quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

E você? É um bom consumidor?

POR ET BARTHES

O filme tem cinco minutos de duração e fala sobre o “bom consumidor”. De forma simples e com uma produção barata, explica a sociedade de consumo nos dias que correm. Mais do que isso, mostra tim-tim por tim-tim o papel que cada um de nós deve exercer nessa sociedade. A locução é em inglês, mas com legendas em espanhol.

Zicas e zarcões


POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

Há duas razões que me levam a repercutir o texto do Felipe Silveira, publicado na segunda-feira aqui no Chuva Ácida.

ZICAS - A primeira é que ele cita a minha coluna de domingo no AN. Para quem não leu, é um texto no qual comento essa fissura que muita gente tem de apontar a bicicleta como alternativa para a mobilidade urbana em Joinville. Não é. É mais ou menos como pretender curar um câncer com aspirina. E sem querer repisar os argumentos apresentados no jornal, limito-me a tentar esclarecer uma dúvida exposta pelo Felipe: se a bicicleta serve para a Europa e se serve para Joinville.

A resposta e simples. A bicicleta serve para algumas cidades da Europa, como para algumas cidades das Américas ou da Ásia. Não serve para Joinville. Por causa do clima sufocante no calor e pelo tempo chuvoso em todas as estações. A natureza é o meu argumento. E já que vamos comparar com a Europa, um exemplo. A bicicleta também não serve para Lisboa, conhecida como a Cidade das Sete Colinas. Com essa indicação de relevo - que indica subidas e descidas íngremes - fica fácil perceber que a capital portuguesa não é o paraíso das zicas.

ZARCÕES - O segundo motivo não vem do texto do Felipe, mas do filme que mostra a entrevista com o estudante de marketing Ivan Rocha de Oliveira. O futuro marketeer propõe a criação, em Joinville, de um passe mensal no transporte público (é sempre no singular), a exemplo do que acontece em Portugal. Sob esse aspecto, só tenho uma coisa a dizer: é inacreditável que isso ainda não exista em Joinville. Em que século vive esse pessoal dos transportes?

Mas a minha concordância acaba aí. O que Rocha de Oliveira não explicou na entrevista é que os passes em Lisboa, por exemplo, são multimodais. Isso significa que há outras formas de transportes públicos (repito: outras formas). Eu, por exemplo, uso três tipos entre a minha casa e o trabalho: trem, barco e metrô de superfície (o tal VLT que as autoridades de Joinville nem aceitam discutir). Só me recuso a usar ônibus porque é um inferno: concorre com os carros e é a antítese daquilo que entendo por mobilidade.

Outra coisa que o estudante não referenciou foi que em Portugal o transporte público é tendencialmente público e subsidiado pelo governo. Aliás, o setor acabou se tornando um problema, agora que o país está sob controle da Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) por causa da crise. Os cortes nas despesas estão a obrigar essas empresas a criar administrações mais racionais. Os buracos financeiros são uma maravilha.

A proposta de Rocha de Oliveira, apesar de bem intencionada, nem de longe toca no que é essencial. Não dá para acreditar que, apenas pela implantação do passe mensal, as pessoas passem a andar de ônibus. Com todo respeito, é uma ingenuidade. A resistência a andar de ônibus tem pelo menos duas causas. A primeira é cultural, o que chamaria o “novo-classemedismo” – por declinação de novo-riquismo -, que leva a preferir o carro. E a outra é óbvia: a má qualidade do sistema de ônibus, que por si só não faz um sistema de transportes públicos a sério.

Uma coisa é certa. As pessoas só vão optar pelos transportes públicos quando houver alternativas e serviço de qualidade. E só com o ônibus a palavra “alternativa” fica banida do discurso. Pensar no transporte público apenas com ônibus é um erro crasso que vai custar caro à cidade num futuro bem próximo. Mas, como diria o conformista, dos males o menor. Com as ruas entupidas de carros e zarcões, talvez as pessoas se lembrem de escolher a bicicleta como alternativa. Não porque seja agradável, mais porque talvez seja a única maneira de alguém conseguir de locomover.

P.S.1. A foto que ilustra o texto é de Amsterdam. Lá as pessoas usam a bicicleta para depois pegar outro tipo de transporte.
P.S.2. O texto do AN. http://www.clicrbs.com.br/anoticia/jsp/default2.jsp?uf=2&local=18&source=a3583063.xml&template=4191.dwt&edition=18497&section=1205

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Existe uma lógica, sim!

POR CHARLES HENRIQUE

Qualquer pessoa sabe planejar a sua vida, a sua casa, o seu trabalho, o seu deslocamento diário, e outras várias responsabilidades do cotidiano. O problema é o planejamento ser executado de forma errada. Com as nossas cidades, mais especificamente Joinville, o problema é o mesmo: existe planejamento, mas historicamente as pessoas responsáveis o executaram com interesses, debruçados em ideologias e especulações.

Existe na cidade o discurso de que o espaço urbano foi ocupado de maneira desordenada por causa da industrialização acelerada, combinada com o êxodo rural e a migração. Para isso invadiram-se mangues, morros, e houve um grande espraiamento urbano, tornando assim ineficiente o provimento por parte do poder público da infra-estrutura urbana e social. Esta ideologia inclusive foi absorvida por urbanistas, historiadores, geógrafos e demais estudiosos da área, que difundiram para toda a sociedade.

O grande erro que cometemos nisto tudo, é que não conseguimos perceber os porquês da (re)produção da cidade. A ocupação urbana foi – e sempre será – um reflexo de toda uma dinâmica socioespacial, onde interesses sempre estarão em jogo pela melhor localização, ou seja, pelo melhor “ponto” para se habitar, negociar ou, apenas, especular. Assim, quem consegue controlar as intervenções públicas, vai ditar as regras, pois ocupará a cidade de uma maneira tal, que propicie a realização de todas as suas necessidades no menor espaço de tempo, devido a um menor deslocamento possível.

Como Joinville teve em suas origens um dinamismo econômico muito forte, era natural que as classes comerciais sempre fossem vinculadas a setores da política, e ocupantes de posições de tomada de decisões. O poder e o capital são os principais vilões da história de nossa cidade. Eles, articuladamente, intervieram para que a ocupação urbana acontecesse de forma que os privilegiassem, em detrimento da classe trabalhadora.

Ao analisar a cidade como um todo, veremos que os trabalhadores foram “empurrados” ao longo dos anos para bairros com péssimas estruturas (aterros de manguezais ou distantes das regiões centrais), o mais longe possível do trabalho e do cotidiano em si. Consequentemente, tudo ficou mais difícil para quem não tem o controle sobre a ocupação urbana. As ARTs são exemplo dessa instrumentalização. Querem tornar o que é rural numa “área urbana com uso controlado”. Transição para quê? Um perímetro urbano maior? Estamos cometendo os mesmos erros da década de 60?

Será então que a cidade de Joinville foi ocupada desordenadamente? Ou, cada bairro, cada loteamento, cada avenida foram um “quebra-cabeça”, onde as peças seriam calculadas a fim de reproduzir os interesses de setores da sociedade? Podemos estar evidenciando uma ideologia que esconde todos os erros cometidos até hoje.

Anúncio classificado

POR ET BARTHES

Até poderia parecer uma coisa machista postar este filme. Mas como a dica foi de uma feminista, então liberou. O filme mostra a ideia “genial” de uma moçoila que diz estar de partida para Paris (na França, faz questão de esclarecer), mas não tem o dinheiro para a passagem. A solução é vender o seu carro, um Ka. O anúncio classificado é algo um tanto inusitado. Pode ser algum hoax (Mercado Livre), mas mesmo assim devemos considerar que a moça tem um ponto de vista. Ou melhor, dois. É a democratização da criatividade publicitária.


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aumento da tarifa precisa ser discutido a sério


POR FELIPE SILVEIRA

Não lembro quando comecei a me interessar por política. Desde muito pequeno eu já gostava disso. Mas, certamente, minha primeira atitude política pública foi em um protesto contra o aumento da tarifa do transporte coletivo há cerca de dez anos. Eu estudava no colégio Plácido Olímpio de Oliveira, no bairro Bom Retiro, e nós fizemos um protesto no terminal norte. Se não me engano, foi nos mesmos protestos em que uma galera foi presa no centro, que reuniram cerca de 3 mil pessoas. Nunca vou esquecer como descobri o gosto de spray de pimenta. Se você não sabe, não queira saber. Detalhe: éramos um monte de crianças e adolescentes, não passávamos de 50, e um pessoal simpático do GRT deve ter se divertido espirrando o spray desbaratinadamente.
Desde então, sempre estive ligado e quase sempre participando das manifestações contra o aumento. E confesso que foram algumas das minhas melhores experiências da juventude. Muita gente chamou a gente de baderneiro, mas quem diz isso não tem ideia de como é bonito ver a juventude se mobilizando politicamente desse jeito. Quem nos chama de baderneiro, geralmente, não tem a menor ideia do que é consciência política. E são esses, principalmente, que reclamam da falta de politização da juventude. Cornetagem forte mesmo.
E é justamente esse ponto que eu quero tratar aqui no Chuva Ácida. Nesta segunda, o jornalista João Kamradt, do jornal A Notícia, deu a informação de que Carlito Merss disse que haverá reajuste da tarifa de acordo com a inflação. Liguei na Prefeitura e a assessoria disse que essa informação ainda não é oficial, mas que o assunto está sendo discutido e aos cuidados da Seinfra.
Mais do que nunca é hora de debatermos mobilidade urbana. E essa discussão, em Joinville, não se trata de vias, viadutos, trens, VLP, VLT, bicicleta ou pula-pula. Essa discussão, em Joinville e em qualquer lugar do mundo, é sobre o transporte coletivo.
Em sua coluna domingueira, no AN, o Zé Antônio Baço fala sobre o mesmo tema. Andar de bicicleta na Europa é uma coisa. Em Joinville, é outra. Na Europa eu não sei como é, mas em Joinville eu ando há 15 anos e tenho uma vaga ideia de quando é viável e quando não é. E, por mais que eu seja um defensor da “zica”, é impossível usá-la para tudo na vida. Claro, dá pra ser usada muito mais, e isso depende muito de vontade, das pessoas e dos políticos.
Voltando ao tema transporte coletivo, as duas propostas mais sérias que eu conheço sobre mobilidade urbana em Joinville são a do Movimento Passe Livre (MPL) e uma do Ivan Rocha (vídeo abaixo). Claro, há outras, como a do Kennedy Nunes nas eleições, com subsídio, e a das empresas, que querem menos impostos só para elas. Dessas aí eu nem digo nada.
O MPL (nunca fiz parte, que fique claro) discute a questão com muito afinco, com debates, exibição de filmes, blog atualizado, facebook e plano com propostas concretas. E parte de um princípio muito simples, de que a atual política de transportes é excludente e que a tarifa zero iria garantir o direito de ir e vir (a interpretação é minha). Já o Ivan defende um modelo de mensalidades (baixas) e circulação livre, baseado no sistema português.
O problema, no entanto, é que essas propostas são ignoradas pelos políticos e por boa parte da sociedade, que só enxerga “baderneiros”. Pelo políticos, a razão é óbvia. Boas propostas avacalhariam com a relação entre os empresários e os gestores. E, caso alguém queira enfrentar o poder imposto pelo dinheiro, certamente iria se incomodar. Claro, o poder do povo, do cidadão, poderia bater de frente com o poder do dinheiro. Mas como o cidadão está bem confortável em seu carro com ar-condicionado, a omissão é o caminho mais tranquilo. E a cidadania se resume a reclamar dos buracos de rua. E a chamar quem discute de baderneiro.
Por favor, vamos fazer diferente dessa vez.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Uma cidade, várias histórias


POR CLÓVIS GRUNER

Se caminhar pela cidade é articular lugares e personagens, tornar-se artífice de novos e inusitados mapas, para um historiador esta ambulação tem um sentido outro: movendo-se em um universo de símbolos, ele persegue não a cidade que é, mas a que foi, a que um dia houve. Sua escrita a finge ao dar forma a uma ausência, faz aparecer o que já não mais existe, substituindo, no presente, o passado vivido pela sua representação. Historiadores são, a sua maneira, inventores de cidades.

Penso nisso por conta do lançamento de “Pelas tramas de uma cidade migrante”, da historiadora Ilanil Coelho, de quem fui aluno na graduação. O livro se insere em uma onda renovadora da produção historiográfica joinvilense, que eu divido em três fases. A primeira remonta ao inicio dos anos de 1990, destacando-se as dissertações de Iara Andrade Costa, Bellini Meurer e Ilanil Coelho. A estes se seguiram trabalhos principalmente marcados pela diversidade de interesses e abordagens. Na produção mais atual, à permanência de alguns nomes outros surgiram, em um movimento saudável e necessário de constância e renovação.

Chama a atenção nessas pesquisas o uso de novas fontes, que lançaram luz sobre aspectos da história de Joinville pouco explorados e conhecidos. Há ainda a insistência de muitos deles em se debruçar criticamente sobre a historiografia mais tradicional, notadamente a produção profissional – e não necessariamente acadêmica – de Apolinário Ternes. Festejados em alguns círculos, nem metodológica nem teoricamente seus livros deram à historiografia local contribuição relevante. Em ambos os critérios trata-se de uma obra frágil, desprovida de profundidade e originalidade. O mérito de Ternes – a meu ver, único – foi ter sido um dos primeiros a sistematizar certo número de fontes, disponibilizando-as em uma escrita que, nem sempre fluente, acabou por se revelar ao menos útil a pesquisadores futuros.

Mais do mesmo

Um terceiro e último aspecto é a presença da figura do outro, especialmente do migrante, de reconhecer um traço fundamental às cidades contemporâneas: sua heterogeneidade cultural, a inviabilizar ideais de unidade e coesão. O que estes trabalhos mostram é que Joinville deixou de ser uma cidade “germânica” e que o migrante, além de contribuir para o desenvolvimento econômico, embaralhou irremediavelmente uma identidade tida como estável e homogênea.

A ironia é que a produção acadêmica contrasta com uma irritante insistência à conservação. Vivendo fora há 12 anos, retorno a Joinville frequentemente e constato que pouca coisa mudou: de suas lideranças políticas e empresariais, a alguns hábitos e preconceitos arraigados na “cultura” local, ela continua provinciana não porque seja incapaz de, mas porque insiste em não mudar. Ela é o exemplo por excelência de uma “modernização conservadora”: cidade de porte médio, é pequena e tacanha se a lermos pelos critérios que não os mensuráveis, em que pese iniciativas a tentar, quase heroicamente, romper o silêncio e a calmaria que a caracterizam.

Ela aumentou sua população, cresceu economicamente, ampliou sua frota de veículos, verticalizou-se, possui uma classe média ativa e consumidora a frequentar seus shopping centers, e agora, inclusive, conta com um parque público. Mas continua pouco afeita a outra face da vida moderna: as mudanças que afetam comportamentos, valores, percepções e visões de mundo. Acadêmico, não poucas vezes ouvi que a universidade vive em descompasso com a “realidade”. Ao menos em Joinville isso parece ser verdade. Entre o discurso historiográfico, a ressaltar a diferença, e o cotidiano da cidade, a reafirmar o mesmo, há uma incômoda discrepância. Talvez seja hora da academia gritar à cidade o que ela insiste em não ouvir.

PS.: Jornalista que já foi mais influente na imprensa local twittou perguntando onde está o dinheiro para oito parques deixado pela ex-administração como legado à atual. Sobre isso, um comentário breve: Marco Tebaldi foi prefeito em duas gestões e vice em uma terceira. Se não foi capaz de construir um único parque, apesar de ter verba para oito, há de se reconhecer que, ao menos neste quesito, fracassou retumbantemente.
Clóvis Gruner, historiador e professor universitário em Curitiba. Autor de “Leituras matutinas: utopias e heterotopias da modernidade na imprensa joinvilense (1951-1980)” e co-organizador de “Nas tramas da ficção: história, literatura e leitura”.

Twitter calmo esta semana

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Não aperte este botão!


POR FABIANA A. VIEIRA
"Mas nos deram espelhos, e vimos um mundo doente"
(Renato Russo, Índios)

Uma coisa chamou minha atenção nas últimas semanas. Um tema que não traz impacto direto para Joinville, porém têm um efeito devastador para todos nós.
Falo do vídeo que se perpetuou na internet sobre Belo Monte. Atores, na maioria globais, provocando um 'levante", instigando uma parada imediata na construção da usina hidrelétrica no Pará. Uma obra de grande porte que pretende atender uma demanda nacional - incluindo nós, joinvilenses. O vídeo é impactante, diga-se de passagem, e tem foco: aponta o dedo para o governo. Se propagou como água* nas redes sociais.
Quero ressaltar que não vou entrar na defesa nem tampouco demonizar qualquer "projeto de desenvolvimento", mesmo porque não sou técnica nesse assunto. O que questiono é a ação cega de internautas, de pessoas comuns que, como eu, não dominam o tema. Por isso, um vídeo com tanta gente bacana (escolhidas a dedo pelo forte apelo popular que tem), que fala comigo, que me chama para uma responsabilidade e que ataca diretamente o governo é um estopim para ser propagado virtualmente. É simples. Você recebe um vídeo, se identifica com aqueles personagens, veste a camisa, e dispara para o maior número de contatos possíveis da sua rede virtual. Depois você continua na frente do computador com a sensação de orgulho por ter ajudado a salvar o planeta.
À PROCURA DE RESPOSTAS - Mas qual a sua responsabilidade pela construção de uma usina a ser instalada no meio da Amazônia? Não, não me diga que isso não é um problema seu. Não empurre para um culpado. Precisamos de energia, lógico. Já somos 7 bi no mundo e ninguém quer ficar no apagão (sim, me refiro a "Crise do Apagão" que, para quem não lembra, deixou muita gente de cabelo em pé entre 2001 e 2002, os dois últimos anos da era FHC. Lembrou?). Quando vi o vídeo, dos atores interpretando, e muito bem (ou alguém acha que aquilo foi gravado de improviso, de inteligência socioambiental ou iniciativa pessoal?), um texto forte, direto, com ângulos muito bem editados e produzido por uma megacorporação (talvez a própria Rede Globo camuflada de ONG), pensei comigo: "Tá, eu não sou idiota. É óbvio que não simpatizo com a ideia de uma usina dentro da Amazônia. Mas também não sou massa de manobra de megacorporações. Quais são nossas alternativas?"
E foi na minha inquietação, nas conversas com técnicos no assunto, nas pesquisas, nas frustrações políticas que fui encontrando as respostas sobre nossas alternativas. Nas minhas leituras vi que nem um parque eólico, muito menos solar são compatíveis com o que representa uma represa no Rio Xingu. Nem mais limpa. Por que pelo que sei, um parque eólico, por precisar de vento, costuma ficar no litoral, onde também ficam nossas praias! Ou no alto de serras e montanhas O que é mais limpo? Instalar gigantescos cata-ventos nas areias ou utilizar uma represa de água limpa no meio de uma floresta cheia d'água? Queria ver a cara dos atores ao verem alteradas as paisagens paradisíacas das praias da Cidade Maravilhosa, do Jurerê Internacional, da Joaquina, da Jericoacoara e tantas outras praias do nosso litoral. Ou ainda, nos depararmos com tais equipamentos no meio de montanhas e serras. Como se isso não tivesse impacto algum com o meio ambiente também. A energia eólica afeta paisagens com suas torres. Suas enormes hélices podem ameaçar várias espécies de pássaros ou outros animais daquele ecossistema. Ah, também há um certo nível de ruído (de baixa frequencia) que pode incomodar os animais (entre eles, os racionais). Você já imaginou quantos parques eólicos teríamos de ter nessas áreas para gerar energia como a hidrelétrica de Belo Monte? Confesso que não simpatizo com essa alternativa também, pelo menos nessas proporções, pois estamos falando de 11 mil megawatts.
Há outra opção, como a produção de energia solar. Só que iríamos precisar de um área colossal e que não serviria para mais nada. E onde teríamos espaço para produzir tal demanda? Se você é um especialista no assunto, me corrija. São informações que obtive ouvindo os dois lados desse debate, que muito me interessa. Além disso, ouvi de técnicos ambientais que existe variação na quantidade de energia produzida conforme nosso clima (em nenhum lugar do Brasil temos sol 365 dias). E outra: durante a noite também não existe produção alguma nesse espaço, e ainda seria preciso pensar no armazenamento da energia que foi produzida durante o dia. Essas formas de armazenamento são comprovadamente pouco eficientes quando comparadas com uma energia hidrelétrica, por exemplo. Isso sem falar que o índice de energia produzido também é muito mais baixo, comparado com uma hidrelétrica. Incompatível.
Não vou falar de usina nuclear por questões óbvias.
Enfim, minha "ficha caiu" quando li uma entrevista de Célio Bermann, professor da USP e um dos mais respeitados especialistas na área energética do país (segundo a Revista Época, coincidentemente da editora Globo):
"Existe um lado meio trágico da população em geral que é o comodismo: deixa que resolvam por mim. Então, quando você me pergunta sobre alternativas, depende do que a gente está falando. Existem alternativas promissoras deixando de produzir mais mercadorias eletrointensivas. Como também é promissor ter esquemas de financiamento para que o pequeno empresário adquira um painel fotovoltaico (placa que transforma luz solar em energia elétrica) ou use uma tecnologia eólica, por exemplo, para satisfazer as suas necessidades, sem necessariamente ficar ligado a uma grande linha de transmissão, de distribuição, puxando energia não sei de onde (...) É claro que, se continuar desse jeito, se a previsão de aumento da produção das eletrointensivas se concretizar, vai faltar energia elétrica. E há os que dizem: “Ah, mas ele está querendo viver à luz de velas...”. Não, eu estou dizendo que a gente pode reduzir o nosso consumo racionalizando a energia que a gente consome; a gente pode reduzir os hábitos de consumo de energia elétrica, proporcionando que mais gente seja atendida, sem construir uma grande, uma enorme usina hidrelétrica.
Você consegue enxergar sua responsabilidade nisso? Se não, peço que releia o parágrafo anterior.
E O SEU CONSUMO? O professor, que é contra a construção da usina, lança desafios quase imperceptíveis na sua lógica. O principal deles: a alteração dos hábitos de consumo. E eu te pergunto: você aí, do outro lado da tela está disposto a isso? Você está disposto a reduzir seu consumo? Racionalizar a energia que consome? Modificar seus hábitos? Educar as próximas gerações para essa árdua tarefa? Não apontar o dedo para um culpado, mas apontar o dedo para você? Na sua entrevista, o professor diz sofrer ao chegar em casa e não ligar o computador para checar seus e-mails. Para ele, isso seria beneficiar-se de uma "comodidade" que a energia elétrica, em particular, nos oferece.
Essa conscientização é perfeita, mas não é real. Pelo menos aqui. E isso não se dará de um dia para o outro. É lógico que defendo a produção de energias renováveis, solar, eólica, biomassa e tantas outras. Acho que, muito lentamente, estamos nos apropriando da sua funcionalidade, mas seu progresso se dará com o tempo. Com conscientização, vontade política, incentivo, necessidade e sobretudo, da potencialidade de cada região. Como está a situação aí no seu Estado sobre energia renovável? Como você interfere nesse desenvolvimento? Quais seus hábitos dentro da sua casa? Você usa aquecedor solar? Seus vizinhos também? E os amigos? E no seu trabalho, como é sua rotina de consumo? Você já viu um empresário utilizar um painel fotovoltaico para economizar energia? Eu admiro profundamente a atitude do professor, mas reconheço que essa disciplina não é tão fácil como parece. Precisamos enraizar essa cultura, e isso leva tempo. O que me deixa indignada é ver pessoas levantando a mão contra uma alternativa que pode (como as outras alternativas) causar impactos, e ao mesmo tempo, essa mesma pessoa consumir absurdamente energia. Como se ela brotasse do chão. Não, ela brota da água também.
É muito fácil criticar, repassar emails, editar vídeos, dizer que o governo está errado! Mas eu acho que a sociedade tem de rever seu conceito de consumo. E não falo só de consumo de energia não. E o consumo do lixo? Os assuntos estão ligados. Não basta cobrar apenas do Poder Público, como se não tivéssemos uma responsabilidade imensurável de dar destino certo ao lixo. Ou melhor, do desperdício e consumo do lixo. Jogar lixo no chão (um chiclete, uma bituca de cigarro, uma lata de cerveja) e sair do mercado cheio de sacolas plásticas, tem a mesma proporção daquele indivíduo que está em casa sozinho com as luzes acesas, TV ligada, usando o computador, ao lado do celular. Ah claro, tudo isso com um refrescante ar condicionado ligado no máximo. Uma hora alguém vai pagar a conta pela irresponsabilidade alheia.
É lamentável, mas infelizmente muitas usinas virão em nome do desperdício que o ser humano insiste em não enxergar. O governo tem culpa? Não vou isentá-lo da sua parte. Historicamente, eu diria! Muita grana, muito discurso, muito desvio, muitos votos, grandes e milagrosas obras etc, etc. Mas o povo! Ah, o povo! PROGRESSO?Cada vez mais engolido pelo consumismo absurdo e o desperdício de água, de luz, de alimentos, de atitude, de novas ideias, de novos hábitos. Desperdício de voto (porque quando um país elege um Tiririca como deputado mais votado - o quê pode se esperar da política?). Infelizmente pagamos a conta de um povo que quer progresso mas age com retrocesso...
Hoje mesmo vi uma pessoa jogando latinha de refrigerante pelo carro! ALÔ, estou falando de Joinville. Cidade rica, Sul do país. A resposta para isso é a falta de energia, óbvio! Falta de água, claro. Rios e mares cheios de lixo. Animais abandonados e/ou extintos (porque isso, para muitos, é uma questão secundária, sem importância alguma. "Não é comigo"). Mas enquanto o povo não tiver consciência do seu consumo/desperdício e da sua responsabilidade nesse processo, a "modernidade" virá truculenta, patrolando nossas florestas, mares, rios, animais. E quando digo POVO, não falo da probreza, não! Incluo a classe média/alta, que também é grande responsável pelo desperdício de luz, de água, de dinheiro, de cinco carros para uma família de quatro pessoas, uma infinidade de lixo eletrônico jogado em qualquer lugar, compras cada vez menos necessárias.
O que tento dizer com essa indignação toda é que enquanto houver desperdício de luz, haverá usinas (seja ela da forma que for). Enquanto houver desperdício de lixo, haverá impacto ambiental. Temos que parar de reclamar do governo (e reclamar é diferente de fiscalizar, acompanhar, cobrar) e apontar para nossas atitudes.
Meu desencanto com a falta de consciência humana, ajuda a compreender obras como a de Belo Monte (que aliás, já começou e está a todo vapor). Não sou ingênua. Sei que há muitos outros interesses escondidos nesta usina. A política é sorrateira. Tem muita gente interessada em dinheiro, em votos, em desenvolvimento milagroso, em poder, em alianças políticas, em eleições daqui há 10 anos. Por outro lado também há interesses ferozes pela não-construção da usina e o caos que representaria um novo apagão no Brasil.
Enquanto tudo isso gira, nós aqui, pobres mortais, estamos impulsionando essa engrenagem toda cada vez que ligamos um botão.

Cabine de voto ou motel?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO


As eleições na Rússia estão na pauta do dia. E na guerra pela atenção do eleitor, parece que vale tudo. O pessoal da oposição, em especial os ativistas da Rússia Unida, estão a distribuir vídeos que, além da desinformação, são de gosto muito duvidoso. É o caso deste filme em que uma cabine de voto acaba mais por parecer um motel em tamanho pequeno. Se a ideia é convencer os jovens a votar, talvez funcione. Mas se para esclarecer os eleitores...


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ubíquos


Por JORDI CASTAN

Até parece que mais de um pré-candidato nas próximas eleições municipais contratou vários sósias para poder estar presente em todos os eventos, desde reuniões de condomínio, a formaturas, batizados ou kraenzchen que possam reunir mais de quatro possuidores de título de eleitor. A onipresença em alguns casos ficou tão evidente que produz risadas. No caso mais recente a situação chegou a ser constrangedora, ao ponto de o pré-candidato insistir em querer substituir o pastor na celebração de um matrimônio, não tendo obtido êxito na empreitada. A nova investida tinha como objetivo substituir o noivo e, se não fosse pela rápida intervenção dos padrinhos e do pai da noiva, praticamente teria obtido êxito. A última tentativa foi a de beijar a noiva antes que o próprio noivo o fizesse e a sua insistência foi tanta, que acabou conseguindo e há varias fotografias como prova do fato.


A insistência com que alguns pré-candidatos buscam se promover é, por dizer o mínimo, constrangedora. Não só andam todo o dia com uma melancia pendurada no pescoço para que sua presença não possa deixar de ser notada. Também, influenciados pelos seus marqueteiros, passam a mudar de hábitos, de forma de ser, ocupam as redes sociais, tuitam desesperadamente a partir das cinco da manhã e o seguem fazendo passada a meia-noite, para mostrar que estão acordados e que a sua energia é inesgotável. Todos já tem página no Facebook, blog em que postam suas idéias e projetos e ainda participam, mesmo que seja só nos primeiros quinze minutos, de todas as conferências, oficinas e palestras possíveis e imagináveis. A contratação de assessores de toda quanto é coisa completa o pacote. Assessor de estilo, de moda, de comunicação, de mídias sociais, de mobilidade urbana, de relações internacionais, de política local. Nada escapa.


O objetivo de todo este esforço é estar presentes ou pretender estar. Mostrar um conhecimento oceânico sobre todos os temas. E dar opinião sobre tudo e para todos. Em casos extremos, alguns pré-candidatos tem dado até conselhos sobre a educação dos filhos, a roupa adequada para assistir a uma festa, sobre como curar unha encravada ou como melhorar o tempero da comida, compartilhando receitas de cozinha baixas em potássio.
Os pré-candidatos são como um produto de supermercado. A sua imagem é construída por profissionais e eles são alunos aplicados dispostos a todo para conseguir ser escolhidos pelo eleitor. O primeiro passo está sendo dado, estar onipresente no seu dia a dia. Bombardear você com a sua imagem sorridente até que você acredite que ele é quase que um parente próximo. Fique atento... ele é só um produto.