sexta-feira, 19 de julho de 2013

Átila, o Huno contra a bancada religiosa

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Acho que todas as pessoas têm um Átila, o Huno recalcado no subconsciente. É aquela parte da mente que não tem saco para os babacas e, em vez de conversa, prefere quebrar a louça toda. Ou, para usar uma linguagem freudiana, o Átila subconsciente representa o ódio primordial que desperta nos homens a propensão para a destruição e a crueldade.

Eu confesso. Tenho tido uma trabalheira danada para controlar o meu Átila subconsciente nos últimos tempos, em especial por causa de certos religiosos que não param de se meter na vida dos outros. E nesta semana o coitado foi à loucura ao ler uma notícia que só pode coisa de gente que fuma cocô.

O pessoal da tal bancada religiosa - e o infausto Marco Feliciano, claro - anda por aí a pressionar a presidente Dilma Rousseff para ela vetar o projeto que legisla sobre o atendimento de emergência, nos hospitais, a mulheres vítimas de violação. O que pretendem os religiosos? Atrapalhar, claro.

O objetivo é impedir que o projeto ganhe forma de lei porque lá no texto tem a expressão “profilaxia da gravidez”. E eles acham que isso poderia abrir uma brecha legal para permitir a interrupção voluntária da gravidez (expressão politicamente correta para aborto). De tão focados no aborto, os caras sequer cogitam olhar para as mulheres.

O projeto prevê que as mulheres vítimas de estupro tenham direito a atendimento emergencial e preferencial. Porque há um protocolo específico a seguir: o procedimento deve ser feito em 72 horas, período para tomar o coquetel de remédios contra o HIV e outras doenças sexualmente transmissíveis, além da pílula do dia seguinte.


O projeto é bom, os religiosos são medievais. Traduzida, a pretensão dos caras tem outra leitura: danem-se as vítimas de estupro, porque o importante é impedir qualquer coisa que cheire a aborto. Fico aqui a pensar: nem dá para ter uma discussão com argumentos racionais, porque é tudo muito irracional.

E o meu Átila subconsciente fica a imaginar um tratamento profilático para esses caras: uma surra de chicote, daquelas de criar bicho. Mas isso é o Átila a falar, não eu.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Uma introdução à vida não machista

POR CLÓVIS GRUNER

No último sábado, dia 13 de julho, cerca de três mil pessoas ocuparam as ruas do centro de Curitiba, durante a terceira Marcha das Vadias. Parte do calendário de manifestações da cidade, seguindo uma tendência iniciada em 2011, em Toronto, no Canadá, e que rapidamente se internacionalizou, a deste ano teve como tema “Desconstruindo o machismo dentro de todxs nós”. Aos desavisados ou insensíveis, pode parecer estranho falar de machismo em pleno século XXI. Mas não é preciso ser mulher para saber que não: apesar dos avanços, ainda há muito por fazer e mudar.

Hoje como ontem, o machismo continua a produzir violência. E não apenas nas sociedades e culturas orientais, importante dizer, e tampouco apenas a física. Igualmente cruel e violento é o machismo banalizado nas relações cotidianas, a naturalizar práticas e discursos que inferiorizam a mulher, quando mesmo não a tomam e tornam culpada pela brutalidade de que é frequentemente vítima. Um dos cartazes recorrentes nas Marchas, aliás, denuncia um dos traços emblemáticos desta atitude: vivemos em uma sociedade que insiste em ensinar às mulheres como não serem estupradas, quando o correto e necessário é ensinar os homens a não estuprar.

A POLÍTICA DO DESCONFORTO – Não é casual, portanto, que o corpo se faça presente na Marcha das Vadias de maneira tão intensa, nos cartazes, nas faixas, nas palavras de ordem. Mas ele é também um “campo de batalha”, transformado ele próprio em um discurso, um meio e sua mensagem. E não se trata apenas de reivindicar uma política que assegure, entre outras coisas, o direito ao corpo, mas de inseri-lo efetivamente na política. Esta é uma das razões pelas quais a Marcha das Vadias, e o feminismo de modo geral, provoca ainda tanto incômodo. Para muitos de nós, ver e ouvir mulheres afirmando-se como sujeitos de direitos é ainda desconfortante. Mas, creio, não são os seios nus a desfilar nas ruas a razão principal do desconforto.

Mostrar o corpo e exigir respeito e dignidade é confrontar o machismo, como disse acima, nas maneiras muitas vezes insidiosas com que ele se manifesta – o direito que os homens acreditam ter de tutelar os modos e maneiras femininos, por exemplo; ou os muitos meios pelos quais naturalizamos e justificamos desigualdades de gênero. É subverter a ordem estabelecida segundo a qual somente os homens héteros detém o privilégio de exercerem livremente sua sexualidade, relegando à mulher a humilhante condição de “objeto de desejo” do gozo masculino. É explodir os papeis sociais que definem, desde a infância, os lugares e as funções que cabem a meninos e meninas, mostrando que as relações de gênero, com suas muitas hierarquias, não são um dado da natureza, mas construtos históricos, cultural e socialmente estabelecidos. É expor o ridículo da postura conservadora e machista que, à falta de argumentos, agarra-se a estereótipos grosseiros para desqualificar as mulheres, o feminismo e as mulheres feministas, opondo a ele e a elas as Amélias e Marias do imaginário masculino Ocidental e cristão.

O CORPO É LAICO – De um modo muito singular e intenso, a Marcha das Vadias expõe ainda uma de nossas mais lamentáveis contradições: a precária laicidade do Estado brasileiro. E o faz trazendo para o espaço público um direito que os seguidos governos, à direita e à esquerda, insistem em negar, reféns que foram e são do fundamentalismo religioso: o aborto. Assunto polêmico e controverso, mas ao mesmo tempo incontornável, trata-se de uma pauta que apareceu já nas primeiras Marchas. Se na Europa a descriminalização do aborto já é realidade na maioria dos países, na América Latina caminhamos a passo de tartaruga, quando não de caranguejo: à exceção do Uruguai, de Cuba e em algumas cidades do México – incluindo a capital –, nos demais países a legislação tem viés criminalizador.

Por que o tema é importante? Ora, porque neste caso não se trata apenas do direito ao corpo, um motivo em si legítimo, mas de reconhecer à mulher o direito de não ser tratada como criminosa por decidir e escolher, livremente, sobre seu corpo, sua vida, seu futuro, etc... Mas trata-se também de um caso de saúde pública: praticado em larga escala, e muitas vezes sem as mínimas condições de higiene, ele tem sido responsável pela morte de milhares de mulheres e pela traumatização de outras tantas, submetidas a uma intervenção extremamente invasiva sem recursos adequados e sem apoio, principalmente psicológico.

Tal como disposto hoje, o debate privilegia unicamente o embrião e desconsidera a pessoa com projetos e propósitos, a mulher grávida. Tal inversão se sustenta em um mito moral: o da maternidade como sendo algo instintivo, parte da “natureza feminina”, o sofrimento tornado compulsório: ser mãe, afinal, é padecer no paraíso. Não é. Descriminalizar o aborto não é uma panaceia. Não se formarão filas quilométricas de gestantes nos postos de saúde – descriminalizar o aborto não se confunde com incentivá-lo. Trata-se de um direito de escolha que não pode ser tolhido a quem dele necessite ou queira a ele recorrer, porque outros julgam que seus valores e princípios são não apenas corretos, mas universalmente válidos. O corpo é laico, e não pertence ao Estado, nem tampouco à religião. As vadias estão a gritar isso nas ruas. Estamos dispostos a ouvi-las?

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Tá amarrado?



Bateria, o jovem atleta que já passou da fase de promessa

O Chuva Acida mais uma vez traz um atleta de ponta e, aproveitando a passagem do jogador Bateria pela cidade, no seu período de ferias, cedeu um tempinho na sua agenda atribulada para bater um papo.

Uma conversa descontraída em que o jogador expressou a sua maneira simples, humilde, mas muito focado e certo daquilo que quer.




Dione Alex Veroneze, conhecido como Bateria, catarinense de Palmitos, por eleição, apenas 22 anos.

Construiu a sua carreira solida, apesar da pouca idade, na Krona Futsal, conquistando diversos títulos e, em agosto de 2011, foi atuar num dos principais times de futsal do mundo, o Inter Movistar, da Espanha.

Assim que chegou, já começou a atuar e marcando muitos gols e sem nenhuma dificuldade de adaptação, mostrando ao mundo a sua capacidade técnica e condição física invejáveis.

Agora, então, vamos conhecer um pouco mais do craque Bateria.



Gabriela Schiewe - Como foi tomar a decisão de sair da Krona e, principalmente do país, com apenas 20 anos?

Bateria - Foi uma serie de fatores. O principal foi o de jogar no maior clube da história do futsal. O apoio maciço da família devido ao meu sonho de ser um grande jogador de futsal e, ainda, e que ajudou muito a tomar esta decisão, foram as trocas de ideia com o James (supervisor da equipe e que jogou na Espanha), transmitindo confiança e mostrando que seria uma ótima oportunidade, assim como com os jogadores na época, Andre, Franklin e Fernando. A soma de tudo isso me deixou muito convicto da minha decisão e não tive qualquer receio de encarar esse desafio.

GS - A sua adaptação no clube foi muito rápida, a que se deveu isso?

Bateria - 1- Ter aprendido o idioma em dois meses;
                2- Os jogadores brasileiros do clube;
                3- A confiança passada pela equipe de que, apesar de ser novo, eu já era um jogador pronto, não cheguei lá como uma simples promessa.

GS - Como você vê o futsal na Espanha e aqui no Brasil?

Bateria - O estilo de jogo espanhol é mais tático, cadenciado, no Brasil a qualidade individual é muito elevada, o jogo é mais ágil. Já, no que tange a estrutura a diferença ainda é bem grande, se comparada a maioria dos clubes. Lá os campeonatos são organizados com antecedência, com seus jogos limitados, locais de treino, dias de jogo. No começo da temporada você sabe os jogos que fará no seu decorrer o que, no Brasil ainda não existe essa segurança de calendário, principalmente, mas já esta muito melhor, a tirar pela evolução da Liga Nacional.

GS - A crise financeira na Espanha esta atingindo os clubes?

Bateria - Sim, praticamente todos. No futsal, pois no futebol nem tanto. Pelo menos quatro equipes já tiveram que abandonar a Liga principal por problemas financeiros.

GS - E isso chega a atingir o Inter Movistar?

Bateria - Existe uma preocupação, claro, mas o Inter é um time com bases solidas, muito organizado e com um grande patrocinador. Surge uma certa insegurança, as vezes, mas os profissionais do clube estão nos dando as condições ideais para que continuemos desenvolvendo o melhor trabalho e sem temer o que ira ocorrer lá na frente.

GS - Quanto tempo de contrato? Pretende cumprir até o fim?

Bateria - O meu contrato vai até julho/14, e pretendo cumprir até o fim.

GS - Tem planos de retornar ao Brasil quando terminar o seu contrato lá?

Bateria - Não. Pretendo continuar na Europa por um bom tempo e, só mais para o final da carreira retornar ao Brasil. Claro que pode surgir alguma proposta irrecusavel ou, ainda, algum imprevisto e retorne antes, mas os planos são de permanecer por lá.

GS - E a Seleção?

Bateria - Fui convocado duas vezes, mas o clube não liberou. Na primeira entendi perfeitamente, pois estávamos disputando partidas finais do campeonato, já a segunda vez fiquei um pouco chateado, eles poderiam ter visto um pouco mais o meu lado como jogador. Mas conversei com eles, entendo e respeito a decisão. Além do que, deixaram claro que, caso venha a ser novamente convocado, nas datas oficiais, eu serei liberado e quero muito jogar pela Seleção. Agora é esperar uma convocação.

Bateria demonstrou nessa entrevista que ser jovem não é impedimento para se desenvolver um trabalho serio, seguro, com extrema competência e sempre planejando o próximo passo.

O seu sucesso não é por acaso, sonhava com isso e buscou arduamente e com muita determinação a chegar onde esta hoje e quer mais e, por isso continua fazendo o seu trabalho.

No entanto, apesar da determinação de se tornar um grande jogador de futsal, jamais deixa de lado valores basilares como respeito ao próximo, amor a sua família, sempre enfatizando que sem o apoio deles não conseguiria alcançar o que tem hoje.

O jovem Bateria, já é considerado um grande atleta, figurando dentre os melhores, mas a humildade lhe acompanha como elemento fundamental em toda sua caminhada, sempre focado a alcançar um degrau a mais.

Acreditar em Deus? Não, obrigada.


POR FERNANDA M. POMPERMAIER

O bom senso orienta: não discuta política, religião ou futebol.

Vamos discutir então temas que não causem nenhum impacto na nossa vida diretamente. Que não mexa com as nossas certezas, formas de ver o mundo ou se relacionar.

É isso mesmo?

Não posso concordar.

Quero acreditar que no meu circulo próximo de amizade ou dentre os leitores bem resolvidos desse específico blog podemos sim discutir temas polêmicos da forma como eles devem ser abordados: com respeito e tolerância. Vale lembrar que ateísmo, homossexualidade ou aborto AINDA são temas polêmicos no Brasil, mas não o são em muitos outros países, como, por exemplo, a Suécia. Aqui, se digo que não sigo nenhuma religião ou que não acredito em Deus, muitas pessoas respondem: Claro.
No Brasil, nos poucos momentos em que toquei no assunto, ouvi todo o tipo de sermão, inclusive um: você vai arder no fogo do inferno! E se não acredito em Deus automaticamente não acredito em Diabo, inferno e etc... então não chega a ser, assim, uma ameaça que me tire o sono. Mas vamos lá, é difícil para muitas pessoas compreender uma forma de viver que não abrange Deus. Desde que nascemos ouvimos que Ele existe e cada religião se encarrega para da sua forma manter a tradição e a crença dos fiéis através dos rituais, leituras, sermões, catequeses e outros.

Eu cresci numa família católica bastante praticante. Fiz batismo, comunhão, crisma, fui coroinha, coordenadora de grupo de jovens... participei de todas as formas possíveis da vida na igreja. Mas sempre tive perguntas que ficavam sem respostas. E na academia eu aprendi que dúvidas são boas e que bons projetos começam com boas perguntas. Nunca desrespeitei minhas questões e os desejos de solucioná-las. Fui atrás de respostas e passei por algumas fases. Primeiro achei que o espiritismo fazia sentido, depois desencantei e me convenci de que "deve existir uma força maior", que devemos ter alma ou algo que irá durar para sempre. Mas logo percebi que esse na verdade era o meu desejo infantil de não aceitar o fim como ele realmente é: o fim.

Entrei em sites de ateus com fóruns de discussão, li livros do Richard Dawkins, assisti documentários... E tudo fez mais sentido.
Foi um momento complexo na minha vida. Foi difícil aceitar que não exista mais nada além do que vemos, que o universo é gigante, que a humanidade é um acaso e que a minha vida é um ponto insignificante na história da Terra.
O raciocínio foi o seguinte: a Terra tem aprox. 4,5 bilhões de anos, o ser humano vive na Terra há aprox. 200 mil, desses apenas nos últimos 50 mil anos os grupos de seres humanos tiveram algum tipo de ritual relacionado à morte ou a criação de Deuses para explicar o inexplicável. O sobrenatural sempre foi uma resposta para perguntas sem resposta. Quando o homem não podia explicar o sol, os trovões, a chuva, ele tinha os deuses relacionados à natureza. A partir do momento em que a ciência passou a explicar esses fenômenos, a religião foi preenchendo outros vazios. Hoje a evolução é aceita por muitas religiões então "sabe-se" de onde viemos, mas ainda não se explica o antes do Big Ben, e aí alguns colocam Deus. Eu prefiro ficar com a pergunta sem resposta.
A morte também é outra questão fundamental porque ninguém morre e volta para contar. Eu já vi corpos se decompondo e não acredito em nada que meus olhos não vêem então pra mim morreu, vira comida de minhoca, simples assim.

Não me leve a mal, não tenho nenhum preconceito com quem acredita em vida após a morte, e sinceramente, desejaria profundamente que eu estivesse errada e que eu tivesse uma grande surpresa depois da minha morte. Só teria a ganhar. Imagine que maravilha reencontrar as pessoas que amo e de alguma forma perpetuar tudo que hoje eu sou. É muito difícil, por exemplo, saber que minha filha não é imortal. Mas esse desejo não me convence de que isso possa ser verdade. A verdade para mim é essa: não existe nada entre o céu e a terra além de ar. Eu acredito no aqui e agora, não acredito em milagres, não acredito em Deus e se tiver de dizer que acredito numa força maior que rege toda a vida no universo e no nosso planetinha preciso dizer que ela deve ser a gravidade.

Se quiser ler mais a respeito, o site que comentei é esse: http://ateus.net/

E o Richard Dawkins é esse:
 

terça-feira, 16 de julho de 2013

Por um dia do homem que erradique o machismo

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Pode parecer contraditório, mas o dia do homem possui várias serventias, inclusive para uma sensibilização que erradique o machismo de nossa sociedade. A data comemorada no dia de ontem, infelizmente, já foi absorvida pelo mercado e tende a impedir este objetivo ou difundir o que não é pertinente para o momento. As perfumarias, lojas de roupas masculinas e setores correlatos desconfiguraram os reais debates,os quais precisam ser evidenciados.

E por mais que o Ministério da Saúde utilize a data para campanhas contra doenças exclusivamente masculinas, como o câncer de próstata, por exemplo, e também que grupos feministas alertem sobre uma data pela qual "celebra o incelebrável", a data serve para o alerta dos milhões de momentos de violência contra a mulher e que acontecem diariamente mundo afora e cometidos pelos homens. Humilhações, agressões físicas, morais, verbais, institucionais, e várias outras situações que estamos cansados de falar aqui no Chuva Ácida precisam parar de existir.

Infelizmente, isto ainda não é uma pauta estatal. As Secretarias de Direitos Humanos e de Políticas para Mulheres, ambas do governo federal, poderiam muito bem utilizar esta data para campanhas que atinjam os homens de forma mais direta. O movimento feminista atinge um número maior de mulheres a cada ano que se sucede; porém, é um pouco tímido no diálogo com o público masculino e tem um grande campo para atuar. Além da proliferação dos movimentos de contestação feministas, precisamos da regressão do machismo institucionalizado em nossa sociedade. O 15 de julho precisa promover a mesma libertação de um 8 de março.

Desta forma, ao invés de celebrarmos uma data de cunho meramente comercial ou ligado à saúde pública, promoveremos uma mudança no perfil de nossa sociedade. O processo é lento, tortuoso, mas a longo prazo pode surtir grandes efeitos. Ao invés do enfrentamento e da simplória negação, devemos aproveitar as oportunidades. Ao invés da pura comemoração, o esclarecimento. Ao invés do consumismo, igualdade para todos.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A Xuxa curte, a criançada se diverte...*

POR ET BARTHES

Sem palavras. Apenas legendas.


* Dica do leitor Bruno Costa.

Não se faz o futuro com ideias velhas


POR JORDI CASTAN
A criatividade é um produto escasso e pouco valorizado às margens do Cachoeira. Desafio qualquer pessoa a indicar uma única ideia inovadora, criativa ou simplesmente nova que tenha sido proposta e implementada em Joinville nos últimos anos.

A situação é mais preocupante porque além da sistemática falta de criatividade, incorporamos ao nosso entorno outras características que combinadas são perversas. A primeira é a falta de curiosidade para aprender, para buscar novos conhecimentos, novas experiências e nos questionar ao ponto de 
colocar em xeque as nossas "verdades". Ao deixar de questionar, aceitamos como verdadeira uma série de falácias, inverdades e bobagens que, por se convertem num lastro impossível de carregar, nos impede de avançar.

A segunda é a pior: a nossa prepotência e a arrogância, que se converte em falta de humildade. Esta falta de humildade é a que nos impede de aprender. Porque nos impede aceitar nossa ignorância, nossa incompetência e nossa falta de capacidade para sair desse circulo vicioso em que estamos mergulhados faz quase um quarto de século.

1 MILHÃO DE HABITANTES - Não está claro se a Joinville do milhão de habitantes é uma visão ou uma quimera. O que fará ou não a diferença nesta Joinville imaginária, que deverá ter mais de um milhão de habitantes daqui a trinta anos, são as decisões que tomemos e as que não tomemos hoje. A diferença não está em fazer melhor as mesmas coisas que fazemos hoje. O que poderá fazer de Joinville uma cidade melhor, competitiva e inovadora está intimamente ligado à nossa capacidade, como sociedade, de criar, inovar e desenvolver novos modelos de cidade. Ou seja, de incorporar novos parâmetros e novas premissas.

Para poder traçar as linhas mestras desta Joinville do futuro é preciso ter a capacidade de enxergar além do horizonte. É necessário identificar o essencial e ser capaz de sonhar uma nova realidade. Porque primeiro precisamos sonhar, só a partir desse ponto será possível iniciar um processo de mudança.

Inútil dizer que esta não seria uma empreitada fácil, até porque pode parecer uma meta inatingível. A sua dificuldade maior reside nas nossas cabeças e nas dos nossos líderes. Ao priorizar o que é possível, estabelecemos como padrão o pragmatismo, a racionalidade. E o resultado será inevitavelmente mais do mesmo. Pode ser que agora as coisas se façam melhor, que o desperdício seja menor e que até se administre melhor. No momento, não há nem certeza que isso seja verdade. A ideia que o ótimo é o inimigo do bom encaixa bem e consolida essa forma de pensar e de agir. Assim não precisamos buscar a excelência e nos satisfazemos com a mediania.

Não há em Joinville um think tank, uma fábrica de ideias, um grupo focado em pensar além do possível. Não há preocupação em identificar modelos de cidades inovadoras, sustentáveis, modernas e criativas. Cidades que são consideradas internacionalmente como referência e que poderiam inspirar uma profunda mudança de modelo. Aqui parece que algum decreto municipal proíba pensar fora da caixa. O sistema não estimula e tampouco permite.


Nesse quadro, tem muitas chances de acertar quem aposta em que nada vai mudar substancialmente nas próximas décadas e que a Joinville daqui a 30 anos será só uma cidade maior. É que o nosso futuro será mais do mesmo.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

A luta das ruas (um contraponto a Moacir Bogo)

Foto do Movimento Passe Livre
POR MAIKON JEAN DUARTE

Na segunda-feira (08/07/2013), em artigo publicado no jornal A Notícia, o empresário do transporte coletivo Moacir Bogo comentou da utopia que é a tarifa zero universal, ignorou o debate sobre a PEC90, assim como deixou de lado todo acúmulo de considerações construídas coletivamente sobre mobilidade urbana.

A redução da carga tributária serve somente para atender às necessidades das empresas de transporte coletivo. É dinheiro que o Estado deixa de recolher de quem lucra com o direito de ir e vir da população. É dinheiro que não será investido na saúde e na educação. É uma política de favorecimento de uma minoria, em detrimento da imensa maioria, o povo. Por isso, movimentos sociais, como o Movimento Passe Livre, não defendem a redução de impostos para os grandes empresários.

O MPL não tomou as ruas nas últimas semanas. Em Joinville, há oito anos as ruas são ocupadas na defesa de um transporte público, gratuito e de qualidade. Fato ignorado pelo articulista. O povo ocupa as ruas convicto quanto à implantação da tarifa zero. É possível pagar a conta através do IPTU progressivo, ou seja: quem pode mais paga mais, quem pode menos paga menos e quem não pode, não paga.

Também é possível cobrar por meio das multas do estacionamento rotativo, tributações dos grandes empresários do setor industrial e da especulação imobiliária. Nada mais justo que pagar a conta quem lucra com o trabalho diário de milhares de pessoas.
Um reflexo das lutas populares foi a PEC90. A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados aprovou a PEC90, que dispõe o transporte coletivo urbano como um direito social no Artigo 6 da Constituição Federal. Segundo o texto, o transporte “cumpre função social vital, uma vez que o maior ou menor acesso aos meios de transporte pode tornar-se determinante à própria emancipação social e o bem-estar daqueles segmentos que não possuem meios próprios de locomoção”.

Uma pergunta que fica no ar. Como duas empresas privadas, cuja concessão é questionada por operar na ilegalidade há mais de 40 anos, irá atender um direito social? Por isso, as mobilizações defendem uma empresa pública de transporte com tarifa zero para todo o povo. E a conta? Será paga por quem lucra milhões.

Maikon Jean Duarte é professor na rede estadual e privada de ensino