e por isso as disputas entre diversos setores interessados (no lucro ou na democratização do processo) estão cada vez mais acirradas. Como o poder público, desde o início, tendeu a flexibilizar a legislação já existente, juntamente com um fechamento das informações para alguns poucos, as discussões caíram para o âmbito judicial,instância onde os movimentos populares se viram amparados - ou quase isso.

Por várias vezes a Prefeitura foi obrigada a rever suas posturas, pelo simples fato de não estar seguindo o que as leis recomendavam (principalmente a lei 10257/2001, apelidada de "Estatuto das Cidades"). O Ministério Público também atuou em seguidas vezes, ajustando condutas dos gestores municipais.

A lei atualmente encontra-se em discussão no Conselho da Cidade, este que, por sua vez, é antidemocrático e foi o responsável pela criação de dois tipos de cidadãos: aqueles representantes de entidades burocraticamente existentes (com CNPJ ou Estatuto) e cidadãos com um CPF que não vale nada em termos de decisão. Depois de discutida no Conselho da Cidade, a lei vai para apreciação de audiências públicas e depois tramitará na Câmara de Vereadores. Também já cansamos de explicar isso aqui.

A expectativa é grande pela aprovação desta nova lei, pois pode operacionalizar o lucro de muita gente.

#2
O atual Prefeito de Joinville, Udo Dohler, é ex-Presidente da ACIJ e um dos maiores defensores da aprovação da nova LOT. Representava (ou ainda representa?) interesses de associados do ramo da construção civil e imobiliária muito interessados na aprovação desta lei. Deu várias entrevistas alegando que a cidade "vai parar", caso as novas regras urbanísticas não fossem aprovadas o quanto antes.

A cidade não parou, tanto é que, nos últimos 20 anos (tempo em que a "velha" lei de ordenamento territorial está em vigor), a cidade cresceu nos quesitos economia, educação, IDH, emprego e infraestrutura urbana. Nunca antes na história desta cidade os empresários locais ganharam tanto dinheiro.

Como se isto não bastasse, Udo reclamou em jornais da cidade das seguidas ações judiciais que sofre por movimentos populares. Por enquanto a LOT está andando, mas em passos de tartaruga, impedindo o lucro imediato de muita gente grande por aí.

A preocupação em aprovar esta lei é tão grande, mas tão grande, que a base aliada recomendou ao Prefeito que tratasse bem o vereador James Schroeder (PDT), pois ele é de um partido que rompeu com a gestão do PMDB (expulsou do PDT o vice-Prefeito, Rodrigo Coelho, por exemplo) mas pode ser útil devido ao fato de ser Secretário da comissão de urbanismo da Câmara de Vereadores, e seu voto pode ser o fiel da balança.


#3
James Schroeder é engenheiro agrônomo, ex-professor e está em seu segundo mandato como vereador. É casado com Marlize Martinelli, integrante da poderosa família Martinelli (Martinelli Consultores, Martinelli Advogados) que tem em João Martinelli e em Nereu Martinelli homens de grande influência na cidade. Nereu, inclusive, é Presidente do Joinville Esporte Clube.

João Martinelli e suas empresas foram grandes doadoras da campanha de James em 2008 e 2012 e Udo em 2012.





#4
João Martinelli será o novo Presidente da ACIJ, entidade que tem um Prefeito e um construtor como ex-Presidentes e defende abertamente uma nova Lei de Ordenamento Territorial para o quanto antes. É a entidade que terá um Presidente doador da campanha do Prefeito e padrinho financeiro de uma peça-chave dentro da comissão de urbanismo, local onde a votação da nova LOT tramitará em breve. 



quinta-feira, 5 de junho de 2014

A raça, o mérito e a antropologia


A meritocracia só é possível quando todos
partem em condições de igualdade

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Há um provérbio romano, do qual nem gosto muito, que funciona como uma advertência: “sapateiro, não vá além do sapato”. Quer dizer que certas pessoas tendem a dar opiniões sobre temas para os quais não têm uma preparação adequada. Ou, digamos, mérito. É o caso do vereador Fábio Dalonso, que um dia destes produziu uma barafunda antropológica ao falar em questões raciais.

O texto, segundo deu para entender, mais do que um ataque às cotas raciais é uma defesa da meritocracia. O despautério começa aí. Hoje é dia qualquer pessoa que use a expressão mérito tem logo acolhida de boa parte da pequena burguesia (a classe média dos trabalhos não braçais). O fato é que a meritocracia só é admissível se todos partem em condições de igualdade. Portanto, uma ficção sociológica.

Nada pior na defesa de uma tese que partir de um erro crasso. O vereador cita Pelé, Joaquim Barbosa, Barack Obama, Oprah Winfrey, Tiger Woods, Mike Tyson, Venus e Serena Williams, Neil deGrasse Tyson ou Lewis Hamilton para afirmar um ponto em comum: “são negros, vieram da pobreza, com problemas familiares sérios, oriundos de escolas públicas e venceram por seus méritos, persistência e valores”.

O texto traz uma generalização errônea que pode mesmo denunciar um ato falho do racismo: se é negro, então é pobre e tem problemas familiares. No entanto, se muitas dessas pessoas não vinham de famílias ricas, também não eram pobres, como Obama, deGrasse, Woods ou as irmãs Williams, por exemplo. Aliás, seria interessante investigar a aplicação das cotas nos Estados Unidos. Suspeito que possa haver relação.

O texto faz uma espécie de antropologia de revista cor de rosa. O vereador cita uma fala de Morgan Freeman, mas inverte a intenção do ator: ele fala justamente na perpetuação do racismo. É preciso contextualizar. A fala é de uma entrevista de 2005, com o jornalista Mike Wallace, no programa “60 Minutes”, e o tema era o Black History Month, um evento que evoca a história negra. Foi assim:

Wallace: Mês da História Negra, você acha...
Freeman: Ridículo.
Wallace: Por quê?
Freeman: Você vai querer relegar a minha história a um mês?
Wallace: Vamos lá...
Freeman: O que você faz com o seu? Qual mês é mês da História Branca? Vamos, me diga.
Wallace: Eu sou judeu.
Freeman: Ok. Qual é o mês da História Judaica?
Wallace: Não existe.
Freeman: Por que não? Você quer um?
Wallace: Não, não.

Ops! O vereador diz que “as cotas raciais produzem um efeito horrível na sociedade, pois elas aumentam a identificação racial num tempo onde sabemos que não existe raça branca ou negra – apenas a humana”. Aliás, basta olhar para a Câmara de Vereadores que, numa representação equitativa da sociedade brasileira, tem metade de vereadores negros. E não há identificação racial, porque só o mérito é visto. Sério?!?!?!

Num insight antropológico que podia entrar para os compêndios, o vereador afirma que a instituição de cotas é segregacionista, racista e cria cidadãos de segunda classe. Não sei onde o vereador vai buscar os seus votos, mas acho que talvez fosse interessante prestar atenção nos excluídos: para eles ser cidadão de segunda categoria poderia ser uma evolução. É melhor que a exclusão, a invisibilidade e a negação a que foram historicamente relegados.

Fim de análise: quem acredita na meritocracia não deveria escrever textos nos quais é difícil encontrar qualquer mérito.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Dois vereadores decidem escrever o nome nas páginas mais vergonhosas da História do Brasil

POR FELIPE SILVEIRA

Demorou 50 anos, mas a Câmara de Vereadores de Joinville (CVJ) reconheceu o erro que foi ter apoiado o golpe civil-militar de 1964. A moção 130/2014 foi aprovada no dia 27 de maio pela maioria dos vereadores, com exceção de dois sujeitos que não valem a pena – jaime evaristo e fábio dalonso.

A aprovação só se deu pela pressão dos movimentos populares e de esquerda, que deram a ideia e cobraram sua execução. Por isso, quero deixar público meu agradecimento e meus parabéns ao Centro dos Direitos Humanos Maria da Graça Bráz, ao professor de história e militante Maikon Jean Duarte e também ao vereador Adilson Mariano.

O nome de Curt Alvino Monich, presidente da casa que apoiou o golpe em 64, está vergonhosamente marcado na História. E, na história do presente, outros dois vereadores marcaram seus nomes nestas páginas vergonhosas. Azar o deles. 

Apenas no início

Comemoremos a vitória, mas conscientes de que estamos apenas no início do processo. Os efeitos da ditadura – perseguições, apagamento da memória, injustiça social – estão aí, presentes no dia a dia. Quem se aproveitou dela na época continua se aproveitando até hoje.

Por isso, é preciso valorizar e participar de atividades de resgate da memória, como a que acontece na noite desta quarta-feira, 4 de junho. A Comissão Estadual da Verdade Paulo Stuart Wright (CEV) vai realizar uma audiência na CVJ, às 19 horas. Serão ouvidos depoimentos de pessoas que de alguma forma estiveram envolvidas com a ditadura. Se você é ou conhece alguém que tenha algo a dizer sobre o assunto, participe. É um momento muito importante para a nossa história. 


Não basta ser consumidor, tem que participar

O problema não são os reaças. O problema é você que não faz nada. Já escrevi sobre isso, mas repito porque é algo que me deixa puto. É incrível a massa de gente que não faz absolutamente nada pela sociedade, anestesiados pelas dezenas de séries que acompanham e jogos de futebol que precisam ver, para citar os dois exemplos mais comuns. Veja bem, eu até gosto de séries e gosto muito de futebol, mas acho um absurdo que as pessoas simplesmente se dediquem somente a isso e nada mais.

Os problemas estão todos aí, cada vez mais intensos, mas as soluções também estão. Para cada problema que você pensar, pode ter certeza que há algumas propostas de resolução. Basta escolher uma dessas linhas, um grupo para apoiar, e seguir em frente. Ou crie uma solução nova, sei lá. Mas não fique aí coçando, culpando a Dilma ou o Aécio por todos os problemas, embora eles tenham parcelas de culpa em vários. De qualquer forma, eles não resolvem. O que resolve é você fazer alguma coisa. Mexa esse traseiro... 


No vídeo, a aprovação da moção 130/2014:

terça-feira, 3 de junho de 2014

Vai ter, Rainha de Copas!


A moralidade é elástica?


POR JORDI CASTAN

Não há unanimidade na decisão de arquivar o processo contra os secretários municipais que receberam jeton por formar parte do conselho da Companhia Águas de Joinville. Há um sentimento forte de que a responsabilidade não se extingue com a simples devolução do dinheiro.

O cidadão que cumpre seus deveres, paga seus impostos e contribui com seu trabalho para o desenvolvimento de Joinville não é tratado com tanta benevolência pelo poder público. Tente "esquecer" de pagar um imposto no prazo. Ou, por descuido, não declare algum ingresso extra. Depois pergunte se, apenas pagando o valor histórico e a correção monetária, poderá solicitar o arquivamento do procedimento iniciado pela autoridade tributária. 

No caso do Inquérito Civil Público 06.201400002391-4, aberto para investigar quatro secretários municipais pelo recebimento indevido de  “jetons”, no valor de  R$ 3 mil a cada reunião do Conselho de Administração da Águas de Joinville, o inquérito foi arquivado após os secretários devolverem o dinheiro. A mensagem que se transmite? É de aqui não houve nada errado e que, com a devolução do valor recebido irregularmente, o caso foi arquivado. E ponto final.

Uma abordagem ética do episódio deve considerar que os agentes públicos devem dar explicações acerca dos valores recebidos indevidamente, já que a mera devolução dos recursos não deveria retirar a responsabilidade criminal sobre o caso. Além disso, seria recomendável que o Ministério Público investigasse também todo o período desde a criação da Águas de Joinville, em 2005, já que é público e notório que durante os governos de Marco Tebaldi (2004-2008) e Carlito Merss (2009-2012), os secretários municipais que participaram do Conselho de Administração da CAJ também recebiam “jetons”.

O caso dos secretários municipais não é isolado. Recentemente o vereador Dorval Preti teve que devolver aos cofres públicos R$ 31.452,92 recebidos indevidamente. Como no caso dos quatro secretários municipais, a devolução só foi feita após a abertura de um inquérito. O caso do vereador deu origem ao inquérito civil 06.2014.00001652-4. O vereador recebeu entre janeiro de 2013 e janeiro de 2914 salário acima do permitido pela lei.

Três pontos merecem destaque em ambos os casos. O primeiro é o fato de tratar-se de recursos públicos, portanto dinheiro do contribuinte. O segundo é que com a simples devolução dos recursos recebidos irregularmente o processo é arquivado e, portanto, não há qualquer punição, fora a de devolver o que de fato não lhes pertencia. Finalmente – mas não menos importante – é que sem as denúncias e a abertura dos respectivos inquéritos não se haveria produzido a devolução dos recursos. Só quando descobertos, os envolvidos tomaram a iniciativa de devolver os recursos.

O que a sociedade espera e deseja é que acabe de vez a impunidade, que haja punição para estes casos e outros semelhantes que sirva de modelo e os iniba. A situação atual não só não inibe, como acaba estimulando a que se repitam. Talvez se a justiça insiste em arquivar os inquéritos, poderia ganhar corpo um movimento que incentive o escárnio e a ampla divulgação pública e blogs como o próprio Chuva Ácida poderiam ajudar a divulgar.