POR DAUTO J. DA SILVEIRA
O anúncio feito pela Prefeitura de Joinville de que os processos de licenciamento ambiental da cidade não serão mais realizados pela Secretaria de Meio Ambiente (SEMA) revela duas questões perigosas: 1) a mentalidade inocente da atual gestão e 2) o desmantelamento das instituições públicas municipais.
A primeira delas pode ser observada no que era dito, em 2014, durante a reforma administrativa que transformou a Fundação Municipal de Meio Ambiente (FUNDEMA) em secretaria. O prefeito da cidade, no uso das suas prerrogativas de ser um “gestor de novo tipo”, cantava a velha cantilena liberal de que tal transformação agilizaria os processos, reduziria a burocracia e melhoraria a gestão relacionada às atividades da Fundema. (AN, 11/fev/2014). Com base nisso, se desfaz a defesa cínica, de boa parte da elite acijiana, de que a Sema é incapaz de garantir a agilidade dos processos de licenciamento.
Ora, se a Sema é produto da ineficiência da Fundema e se sua função, entre nós, é, por conseguinte, melhorar a gestão, como podemos explicar tal incapacidade atual? O cinismo nunca foi tão débil. A alma das associações empresariais toma o corpo da prefeitura por completo e apresenta os seus dentes e garras: agora o problema passou a ser a morosidade do corpo técnico municipal.
Segundo Aguiar, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Joinville, a cidade “vinha enfrentando problemas antigos na questão dos licenciamentos feitos pela Sema, que era um processo muito moroso e não tinha como continuar com essa demora (na emissão de licenças)” (AN, 08/set/2017, grifo nosso). Já para Valcanaia, presidente da Associação de Joinville e Região de Pequenas, Micro e Médias Empresas, “a Ajorpeme sempre esteve muito insatisfeita com os prazos de licenciamento em Joinville. Entendemos que toda mudança tem riscos, mas nosso foco é em diminuir os tempos de licenciamento, independente se feito pela Sema ou pela Fatma”. (AN, 08/set/2017). Thomazi, sem vacilar, vocifera “a perspectiva é boa porque quem teve processos de licenciamento tramitando na Sema sabe da morosidade que é, então é provável que a mudança produza efeito positivo com relação a essa demora na tramitação”. (AN, 08/set/2017).
Pois bem, a fabricação de consenso que explique a incapacidade da própria burguesia em administrar os seus próprios negócios se manifesta de forma meridiana. Como explicar essa sucessiva troca de responsabilidades dos serviços ambientais senão pelo viés do desespero dos “donos da cidade”? Diante de tal situação os funcionários do Licenciamento Ambiental da Sema, em um ato de coragem, apresentaram um quadro com dados concretos sobre os trabalhos desenvolvidos no interior da secretaria.
Os dados reais desmascaram a farsa apresentada pelos dois corpos que possuem o mesmo espírito: de um lado a retórica de políticos pusilânimes e de outro o cinismo dos empresários da cidade. Os técnicos trazem dados pormenorizados e demonstram, por exemplo, que o tempo médio dos processos apresentados de 01 a 31 de agosto de 2017, no tocante à análise interna de Meio Ambiente foi de 9 dias e no tocante aos Licenciamentos e Serviços de Meio Ambiente, foi de 15 dias, 23 horas, 57 minutos e 24 segundos. Como se não bastasse, sublinham que “no mês de agosto de 2017, o setor de licenciamento ambiental da Sema emitiu 4 Licenças Ambientais Prévias com dispensa de Licença de Instalação, 3 Licenças Ambientais de Instalação e 26 Licenças Ambientais de Operação e Corretivas. No mesmo período, a FATMA – CODAM [Coordenação de Desenvolvimento Ambiental] Joinville emitiu apenas 08 Licenças Ambientais, sendo 04 ampliações de Licença Ambiental de Operação, 01 renovação de Licença Ambiental de Operação, 01 Licença Ambiental Prévia, 01 Licença Ambiental de Operação e 01 Licença Ambiental de Operação Corretiva” (Fonte: http://www.fatma.sc.gov.br/).
Ainda que a Sema seja a versão empobrecida da Fundema, isso aponta, em primeiro plano, que de algum modo o andamento dos trabalhos não satisfazia os interesses, cada vez mais vorazes, dos empresários da cidade. Nada nos garante que a Fatma conseguirá resolver esses mesmos problemas, uma vez que eles brotam da “tara” incontrolável dos burgueses da Acij & Cia em ampliar os seus negócios, sem que ocorra o mínimo controle dos órgãos ambientais.
Na segunda questão supracitada, estamos a perceber o desmonte das instituições públicas municipais que, não obstante as profundas dificuldades, ainda guardam expressiva funcionalidade para a maioria da população. Depois de três contrarreformas, que transformaram a cara da administração pública, assistimos mais uma medida que visa suprimir qualquer tipo de impedimento aos negócios burgueses em crise estrutural. Não significa, ao mesmo tempo, pôr em relevo as limitações subjetivas do corpo técnico da Fatma ou indicar (a priori) uma certa fragilidade ética que, no horizonte, responderia ao desejo incansável de mudança dos processos de licenciamento da prefeitura e da Acij & Cia.
O busílis aqui é outro, ou seja, afastar os licenciamentos de Sema (órgão arraigado à estrutura municipal) e levá-lo a um espaço estadual, com outro ordenamento político e cultural, submetido a práticas administrativas de natureza distinta pode ser um grande negócio. “E, se não der certo, o próprio prefeito Udo Döhler sinalizou que volta a estaca zero”, adiantou o acijiano Thomazi (AN, 08/set/2017). Diante do acirramento das contradições dos dias correntes, isso não é pouca coisa.
Aos poucos, mas de modo peremptório, o comitê executivo da classe dominante da cidade, engendra as condições necessárias para um novo padrão de acumulação. Para que alcance tal desígnio é necessário muito mais. O segundo mandato, as três contrarreformas e medidas pontuais como essa, são insuficientes. A médio prazo teremos novas medidas, ainda mais rapinantes.
Dauto J. da Silveira é professor e doutor em Sociologia
quarta-feira, 13 de setembro de 2017
terça-feira, 12 de setembro de 2017
Não discuto com fascistas. Limito-me a zoá-los...
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Não discuto com fascistas. Limito-me a zoá-los. É uma espécie de lema que sigo há muito tempo, em especial desde que comecei a escrever artigos de opinião para jornais. Mas se no passado era difícil dar de cara com um “facho” (a maioria tinha vergonha de assumir o fascismo abertamente), hoje em dia eles pululam por aí. A terra sem lei das redes sociais é o ambiente ideal para a proliferação desse entulho.
E foi no Facebook que o MBL-Joinville fez um desafio nominal a alguns integrantes do Chuva Ácida, atuais e de outros tempos (imagem abaixo). Parece que queriam discutir a “mentalidade esquerdista” a partir do episódio da Exposição Queermuseu. Discutir? Não, obrigado. Afinal, os caras pensam que o mundo é um imenso Facebook e que memes mal amanhados são argumentos.
Os fachos do MBL parecem achar que a burrice virou uma ciência. Aliás, se houvesse um vestibular para entrar no Facebook, esse pessoal ainda estava todo lá no Orkut. O desafio tentava ser engraçadinho (não dá, a direita não sabe fazer humor) e acabou gerando uma expressão interessante. “Rufem os tambores”, exaltava o post. Faz sentido. Porque o MBL é exatamente como um tambor: faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
É claro que recuso o “desafio”. Afinal, qualquer pessoa sensata sabe que não deve se aproximar de uma cabra pela frente, de um cavalo por trás ou de um idiota do MBL por qualquer dos lados. Facebook incluído. Aliás, como debater a “mentalidade esquerdista” se eles acham que todo mundo é de esquerda? O Jordi Castan, por exemplo, foi ao post e reagiu à citação: “Eu esquerdista? Alguém andou bebendo água da privada”.
Mas um coisa é certa: os caras não têm problemas de auto-estima. Têm alta estima. Para eles um debate livros versus memes parece natural. Mas que pessoa com dois dedinhos de testa entra numa discussão que já sabe como vai terminar? Afinal, como já disse alguém, as opiniões dos tontos são como os pregos: quanto mais se martelam, mais se enterram. E a melhor maneira de ganhar uma discussão com idiotas é deixá-los falar. Sozinhos, claro.
É a dança da chuva.
Não discuto com fascistas. Limito-me a zoá-los. É uma espécie de lema que sigo há muito tempo, em especial desde que comecei a escrever artigos de opinião para jornais. Mas se no passado era difícil dar de cara com um “facho” (a maioria tinha vergonha de assumir o fascismo abertamente), hoje em dia eles pululam por aí. A terra sem lei das redes sociais é o ambiente ideal para a proliferação desse entulho.
E foi no Facebook que o MBL-Joinville fez um desafio nominal a alguns integrantes do Chuva Ácida, atuais e de outros tempos (imagem abaixo). Parece que queriam discutir a “mentalidade esquerdista” a partir do episódio da Exposição Queermuseu. Discutir? Não, obrigado. Afinal, os caras pensam que o mundo é um imenso Facebook e que memes mal amanhados são argumentos.
Os fachos do MBL parecem achar que a burrice virou uma ciência. Aliás, se houvesse um vestibular para entrar no Facebook, esse pessoal ainda estava todo lá no Orkut. O desafio tentava ser engraçadinho (não dá, a direita não sabe fazer humor) e acabou gerando uma expressão interessante. “Rufem os tambores”, exaltava o post. Faz sentido. Porque o MBL é exatamente como um tambor: faz muito barulho, mas é vazio por dentro.
É claro que recuso o “desafio”. Afinal, qualquer pessoa sensata sabe que não deve se aproximar de uma cabra pela frente, de um cavalo por trás ou de um idiota do MBL por qualquer dos lados. Facebook incluído. Aliás, como debater a “mentalidade esquerdista” se eles acham que todo mundo é de esquerda? O Jordi Castan, por exemplo, foi ao post e reagiu à citação: “Eu esquerdista? Alguém andou bebendo água da privada”.
Mas um coisa é certa: os caras não têm problemas de auto-estima. Têm alta estima. Para eles um debate livros versus memes parece natural. Mas que pessoa com dois dedinhos de testa entra numa discussão que já sabe como vai terminar? Afinal, como já disse alguém, as opiniões dos tontos são como os pregos: quanto mais se martelam, mais se enterram. E a melhor maneira de ganhar uma discussão com idiotas é deixá-los falar. Sozinhos, claro.
É a dança da chuva.
Saneamento. Não nos interessa!
POR HENRIQUE CHISTE NETO
O Governo Federal lançou, no ano passado, o projeto PPI – Programa de Parcerias de Investimentos, com o objetivo de alavancar investimentos em infraestrutura. O setor de saneamento foi priorizado e em novembro de 2016 o BNDES lançou edital de pré-qualificação para selecionar consórcios para participação em licitações futuras, destinadas à contratação de serviços técnicos especializados em processos de desestatização do setor de saneamento básico, tais como concessões, subconcessões e PPP’s – Parcerias Público Privadas. O termo privatização não foi colocado, pois esta não é a prioridade, e só aconteceria se fosse o desejo dos Estados que aderissem ao projeto.
Iniciado o processo, 24 consórcios de empresas especializadas foram pré-qualificadas e aguardaram os editais de leilão, que seriam publicados pelo BNDES para os Estados interessados no programa e, no apoio oferecido pelo banco, para estudar os modelos mais adequados às particularidades de cada situação/região.
Em dezembro de 2016, após publicada a relação dos consórcios pré-qualificados, teve início o processo de elaboração dos editais, orçamentos e particularidades para a realização dos leilões.
Os primeiros Estados a aderirem ao PPI foram Pará, Amapá, Maranhão, Alagoas e Sergipe. Na segunda rodada, em abril de 2017, Santa Catarina, juntamente com os Estados do Acre, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte iniciaram a rodada dos leilões.
Santa Catarina foi contemplada com R$ 8,5 milhões para execução de estudo no sentido de universalização dos serviços de água e esgoto para cada região/município, não só os operados pela CASAN, via concessão, sub-concessão e PPP’s.
Os trabalhos deverão ser realizados em parceria com o Estado, CASAN e municípios, e os modelos selecionados serão objetos de consultas e audiências públicas para futuramente serem licitados. O contrato era para ser assinado em junho e até agora não o foi, porque o Estado não se definiu. Percebe-se que o atraso e, agora, a possibilidade de desistência, é meramente política.
Cabe ressaltar que politicagem e interesses particulares estão jogando fora uma oportunidade única para o estudo da universalização dos serviços de saneamento de Santa Catarina e ainda, seremos um dos poucos Estados a não participar do PPI.
Enfim, assim como o Estado, Joinville anda na contramão dos programas mais atualizados que se apresentam no setor de saneamento. Lá, ainda sob o jugo da empresa estatal comandada por um corporativismo tacanho e com forte influência política, se arrasta e se trava dentro do universo do saneamento.
Aqui, estamos à mercê de um governo municipal, diga-se, Executivo e Legislativo, num processo gradativo de desmonte da “intelligentsia” construída e desenvolvida nos últimos 10 anos. Primeiro, com a extinção da AMAE, se entregando à uma agência estadual caduca e inoperante, segundo, num processo crescente de desmantelamento da CAJ, empresa que outrora fora referência em avanços no difícil caminhar para a universalização do saneamento municipal.
O Governo Federal lançou, no ano passado, o projeto PPI – Programa de Parcerias de Investimentos, com o objetivo de alavancar investimentos em infraestrutura. O setor de saneamento foi priorizado e em novembro de 2016 o BNDES lançou edital de pré-qualificação para selecionar consórcios para participação em licitações futuras, destinadas à contratação de serviços técnicos especializados em processos de desestatização do setor de saneamento básico, tais como concessões, subconcessões e PPP’s – Parcerias Público Privadas. O termo privatização não foi colocado, pois esta não é a prioridade, e só aconteceria se fosse o desejo dos Estados que aderissem ao projeto.
Iniciado o processo, 24 consórcios de empresas especializadas foram pré-qualificadas e aguardaram os editais de leilão, que seriam publicados pelo BNDES para os Estados interessados no programa e, no apoio oferecido pelo banco, para estudar os modelos mais adequados às particularidades de cada situação/região.
Em dezembro de 2016, após publicada a relação dos consórcios pré-qualificados, teve início o processo de elaboração dos editais, orçamentos e particularidades para a realização dos leilões.
Os primeiros Estados a aderirem ao PPI foram Pará, Amapá, Maranhão, Alagoas e Sergipe. Na segunda rodada, em abril de 2017, Santa Catarina, juntamente com os Estados do Acre, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte iniciaram a rodada dos leilões.
Santa Catarina foi contemplada com R$ 8,5 milhões para execução de estudo no sentido de universalização dos serviços de água e esgoto para cada região/município, não só os operados pela CASAN, via concessão, sub-concessão e PPP’s.
Os trabalhos deverão ser realizados em parceria com o Estado, CASAN e municípios, e os modelos selecionados serão objetos de consultas e audiências públicas para futuramente serem licitados. O contrato era para ser assinado em junho e até agora não o foi, porque o Estado não se definiu. Percebe-se que o atraso e, agora, a possibilidade de desistência, é meramente política.
Cabe ressaltar que politicagem e interesses particulares estão jogando fora uma oportunidade única para o estudo da universalização dos serviços de saneamento de Santa Catarina e ainda, seremos um dos poucos Estados a não participar do PPI.
Enfim, assim como o Estado, Joinville anda na contramão dos programas mais atualizados que se apresentam no setor de saneamento. Lá, ainda sob o jugo da empresa estatal comandada por um corporativismo tacanho e com forte influência política, se arrasta e se trava dentro do universo do saneamento.
Aqui, estamos à mercê de um governo municipal, diga-se, Executivo e Legislativo, num processo gradativo de desmonte da “intelligentsia” construída e desenvolvida nos últimos 10 anos. Primeiro, com a extinção da AMAE, se entregando à uma agência estadual caduca e inoperante, segundo, num processo crescente de desmantelamento da CAJ, empresa que outrora fora referência em avanços no difícil caminhar para a universalização do saneamento municipal.
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
As 7 classes de joinvilenses
POR JORDI CASTAN
Dizem que os joinvilenses são todos iguais. Não há nada
menos verdadeiro. Há entre os habitantes destas terras e dos seus brejos e
lodaçais no mínimo sete tipos de joinvilenses. Assim como há sete pecados
capitais, alguns acham que há uma classe a mais, mas disso vamos a falar mais
adiante.
1. Os primeiros são os que não sabem. Estes são os mais numerosos. Nunca ficam sabendo de nada e quando alguém lhes conta nunca acreditam.
2. Os segundos são aqueles que não querem saber. Duvidam, não
acreditam e, quando confrontados com a verdade, escolhem não aceitá-la.
3. Há ainda um terceiro grupo que são os que odeiam saber. Em
outras palavras, não sabem, não querem saber e tem raiva de quem sabe.
4. O quarto grupo está formado pelos que sofrem por não saber.
Até gostariam de saber, perguntam às pessoas esperando as respostas que nunca
chegam. Mas estão sempre meio perdidos, escutaram até badaladas mas seguem sem
achar seu caminho.
5. Há ainda um quinto grupo de pessoas que faz de conta que sabe.
Imaginam que sabem, sem que isso seja verdadeiramente real. Como não sabem a
cada nova pergunta, sua falta de conhecimento é mais real e sua ignorância aumenta
ano a ano.
6. No sexto grupo em que a sociedade local está dividida, estão
os que triunfam sem saber. E entre estes há muitos mais dos que imaginamos num primeiro momento, porque seu habitat não se restringe só aos espaços públicos. Estão
aumentando cotidianamente e a seguir no ritmo que vamos, não devemos nos
surpreender se como cogumelos pipocam em todas as secretarias e ambientes
privados, pois não há sector que esteja livre desta praga.
7. O último grupo é o que formam todos aqueles que vivem graças ao que os demais não sabem. Os membros deste último grupo e todos seus assemelhados adquirem diversas imagens e modelos e se denominam a si mesmos “políticos” ou até há os que se denominam “intelectuais”.
Pessoalmente incluiria aqui mesmo, e na ordem correspondente, um grupo adicional, que é mais comum do que imaginamos. Aliás, o bom senso nos diz
que não deveria haver esse peso morto. Este último, que inclui o dos políticos
e dos intelectuais, é o grupo dos “gestores”. Estes são os mais perigosos e
perniciosos para as estruturas e para a sociedade em geral.
Que podemos fazer? Devemos expô-los, mostrar a inconsistência
dos seus argumentos e dos seus relatos. Fragilizar sua imagem fraudulenta de
bom gestor. Fazer mais transparente seu papel na sociedade em que este inserido
e compartilhá-lo com os outros amigos. Sua arrogância, sua grosseria e sua empáfia os faz ainda mais insuportáveis e perniciosos para a sociedade a quem deveriam servir.
sexta-feira, 8 de setembro de 2017
O tio Firmo
POR JOSÉ ROBERTO PETERS
O pai contava que o tio Firmo jogava no gol. Pegava bola igual ao Higuita — aquela jogada apelidada de escorpião: jogava o corpo pra frente e defendia com os calcanhares. Não é de se duvidar, uma vez que viu isso quando criança. Criança não mente. O pai aumentava um pouco, mas nunca mentia. E o tio Lizandro confirmou. Então era: o tio Firmo jogava como o ídolo colombiano dos anos 90.
O tio Firmo era irmão da vó Justina, que era casada com o vô Matias. Lá também estavam a tia Ágata — irmã da vó, casada com um primo do vô — e a vó Deolinda, mãe das duas. Eram cafusas. Aquela mistura de negras e índias trouxe um charme àquela família de poloneses e alemães.
O tio Firmo foi o último a chegar. Veio fugido. Havia dado um tiro num sujeito lá em Jaraguá. Errou e teve que cair fora. Depois do tiro se embrenhou no mato e foi sair em Schroeder. Daí pra Serra Dona Francisca, São Bento e foi bater com os costados lá na Bela Vista. Foi acolhido pela mãe, pelas irmãs e cunhados.
Virou um factótum. Roçava, tratava de animais, fazia carreto e levava gente pra Mafra — numa carroça de quatro rodas e toldo, que era do meu avô. E jogava no gol aos domingos. O tio Alziro, irmão do vô — que serviu no Rio durante a Guerra — trouxe pra ele uma camisa do Vasco. Pronto. Defendia o time cruzmaltino como se tivesse nascido em São Januário.
Morava numa pequena casinha perto do São Lourenço num terreno do Vô Matias. Nunca se preocupou com dinheiro, ganhava uns pilas aqui, outros acolá. Plantava o que comia e sempre que alguém ia colher ou carnear um animal vinha pra ajudar n´alguma necessidade. Assim ia vivendo.
Nos domingos era o goleiro time. O campo — meio grama, meio terra — ficava perto da igreja e o povo se reunia pra ver futebol, tomar cerveja e algum refrigerante. Dizem que a tia Tuia, do tio Lizandro, vendia pros botequeiros uns canudos de palha de trigo, cortados com esmero, pras crianças tomarem refrigerante, mas isso já é outra história.
Os jogos eram contra os times da região: Saltinho do Canivete, Avencal e até uns vindos de Mafra. Uma vez perguntei se não dava muita briga. O pai estranhou a pergunta. Não, respondeu, era diversão. Iam pra se distrair da lida diária e ver o show do tio Firmo. Gente rude dando exemplo. Pensei no Galeano: “Gañamos, perdimos; igual nos divertimos”.
José Roberto Peters é matemático,
professor universitário
e torcedor do Flamengo
País sob o domínio do medo: únicos organizados são os delinquentes
POR DOMINGOS MIRANDA
Mais uma vez o crime organizado leva o pânico a Santa Catarina. Isso acontece metodicamente desde 2011 e já pode ser colocado no calendário oficial. Em uma semana ocorreram mais de 50 ataques dos bandidos. Policiais morreram, sedes de órgãos de segurança foram atacadas, ônibus incendiados etc. Muitos discursos foram feitos, mas, efetivamente, nada de prático para solucionar o mal. É claro que este é um problema mais amplo, que não dá para ser resolvido sem uma maior intervenção do Governo Federal, que está imobilizado diante de suas ilicitudes e incompetências.
O narcotráfico é o pior problema para os países da América Latina nos últimos 30 anos. Hoje, o Brasil transformou-se na principal rota do tráfico para o mundo. Somente no primeiro semestre deste ano a venda de drogas rendeu cerca de R$ 20 bilhões aos traficantes. Estes tem muito dinheiro e podem corromper policiais, políticos, juízes e até mesmo membros das Forças Armadas. A série “Narcos”, mostrada pela Netflix, põe a nu esta realidade na Colômbia, nas décadas de 80 e 90. Agora somos nós que estamos sentindo o mesmo problema.
Se não houver uma ação coordenada dos três poderes não é possível encontrar uma saída para este grave problema. O coronel reformado da PM do Rio de Janeiro, Íbis Pereira, explica: “Para a gente reduzir violência tem que ter três coisas: vontade política, engajamento da sociedade e visão de longo prazo. Você só consegue visão de longo prazo se tem plano e se consegue institucionalizar o plano”. No Brasil não temos nada disso. Hugo Acero, que foi um dos coordenadores da luta contra o narcotráfico na Colômbia, em 2008 deu palestra em Joinville e disse: “Os únicos que estão organizados no Brasil são os delinquentes”.
Marcola, o líder da maior organização criminosa do país, está preso há vários anos em uma prisão de segurança máxima. Pessoa de uma inteligência incrível, leitor voraz de clássicos da literatura, comanda o crime de dentro da cadeia e tem planos de longo prazo. O seu ex-advogado já foi secretário da Segurança Pública de São Paulo, Ministro da Justiça e agora está no Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma entrevista ao jornal O Globo, desafiava: “Estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês morrendo de medo”.
Se a corrupção se alastrou por todo o andar superior do poder, o que esperar? O coronel Íbis Pereira confirma que “a violência e a corrupção andam juntas”. Virou coisa comum no noticiário ouvirmos que tal juiz ou desembargador vendeu sentença. Há pouco tempo, um traficante condenado a 65 anos de prisão foi colocado em liberdade. A polícia encontrou meia tonelada de pasta de cocaína em helicóptero de senador e nada foi apurado. Ou melhor, uma juíza determinou que a imprensa não pode usar o termo “helicoca”.
Portanto leitores, o futuro não é muito promissor. Aliás, Marcola usa uma frase de Dante que define bem o momento atual: “Lasciate ogna speranza voi cheentrate! Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno”.
Mais uma vez o crime organizado leva o pânico a Santa Catarina. Isso acontece metodicamente desde 2011 e já pode ser colocado no calendário oficial. Em uma semana ocorreram mais de 50 ataques dos bandidos. Policiais morreram, sedes de órgãos de segurança foram atacadas, ônibus incendiados etc. Muitos discursos foram feitos, mas, efetivamente, nada de prático para solucionar o mal. É claro que este é um problema mais amplo, que não dá para ser resolvido sem uma maior intervenção do Governo Federal, que está imobilizado diante de suas ilicitudes e incompetências.
O narcotráfico é o pior problema para os países da América Latina nos últimos 30 anos. Hoje, o Brasil transformou-se na principal rota do tráfico para o mundo. Somente no primeiro semestre deste ano a venda de drogas rendeu cerca de R$ 20 bilhões aos traficantes. Estes tem muito dinheiro e podem corromper policiais, políticos, juízes e até mesmo membros das Forças Armadas. A série “Narcos”, mostrada pela Netflix, põe a nu esta realidade na Colômbia, nas décadas de 80 e 90. Agora somos nós que estamos sentindo o mesmo problema.
Se não houver uma ação coordenada dos três poderes não é possível encontrar uma saída para este grave problema. O coronel reformado da PM do Rio de Janeiro, Íbis Pereira, explica: “Para a gente reduzir violência tem que ter três coisas: vontade política, engajamento da sociedade e visão de longo prazo. Você só consegue visão de longo prazo se tem plano e se consegue institucionalizar o plano”. No Brasil não temos nada disso. Hugo Acero, que foi um dos coordenadores da luta contra o narcotráfico na Colômbia, em 2008 deu palestra em Joinville e disse: “Os únicos que estão organizados no Brasil são os delinquentes”.
Marcola, o líder da maior organização criminosa do país, está preso há vários anos em uma prisão de segurança máxima. Pessoa de uma inteligência incrível, leitor voraz de clássicos da literatura, comanda o crime de dentro da cadeia e tem planos de longo prazo. O seu ex-advogado já foi secretário da Segurança Pública de São Paulo, Ministro da Justiça e agora está no Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma entrevista ao jornal O Globo, desafiava: “Estamos ricos com a multinacional do pó. E vocês morrendo de medo”.
Se a corrupção se alastrou por todo o andar superior do poder, o que esperar? O coronel Íbis Pereira confirma que “a violência e a corrupção andam juntas”. Virou coisa comum no noticiário ouvirmos que tal juiz ou desembargador vendeu sentença. Há pouco tempo, um traficante condenado a 65 anos de prisão foi colocado em liberdade. A polícia encontrou meia tonelada de pasta de cocaína em helicóptero de senador e nada foi apurado. Ou melhor, uma juíza determinou que a imprensa não pode usar o termo “helicoca”.
Portanto leitores, o futuro não é muito promissor. Aliás, Marcola usa uma frase de Dante que define bem o momento atual: “Lasciate ogna speranza voi cheentrate! Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno”.
quarta-feira, 6 de setembro de 2017
No dicionário de Udo, “cimento” vem antes de “ambiente”
POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Às vezes pergunto se Udo Dohler gosta de Joinville. Ou dos joinvilenses. Ok... muita gente fica ofendida com este tipo de questionamento – os chauvinismos são sempre bacocos – mas o fato é que quem gosta cuida. Repito: cuida. No entanto, não parece que o atual prefeito esteja particularmente empenhado em cuidar do futuro da cidade e dos seus cidadãos. Afinal, parece não haver ações de fundo nesse sentido.
Exagero? Udo Dohler está a lavar as mãos na questão do licenciamento ambiental. É grave. A propósito, memórias recentes permitem dizer que está a lavar as mãos nas águas vermelhas do Cachoeira. Mas o ambiente é razão para tanto barulho? O cidadão comum pode pensar de forma objetivista: “a gente tem que fechar os olhos para certas agressões à natureza porque o importante é ter empresas, progresso, emprego”. Nada mais errado.
O processo civilizacional aponta no sentido contrário. O ambiente é essencial para acautelar o futuro da cidade e a qualidade de vida dos cidadãos. O tempo é de construir cidades modernas, inteligentes e inclusivas. E, ainda melhor, ganhar com a nova economia (já não tão nova assim). Mas o atual prefeito é um homem com o mindset no século 19 e, no seu dicionário, as palavras “chaminé” e “cimento” vêm antes de “ambiente”.
Há perguntas a fazer. Por que Udo Dohler está a se demitir da defesa do ambiente? Por que está a rejeitar a obrigação de, enquanto prefeito, defender as atuais e futuras gerações de joinvilenses. Deixemos de barato. Afinal, seria impensável ver confirmado o que escreveu o co-blogger Jordi Castan esta semana: “uma decisão tão desatinada que leva a pensar que esteja a atender outros interesses que não os da sociedade joinvilense”.
Eis a tragédia histórica. Ao longo dos tempos, os prefeitos de Joinville têm mantido a cidade amarrada ao passado, com modelos clientelistas e métodos ultrapassados. O leitor eleitor pode questionar as prioridades e pensar: isso de meio ambiente é frescura dos ecochatos, porque tem é que cuidar da saúde, da educação e dos transportes. Claro que sim. O problema é que uma coisa não exclui a outra. Pelo contrário.
Fica a dúvida. Talvez o atual prefeito esteja mais preocupado com o seu próprio projeto político – esqueçam lá a conversa do gestor, porque as decisões são sempre políticas – do que com a modernização da cidade e o bem-estar dos joinvilenses. Afinal, quem só olha para a árvore acaba por não ver a floresta. Ops! Péssima metáfora. Porque, como ficou evidente, árvores e florestas não interessam muito lá pelas bandas da Prefeitura.
Ah... e não duvido que a esta hora os chiens de garde do prefeito já estejam a arreganhar os dentes:
- Quem não vive na cidade não pode falar. Porque fala de uma cidade virtual, vista pela internet, e não sabe sobre a cidade real.
E eu responderei:
- É só uma questão de quilômetros. A entourage de Udo Dohler vive acantonada na torre de marfim do poder na Hermann Lepper e, por não praticar a democracia e não dialogar com o exterior, também só vê uma Joinville virtual.
É a dança da chuva.
Às vezes pergunto se Udo Dohler gosta de Joinville. Ou dos joinvilenses. Ok... muita gente fica ofendida com este tipo de questionamento – os chauvinismos são sempre bacocos – mas o fato é que quem gosta cuida. Repito: cuida. No entanto, não parece que o atual prefeito esteja particularmente empenhado em cuidar do futuro da cidade e dos seus cidadãos. Afinal, parece não haver ações de fundo nesse sentido.
Exagero? Udo Dohler está a lavar as mãos na questão do licenciamento ambiental. É grave. A propósito, memórias recentes permitem dizer que está a lavar as mãos nas águas vermelhas do Cachoeira. Mas o ambiente é razão para tanto barulho? O cidadão comum pode pensar de forma objetivista: “a gente tem que fechar os olhos para certas agressões à natureza porque o importante é ter empresas, progresso, emprego”. Nada mais errado.
O processo civilizacional aponta no sentido contrário. O ambiente é essencial para acautelar o futuro da cidade e a qualidade de vida dos cidadãos. O tempo é de construir cidades modernas, inteligentes e inclusivas. E, ainda melhor, ganhar com a nova economia (já não tão nova assim). Mas o atual prefeito é um homem com o mindset no século 19 e, no seu dicionário, as palavras “chaminé” e “cimento” vêm antes de “ambiente”.
Há perguntas a fazer. Por que Udo Dohler está a se demitir da defesa do ambiente? Por que está a rejeitar a obrigação de, enquanto prefeito, defender as atuais e futuras gerações de joinvilenses. Deixemos de barato. Afinal, seria impensável ver confirmado o que escreveu o co-blogger Jordi Castan esta semana: “uma decisão tão desatinada que leva a pensar que esteja a atender outros interesses que não os da sociedade joinvilense”.
Eis a tragédia histórica. Ao longo dos tempos, os prefeitos de Joinville têm mantido a cidade amarrada ao passado, com modelos clientelistas e métodos ultrapassados. O leitor eleitor pode questionar as prioridades e pensar: isso de meio ambiente é frescura dos ecochatos, porque tem é que cuidar da saúde, da educação e dos transportes. Claro que sim. O problema é que uma coisa não exclui a outra. Pelo contrário.
Fica a dúvida. Talvez o atual prefeito esteja mais preocupado com o seu próprio projeto político – esqueçam lá a conversa do gestor, porque as decisões são sempre políticas – do que com a modernização da cidade e o bem-estar dos joinvilenses. Afinal, quem só olha para a árvore acaba por não ver a floresta. Ops! Péssima metáfora. Porque, como ficou evidente, árvores e florestas não interessam muito lá pelas bandas da Prefeitura.
Ah... e não duvido que a esta hora os chiens de garde do prefeito já estejam a arreganhar os dentes:
- Quem não vive na cidade não pode falar. Porque fala de uma cidade virtual, vista pela internet, e não sabe sobre a cidade real.
E eu responderei:
- É só uma questão de quilômetros. A entourage de Udo Dohler vive acantonada na torre de marfim do poder na Hermann Lepper e, por não praticar a democracia e não dialogar com o exterior, também só vê uma Joinville virtual.
É a dança da chuva.
terça-feira, 5 de setembro de 2017
Udo Dohler: primeiro a gente tira ela...
POR RAQUEL MIGLIORINI
A FUNDEMA foi extinta em 2013, ou seja 23 anos após sua criação. O prefeito mal assessorado encasquetou que o modelo de fundação estava falido, indo na contramão dos demais municípios da federação. Fundações possuem autonomia jurídica e financeira, dando mais agilidade a processos burocráticos e no recebimento de verbas federais para financiar projetos. O consultor do prefeito não viu nada disso. Ironia do destino, agora a Prefeitura recorre a uma fundação para “resolver” o licenciamento ambiental em Joinville.
O primeiro motivo colocado para a extinção da FUNDEMA e criação da SEMA – Secretaria de Meio Ambiente – foi que, com todos os recursos concentrados na Secretaria de Planejamento e Administração, ficaria mais ágil e mais barato comprar insumos. Ocorre que o FMMA – Fundo Municipal do Meio Ambiente – não pode ter seus recursos utilizados para fins diferentes dos citados na Lei 3558/1997 e Lei Complementar 418/2014. Ou seja, não pode se misturar com outros recursos municipais.
O segundo motivo foi a agilidade nos processos do licenciamento ambiental. Processos ambientais, principalmente de médio e grande porte, são bastante complexos. Necessitam estudos, entregues pelas consultorias, que nem sempre são feitos de maneira adequada, valendo o uso de uma expressão tipicamente brasileira: “feitos nas coxas”. Os técnicos precisam analisar várias vezes até que algo concreto seja apresentado. Existem técnicos que implicam com tudo mas esses casos são exceções, e não regra, como prega o prefeito.
Parece ser senso comum pensar que a preservação ambiental atrasa o progresso, leva os empregos para a cidade vizinha e deixa a cidade sem recursos. Acontece que um governante sério não pode agir pelo senso comum. Precisa de estudos, da análise histórica, da troca de experiências e, principalmente, do uso de técnicas modernas que garanta qualidade de vida mesmo com o crescimento populacional. Pelo que temos visto, nosso prefeito pensa que preservação da qualidade ambiental é perda de tempo e papo de bicho grilo desocupado e que a devastação é parte inerente do crescimento. Despreza qualquer ação que preserve os ecossistemas da cidade.
Como posso ter certeza disso? A transferência do licenciamento ambiental para a FATMA, além de um retrocesso sem precedentes e perda total de autonomia, não veio acompanhada de outra reforma dentro da SEMA que garanta maior fiscalização para impedir invasões a mangues ou APP de rios, construção de mais galpões de reciclagem, controle de ruídos, mais Educação Ambiental etc. Tudo o que vemos é o sucateamento. Esse ódio cego aos setores ambientais é coisa de gente que pensa pequeno e não tem visão de futuro. Não bastasse pensar assim, cometeu mais um agravante: fez toda a mudança à revelia do COMDEMA – Conselho Municipal de Meio Ambiente.
Primeiro ele tirou a FUNDEMA, depois toda a possibilidade de fazer de Joinville uma cidade verdadeiramente admirável e desenvolvida. Seguiremos como uma colônia, que terá seus recursos naturais esgotados para enriquecimento de poucos.
A FUNDEMA foi extinta em 2013, ou seja 23 anos após sua criação. O prefeito mal assessorado encasquetou que o modelo de fundação estava falido, indo na contramão dos demais municípios da federação. Fundações possuem autonomia jurídica e financeira, dando mais agilidade a processos burocráticos e no recebimento de verbas federais para financiar projetos. O consultor do prefeito não viu nada disso. Ironia do destino, agora a Prefeitura recorre a uma fundação para “resolver” o licenciamento ambiental em Joinville.
O primeiro motivo colocado para a extinção da FUNDEMA e criação da SEMA – Secretaria de Meio Ambiente – foi que, com todos os recursos concentrados na Secretaria de Planejamento e Administração, ficaria mais ágil e mais barato comprar insumos. Ocorre que o FMMA – Fundo Municipal do Meio Ambiente – não pode ter seus recursos utilizados para fins diferentes dos citados na Lei 3558/1997 e Lei Complementar 418/2014. Ou seja, não pode se misturar com outros recursos municipais.
O segundo motivo foi a agilidade nos processos do licenciamento ambiental. Processos ambientais, principalmente de médio e grande porte, são bastante complexos. Necessitam estudos, entregues pelas consultorias, que nem sempre são feitos de maneira adequada, valendo o uso de uma expressão tipicamente brasileira: “feitos nas coxas”. Os técnicos precisam analisar várias vezes até que algo concreto seja apresentado. Existem técnicos que implicam com tudo mas esses casos são exceções, e não regra, como prega o prefeito.
Parece ser senso comum pensar que a preservação ambiental atrasa o progresso, leva os empregos para a cidade vizinha e deixa a cidade sem recursos. Acontece que um governante sério não pode agir pelo senso comum. Precisa de estudos, da análise histórica, da troca de experiências e, principalmente, do uso de técnicas modernas que garanta qualidade de vida mesmo com o crescimento populacional. Pelo que temos visto, nosso prefeito pensa que preservação da qualidade ambiental é perda de tempo e papo de bicho grilo desocupado e que a devastação é parte inerente do crescimento. Despreza qualquer ação que preserve os ecossistemas da cidade.
Como posso ter certeza disso? A transferência do licenciamento ambiental para a FATMA, além de um retrocesso sem precedentes e perda total de autonomia, não veio acompanhada de outra reforma dentro da SEMA que garanta maior fiscalização para impedir invasões a mangues ou APP de rios, construção de mais galpões de reciclagem, controle de ruídos, mais Educação Ambiental etc. Tudo o que vemos é o sucateamento. Esse ódio cego aos setores ambientais é coisa de gente que pensa pequeno e não tem visão de futuro. Não bastasse pensar assim, cometeu mais um agravante: fez toda a mudança à revelia do COMDEMA – Conselho Municipal de Meio Ambiente.
Primeiro ele tirou a FUNDEMA, depois toda a possibilidade de fazer de Joinville uma cidade verdadeiramente admirável e desenvolvida. Seguiremos como uma colônia, que terá seus recursos naturais esgotados para enriquecimento de poucos.
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