quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Socorro!


Sobre as fantasias carnavalescas e a realidade que nos cerca

POR PATRICIA STAHL GAGLIOTI 

O Carnaval não é recente, nem sequer é festa surgida em terras brasileiras, tampouco é nossa contemporânea de nascimento. Algumas histórias dizem que a festa começou lá por volta de 500 a.C., na Grécia, como homenagem a Dionísio (deus da cultura grega, característico por ser brincalhão, debochado e irreverente).

A única intenção da festa era se divertir, comemorar a chegada da primavera e do tempo de fertilidade da terra, naquela sociedade agrária. Já era característico, naquela época, a teatralização do evento. Mulheres e homens se pintavam e usavam roupas que não eram as mesmas de seus cotidianos.

Em uma espécie de fuga dos papeis sociais que desempenhavam, homens pobres, por exemplo, se caracterizavam como reis e mulheres posavam como damas. Era um momento em que aproveitavam para fazer críticas à classe dominante, ao poder, valendo-se dos rostos encobertos e das fantasias.

Das mudanças que a festividade já sofreu, dependendo do local e época em que é realizada, a fantasia foi característica que não se perdeu. Pode ser na rua, em salões, em festas privativas, seja apenas com máscaras, pequenos adereços, fantasias completas, luxuosas ou simples, transformar-se é típico do Carnaval.

Mas, com que tipo de fantasia você foi? Quem você quis ser neste carnaval que passou? O homem que se transformou na mulher de seios fartos e bunda grande, num vestido justo; a “mulata” com cabelo black power; o desdentado; a faxineira nordestina que conjuga errado seus verbos; o homossexual performático?

A máxima de “vale tudo” é ideia que deve permanecer na música de Tim Maia, porque definitivamente não, não vale tudo. Tudo pode parecer inocente e sem intenções pejorativas quando visto como parte desse momento de festividade, em que as pessoas estão “brincando” o Carnaval. No entanto, a festa não está deslocada da realidade em que vivemos, um cenário repleto de machismo, racismo e LGBTfobia, que permanece e se reforça nas “brincadeiras” destes dias de festa.

O Carnaval traz consigo a noção de liberdade, de transformação, de ridicularização de si mesmo, em que todos os outros dias do ano não lhe permitem ser. A ideia é ser caricato e rir das fantasias e diferentes formas de representação adotadas. Então, o que se conclui é que se travestir é ridículo (não que ser uma travesti se restrinja a vestir uma vestimenta feminina, muito longe disso, mas homens vestirem-se como mulheres é a expressão debochada dessa identidade). Ter a pele preta e o cabelo avolumado é ridículo. Não ter dentes na boca é ridículo. Ser gay, igualmente ridículo.

Durante esse momentos, caro folião(ã), você não está se propondo apenas ser diferente, você está sugerindo que aquilo que veste é estranho, é anormal, é ridículo. Porque afinal, essa é a ideia de se fantasiar no Carnaval.

O problema é que a permissividade que é dada a você para ser a mulher negra, o desdentado, a nordestina, a travesti na semana de folia não se traduz em brincadeira nos outros dias do ano a quem realmente é.

A mulher que você brinca de ser no Carnaval vive numa realidade nada promissora a ela. Apenas nos dez primeiros meses de 2015, o 180 recebeu 63.090 relatos de violência, dos quais 49,82% correspondiam à violência física; 30,40% à violência psicológica; 7,33% à violência moral; 4,87% à cárcere privado; 4,86% à violência sexual; 2,19% à violência patrimonial e 0,53% a tráfico de pessoas. Os dados são do relatório de 10 anos da Central de Atendimento à Mulher (180) e correspondem apenas às denúncias feitas. Imagine você quantos inúmeros outros casos não acontecem à escura, folião.

Sabe a “mulata” black power divertida? A situação para ela é muito pior que para a mulher branca. Dos 63.090 relatos de violência, 58,55% foram cometidos contra mulheres negras. Segundo o Mapa da Violência Contra a Mulher, divulgado no ano passado, tendo como base dados de 2013, revelam que o homicídio de mulheres brancas caiu de 1.747 vítimas, em 2003, para 1.576 em 2013. Uma diminuição de 9,8%. O homicídio de mulheres negras, por sua vez, passou de 1.864 para 2.875, no mesmo período. 54,2% de aumento, folião. Não parece engraçado ser negra no Brasil, não é mesmo?

Além dessas estatísticas, outros números se somam à triste realidade, nada festiva, do país. O Brasil é o pais que mais mata travestis e transexuais no mundo. Segundo pesquisa da ONG Transgender Europe (TGEU), uma rede europeia de organizações que apoiam direitos da população transgênero, de janeiro de 2008 a março de 2014, foram registradas 604 mortes de transgêneros no país.

Dados do relatório sobre violência homofóbica no Brasil, elaborado pela Secretaria de Direitos Humanos, em 2012, apontou 3.084 denúncias de violações relacionadas à população LGBT (lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transgêneros) pelo Disque 100. O que isso significa? Por dia, eram denunciadas 27,34 violações de caráter homofóbico.
Há quem ache que o mundo está “politicamente correto” demais, exagerado demais. Há quem ache que tudo virou preconceito e que não se pode nem mais rir da “bichosa” de sunga dourada desfilando pela avenida. Não virou preconceito, sempre foi. Há muitos que pensam que mulheres, gays, transexuais se vitimizam. Eles não se vitimizam, são vítimas.

Ser vítima não é apenas sofrer agressão física ou ser morto(a). Ser vítima é ser olhado(a) como o ser estranho, anormal, inferior dentro do conjunto de pessoas do qual você faz parte. É ser questionado(a) pelo seu modo de ser, como outros não são. É ter que policiar a fala, a maneira como anda, a roupa que veste, os gestos públicos (principalmente os de afeto) para que não seja insultado(a).

De acordo com o relatório sobre violência homofóbica, mencionado acima, as violências psicológicas foram as mais reportadas, representando 83,2% do total de denúncias em 2012, seguidas de discriminação (74,01%) e violências físicas (32,68%).

CARNAVAL DE JOINVILLE - Deixemos os números um pouco de lado e falemos de experiências. Neste ano, mais uma vez desfilei no carnaval de Joinville. Atrás da ala das baianas, na qual estava, desfilava um dos destaques da escola. Um jovem de pouco mais de 20 anos, vestido numa sunga dourada e com um adereço nas costas. No percurso pela rua até o ponto de concentração e durante o tempo em que esperávamos para entrarmos oficialmente na avenida, pude ouvir algumas “brincadeirinhas” (era carnaval, afinal) com relação ao moço.

A questão é que não são brincadeirinhas, são constrangimentos, ofensas, são violações. Há quem adore as “bichas”, pois são divertidíssimas, ótimas para se dar risada, durante o carnaval apenas, é claro.

Neste carnaval, um amigo meu foi para a rua vestido de mulher, segundo ele por pressão das pessoas que o acompanhavam, pois em sua concepção considerava a “brincadeira” desrespeitosa, machista, transfóbica, como de fato é. A questão é que ele foi. E se arrependeu. Menos mal.

Segundo seu próprio relato, estar vestido como uma mulher, apenas por algumas horas de festa, parece ter dado direito aos outros de lhe passarem a mão na bunda, de lhe encoxarem, de buzinarem para ele. “Ah! Mas isso era para zoar, para entrar no clima da festa”. Não, não é não. Quem vos escreve é uma mulher. E mulher passa por isso sempre, até quando o clima é de velório. Pessoas trans passam por isso sempre.

Há dois anos, passava o carnaval em São Francisco do Sul, com uma amiga. Estávamos sozinhas, à noite, sentadas num banco em frente ao mar, um pouco antes do local em que havia a grande concentração de pessoas com os sons dos carros ligados, dançando. Um carro parou atrás de nós, desceram alguns sujeitos com suas bebidas, dando risada, até que um falou para o outro: “Olha só, cara, tem mulher ali!”. Tem mulher ali é o mesmo que dizer: Há um banheiro ali. Há uma boneca inflável ali. Há um depósito dos meus desejos sexuais ali. Foi como me senti.

Outro dia, em turma, outro carro passou e uma cabeça colocada para fora do carro questionou bradando: “Vocês transam?”. Não me lembro se fiz algum tipo de gesto, mas minha vontade foi de gritar: “Não com animais”. Isso era carnaval. Mas teve aquele dia que ia trabalhar e fui encarada, aquele outro em que o carro buzinou, a outra ocasião em berraram sobre meu corpo, a outra, a outra e a outra.

O feminino parece ser sinônimo de ser público, um corpo público. A carne à mostra ou o corpo transformado (todo o corpo é, mas me refiro especialmente ao corpo transexual) parece serem pratos do jantar. Querem ainda me fazer pensar que é normal? Querem me fazer crer que é brincadeira certas fantasias de carnaval ou alguma espécie de elogio tirar foto da bunda de uma mulher e dizer que esse era o motivo de as pessoas terem demorado para sair de um espaço de lazer na cidade?

Ora, ora, caro folião, o carnaval é festa, mas a vida é séria demais para seus modos e suas fantasias trouxas.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O escândalo FHC? Não vem ao caso...
















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

As declarações da jornalista Mirian Dutra, que teve um romance com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, foram o tema quente da semana passada. Mas apesar de aparecer aqui e acolá, o assunto esteve longe de ser manchete na velha mídia. A Globo, que estava diretamente implicada, não podia silenciar e abordou os fatos, claro. Mas sem fazer barulho. O tema passou batido para a maioria das pessoas que se informam pelos meios de comunicação tradicionais.

Foi diferente nas plataformas digitais, onde o caso Miriam Dutra-FHC ainda está na ordem do dia. Mais do que isso, o episódio levou à divulgação de fatos que estão a pôr FHC numa saia justa. A credibilidade do ex-presidente está  abalada, apesar de não haver grandes revelações: a maioria das denúncias é antiga, mas sem consequências. Será que desta vez vai haver resultados diferentes? É provável que não. Os tucanos estão blindadíssimos pela mídia e pela Justiça, mesmo com todas as evidências.

Não é da vida amorosa do ex-presidente que se pretende falar. As entrevistas de Mirian Dutra trazem uma declaração que exige muita atenção, porque revela a face do jornalismo na velha mídia. “Só olhar para o que aconteceu no segundo governo: as privatizações mais selvagens. Não podia dar errado, a Mirian não podia atrapalhar os grandes negócios. Está na hora de quebrar a blindagem desse pessoal. Mas onde estão os jornalistas, que não investigam?”, disse Mirian Dutra.

Onde estão os jornalistas? Ora, no que se relaciona ao núcleo duro da velha imprensa (os títulos que orientam o brasileiro médio) estão todos ocupados na caça ao ex-presidente Lula, que virou alvo depois da tentativa fracassada (agora reacesa) do impeachment de Dilma Rousseff. Em outro caminho, sobra a mídia alternativa, em especial o pessoal dos blogs nacionais, que, apesar das limitações financeiras, tenta fazer o contraditório. Mas as armas são desiguais. A velha imprensa ainda tem um poder econômico que a mídia alternativa sequer sonha ter.


Silêncios, omissões ou informações contaminadas são o resultado da postura de uma mídia que optou por fazer oposição partidária. E as recentes revelações sobre FHC expõem a relação incestuosa entre o tucanato e a mídia. O tema não vem ao caso. E a guerra midiática é desigual e a mídia tradicional está a vencer. Até quando? Não há certezas. Mas pelo menos uma previsão pode ser feita: o jogo vai virar. Porque apesar de haver muita gente a empurrar o Brasil para trás, a tendência é o digital.

E surgiu um fenômeno curioso. Foi divulgado, na semana passada, que o Partido dos Trabalhadores é o que mais atrai militantes jovens. E dá de goleada na oposição. Uma evidência salta à vista. Os jovens não se educam pela velha mídia e a informação vem pelas redes digitais, onde existe o contraditório. É natural, então, que percebam o massacre midiático dos últimos anos e, talvez por um desejo de equidade, optem por se ligar ao partido que é alvo desse ataque.

É a dança da chuva.




 A opinião de Bob Fernandes, numa visão similar à do texto, mas a falar da Justiça.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Vereador não é profissão. E dinheiro não nasce em árvores...


POR JORDI CASTAN

Novamente os vereadores fazem a farra com o nosso dinheiro. Comportam-se como um bando de adolescentes irresponsáveis que festam com o dinheiro dos pais. Já não há paciência para essa total falta de respeito com o dinheiro público. Essa história do aluguel dos carros da Câmara, por exemplo, já cansou. Ainda bem que há cada vez mais vereadores que renunciam a esta mordomia. É um alento que cinco vereadores não utilizem o carro alugado. Cinco são poucos, muito poucos, mas mostram que ainda resta um mínimo de vergonha entre os legisladores.

Pior é ver esse bando que tem feito da política a sua profissão, que vivem exclusivamente da sua atividade politica. Gente que não ganharia nunca, no mercado de trabalho, o que ganha como vereador. Sem contar todas as outras benesses e vantagens de que usufrui por conta do seu cargo. Há os que ainda acham pouco e cobram caixinha dos seus assessores, para aumentar ainda mais os seus ganhos. A situação há tempo que escapou do controle e, se não fosse por um recente TAC (Termo de Ajuste de Conduta), entre o nosso legislativo e o MPSC, o quadro atual seria ainda mais dramático.

A Câmara de Vereadores recebe uma parcela excessiva do orçamento municipal. E como sobra dinheiro, acaba sendo esbanjado com despesas desnecessárias, excessivas ou injustificáveis. E com a justificativa que há orçamento seguem gastando como se o dinheiro nascesse em árvores. A peroba resiste a tudo e a cada ano, amparados pelo discurso de boa gestão (essa é uma palavra que ultimamente me produz alergia, cada vez que a escuto) da economicidade, da moderação e lisura no trato da coisa pública, devolvem alguns milhões que não conseguiram gastar, apesar de todos os esforços feitos para tal fim. 

Não nos enganemos. O dinheiro que a Câmara devolve não é dinheiro economizado. É dinheiro que não conseguiram gastar. Nem com todas as viagens, diárias, reformas, obras e mais criativas invencionices, os vereadores conseguem gastar a fortuna nababesca a que o Legislativo tem direito, de acordo com a LOM (Leio Orgânica do Município). E todos os anos o presidente da Câmara se dirige aos joinvilenses, posando de bom administrador e a devolver uma parcela de dinheiro que não conseguiu gastar.

Está na hora de tirar a cangalha e começar uma mobilização contra todos esses abusos. Nas redes sociais, um grupo de cidadãos se propõe a promover os hashtag:



#semcarroalugado
#vereadorandadeonibus






Ainda não escolheu seu candidato? Aqui vão algumas dicas:
  • Usa carro alugado? Eu não voto. Vai de ônibus.
  • Mais de dois mandatos? Eu não voto. Quero renovação.
  • Tem plano de saúde pago com o meu dinheiro? Eu não voto. Que use o SUS.
  • Viaja para cursos de atualização a cidades turísticas? Tampouco ganha o meu voto.
  • Pula de galho em galho? Motivo a mais para não votar. Ficou fácil
Está mais que na hora de renovar essa Câmara. Vereador não é profissão. E seria interessante ver quantos ganhariam esse salário no mercado de trabalho.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Marisa decide: pão na mesa ou saúde?

POR ARIADNA STRALIOTTO AMARAL*

Na correria, com a agenda sempre cheia, imersos em nosso universo particular, nos distraímos facilmente. Na maior parte do dia, o nosso status é "ocupado". É fácil vacilar e se desconectar do mundo que nos rodeia. O egoísmo e esse olhar desatento são compreensíveis até certo ponto. A vida do brasileiro nunca foi fácil. Mas tivemos, sim, um tempo de respiro. Agora, o ar está rarefeito novamente e muitos não têm mais fôlego. A crise é sintomática.

No ônibus, de volta para casa, depois de um dia intenso de trabalho, Marisa conversa com a amiga, faz as contas e infere que gastaria R$ 200,00 com plano de saúde para ela e para a filha. Como coração de mãe pulsa com um amor maior, ela até se privaria do plano, se possível, e pagaria apenas para sua pequena. Mas não funciona assim. São duas alternativas: ela garante o plano para as duas ou recorre ao SUS quando precisar. Neste momento, a segunda alternativa é a mais viável.

A opção é essa porque as contas do orçamento doméstico de Marisa não fecham. Mãe solteira, ela trabalha de segunda a sábado para oferecer o melhor a pequena Beatriz. No fim do mês, sempre longo demais, ela recebe R$ 1000,00 de remuneração. Com o desconto do plano de saúde e dos demais encargos, seu salário seria resumido a menos de R$ 800,00. Nem precisar dizer que é insuficiente para quitar as despesas fixas e oferecer o essencial para sua filha. “Eu tenho que escolher entre ter o plano e comer. Não vai dar para ter o plano”, conclui ela como quem se justifica e lamenta por não conseguir fazer mais pela sua menina.

Ainda inconformada, Marisa conta que o mesmo plano de saúde para as duas, se particular, é oferecido ao custo médio de R$ 400,00 mensais. A conta realmente é absurda e incoerente, principalmente se pensarmos que o gasto com saúde é duplicado para uma parcela grande de cidadãos. Pagamos pela saúde pública, e pagamos, também, para ter acesso ao serviço de saúde privada. A essa altura já tem gente pensando: “Que bom que tenho condições de pagar os impostos e o plano de saúde”. Enquanto agradecemos por essa chance, nos recolhemos, mais uma vez, em nosso infinito particular, quase ignorando a realidade que grita: Marisa e muitos outros não podem custear um plano. Ter condições de pagar pelo atendimento particular não é a grande vantagem. No mundo ideal, eu, você e Marisa deveríamos ter acesso à saúde pública de qualidade, sem pagar nada além dos nossos impostos. Porém, em um movimento contrário ao cenário ideal, observamos que a dificuldade no acesso aos serviços de saúde é crescente.

Em Joinville, no início de 2016, o Hospital São José registrou um aumento de 30% no número de pacientes. São pessoas em situação semelhante à da Marisa.  Antes tinham plano de saúde e, agora, com o enxugamento dos gastos e com o desemprego, o plano é acessório. Como diz Marisa, em uma fala que soa exagerada, mas extremamente realista: "Ou eu coloco comida na mesa ou eu pago o plano." Já não é uma questão de escolha, a prioridade é óbvia.

Enquanto a saúde de mãe e filha não se mostra frágil, a vida segue com pão na mesa e o amor materno que, muitas vezes, alimenta até a alma. Mas, se no meio do caminho, Beatriz precisar de uma consulta ela pode se deparar com uma morosidade que parece sem fim. Hoje, em Joinville, a demora por uma consulta com especialista em unidade de saúde se estende por meses e, em alguns casos, anos. Enquanto alguns pacientes aguardam, outros sentem dor demais ou têm urgência na consulta. Não dá para esperar. A opção é buscar o atendimento particular na rede de saúde privada e pagar a conta mais uma vez. Agora, quando o paciente não tem recurso, a dor é insistente e o sofrimento também. A fé aumenta e os dias de espera são minuciosamente contados. A sorte está lançada. A torcida é pela força. A luta é pela vida.

Dependendo do caso, em situação de emergência, se a Marisa precisar de uma internação no Hospital São José, por exemplo, ela corre o risco de ficar no corredor. Em 28 de janeiro, o hospital registrou superlotação com 60 pacientes acima da capacidade da estrutura que dispõe de 26 leitos. O cenário poderia ter ficado pior. Além da estrutura insuficiente, o Zequinha, apelido dado por funcionários e pacientes ao hospital, poderia ter ficado com um time de médicos ainda mais enxuto. Em 4 de fevereiro, o prefeito Udo Döhler assinou portaria suspendendo, por tempo indeterminado, a matrícula de 38 médicos residentes. Segundo a administração municipal, a ação geraria uma economia de R$ 1,3 milhão por ano aos cofres públicos.

São os médicos residentes, com a orientação dos preceptores, que atendem os pacientes no pronto socorro do hospital. Eles aprendem, acolhem e prestam cuidado e assistência mesmo em um cenário embaraçoso, com recursos escassos. Se confirmada a suspensão, as consequências seriam desastrosas. Com a pressão da classe médica, das entidades, do sindicato e de pacientes, o prefeito Udo Döhler recuou. A portaria foi revogada no dia 10 de fevereiro e os médicos residentes serão contratados. A sensação é de alívio, mas não dá para comemorar. A administração só fez diferente pela força da lei e do clamor da população. A suspensão da contratação dos médicos residentes, muito possivelmente, configuraria a privação do direito à saúde, uma vez que a redução da equipe de profissionais implicaria diretamente na diminuição da capacitada instalada de atendimento do hospital. Menos médicos, menos vagas, menos vidas.

Impossível não se sensibilizar com as preocupações de Marisa. Não é preciso viver na pele a dicotomia “pão ou saúde” para compreender o tamanho do descaso com a saúde. Mas também é muito difícil visualizar formas de intervir e lutar por transformações efetivas no Sistema Único de Saúde. O cenário está embaraçoso e precisamos arregaçar as mangas e mostrar-nos interessados em fazer diferente ao lado da gestão pública. Não dá para esperar que a gestão faça mais, se não mostrarmos nossas reais necessidades e nosso poder de transformação. É preciso ver além do nosso infinito particular.

Enquanto não conquistamos avanços, principalmente no serviço público de saúde, devemos buscar alternativas para vivermos bem, garantindo a nossa qualidade de vida e de quem mais pudermos. Este passa a ser um exercício fraterno que requer empatia e pede para cada um pensar em si, no outro, e no coletivo. É assim que a gente descobre que vale mais a pena saborear o pão, viver o amor, e, de preferência, esquecer que a vida está sempre por um fio. Diante de qualquer fragilidade, pode faltar recurso para restaurar a saúde, dar um nó em um novo fio e recomeçar. O jeito é ser bem consciente: a saúde nos pertence hoje, amanhã não se sabe. Só por hoje, eu, Marisa, Beatriz, e, acredito que você também, desejamos um país e uma Joinville com mais transparência, mais saúde, mais vida.

* Ariadna Straliotto Amaral é jornalista

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O alto preço da Câmara de Vereadores de Joinville











POR VANDERSON SOARES
Milhões e milhões são gastos mensalmente para manter Câmaras Municipais,  Estaduais, Congresso e Senado. Este preço, na teoria, deveria ser um investimento com altíssimo retorno para a sociedade, mas devido muitos fatores, hoje é apenas mais uma despesa para colocar na conta. 

Vamos nos restringir a observar a Câmara de Vereadores de Joinville, desafio o leitor a elencar 10 leis que impactaram positivamente a vida do joinvilense e que tenha saído da cabeça de algum dos atuais vereadores. Não dá pra encher uma mão. Para quem não sabe o vereador tem basicamente 3 funções: 1) Fiscalizar as ações do executivo, 2) Analisar as propostas e projetos de lei vindas do Executivo e 3) Propor leis no âmbito municipal.

Além de não se ver projetos de lei de qualidade, quando se faz oposição, não é inteligente, é apenas por pirraça partidária. Dias atrás um vereador do PSDB alegou estar acelerando a tramitação de um projeto de lei simplesmente porque um deputado do mesmo partido solicitou (se o deputado não ligasse, ele ficaria sentado em cima do projeto até a data fatal?)

Um vereador tem direito a 7 assessores (que você nunca encontra nos gabinetes, porque na verdade são cabos eleitorais, ao que tudo indica), diárias para viagens (que muitas são “visitas e reuniões” de um final de semana inteiro a algum deputado em Florianópolis, que não resultam em nada real) e um carro alugado pela Câmara. 

Nestes últimos dias entrou em voga o gasto excessivo com carros para a CVJ. Dos 19 vereadores, 14 utilizam carros alugados, apenas 5 abriram mão desta regalia.  Estes 14 simbolizam um gasto de aproximadamente R$ 400. 000,00. (dividido por 12 meses, dá mais que o salário dos vereadores).

São mesmo necessários? Todos os vereadores tem um (ou mais) carro particular, todos num padrão médio/ alto e ainda assim é necessário um carro da Câmara? O pior é que todos estes que tem carro, tem também um motorista na sua equipe de assessores. 

Não consigo enxergar a necessidade de um vereador ter direito a carro e motorista. São somente vereadores e por mais que gostem de se chamar de “Vossa Excelência” vieram do povo e deveriam ter o estilo de vida que tinham. Parece que ao ser eleito vereador o rei enche a barriga destes e se desinteressam pela cidade e partem para seus projetos políticos particulares. Não vamos generalizar, há bons e coerentes vereadores, mas são raros e em extinção. 

As Câmaras de Vereadores não sentem a necessidade e não se esforçam para economizar, elas tem direito a uma porcentagem da receita do município e essa porcentagem é mais que suficiente para a devida operação da casa, por isso em quase todo mandato o presidente da Câmara inventa uma reforma, obra, implantação de sistema de catraca, um mezanino, etc. 

A solução é simples: Não reeleja ninguém, principalmente quem já fez da política sua carreira profissional e, além disso, observe currículo, analise biografia, escolha bem o servidor público que você vai votar. A cidade só irá pra frente com gente boa na prefeitura e na Câmara.  

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Mania de historiador


POR VALDETE DAUFEMBACK

De acordo com Hobsbawm, o papel do historiador é relembrar o que os outros esquecem. Talvez seja em face desta responsabilidade que o historiador tenha uma profunda empatia por folhas escritas que o tempo se encarregou de lhes conferir o status de documentos, uma das fontes de pesquisa para compor a narrativa histórica.

Particularmente, admiro quem consegue facilmente se desfazer de papeis após a sua utilização primária, ou excluir informações antigas do computador sem que o sensor interno ponha limites à capacidade de descarte.

 No turbilhão das atividades profissionais não tenho muito tempo para selecionar, guardar ou descartar correspondências e informativos que chegam por via eletrônica, ou em suporte físico (livros, revistas, textos, fotos, cadernos de anotações, cartões, cartas, listas de nomes) que se acumulam durante o ano. Mas as férias têm múltiplas serventias, não são apenas para repor as energias, como querem alguns profissionais da linha utilitarista. Servem também para dar aquela atenção aos cômodos da casa e ao computador, a fim de aliviar a bagagem acumulada.

Como estava decidida em passar a limpo uma parte da minha história, revisitei gavetas que há muito tempo permaneciam guardiãs de lembranças. Entre os inúmeros papeis como comprovante de pagamento de mensalidades dos tempos da faculdade, holerites e notas fiscais, havia raridades como fotos, cartões e cartinhas enviadas por alunos. Uma cartinha amarelada pelo tempo me reportou a momentos significativos da minha profissão. Penso que consegui fazer a diferença na vida de alguém que precisava de apoio. Dobradas e coloridas, outras cartinhas se encontravam em envelopes. Eram de meninas, ex-alunas, que sentiram a minha ausência quando saí da escola em que lecionava e como pretextos escreviam cartas solicitando explicações sobre determinados temas históricos. Por que guardei durante tanto tempo estes papeis? Não encontro resposta racional. São coisas da alma. Ou será que é mania de historiador?

Enfim, após uma semana selecionando materiais, o resultado foi: voltem para os seus lugares, exceto alguns sem qualquer significado. Considero-me pouco apta à arte do descarte, em qualquer sentido. Imaginem então, guardar papeis com meu nome escrito e riscado com sangue, pimenta vermelha e regado à cachaça, encontrados em despacho num cemitério do município. O desejo de quem encomendou o despacho era de arruinar a minha carreira profissional. Cá estou, décadas depois falando neste episódio porque reencontrei a prova material. Oficio da profissão, um tanto quanto maquiavélico, ser amada por alguns e odiada por outros, ao mesmo tempo.

Férias também sevem para resolver pendências burocráticas em órgãos oficiais. Para complementar um processo de regularização fundiária iniciado há meses, necessitava inserir novamente no sistema informações anteriormente fornecidas com dados de outrem, à época, conseguidos por telefone. Que alívio quando percebi que as papeletas com as anotações estavam no envelope juntamente com o documento oficial. Pensei: “Mania de historiador, guardar anotações”!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Antenados...


CPI da Saúde: vereadores debocham da população















POR SALVADOR NETO

Um verdadeiro deboche, uma piada de mau gosto, e ainda por cima com muito dinheiro público – meu e seu – investido.

Esse é o verdadeiro resultado da tal Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Saúde em Joinville (SC), que “trabalhou” (!?) durante seis (??!) meses para… defender o governo Udo Döhler (PMDB).

Muitas recomendações, extensa exposição de dados e praticamente nenhuma crítica mais incisiva à administração municipal. Essa é a tônica das matérias que saíram em todos os jornais da cidade e estado. Porque considero isso é um deboche? Já explico.


Porque a saúde na maior cidade de SC está ainda pior que há quatro anos. Porque Udo Döhler prometeu resolver o problema da saúde, que era fácil, porque "não falta dinheiro, falta gestão". E, está claríssimo como as águas límpidas do rio Cubatão, que foi só promessa.

Porque faltam remédios de uso contínuo e outros altamente necessários ao combate de doenças nas UPAs frequentemente.


Porque já cortaram até a entrega de fraldas geriátricas para idosos que necessitam uso em grande quantidade. Porque faltam materiais de higiene no Hospital São José e UPAs.


Porque o prefeito Udo quis cortar, sim, cortar a presença de médicos residentes no querido Zequinha, preocupado em tudo, menos em dar mais qualidade no atendimento à saúde dos joinvilenses.

Porque ele também já quis cortar a insalubridade dos servidores do mesmo Zequinha, sim, os heróicos servidores que atendem nossos doentes, com ou sem mazelas que se perpetuam por lá.


Porque não se resolve a falta de leitos no Zequinha. Porque há problemas sanitários em várias UPAs com infestações das mais diversas já documentadas e divulgadas por servidores.


Porque há filas em várias especialidades, e nada se resolve. Porque o Prefeito diz que gasta quase 40% do orçamento municipal em saúde, e ninguém quer, pede, promove ou age no sentido de uma auditoria séria para saber se isso é ou não verdade!


Porque não uma auditoria, verdadeiramente independente - não de amigos do alcaide, por favor - para se verificar onde está o ralo por onde escoam nossos recursos? Ou para saber se não há desvios, erros, etc, etc. Auditoria gente, urgente!


Porque somente neste governo já passaram pela secretaria da Saúde três nomes, três secretários, a última retirada a dedo da Procuradoria do município, com laços de parentesco com a promotora que pediu o afastamento do Prefeito, e que está ali apenas para ocupar a cadeira. Porque a saúde não é prioridade do governo, tampouco dos vereadores.


E porque, leitores e leitoras, o Ministério Público tem um trabalho imenso de cobranças ao executivo municipal, inclusive com ações propostas até de afastamento do Prefeito diante do caos – lembram da promotora Simone Schultz?


Pois é, a tiraram da promotoria… – e exatamente por isso, os vereadores não precisariam gastar tanto o nosso dinheirinho suado para fazer de conta que estão preocupados com a saúde! Já havia um longo e árduo trabalho do MP, pronto!


Por tudo isso, e muito mais que deixo aos leitores e leitoras completarem a lista, já que sofrem na pele a falta de uma saúde pública digna, é que produzir um relatório deste nível é sim um gigantesco deboche com o povão da cidade que produz dioturnamente os lucros que engordam poucos bolsos na província.


Anotem os nomes dos membros da tal CPI que produziram esse documento deboche, um calhamaço de papel que não serve para nada: João Carlos Gonçalves (PMDB), presidente; Jaime Evaristo (PSC), relator – estes criaram o “belo” relatório final.


Os vereadores Maycon Cesar (PSDB) e Manoel Bento (PT), pediram vistas (ver novamente e propor mudanças) ao relatório, que foi negado por João Carlos e Jaime Evaristo. Roberto Bisoni (PSDB) não compareceu na apresentação do relatório (novidade?), mas é governista.


O tal relatório da CPI da Saúde é um deboche sim, porque a total falta de independência do poder legislativo faz muito mal para a população! 


Nada se investiga, nada se cobra, e pouco se fiscaliza. Seria o medo da Acij, da falta de financiamento das campanhas? Vereador têm sim de fazer valer a força do seu mandato, dos votos concedidos a ele. Entra pelas mãos do povo, e vota de acordo com interesses nada populares?


Por isso que sempre batemos na tecla: o povo deve acompanhar e fiscalizar os seus eleitos, todos os anos, todos os dias, ver como votam, a quem defendem. Senão, em outubro próximo, serão novamente enganados nas eleições.


Esta é mais uma vergonha da atual legislatura da Câmara de Vereadores de Joinville. Um deboche que dói na saúde de cada trabalhador e trabalhadora. 


Um deboche que merece o repúdio da população, a fiscalização, a cobrança, e claro, a resposta no momento do voto. 


É assim nas teias do poder...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A “gente cordial” e a caça ao Lula

















POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

E continua a temporada de caça ao Lula. Implacável. Poderia tentar analisar os fatos (?) que vêm sendo repetidos à exaustão pela comunicação social (e com alguma sofreguidão pela velha mídia mais propensa ao golpe). Mas falar de pedalinhos, canoas de lata ou caixas de bebida é um tema para lá de chato. É assunto para os facebuqueiros e gente educada pelo Whatsapp. 

Fico por um tema específico: o caráter de um certo brasileiro médio que, na falta de um conceito sociológico adequado, passo a chamar “gente cordial”. Por quê? A referência é o conceito de homem cordial. E logo no início vamos falar no equívoco. O senso comum confunde cordial com cordato. E erra. Esse brasileiro nada tem de sensato ou prudente. É gente inculta, revanchista, imoral.

De fato, a coisa corresponde quase a uma inversão do ideário do senso comum. O “cordial” de Sérgio Buarque de Holanda pouco tem a ver com simpatia, cortesia ou generosidade. O conceito vai beber na origem da palavra (cordis, de coração) e remete para outra acepção. É o homem que age com o coração, com a paixão e, quase sempre, deixa a razão de lado. Visto assim, nem parece tão mau. Mas é.

O homem cordial dessa sociologia não gosta das leis, da ética ou da urbanidade. É um ser passional, que odeia e tem sangue nos olhos. O ódio é uma forma de paixão. Essa “gente cordial” - que, se não fosse tacanha, até poderíamos chamar elite - faz do ódio uma expertise. E o anti-lulismo é a mais pura expressão desse ódio irracional, sádico, tacanha. 

Por que odiar Lula? Por ódio de classe, por irracionalidade, por “cordialidade”. Não gostam de Lula porque, ao mudar o Brasil, o ex-presidente lançou confusão no inconsciente social. É sabido que essa “gente cordial” não tem um projeto para a sociedade. Tem apenas um rumo: não ambiciona os privilégios dos ricos… apenas não quer que os pobres tenham privilégios. Precisam de pobres à volta, para criar a sensação de serem seres "diferenciados".

Lula é ofensivo porque veio subverter essa lógica. Por ter rompido séculos de um apartheid social que insistia em perdurar e mantinha as relações sociais engessadas. O Brasil anterior a Lula - aquele a que muitos desejam voltar - era um Brasil onde os papeis eram bem definidos. Cada um sabia, à nascença, qual era o seu destino: rico é rico, pobre é paisagem. 

O ex-presidente é culpado, sim, de reduzir as desigualdades, de promover a inclusão social, de encetar o resgate de uma dívida histórica (as cotas para os negros e os índios, por exemplo), de obter um crescimento nunca visto na história, de transformar o Brasil num player de respeito na economia mundial. É coisa, leitor e leitora.

E há um aspecto ao qual as pessoas com um mínimo de memória e sensibilidade social dão muita importância: o fim da fome. Essa foi a revolução que Lula havia prometido e era a revolução que todos os cidadãos (pelo menos aqueles com dois dedos de testa) esperavam ver realizada. Só um marciano, que não tenha passado os últimos anos no Brasil, pode ser capaz de recusar estes fatos.

No entanto, aquele que é considerado um dos melhores presidentes da história do Brasil é hoje alvo de uma perseguição mesquinha, promovida por homens menores que nada fizeram pelo país, a não ser criar mais uma tirania. E, claro, que contam com o apoio de outros homenzinhos da velha mídia e dos iliteratos das redes sociais (podemos incluir muitos comentadores anônimos deste blog).

Lula é uma pedra do sapato do projeto político da oposição. E não está a ser investigado. Está a ser perseguido. Querem - porque precisam - destruir uma biografia.  Por conta disso, estão a criar um estado de exceção. Triste é que essa “gente cordial” gosta do espetáculo, sem ver os perigos.

É a dança da chuva.

P.S.: Não sei se Lula é culpado ou inocente. Não é minha função saber disso. Mas é evidente que estamos frente a um caso típico em que se escolhe o culpado e depois se procura o crime. E de uma coisa não tenho a menor dúvida: não é forma de tratar um ex-presidente que mudou o Brasil para melhor.


Charge de Renato Aroeira