quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Facebook é coisa de velho

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POR FERNANDA M. POMPERMAIER


Peguei umas férias do blog por uma série de questões pessoais e volto a escrever com a maior cara de pau, sem dar muitas explicações. Peço desculpas, mas estou passando por períodos complexos, reajustando, repensando e não sei como o futuro vai ficar. Tenho certeza que o chuva estará presente de alguma forma, mas ainda não sei como. Enquanto isso vamos conversando.

Nesses reajustamentos da vida, decidi tomar uma decisão drástica essa semana e cancelar minha conta no facebook. Ok, grande porcaria, tem algumas notícias mais importantes no mundo. Concordo, mas "veja bem" nem sempre eu estou a fim de saber. Tru tum tum tum, pá! E o facebook meio que não respeita meu estado de humor ou o dia maravilhoso que estou curtindo com a minha família. Pinta a imagem: você preparou um almoço saboroso no domigo, sentou com filha e marido, tomando uma cervejinha, dá uma espiadinha no face, porque o celular está ali e é irresistível, e BUMP! Mandela morreu, virou assunto do almoço. Ou você tem um jantar legal com as amigas, vai ao banheiro, dá uma espiadinha no celular e BUMP! Foto de criança desaparecida para compartilhar. Aí você lembra que o mundo é um lugar horroroso, perigoso, cheio de gente má, e se pergunta por que você colocou um filho, que você ama tanto, nesse mundo torto e por aí vai a paranóia.

Ok, você pode desligar o celular, evitar olhar, ter auto-controle... Acredite, eu mesma já tentei convencer pessoas que cancelariam suas contas no facebook, que tudo era uma questão de aprender a usar a ferramenta. Aprender a usar os recursos: dar um unsubscribe nos amigos mais sem noção e parar de receber suas atualizações, deixar de dar like nas páginas, dar uma formatada pra ficar mais com a sua cara, enfim. Quer saber? Foge do controle. Você não quer ver foto de cachorrinho sem pata nos minutos que antecedem o sono noturno e mesmo assim você acaba sendo bombardeado por essa imagem simplesmente por ter cedido à última bisbilhotada no aplicativo quando pôs a cabeça no travesseiro. É uma coisa que se joga na sua frente e antes de você conseguir avisar que está noutro humor, você já viu, já ficou triste, já ficou com raiva, ou com grande descrença na humanidade. Nem precisa ser tão gráfico assim quanto uma imagem, pode ser o compartilhamento de uma burrice gigantesca, uma tirinha machista ou uma frase do Lobão. Pra mim chega.
Eu não quero mais saber que aquela amiga que eu adorava na adolescência agora acha que todos os petistas deveriam morrer. Não quero mais ler sobre a criminalidade crescente no Brasil, os escândalos de corrupção, os estupros, os assassinatos de transsexuais... aff, tudo isso é horrível e eu quero ser ativista em algumas causas mas não em todas. Não quero a pressão de ler tudo, saber tudo que está acontecendo o tempo todo no mundo todo, na vida de todos os meus conhecidos. Eca. Quero estar disposta a abrir a página de um jornal e ler as novidades, e entrar na página policial APENAS SE eu quiser. Mandar um bom e velho oldfashion email pra uma amiga e perguntar a quantas anda a sua vida.

Eu já sinto que tenho mais tempo pras coisas realmente importantes da vida. Tipo checar minha conta no instagram ou no twiter - just kidding.

Lógico que nem tudo são só espinhos. O facebook é uma ótima ferramenta, ele aproxima, tem uma série de recursos legais, nada especificamente contra o programa. O problema está comigo mesma que não consigui lidar com o imediatismo, a quantidade de atualizações e etc, etc, vocês sabem.

O golpe final foi ver uma estatística dizendo que os adolescentes estão abandonando o facebook e migrando para o instagram e o whatsapp. Eu é que não ia ficar no meio da velharada! :)hehe!


terça-feira, 10 de dezembro de 2013

A corrupção nossa de cada dia.

POR JORDI CASTAN

A organização Transparência Internacional  divulgou, há poucos dias, o índice de percepção da corrupção em 177 países. O Brasil que em 2012 tinha 43 pontos de 100 possíveis piorou um pouco e nesta edição caiu para 42 pontos. E entre os 177 países pesquisados, o Brasil caiu da 69 posição em 2012 para a 72 em 2013.  O Brasil em 2001 ocupava o 46 lugar da lista e somava 40 pontos. Em 12 anos não conseguimos que o Brasil chegasse a 50 pontos de um total de 100 e passamos de 46 lugar ao 72. Uma situação que deveria preocupar muito mais do que preocupa.A corrupção é um câncer que esta aumentando em todo o mundo, mais de dois terços dos países pesquisados não chegam aos 50 pontos no índice de transparência.

Há com tudo bons exemplos que merecem ser analisados. Fora os campeões que alcançam entre 100 – 90 pontos – Dinamarca e Nova Zelândia, ambos com 91 pontos, um grupo de países se situa entre os 89 – 80 pontos – Finlândia, Suécia, Noruega, Singapura, Suíça, Holanda, Austrália, Canadá e Luxemburgo. No outro extremo da lista com entre 9 – 0 pontos – Somália, Coreia do Norte e Afeganistão.

Entre os países que estão mostrando bons resultados e que tem feito do combate a corrupção uma questão de Estado, gostaria de citar o caso de Ruanda, país que por trabalho acompanho de perto desde já faz mais de um ano. Ruanda é um país pouco conhecido, encravado no coração da África equatorial, com uma população de 11,6 milhões de habitantes, um índice de alfabetismo de 71%, uma renda per capita de US$ 1.400 e um PIB que cresceu no último ano 8,8%. O governo converteu o combate à corrupção em uma questão de estado e hoje Ruanda, com 53 pontos é o 4 país com o menor índice de corrupção em toda África e o 49º no mundo. Aparece na frente inclusive de África do Sul e fica atrás só de Botsuana, Cabo Verde e Seychelles.

Como se combate a corrupção em Ruanda? Primeiro aplicando o conceito de tolerância zero para os casos de corrupção, segundo julgando e condenando a prisão os corruptos e os corruptores. Mas principalmente mostrando o quanto a corrupção destrói os valores do país e o elevado custo econômico e social que a corrupção tem para a sociedade. A corrupção se combate primeiro em nível local. É nos municípios é pequenas comunidades rurais em que é mais fácil iniciar o combate a corrupção. Outro dos êxitos do governo ruandês no combate a corrupção é a melhoria dos serviços públicos, com serviços públicos mais eficientes há menos espaço para corrupção. “Quando os corruptos são identificados e punidos serve de modelo para outros” declarou no seu discurso na semana nacional contra a corrupção.

Aqui no Brasil continua o debate sobre se o mensalão existiu, sobre se os condenados na justiça devem ou não ser presos. A Copa do Mundo de 2014 reúne uma longa lista de situações potencialmente passiveis de corrupção, orçamentos em aumento e maá qualidade de obras públicas, que precisam ser reformadas pouco tempo depois de inauguradas, são alguns dos caos mais flagrantes. Casos de corrupção são divulgados pela imprensa com assustadora frequência e poucos chegam a ser condenados, quando o são, ninguém lembra que o dinheiro público desviado deveria ser devolvido. Pode ser que seja por essas e outras razões que em quanto o Brasil cada ano vai perdendo possições no índice elaborado pela Transparência Internacional, outros países, que tem menos possibilidades que o nosso, encaram o combate à corrupção, como o que deve ser, o combate a um câncer que destrói o país e os seus valores.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Arena de horrores

POR GABRIELA SCHIEWE

E então eu resolvo ir num mero jogo de futebol, entre times que sequer torço, apenas com a intenção de ver um bom jogo, visto que um lutava por uma vaga na Libertadores e outro precisando escapar do rebaixamento.

Logo que entro na Arena, dou de cara com um homenzarrão...e não é que até o Imperador estava na Cidade dos Príncipes!

Eta alegria boa, vamu que vamu que a coisa está esquentando...logo o Atlético-PR abre o placar, o Vasco desesperado, torcida agonizando no seu desespero de mais uma vez a caravela naufragar, e o jogo pegava fogo...

Aos 17 minutos de partida...explodiu!

"Art. 14. Sem prejuízo do disposto nos arts. 12 a 14 da Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990, a responsabilidade pela segurança do torcedor em evento esportivo é da entidade de prática desportiva detentora do mando de jogo e de seus dirigentes, que deverão: I – solicitar ao Poder Público competente a presença de agentes públicos de segurança, devidamente identificados, responsáveis pela segurança dos torcedores dentro e fora dos estádios e demais locais de realização de eventos esportivos;"

O artigo acima, do Estatuto do Torcedor, legislação muito bem elaborada e que visa a segurança do torcedor e de todos aqueles que compoe o evento, assim como pontua todos os responsaveis, é claro quando diz que a responsabilidade pela segurança do local é do mante da partida.

Ok! E agora tem opinião e empura e empura de tudo o que é lado...Opa, espera aí, estamos vendo nesse momento, exatamente o que ocorreu nas arquibancadas da Arena, opiniões diveras e empurra empurra de tudo quanto é lado.

Confere Arnaldo?

É gente, mais uma vez estamos vendo, ouvindo, escrevendo o que já ocorreu em diversas outras oportunidades nos estádios do Brasil e que a única preocupação é achar "o culpado" e não A SOLUÇÃO!

De que adianta, neste momento chegar a definição de que a culpa foi do clube mandante, Atlético-PR porque não cumpriu a determinação do Estatuto do Torcedor disponibilizando segurança suficiente para a manutenção do evento sem riscos de maiores monta; ou que foi da Polícia Militar que decidiu - sozinha ou com o apoio do Ministério Público - não entrar na Arena, a não ser que houvesse fato de risco; dos bandidos que se dizem torcedores?

Como se achar o culpado irá resolver alguma coisa. Resolveu nos outros casos de violência nos estádios que temos visto constantemente nos campeonatos no país? Claro que não!

Passou da hora de entidades desportivas, federações, governo, judiciário, justiça desportiva, patrocinadores e todos aqueles que estão envolvidos neste grande negócio coloquem como foco a segurança das vidas humanas e não a segurança do seu patrimônio financeiro.

Vasco caiu, Fluminense caiu, mas a verdadeira queda foi da esportividade e do bom sendo diante de bandidos que andam soltos e "torcendo" contra a vida alheia nos estádios.



Brazil 81

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


A imprensa internacional ainda repercute  a morte de Nelson Mandela e, do meu ponto de vista, tudo já foi dito sobre a sua vida. Portanto, são dispensáveis mais comentários. Exceto no que se relaciona ao fato de que para o líder sul-africano o esporte era uma forma de promover a paz. E não era apenas teoria, porque ele comprovou com ações.

A história de Mandela está marcada pela Copa do Mundo de Rúgbi, em 1995, a Copa Africana das Nações, em 1996, e o apoio à  ideia da Copa do Mundo de Futebol de 2010 teve o seu apoio logo no início. O fato é que depois de todos estes eventos, todos nós sabemos um pouco mais sobre a África do Sul e até fazemos turismo por lá.

Mas Mandela fracassaria no Brasil, porque acontecimentos como os de ontem em Joinville mostram que as pessoas não querem paz. As imagens percorreram todo o mundo e apenas ajudar a refroçar a imagem de um país voltado para a barbárie. Não vamos nos esquecer que durante a Copa das Confederações a imagem do país ficou muito mal vista no exterior.

É por isso que a Copa do Mundo parece ser uma péssima ideia. Porque é o evento mais mediático do planeta e, todos sabemos, tem gente querendo jogar água nesse chope. Há uma oposição encarniçada como dedo no gatilho e à espera de causar problemas. Mas volto a dizer: é má ideia, porque nenhum país pode viver sem turismo.

P.S. Aproveite e veja o índice que define os países mais pacíficos para se visitar no mundo.


Quer ser modelo?

POR ET BARTHES

Quando você pensa que já inventaram tudo, eis que surge a "Ugly Models", a primeira agência do mundo que contrata gente que não se ajusta aos "padrões de beleza estabelecidos" (expressão políticamente correta para "feios").




sábado, 7 de dezembro de 2013

Uma metáfora...


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Sempre tive a ideia de escrever um texto sobre o comportamento dos donos do poder (e os seus sequazes) em Joinville. Os mesmos que ao longo de décadas estiveram sentados (mais do que isso, agarrados) nas confortáveis cadeiras da vida pública da cidade, em todos os níveis.

É certo que podia usar muitas palavras para explicar a situação, mas um dia destes por acaso encontrei a resposta neste filme que apresento aqui. Se você, assim como eu, acha que a cidade insiste em caminhar a passos muito lentos para o futuro – ou mesmo empacar –, então precisa dar uma olhada.

O filme retrata o incrível o pavor que essa gente tem de dar passos à frente. É o que tem condenado a cidade à imobilidade, ao conservadorismo e à mesmice. E como este é um daqueles casos em que as imagens valem por mil palavras, encerro aqui este meu texto.

Mas não sem perguntar ao leitor e a leitora: não é a metáfora perfeita (ironicamente é um comercial de margarina)?


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Madiba já está fazendo falta

Nelson Mandela, PRESENTE!
POR FELIPE SILVEIRA

Vocês que dizem que a sociedade não é racista, vocês me dão nojo. Vocês fazem todo tipo de manobra pra fingir que não vêem e até mesmo se enganar que não há racismo. São patéticos. Querem a prova? Vou contar aqui um caso gravíssimo de racismo, ocorrido numa escola de ensino fundamental, em São Paulo, nessa semana. Se você achar uma desculpa pra dizer que isso não é racismo, você se encaixa naquele “vocês” da primeira frase.

A mãe do garoto Lucas, de 8 anos de idade, não conseguiu matricular o filho na escola na qual ele estudou esse ano, onde estão seus amigos e onde tem notas altíssimas (questão irrelevante, pois seria um absurdo mesmo que ele fosse o pior aluno do Brasil). Isso porque o garoto tem um cabelo black, que é bem da hora, por sinal, e a diretora, por causa do racismo, não gosta. A canalha mandou um bilhete para a mãe, pedindo para cortar o cabelo do menino, e quando ela se recusou, sofreu a retaliação na hora da matrícula.

A pergunta importante aqui é: quando essa diretora será presa por racismo, já que há a prova do crime? (Ah, a polícia já a chamou pra depor.) O problema é que casos como esses aparecem todos os dias, são denunciados e discutidos todos os dias, e um bando de safado finge que é normal e faz todo tipo de manobra pra achar uma desculpa.

O problema é que a gente vive numa sociedade que pensa como a senhora do vídeo abaixo (que me causa repulsa e pena), mas que precisa estar surtada pra falar essas coisas olhando para a câmera. “Veja:”



Nelson Mandela, o Madiba, a quem todas as homenagens serão poucas e insuficientes em comparação com a sua vida e seu legado, pregou o perdão (sem o esquecimento). Um perdão pra impedir uma matança e pra unificar a sociedade, brancos e negros, vivendo juntos, como iguais e irmãos. Mas para chegar ao ponto de perdoar precisamos superar o nosso apartheid, que é mais claro do que qualquer muro.

Minha homenagem a Nelson Mandela é lembrar disso aqui.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Jingle bells


A monotonia conservadora

POR CLÓVIS GRUNER

Foi um bom ano para a direita conservadora. Nos últimos meses, Reinaldo Azevedo passou a destilar seu ódio em coluna semanal na Folha de São Paulo, além de manter seu blog na Veja; esta, por sua vez, contratou de uma tacada só Rodrigo Constantino, Lobão e Felipe Moura Brasil. Na coluna de estreia do último, entre felicitações e elogios, alguns leitores iniciaram uma campanha para que a revista contrate também Olavo de Carvalho (em tempo: eu não sabia quem era Felipe Moura, mas o Google me informa que ele foi idealizador e organizador do livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, de Olavo de Carvalho, título tão megalomaníaco quanto o autor das nada minimalistas 616 páginas).

Fora da constelação Abril, outros nomes conservadores já assinavam colunas periódicas em títulos distintos: Luis Felipe Pondé e Demétrio Magnolli são colunistas também na Folha; o imortal Merval Pereira assina semanalmente coluna em O Globo; Pedro Bial apresenta anualmente o Big Brother Brasil, e assim por diante. Trata-se de um cardápio variado de nomes e trajetórias: há nele jornalistas, dois professores universitários, um economista, um roqueiro, um astrólogo e um mau caráter. Com tamanha diversidade, seria legitimo supor igual variedade de ideias. Não é o caso.

A ofensiva conservadora é monotemática: não importa quem ou onde escreve, os conteúdos orbitam em torno a alguns lugares comuns, a maioria deles de uma inatualidade de dar dó. Invariavelmente o roteiro é mais ou menos o mesmo: um texto conservador que não denuncia o perigo do gramscismo, por exemplo, não é digno do nome. Outro item obrigatório é insistir que vivemos em uma “ditadura cubana” ou, na melhor das hipóteses, muito próximos de nos tornarmos uma Venezuela, ainda que a esmagadora maioria desses autores não titubeie em tecer elogios a outras ditaduras, a brasileira e a chilena, por exemplo. Nem reclame da chinesa, desde que ela continue a lhes fornecer bugigangas. Além de Gramsci, Cuba e Venezuela, coisas e expressões como Foro de São Paulo, FARCs, patrulhamento politicamente correto ou petralha, entre outros, sempre agregam valor ao camarote.

Mesmo quem, pela trajetória intelectual, poderia imprimir um tom dissonante à monofonia conservadora, escolheu reproduzi-la. Leia um texto assinado por Pondé e Magnolli, dois acadêmicos com trajetórias respeitáveis, farta e variada publicação intelectual, estágios no exterior (provavelmente com bolsas pagas a soldo público; afinal, achincalhar o Estado e a universidade pública é uma coisa, mas recusar uma temporadazinha europeia com dinheiro da CAPES, aí já é vandalismo). O nome deles está lá, mas se os trocássemos pelos de Rodrigo Constantino, Lobão ou Olavo de Carvalho, não faria a menor diferença. Como a nivelação se fez por baixo, não apenas inexiste diferença significativa entre eles, mas impera o apelo fácil aos medos e ressentimentos de uma parcela das camadas médias que se sentem ameaçadas por esse “Isso” que os porta vozes do conservadorismo afirmam ser “a esquerda”.

SANHA PERSECUTÓRIA – O segundo aspecto nada tem de caricatural. A perseguição, o achincalhe, a desqualificação, a destruição de reputações, a calúnia, tornaram-se o desdobramento algo lógico de um estado de coisas onde sobra paranoia e falta bom senso, quando não simplesmente escrúpulo. O episódio mais recente é desta semana. Em seu blog, Rodrigo Constantino “denunciou” o caráter doutrinador da IV Jornada de História da Historiografia, que acontece na UFRGS. Com base apenas no cartaz, repetiu a ladainha de que o evento “sobre Che Guevara” era mais um exemplo da catequização marxista e esquerdista que grassa nas universidades brasileiras, notadamente nas chamadas ciências humanas. E vaticinou: “a imagem de um facínora assassino estampada em um evento sobre o uso político da história? O que os alunos vão aprender? Como transformar um assassino frio e sedento por sangue em um herói da justiça social?”.

A afirmação de Constantino seria uma estultice se a jornada tratasse de Che Guevara - um evento sobre o nazismo, por exemplo, não pretende ensinar os alunos a serem nazistas nem tecer o elogio a Hitler. Mas não é o caso. O evento aborda as muitas maneiras pelas quais o passado é permanentemente revisitado e, neste sentido, o cartaz é um primor de comunicação visual. A poucos rostos do século XX foram atribuídos tantos e tão distintos significados quanto o de Guevara: do revolucionário que inspirou a luta contra o “imperialismo ianque” até a sua “mcdonaldização”, suas muitas faces sintetizam o objetivo do evento, que não trata dele, não falará dele, não pretende fazer dele nem apologia nem elegia simplesmente porque... não é um evento sobre Che Guevara.

O caso de Constantino não é único. Há algumas semanas o site “Escola sem Partido” empreende verdadeira campanha difamatória contra uma professora paulista, campanha que encontra eco e repercute em outros blogs conservadores e nas redes sociais. Em comum nestas e em outras ocorrências, há a recusa ao debate, substituída pela sanha inquisitorial. Tenho algumas hipóteses para este gesto. Há a sedução midiática, primeiro. A maioria dos hoje alçados à condição de oráculo vivia há até pouco tempo em um relativo ostracismo. Rodrigo Constantino, por exemplo, escrevia artiguetes no Orkut onde defendia a privatização dos tubarões e era ridicularizado até por liberais de direita. Uma maior visibilidade conservadora é, sob certo ponto de vista, reação ao avanço de forças, movimentos, grupos, ideias, pautas e indivíduos à esquerda, cuja simples existência é lida como uma ameaça.

Em tempos onde o ressentimento e o ódio tornaram-se dois dos principais afetos políticos, não espanta que seja assim. O outro não é um adversário a ser confrontado, mas um inimigo a ser eliminado. A caracterização homogênea da esquerda, beirando ao caricatural e que recupera alguns conteúdos típicos da Guerra Fria é, neste sentido, bastante reveladora. Ela aponta, entre outras coisas, para a dificuldade dos conservadores de conviver em um ambiente democrático e de livre circulação de ideias. Não é coincidência que sua prática reproduz justamente aquilo que eles pretendem denunciar como comum à esquerda: a ira persecutória, entre outras coisas, coloca em risco a democracia ao fragilizar ainda mais um já frágil espaço público, porque não reconhece no outro nem legitimidade nem o direito de dizer e pensar diferentemente.

Há quem defenda a necessidade de uma direita conservadora afirmando que faz parte da democracia o confronto de ideias, o debate aberto e público. Concordo. Mas qualquer debate público deve ancorar-se em princípios que são os da razão e o do respeito ao outro. E há exemplos de sobra de que racionalidade e respeito não fazem parte da postura da maioria dos conservadores, que não raro recorrem à desqualificação, ao desrespeito, à agressão e à humilhação pública, quando não a mentira pura e simples, como estratégias de um debate que, sob estas bases, não pode existir, não existirá, porque efetivamente não é o que eles desejam.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Hora de celebrar?

POR JORDI CASTAN

Já estão as fanfarras de áulicos celebrando, a pleno pulmão, que foram entregues reformadas a Biblioteca Rolf Colin e a Casa da Cultura. É hora de parabenizar? Sim, mas nem tanto.

Na mesma semana a prefeitura informa que o restaurante popular, localizado no bairro Bucarein fechará para reformas, no mínimo durante meio ano. Dois temas chamam a atenção neste fechamento. O primeiro é que o restaurante foi inaugurado em abril de 2008, sendo portanto uma obra recente e não há informação do motivo de uma reforma que leve ao seu fechamento durante meio ano. O segundo é que seria importante - e contribuiria a melhorar a transparência sobre a gestão pública - divulgar o motivo para, em tão pouco tempo, já ser necessária uma reforma desta envergadura, pois o  fechamento durante tanto tempo deixa desatendidos os atuais usuários do restaurante popular. Desnecessário repetir aqui que o correto seria exigir responsabilidades ou aos autores do projeto ou aos executores da obra, caso fosse constatado que a reforma precoce é resultado de erros de projeto, de execução ou de fiscalização. Pela forma frouxa como são tratados os prazos no governo municipal, quem apostar numa reforma mais demorada tem muitas chances de ganhar.

A Biblioteca Rolf Colin foi interditada em 21 de setembro de 2010. É bom relembrar que pouco tempo antes tinha recebido uma ampla reforma e, daquela reforma, até agora ninguém foi responsabilizado e tudo ficou por isso mesmo. Joinville esteve com sua biblioteca interditada durante mais de três anos. Tempo demais para uma cidade que insiste em querer ser a segunda economia do sul do país.

A Casa da Cultura foi interditada em agosto de 2011 e ficou fechada durante mais de dois anos. As suas atividades ficaram comprometidas e os alunos foram afetados pelos cancelamentos de aulas, pela transferência de atividades para outros locais e tampouco, neste caso, pode-se dizer que a sociedade se mobilizou. A sensação é que Joinville convive com uma mania de grandeza ao tempo em que padece de um complexo de inferioridade. Ninguém mais se surpreende com prédios públicos interditados. Eles passam a fazer parte da nossa paisagem urbana e fica por isso mesmo.

A lista dos prédios públicos em estado precário ou interditados ainda é longa e alguns devem demorar em sair da interdição. E assim Joinville vai convivendo com essa realidade de ser uma rica cidade pobre. Mais pobre de espírito que de recursos, mas essa é outra historia.

Parabéns por devolver ao joinvilense duas importantes referências culturais. Agora para que as felicitações possam ser completas seria bom informar:  Qual é o cronograma de entrega dos outros prédios públicos interditados? Qual o programa permanente de manutenção e preservação do patrimônio público cultural e histórico de Joinville? Quais os recursos e quem são os responsáveis? Entre os bens públicos que já mostram sinais preocupantes de deterioração (e incompatíveis com a data da sua entrega a população) estão o Parque José de Alencar ( da Cidade) e o Parque das Águas, em que o mato e o abandono estão ganhando a batalha. Outro é a nova Rua das Palmeiras que já perdeu a cor e as flores dos primeiros meses e precisa de um olhar mais atento.