domingo, 13 de abril de 2014

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Desapega, desapega...


Ser liberal


POR RIKARDO SANTANA DA SILVA

Como acabar com a pobreza? Essa é uma pergunta de difícil resposta e que move muitas pessoas na tentativa de respondê-la. Muitos dizem que o problema está na desigualdade social e colocam na distribuição de renda a culpa da pobreza que ainda existe mundo afora. Outros argumentam que a dificuldade são as barreiras impostas pelos governos, o que faz com que elas não possam ser livres o suficiente para conseguirem sair da situação de miséria em que se encontram.

São duas respostas para a mesma pergunta (obviamente que extremamente condensadas aqui), a mostrar que os dois lados estão buscando uma solução para um problema que ambos admitem existir. Mas o que se observa quando estes dois grupos discutem é que não diálogo, apenas desconhecimento e clichês repetidos de um lado para outro, além de um domínio de uma discussão partidária que não tem fundo ideológico nenhum e que está mais preocupado em responder outra questão: “como conseguir mais poder?”

É preciso haver diálogos e não monólogos e xingamentos, que em grande parte ocorrem porque não há conhecimento suficiente sobre o que o outro está defendendo. Há aparentemente uma preguiça em diferenciar as diversas vertentes que cada ideologia tem e um vício em querer colocar todos num rótulo só. Eu sou liberal porque acredito que a maneira mais fácil e eficaz de se acabar com a pobreza, e assim garantir uma melhor qualidade de vida para as pessoas, é através do livre mercado, dando liberdade para as pessoas, o bem mais precioso na vida de um ser humano, pois só ela pode fazer com que todos possam alcançar a felicidade, algo subjetivo e individual. O liberalismo mostrou isso no decorrer da história, em inúmeras situações em que a liberdade de uma população se converteu em uma qualidade de vida melhor. É no mínimo curioso ver que essa ideia de liberdade pode ser considerada por muitos aqui no Brasil como a de alguém que “não se importa com os pobres”. Aliás, defender a liberdade no Brasil, é correr o risco de ser chamado de comunista, fascista e conservador na mesma discussão; e isso mostra como há um total desconhecimento do liberalismo.

UM MOVIMENTO DIVERSO - Hoje o movimento liberal é extremamente heterogêneo. Libertários de direita, libertários de esquerda, anarcocapitalistas, minarquistas, bleeding hearts, liberais conservadores entre outros grupos, discutem os problemas da nossa sociedade sob diversos pontos de vista, e a produção é constante e de grande qualidade. Blogs como o do Instituto Mises Brasil (IMB), o Portal Libertarianismo, o Mercado Popular, o Capitalismo para os Pobres, e institutos como o próprio IMB, o Instituto Liberal do Nordeste (ILIN), o Estudantes Pela Liberdade (EPL), o Ordem Livre, o Instituto Liberal, além de iniciativas como a do Partido Libertários, propagam ideias de liberdade das mais diversas vertentes. Eu mesmo participei da fundação de um instituto em Curitiba, o Instituto Bastiat, que hoje se encontra desativado, mas no pouco tempo em que existiu me mostrou que o liberalismo é muito pouco conhecido, mas tem uma boa aceitação.

O que se pode perceber nessa produção atual é que há sim uma preocupação e – principalmente – respostas para os problemas sociais atuais que são baseados na filosofia liberal. No entanto, no cenário de guerra criado por muitos articulistas (sejam eles sakamotianos contra os “coxinhas” ou constatinianos contra os “caviares”), é difícil ver esse discurso chegar a ser discutido por não liberais. Parte da culpa é dos próprios liberais, que acabam perpetuando posições que não respondem aos problemas e apenas se apoiam em muletas teóricas.

Três casos mostram isso mais claramente: o posicionamento quanto a ditadura militar, que mostra como muitas pessoas que se dizem liberais não são: afinal de contas, como alguém que defende a liberdade pode apoiar uma ditadura? É a mesma incoerência de ser contra a violência e ter Che Guevara como ídolo. A questão das cotas raciais mostra também como muitos liberais se preocupam mais em se posicionar do que em oferecer respostas às questões, pois apenas dizers que é contra não resolve os problemas que as cotas se propõem a responder – e o liberalismo tem respostas para isso, como, por exemplo, a educação livre. E talvez a questão mais emblemática, a meritocracia, que mostra uma incoerência por parte de quem a invoca em uma discussão e se diz liberal, pois, se apenas o mérito importa, o que fazer então com aquela lista embaraçosa de “ranking de liberdade econômica” que mostra como países mais livres tem qualidade de vida melhor? Além de que é bem visível que não é apenas o mérito que conta na hora de alguém conseguir alcançar seus desejos; vários fatores externos também contribuem, e a liberdade é um deles.

O que eu pretendi dizer com esse texto é que o pensamento liberal ainda é pouco estudado e lido no Brasil e para que haja um verdadeiro debate para melhorarmos as condições de vida da população em geral, é necessário que esse discurso seja melhor debatido, e que não seja confundido com outros pensamentos ou sofra com preconceitos. Além disso, também é visível que os próprios liberais tem que entender melhor a ideologia que defendem, para não receberem alguma alcunha que não mereçam. Todos ganharemos se começarmos a nos preocupar mais em melhorar a vida dos outros e menos com qual partido está no poder.

Rikardo Santana da Silva é jornalista e historiador.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

O monstro é real

POR ET BARTHES
Nos Estados Unidos, o desenho animado de uma campanha a alertar para o acesso das crianças às armas fala mais para os adultos. Vale a pena ver...

Mulheres não merecem ser estupradas


POR CLÓVIS GRUNER

A estas alturas todo mundo já sabe do erro crasso do IPEA na divulgação dos resultados da pesquisa, segundo a qual 65% dos brasileiros consideram que a mulher, a depender do tipo de roupa que usa ou de seu comportamento em público, merece ser estuprada. O equívoco, que entre outras coisas resultou na demissão do diretor do Instituto, provocou reações muitas e variadas. No seu texto de segunda, Jordi Castan sugere interesses escusos por detrás da pesquisa: “Por que divulgá-la justo agora?”, questiona. A pulga não incomodou apenas atrás da orelha do meu colega de blog: aqui e acolá, e antes mesmo do IPEA assumir o erro, li gente questionando sobre as “razões ocultas” do estudo.

É verdade que poucos foram tão longe quanto o delirante comentarista que, por falta de respeito, coragem ou os dois, preferiu manter-se anônimo: truculento como a maioria dos inominados, acusou Fernanda Pompermaier de “inocente útil” no grande plano petista de dominar a vida, o Universo e tudo mais. Segundo nosso leitor, que além de anônimo assume-se preguiçoso, a pesquisa foi “uma manobra bem urdida pelos porões pestistas (sic) para alavancar a anta deles, afinal, a poucos meses da eleição, que tal reforçar a visão de que as mulheres são vítimas dos machistas, assim, sempre que um candidato opositor, por acaso todos machos, falar mal da anta deles será visto como um monstro do lago Ness”. Certo, certo, sabemos que o machismo, o racismo, a homofobia e as diferenças e conflitos de classe são invenções do governo do PT e inexistiam antes de 2002.

Também é óbvio que não há distinção entre críticas à presidente e violência contra a mulher, dois eventos que devem ser tratados como absolutamente simétricos. Assim, durante a campanha, sempre que a candidata Dilma Rousseff for pressionada pelos concorrentes, “todos machos”, poderá erguer os braços e gritar: “estupro!”. Mas se a pesquisa foi uma “manobra bem urdida pelos porões pestistas (sic)” com fins eminentemente eleitoreiros, por que divulgar o erro e expor governo e candidata, submetendo-os à crítica sempre refinada da oposição, e nos obrigar a ler estultices como o comentário do nosso preguiçoso leitor? Afinal, a tal maquinação só surtiria efeito se continuássemos a acreditar nos primeiros resultados divulgados, não é mesmo? Ah, a preguiça...

CULTURA DO ESTUPRO – Estupro é coisa séria, e é sempre temerário quando um assunto dessa gravidade é tratado com irresponsabilidade – e pouco importa se o irresponsável é um Instituto ligado ao governo ou um leitor, anônimo, preguiçoso, paranoico e pouco capacitado intelectualmente. E não há motivo algum para comemorar o erro: é uma vergonha que 26% dos brasileiros considerem a mulher responsável pelo estupro. É uma infâmia que 26% dos brasileiros acreditem que o tipo de roupa ou o comportamento feminino induz ao ou facilita o estupro.

Os números reais não nos colocam numa posição confortável. Como se não bastasse, eles tem servido nesses dias para a propagação de um discurso que minimiza ou simplesmente nega as muitas violências, simbólicas e físicas, perpetradas diariamente contra a mulher. Os exemplos são muitos, a começar pela ignomínia que é equiparar o feminismo a um regime totalitário e genocida, presente na denominação “feminazi”, esse neologismo grosseiro tão ao sabor dos conservadores brasileiros. Nos ônibus, no metrô (e na campanha do metrô), nas ruas, no ambiente de trabalho, em casa: em que pese as mudanças percebidas principalmente nas últimas décadas, ainda há muito por fazer e mudar para tornar menos desigual (e eu não falo de diferença, mas de desigualdade) as relações de gênero. 

No caso específico do estupro, entre nós o tema é ainda muitas vezes banalizado, motivo de piada e tratado com arrogância e desdém, como no episódio do humorista Rafinha Bastos, para quem mulheres feias devem não acusar, mas agradecer seu estuprador. Ou na indiferença do Conar à campanha da Nova Schin, mantida no ar pelos marmanjos que comandam o órgão sob a alegação de ser “baseada em uma situação absurda”: afinal, na peça publicitária, o homem que constrange mulheres e invade seu vestiário, provocando visível horror e medo, é invisível. Para alguns, se a mulher for feia ou homem, anônimo, o estupro é válido e, em alguns casos, pode ser até divertido.

AS ESTATÍSTICAS DO HORROR – Os índices de violência física não minimizam, agravam a sensação de que vivemos em uma cultura que tem feito pouco das agressões contra mulheres. O Mapa da Violência de 2012, estudo conduzido há anos pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, dedicou um apêndice para tratar exclusivamente da violência de gênero. E anota uma tendência ao crescimento nas taxas de homicídio ao longo das últimas três décadas, chegando a quase 4.500 em 2010 (4,6 homicídios por 100 mil habitantes). Há uma breve interrupção na curva ascendente em 2007, que os pesquisadores atribuem à aprovação da Lei Maria da Penha no ano anterior. Breve, porque dos 3,9 por 100 mil habitantes registrados naquele ano, o número volta a crescer nos subsequentes (respectivamente, por 100 mil/hab.: 4,2 em 2008; 4,4 em 2009; e 4,6 em 2010). Importante registrar que os índices se referem exclusivamente a homicídios motivados por questões de gênero e exclui aqueles em que mulheres foram vítimas de assassinatos “comuns”.

Razão pela qual a violência contra a mulher não pode ser jogada na vala comum dos índices de criminalidade, porque se trata de um fenômeno específico, não raro praticada  nos limites de ambientes como o trabalho e a casa e perpetrada por homens conhecidos, em muitos casos colegas e membros da própria família, pais e maridos inclusive. Como é o caso do estupro: em 2012, foram mais de 51 mil casos registrados, uma taxa de 26,3 por 100 mil habitantes, segundo o Anuário de Segurança de 2013. Como a qualidade dos registros varia entre os estados, e muitos casos sequer chegam a ser denunciados, é bastante provável que os números, já altos, sejam ainda maiores: sabe-se que muitas vezes as vítimas, por vergonha ou porque ameaçadas, optam pelo silêncio.

Como se vê, não há muito que comemorar com o equívoco do IPEA. Mesmo com e apesar dele, os índices de violência contra a mulher deveriam ser motivo de preocupação: estamos entre os 10 países mais violentos do mundo, distante e à frente inclusive de nações vizinhas como a Argentina e o Chile. Lamentavelmente, vivemos uma realidade onde alguns preferem cruzar os braços, indiferentes à barbárie. Uma das coisas mais abjetas que li sobre o assunto nesses últimos dias foi assinada por Rodrigo Constantino, um dos blogueiros do conservadorismo de boutique tão em voga no país: para ele, “moças direitas” tem menos chance de serem vítimas de violência porque “não se faz um banquete diante de famintos”. Alguém precisa avisar o menino que mulheres não são um pedaço de carne, e que estupro é um ato de força e poder: não é sobre sexo, é sobre violência.

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Machista?

POR ET BARTHES

Mulheres com problemas de pelos. Se não escolher o produto certo fica assim? É machismo?


O silêncio das hienas ideológicas


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

As hienas ideológicas são um animal estranho. Se o leitor não consegue imaginar, eu faço uma descrição: elas são bípedes (mas se caem de quatro nunca mais levantam), têm um aspecto quase humano e estão sempre atrás do teclado de um computador a despejar impropérios e a destilar a sua raivinha de classe. Fácil identificar.

Elas atacam em bando. Uma hora deliram com uma ditadura comunista. Outra não querem o Mais Médicos. Insistem que não vai ter Copa do Mundo. Não entendem um boi de economia e apostam na falência da Petrobras. E têm no Bolsa Família o tema preferido. Para sorte da humanidade, a duração da gritaria é proporcional à consistência intelectual. Curtinha.

Um dos últimos temas a levantar paixões foi a aprovação do Marco Civil. “Censura do governo para impor a ditadura”, ruminaram em uníssono. Nem se deram ao trabalho de ler o texto da lei. Porque é longo e tem conceitos que a capacidade de leitura não atinge. E aí surge a dúvida: se estão tão preocupados com a censura, por que o silêncio sobre o caso envolvendo Aécio Neves?

Eu próprio admito que cheguei a ter dúvidas se realmente aconteceu. Pela insensatez da iniciativa e pela pouquíssima repercussão na grande imprensa e nas redes sociais. Mas o episódio teve direito a um nada elogioso editorial na “Folha de S. Paulo”: o político mineiro Aécio Neves, pré-candidato à Presidência da República, teria encetado um processo judicial que pretendia censurar o Google, Yahoo e Bing. A razão?

Segundo o editorial do jornal, “o senador de Minas Gerais requereu ao Judiciário paulista que sejam removidos das redes sociais e dos sites de busca da internet os links e perfis que ligam seu nome a temas como uso de entorpecentes e desvios de verbas públicas”. Com base nisso, ou o político é insensato ou está mal assessorado. Nenhum democrata a sério poderia pensar na imposição de uma censura (ainda mais prévia), por mais que sinta a tentação.


Ok... há uma atenuante. O tucano alega que quer apenas em coibir os robôs (geradores mecânicos de mensagens). A questão merece atenção. Faz alguns meses li, numa matéria do "Estadão", que uma hashtag repetida 23.846 vezes em pouco mais de um dia tinha apenas três retuitadas feitas por pessoas reais. É muito mau para a democracia. O texto não falava da origem da mensagem, mas a hashtag parecia ser contra integrantes do PT.

Mas por que o episódio não repercutiu mais? Uma das razões pode ser o segredo de justiça (não sei se aplica ou não neste caso). A outra foi o óbvio desinteresse dos jornalões (com raras exceções). Mas uma das causas certamente foi o silêncio das hienas ideológicas, porque para elas a censura só existe se vier de outro lado. De qualquer forma, Aécio Neves não escapou à pecha de estar a propor a censura (veja o vídeo do CQC). 




P.S.: Ah... por que a analogia com as hienas? É que elas não são muito seletivas no que se relaciona à cadeia alimentar. Além de carniça, elas comem a própria merda e a dos outros animais.