segunda-feira, 20 de maio de 2013

Certeza de que as mãos estão limpas?


POR JORDI CASTAN

Fotomontagem que circula nas redes sociais


As histórias só fazem sentido quando colocadas numa ordem lógica. Nem sempre a sequencia lógica é a sequência cronológica. A história do debate da LOT em Joinville e do papel que tem jogado - e continuam a jogar - alguns dos seus principais protagonistas está longe de acabar. Alguns têm um papel muito maior do que pode parecer à simples vista; outros são meros figurantes, mas formam a plateia necessária para legitimar um processo que, quanto mais se conhece menos democrático e transparente parece. Um processo em que os interesses ganham um protagonismo e uma força cada vez maior e mais nítido.

Há poucos dias foi divulgada a degravação de um vídeo em que o prefeito eleito Udo Dohler reconhecia que houve envolvimento de vereadores para modificar o zoneamento da Estrada da Ilha, propondo a alteração do tamanho dos lotes permitidos e que ele foi procurado para isso. Esta é uma história que tem vários capítulos anteriores e que esta longe de concluir.



2.- Sob pressão das entidades empresariais (Acij, Acomac, Ajorpeme e CDL) e do prefeito eleito, Udo Döhler (PMDB), vereadores de Joinville querem aprovar o projeto de lei que institui a LOT (Lei de Ordenamento Territorial) a qualquer custo. (Fonte: Portal Joinville)


3.- Rodrigo Coelho destacou que o Legislativo é um poder independente. “Joinville quer a aprovação da LOT. Não podemos ficar mais dois anos reféns desta inércia. Terão o nosso respaldo e apoio para decidir com autonomia por ser um Poder independente”, disse Coelho. O ex-presidente da Acij e prefeito eleito UdoDöhler (PMDB) já declarou que é a favor da aprovação da lei. (Fonte: Portal Joinville)




5.- "Quando esteve aqui o Dr. Udo Dohler numa reunião... Acomac, Ajorpeme, ACIJ, CDL e Dr. Udo disse: Olha, nós precisamos votar isso agora, votar isso agora, em votação, etc... porque se não vamos perder grandes investimentos,  a minha resposta foi: Dr. Udo, aqui é a Câmara, não é uma empresa". Odir Nunes Ex- presidente da Câmara de Vereadores de Joinville em reunião com representantes de Associações de moradores. 31 de janeiro de 2012

6.- Odir decide processar o prefeito Udo Dohler O vereador e ex-presidente da Câmara de Vereadores de Joinville, Odir Nunes(PSD), divugou comunicado declarando que está constituindo advogado para entrar com ação contra Udo Dohler em função de afirmações feitas por ele em vídeo que se encontra na 2ª Vara da Fazenda Pública. (Fonte: Jornal Gazeta de Joinville).


A integra do texto do vídeo que forma parte da ação popular



O prefeito faz uma afirmação grave e com ela da credibilidade ao que era um segredo a vozes. A leitura da imprensa reforça a ideia, que o envolvimento do prefeito no episódio não seria meramente circunstancial.

Será, por acaso, que o prefeito é um inocente útil ao afirmar que teria sido procurado? Há elementos suficientes para concluir que o prefeito Udo Dohler não poderá entoar o mantra lulista do "eu não sabia" em sua defesa.  Afinal, relatos presenciais e declarações fornecidas à imprensa comprovam que ele e as principais entidades empresariais de Joinville pressionaram o presidente da Câmara de Vereadores de Joinville, Odir Nunes, sendo o atual prefeito um forte articulador do processo pela aprovação da LOT. Difícil supor que não saiba quem sejam os vereadores que viram cifrões na mudança do tamanho dos lotes na região da Estrada da Ilha.

domingo, 19 de maio de 2013

Copa de ilusões, será?

POR FABIANA A. VIEIRA

Qual o fascínio de uma bola de couro sendo chutada prá cá e para lá? Talvez a expectativa de um gol como instante mágico do delírio coletivo ou uma jogada plasticamente exultante. Ou talvez seja o sentimento de pertencimento a um agrupamento, tão abandonado modernamente, de uma torcida gritando ao mesmo tempo o nome do mesmo time.  Ou talvez seja a nossa vontade atávica de chutar tudo e todos,  dando vazão aos nossos instintos mais do que primitivos.

Pode parecer meio ridículo um grupo inteiro levantar os braços, agitar e ficar gritando "olê, olê, olá...o nosso time vai ganhar", mas o sentimento de felicidade que brota de um grito de gol ou de um xingamento para a mãe do juiz é de uma catarse parecida com um orgasmo social. O futebol é como se fosse uma novela, aprisionando a expectativa do torcedor que espera 90 minutos pelo capítulo final do vencer ou perder.

Não sou da tese do pão e circo, mas o povo verdadeiramente precisa e merece esses momentos. Talvez seja a manifestação social mais residual nestes tempos de indiferença, isolamento e de competitividade autofágica. O jogo de futebol aproxima pessoas, igual níveis sociais, extravasa angústias, faz a gente se sentir gente exclusivamente porque esquecemos a racionalidade e somos pura emoção. Talvez só o culto da igreja consiga competir com essa autêntica manifestação humana.

E vem aí a Copa das Confederações e depois a Copa do Mundo. Festa. Foguetório. Discursos politiqueiros. Estádios extravagantes, bilionários até,  diante de cidades engarrafadas, cheias de buracos e com crianças brincando no esgoto.  Em Brasília, já aparecem os que dizem: “daria para construir quatro hospitais, seis escolas e asfaltar toda a cidade com esse dinheiro”.  Fala inútil, extemporânea, afinal a roda já girou e a Copa é compromisso.

Enquanto cartolas faturam alto no mercado da bola e as reformas patrocinam boas gorjetas de empresários, os jogadores valorizam seus miliardários salários e os governos, todos, faturam proselitismo e demagogia com seus eleitores ao darem chance para o extravasamento da mania nacional.

Mas tudo bem. Entendo que a sinergia dos mega eventos esportivos é uma boa chance. Estádios novos, aeroportos remodelados, modernização da rede hoteleira, da tecnologia de informação e da telefonia, maquiagem nas cidades sede, melhora do tráfego entre os eventos, um mês de ostensividade na segurança pública, capacitação de toneladas de voluntários e de todos os trabalhadores envolvidos no circuito que afinal de contas, receberá norte-americanos, chineses, angolanos, japoneses ou torcedores da Eslovênia. Sem falar nos milhares de jovens que irão embarcar no sonho de ser Messi ou Neymar.

O Brasil vai ser uma vitrine mundial e o ingresso de divisas será fantástico. Esse dinheiro vai parar em algum lugar, preferencialmente no bolso de quem já tem bastante para especular com a oportunidade. Será um pouco difícil a presença do tradicional pipoqueiro na frente da bilheteria. O churrasquinho de gato será mantido pela Força Nacional a quilômetros de um torcedor que vai pagar em dólares para ver a bola rolar neste campeonato planetário. Mas a franja da economia informal é resistente e alguma faixinha de campeão de 5 reais a gente vai encontrar.

Depois de um mês de apoteose futebolística e se o nosso time vencer a cartolagem, a teimosia do técnico e for campeão, se for um time mesmo e mostrar em campo a garra e a determinação que o povo brasileiro tem para sobreviver, aí sim o efeito psicológico da catarse vai sobreviver por um longo tempo, até gerações, e contaminar cada passo do país. Seremos hexa!

O que não podemos permitir é a manipulação do sentimento futebolístico pela esperteza e oportunismo, especialmente político. A temporada do “Prá Frente Brasil” passou e me dói na lembrança a Copa do Mundo na Argentina em plena ditadura. O governo dando circo e torturando patriotas pelas costas.

O Brasil ama futebol e se entrega com paixão ao esporte.  Mesmo que seja apenas mais um campeonato, vamos respeitar os sentimentos de quem torce, de quem sofre, de quem encontra no gol e na vibração de todos juntos um motivo afirmativo para dizer que vale a pena. Mesmo que o momento seja breve, mesmo que termine bem antes do que gostaríamos, vamos buscar a alegria e o encantamento solidário que nos faz falta.

A Copa vai passar e os 12 estádios vão ficar. Esse é outro problema. Esses equipamentos precisam ser apropriados socialmente. Não adianta ter um Centreventos se o povo não estiver lá dentro assistindo cultura ou esporte.

Em Brasília, a primeira partida do Campeonato Brasileiro no novo Estádio Nacional Mané Garrincha de R$ 1,7 bi, Flamengo e Santos, terá um ingresso custando a bagatela de 160 reais, no anel superior. Na vip, com estacionamento e buffet, é 400 reais. Na Copa das Confederações, os ingressos vão de 224 a 684 reais e já venderam 76%. Em 2014, a estreia do Brasil no Itaquerão em São Paulo vai custar 5.145 reais e um pacote vip para final chega a 9 mil. Dos 5 milhões de ingressos da Copa do Mundo, teremos, para consolo, 300 mil ingressos populares. 

Para o povão, que não tem um salário mínimo para comprar um ingresso de cadeira e assistir 90 minutos de futebol no estádio, sobra a telinha, o churrasco na laje e as ruas. Aliás, espero que o povo tome de assalto as avenidas, praças e parques e liberte a autoestima, o orgulho e a dê asas a mobilização nacional.

A última partida vai terminar. E como sempre acontece no jogo,  ganhamos ou perdemos.

Mas a vida segue. Quem bom que teremos as Olimpíadas em 2016.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

Golpe 2014 – EU VOU!


POR FELIPE SILVEIRA

Antes de mais nada quero dizer que estarei presente neste evento: Golpe Comunista 2014 no Brasil! (clique no link para confirmar presença também). É, certamente, a melhor coisa que pode acontecer para o Brasil e nós estaremos lá para fazer a nossa parte na construção de uma sociedade decente.

Para quem ainda não sabe, o evento foi criado após mais uma ridícula e hilária tirada dessa galera mais maluca de direita. Segundo eles, os 6 mil médicos cubanos que o Brasil quer contratar para trabalhar em regiões do interior (onde nossos médicos playboys não querem trabalhar) são guerrilheiros que vão dar um golpe comunista no Brasil. Acho que nem Woody Allen pensaria num roteiro melhor.

Mas vou dizer por que eu acho que esse golpe é a melhor coisa que pode acontecer pra gente. Além de já ter uma orientação de esquerda há alguns anos, eu li este texto do meu amigo Eliton Felipe de Souza, do blog Deglutindo Pensamentos, que fala sobre o sistema de saúde cubano (recomendo a leitura depois que você acabar de ler este texto). Aí o meu raciocínio foi o seguinte:

Um dos principais problemas do Brasil é a falta de estrutura – física e pessoal – do nosso sistema de saúde (do qual eu sou fã, diga-se de passagem). Tanto é que políticos se elegem com a promessa de priorizar a saúde. Então, como Cuba teve de fato um golpe comunista e a saúde foi de fato priorizada, acho que nada melhor do que um golpe comunista no Brasil para finalmente priorizarmos a saúde por aqui.

Enquanto isso não acontece, porém, a gente tem que seguir trabalhando devagarinho. Apoiar a greve dos trabalhadores, lutar por um transporte público gratuito e de qualidade, reivindicar uma política de transporte que respeite a vida do ciclista e do pedestre e não privilegie o transporte individual e motorizado, apoiar a luta dos estudantes por uma educação pública de qualidade.

Todas as questões citadas acima foram temas de passeatas, manifestações e debates nos últimos meses em Joinville. Os servidores estão nas ruas, os estudantes foram as ruas, o movimento social trabalha as bases constantemente. Mesmo assim, é comum ver o discurso de que “os jovens não se interessam”. De fato, há uma grande parcela que está preocupada com essas questões, mas elas estão aí sendo discutidas por quem se interessa. E são essas pessoas que fazem as coisas acontecer.

Todo mundo pode fazer a diferença em algum lugar, seja na escola, no bairro, na Câmara de Vereadores ou até mesmo na internet, afinal, o ativismo de sofá também é ativismo. Mas quem não quiser fazer nada, não precisa se preocupar. Logo chega 2014 e o golpe comunista já está marcado.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

The Walking Greve


Os vereadores estão solidários com os grevistas? Diminuam os próprios salários!

POR FERNANDA M. POMPERMAIER

Tem vereador levantando bandeira no Twitter à favor dos grevistas porque, claro, pensa na qualidade de vida dos funcionários públicos joinvilenses. Não existe nenhum interesse obscuro nesse apoio. É uma solidariedade genuína. Muito nobre.

Mas vindo de uma pessoa que recebe mais de 10 mil reais por mês de dinheiro dos nossos impostos para manter seu alto padrão de vida. Dinheiro este que deveria estar indo para a saúde, educação, cultura etc.  Lamento, isso não é justo.

Vereadores joinvilenses recebem demais sim! Sabe que parcela da população recebe mais de 10 mil reais por mês? Uma minúscula minoria. Nem professores universitários que estudam e pesquisam a vida toda recebem perto disso. Esses são os bem intencionados que se puseram a serviço da população? Que deveriam estar trabalhando para o bom uso do dinheiro público?


Eu não tenho absolutamente nada contra a greve. Considero uma forma legítima de conquista de direitos, muitas vezes necessária. Claro que deve-se levar em conta que as formas de negociações pacíficas já foram esgotadas e não existe mais possibilidade de diálogo. Assim, naturalmente, parte-se para a pressão.

É triste, é.
Prejudica os usuários? Prejudica. Mas não é motivo para colocar a população contra os grevistas. Eles têm o direito de lutar pelo que acham certo, e a população deveria cobrar de quem pode resolver e ajudá-los a mudar esse quadro.

Se o prefeito pegou o caixa quebrado, o que não é novidade na nossa cidade, e se 60% da arrecadação vai para folha de pagamento, que resolvam os vereadores e seus assessores. Vamos cortar.

É justo que alguns funcionários fixos ganhem aproximadamente 2 mil reais e vereadores que estarão na câmara por apenas 4 anos (oi?) ganhem 5x mais?

Não é.

Impostos servem para garantir a qualidade de vida do morador da cidade, a longo prazo, nada mais.

O Udo doou o seu salário. Se os vereadores estão tão preocupados com Joinville, que façam o mesmo, diminuam seus custos.

Na Suécia os vereadores não recebem salário e não tem nenhum benefício.
Nem carro, nem diárias, nem celulares ou assessores como fazem os ricos vereadores de Joinville. E olha que as cidades aqui estão muito melhor cuidadas e organizadas.

Os vereadores suecos uma vez eleitos, saem de licença dos seus trabalhos e continuam recebendo o mesmo valor de suas funções anteriores, mas agora pagos pelo governo. Isso faz com que eles tenham realmente uma carreira profissional fora da vida pública. E é óbvio, o governo não gasta horrores porque os salários, claro, não são altos. As pessoas que se candidatam, de forma geral, querem realmente trabalhar pela cidade e não garantir o pé de meia.

Então, queridos vereadores, não fiquem de hipocrisia, fazendo de conta que estão apoiando o reajuste da inflação para os funcionários, quando o seu já está garantido. Nos últimos 10 anos seus salários dobraram, e não acredito que isto tenha sido só a inflação. De acordo com essa reportagem a maioria está muito satisfeita com o valor. Shame on you!

A Seleção foi convocada e o que você achou?

POR GABRIELA SCHIEWE

Inevitável comentar a convocação da Seleção Brasileira para a Copa das Confederações. Pela tônica da convocação, ficou muito claro que se trata de um trabalho a longo prazo, visando à Copa do Mundo.

Bom, como sempre a Seleção é um caso à parte, pois várias convocações se mostraram totalmente desnecessárias no que tange à tônica acima. Então, vamos começar falando dos que não foram convocados. É sempre mais bacana falar disso, porque criticar negativamente é muito melhor, não?

Ronaldinho Gaúcho, Kaká, Ramires e Alexandre Pato ficaram de fora. E agora? Agora que não entendi mais nada. Será que o Felipão pode explicar o porquê de ter convocado esses jogadores se a sua tônica era outra?

O Kaká não vem jogando no Real Madrid não é de hoje. No entanto, teve uma participação bem ativa quando foi convocado, demonstrando qualidade e vontade em campo.

Alexandre Pato vinha sendo convocado, fez boas atuações e ficou de fora. Como assim?

Já o Ramires, corre à boca pequena, que o seu atraso custou a convocação. Pelo amor, não acredito que a qualidade de um jogador foi colocada de lado devido um atraso. Não aguenta???? Bebe leite. Gente, para que serve todo aquele staff da seleção e aplicação de multa? Nada disso é suficiente para colocar um jogador nos trilhos.

E por fim ele. Sim o aclamado Ronaldinho Gaúcho. Tudo bem, ele não fez nenhuma apresentação na seleção que chegasse aos pés do que vem fazendo pelo Atlético, mas esse papo também já virou chavão.

Até porque, como um jogador, nas poucas vezes que se apresenta (e em cada uma delas com peças diferentes) conseguirá apresentar o mesmo futebol que apresenta pelo seu clube, onde joga sempre com os mesmos companheiros, treina a semana inteira? Não precisa ser nenhum phD em física para chegar a esta conclusão.

Ah, mas o Bernard foi convocado. Sim, ele foi. Mas então porque não jogou mais pelos amistosos da Seleção? Hummm, coisa esquisita.

Ok, vou falar sobre a lista de convocados e confesso que, no geral, gostei. Sim, gostei. Divergência de nomes sempre haverá, visto que existe muito jogador brasileiro bom e por isso nunca haverá consenso na convocação.

Pelo menos, na sua grande maioria, todos que foram convocados se apresentaram bem na seleção quando requisitados. Uns menos, outros mais, mas agradaram.

Agora tem uma convocação que sou totalmente contrária, Júlio Cesar. Não dá mais para encarar ele como goleiro titular do Brasil. Já teve uma fase fantástica, mas já não se encontra nela faz tempo. Suas falhas, e das piores, são constantes. Na última Copa do Mundo já foi assim. Tem sido o mesmo no clube inglês em que vem atuando (veja a classificação no Campeonato Inglês, diz alguma coisa), nas vezes que atuou nos amistosos. Não da pra engolir, não é Zagallo?

Mas agora foi e o negócio vai ser torcer - e muito - para que saia alguma coisa boa disso aí.

Molhados, o que vocês acharam da convocação? Alguém que deveria ter sido convocado? Concordaram? Acharam um fiasco? Diz aí!

terça-feira, 14 de maio de 2013

O seu dinheiro jogado na rua

POR JORDI CASTAN

Há uma queixa, principalmente dos técnicos do IPPUJ, de pessoas que se consideram injustiçadas pelo pouco reconhecimento e até pelas críticas ao trabalho que desenvolvem. Chegam a posar de perseguidos, frente ao que não é mais que uma simples comprovação estatística  É importante que esse trabalho seja reconhecido e é a isso que nos propomos  neste texto.

Acompanhem as imagens (o primeiro conjunto de fotos se refere a obra realizada há poucos dias na Rua Padre Antônio Vieira). É evidente que a obra foi mal planejada, a rampa não atende à legislação sobre acessibilidade, o material é reaproveitado, a execução é péssima e o acabamento não deveria ser aceito se houvesse algum tipo de fiscalização. O pior é o perigo que representa o obstáculo criado, para os veículos que trafegam pela citada rua.



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O segundo conjunto de imagens, tomadas menos de uma semana depois de inaugurada a obra-mestre da nossa engenharia de tráfego, mostra que mais de um veículo já bateu nela, passou por cima do canteiro, quebrou o meio fio e que precisará ser refeita ou reformada. Alguém será responsabilizado? O mais provável é que não e que a obra seja reformada frequentemente.

Enquanto os contribuintes continuarem pagando a preço de ouro por obras de pessima qualidade e sustentando a incompetência que tem se instalado no país, seguiremos presenciando este tipo de obras mal feitas, um dreno de recursos públicos que, por mal usados, acabam sendo sempre escassos.

O prefeito Udo Dohler terá muito trabalho, com a equipe que tem se quiser mesmo cumprir o que veementemente afirmou no seu discurso de posse, quando afirmou: "Não permitiremos o desperdício de um único centavo do dinheiro público".



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A melhor parte da obra é o toque que proporciona o canteiro de flores de amor perfeito. Alguém imaginar que um canteiro de flor possa prosperar com 10 cm de barro sobre o asfalto mostra o nível de ignorância e incompetência que por aqui viceja e não acaba. É a cereja do bolo. 


O DINHEIRO DO CONTRIBUINTE - Há, entre a maioria da população, a percepção que as obras públicas projetadas e executadas em Joinville estão longe do ideal, tanto no que se refere à qualidade do projeto, quanto na contratação, fiscalização e execução.

É importante entender cada um dos passos. O projeto define o que será feito, onde será feito e de que forma será executado. Os projetos das obras públicas, em Joinville, são responsabilidade do IPPUJ. Depois do projeto pronto, a contratação compete à Secretaria de Administração, ao Ittran. Ou pode também ser responsabilidade da Fundema ou da Fundação Cultural, entre outros órgãos da administração pública que elaboram os processos licitatórios para contratar a empresa ou as empresas que executarão a obra ou serviço.

A fiscalização pode ser própria, da Prefeitura, ou contratada a terceiros. É responsabilidade da fiscalização garantir que a obra seja executada de acordo com o que foi projetado, verificando a quantidade e a qualidade dos materiais e acabamentos, para que o resultado final seja exatamente o projetado. Cabe à empresa contratada executar a obra de acordo com o projeto, nos prazos estabelecidos no contrato e pelo preço contratado.

Numa leitura rápida, fica claro que há uma boa possibilidade que o processo não funcione como o previsto e assim o resultado da maioria das obras públicas - não só em Joinville, mas em praticamente todas as cidades brasileiras - pode ser classificado entre ruim e péssimo. O maior problema, além de todos os incômodos que ocasionam estas obras mal projetadas, mal contratadas, pouco fiscalizadas e pior executadas é o desperdiço de recursos públicos. Dinheiro seu, meu, nosso, que corre pelo ralo. E além de gerar aditivos e sobrepreços exagerados na fase de construção, ainda exigem reformas e retrabalhos antes de ser inauguradas, e revitalizações ou reformas estruturais pouco tempo depois de entrar em uso.

Se nos concentrarmos em Joinville, não há uma obra pública de porte executada nos últimos 10 ou 15 anos que fique a salvo desta análise. Seja o Centreventos Cau Hansen, a Arena, a Passarela Charlot, o Megacentro Wittich Freitag na Expoville, qualquer um dos Parques do Fonplata ou das obras maiores de pavimentação e drenagem. A nível nacional a quantidade de obras que entrariam na lista é logicamente maior e os volumes envolvidos são quantiosos, desde a transposição do Rio São Francisco, passando pelas obras dos Jogos Panamericanos, sem esquecer as duplicação da BR 101 e tantas outras que com certeza estão ainda na memoria do leitor mais atento. A lista é, lamentavelmente inesgotável.

Se imaginava que a nova administração mudaria o cenário e que Joinville entraria numa fase em que a qualidade e a correta aplicação dos recursos públicos seria prioritária, então é bom tirar o cavalinho da chuva, porque a tônica é a mesma que em governos anteriores ou pior.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Os subalternos podem falar: pelo fim do "urbanês"

POR CHARLES HENRIQUE VOOS

Há alguns anos a escritora indiana Gayatri Spivak lançou uma pergunta no mundo da Antropologia que ecoou longe: "pode o subalterno falar?". O sujeito subalterno na definição de Spivak é aquele pertencente às camadas mais baixas da sociedade constituídas pelos modos específicos de exclusão dos mercados, da representação política e legal,e da possibilidade de se tornarem membros plenos no estrato social dominante. Em Joinville, como em qualquer outra cidade, convivemos com (e até mesmo somos) subalternos urbanos, pois somos reféns de um modelo de urbanismo imposto, conforme já relatei em outra oportunidade.

Após a regulamentação do Estatuto da Cidade em 2001, e de nosso Plano Diretor em 2008, os preceitos democráticos no planejamento urbano devem ser assegurados em qualquer ação estatal. Nesta lógica, todos possuem a oportunidade de participar, expressarem suas ideias e dialogarem. Afinal, planejar a cidade é lidar diretamente com a vida das pessoas. Infelizmente, alguns agentes (travestidos de grupos sociais de origem econômica) entendem de forma totalmente diferente.

Estas pessoas defendem que o planejamento urbano deve atender às demandas de mercado, aquelas que representam a vontade de um sistema que gera subalternos urbanos. Forma cidadãos que, por muitas vezes, não possuem o mínimo de dignidade para sobreviver. Não "aparecem". Moram na longínqua periferia. Tornam-se impessoais na coletividade. Respondem a regras anônimas de submissão ao trabalho. Não têm acesso a um adequado sistema educacional. Não "entendem" de planejamento urbano - e nunca entenderão, se a lógica dominante-dominado persistir.

Estes agentes sociais trabalham nos bastidores para a "tecnização" das discussões relativas ao planejamento urbano. O poder de dizer o que é melhor para a cidade não é mais do subalterno, mas sim do técnico, que é o responsável pela organização do processo. Este técnico, por sua vez, raramente é orientado a dar a oportunidade de falar a aquele que será o principal atingido. O processo democrático, de natureza inclusiva, é excludente: poucos participam da tomada de decisões e são representados "democraticamente" por aqueles dominantes interessados em articular os interesses de outros representados, os oriundos de setores extremamente segregadores e maléficos para as cidades como um todo (indústrias com necessidade de expansão, imobiliárias, construtoras, incorporadoras, loteadores, etc.).

Por isso, se o planejamento urbano é feito para as pessoas, pois elas que habitam a cidade, é para elas que as discussões devem se dirigir. Por mais que a maioria subalterna não entenda de termos técnicos ou mapas setoriais multicoloridos, ela pode falar e deve ser orientada didaticamente a tal situação. Sem mapas setoriais. Sem segredos. Sem siglas. Sem "urbanês". O movimento contrário a isto carateriza-se apenas por um motivo: esvaziar o principal espaço de mudança social, que é caracterizado pela participação popular de base e garantido por lei, o qual deveria combater interesses econômicos que, quase sempre, vão contra à cidade ideal e à cidade que todos queremos.

domingo, 12 de maio de 2013

Dia das Mães


POR ET BARTHES
O filme (emocionante) foi feito para as Olimpíadas de Londres, mas serve na perfeição para o Dia das Mães. O trabalho mais difícil do mundo é o melhor trabalho do mundo.


sábado, 11 de maio de 2013

E pra que serve, afinal, a história?



POR CLÓVIS GRUNER

O convite para escrever no Chuva Ácida, agora como colaborador fixo, não apenas reforça o vínculo com uma cidade que, talvez, nunca venha a ser apenas um retrato na parede. Ele me coloca uma vez mais diante da tarefa de pensar sobre o lugar de Joinville em minha trajetória. Já me ocupei disto em outras ocasiões. Aqui mesmo, em minha primeira colaboração com o blog, indagava em outra ocasião sobre uma incômoda tendência ao provincianismo, a reafirmar alguns lugares comuns sobre a cidade. Considerava-a, então, modelar da “modernização conservadora” que, reconheça-se, é característica intrínseca a muitas das cidades brasileiras que viram sua economia e população crescerem principalmente a partir dos anos 50 do último século.

Na época, apesar da visão pouco otimista sobre a cidade, a maioria dos comentários preferiu questionar minha crítica a certa interpretação da história local, o que pareceu soar para muitos como uma verdadeira heresia. Afinal, me achava no direito de colocar em questão alguns dos cânones historiográficos locais, como se o passado fosse coisa com a qual se pudesse mexer. Justo eu, que não possuo outras credenciais além de ser...  joinvilense e historiador. Quase um ano e meio depois, não vejo razão para desdizer nada do que escrevi.

OLHAR O PASSADO – Há poucos dias, o Jordi Castan ironizava aqui as promessas de futuro para Joinville. Contrastado o seu texto com a pequena série assinada pelo Charles Henrique, a propor do presente um diagnóstico nada complacente, a conclusão é desanimadora. Nestas horas, quando presente e futuro parecem não oferecer maiores ou melhores alternativas, olhar pelo retrovisor poderia ser uma estratégia: auscultar o passado pode nos ajudar a entender não apenas o que somos, mas principalmente como nos tornamos o que somos.

O problema é que Joinville é refém do seu passado. A cidade possui um Arquivo Histórico que já foi referência nacional e conta com um acervo documental invejável, além de um curso de graduação em História que completa 45 anos de atividades. Nas últimas duas décadas inúmeras dissertações e teses têm escrito a contrapelo sua trajetória, inclusive derrubando alguns de seus muitos mitos historiográficos – e cito, a título de exemplo, a excelente e inovadora pesquisa de Denize da Silva, defendida em 2004 no Programa de Pós-Graduação da UFPR, que colocou abaixo a versão de que não houve trabalho escravo na Colônia Dona Francisca.

Apesar disso, sempre que se fala sobre a história local prevalece quase sempre uma única versão, emblematicamente sintetizada na frase do historiador Apolinário Ternes em artigo publicado no dia 9 de março deste ano em caderno especial de A Notícia: “A vocação de Joinville é a de cidade industrial. O que disseram a mais tem a força apenas da retórica.” Dito de outro modo: nada do que se disse, diz ou dirá que contradiga esta alegada “vocação”, tem legitimidade histórica. O destino da cidade, a pautar-se pela afirmação de seu historiador oficial, já estava escrito desde sua fundação em 1851. Contradizer esta visão teleológica é nada mais que um esforço meramente retórico.

ESCREVER UMA OUTRA HISTÓRIA – Mas o passado, apesar de Apolinário Ternes, é sempre conflituoso. E no caso de Joinville, o que falta é assumir no presente este conflito. Seria simples e cômodo afirmar como natural a aceitação de uma leitura sempre a mesma da história. Simples, cômodo e enganoso. Porque se por um lado é verdade que o respaldo, inclusive midiático, desta versão oficial contribui para reproduzi-la e perpetuá-la até a banalização, também o é que os esforços para a desconstruir têm sido limitados. Até mesmo iniciativas interessantes e que renderam, algumas delas, bons frutos, foram sepultadas. 

Há alguns anos a professora Sandra Guedes foi responsável por organizar, no âmbito do curso de História da Univille, encontros onde pesquisadores de graduação e pós-graduação apresentavam resultados de suas pesquisas – eu mesmo, à época mestrando, participei duas ou três vezes do evento, apresentado fragmentos do que viria a ser minha dissertação. A coisa toda ficou no caminho lá pela quinta ou sexta edição, salvo engano. Em 2007, o Arquivo Histórico lançou o primeiro volume da Revista do Arquivo Histórico de Joinville. Primeiro, único e último, porque há seis anos espera-se pelo segundo. E não se pode nem mesmo culpar os altos custos de impressão, porque não são poucas as revistas acadêmicas, algumas muitíssimo bem conceituadas, que optaram por publicar apenas versões on-line, mantendo assim sua periodicidade e mesmo aumentando seu poder de inserção junto ao público leitor. Dos trabalhos acadêmicos, poucos são os que perfizeram a trajetória das bancas de defesa às prateleiras das livrarias e, mesmo estes, caem em relativo ostracismo, vítimas de uma política pouco agressiva de divulgação e distribuição da editora da Univille, responsável pela publicação da maioria deles.

Sim, sei que a tal cultural local, provinciana e conservadora, é uma das responsáveis pelo relativo marasmo histórico e historiográfico. Mas, como disse, tal constatação é, além de simples e cômoda, enganosa. Porque há outros meios – e se não há, trata-se também de inventá-los – além dos formais para se intervir no espaço público, que é onde efetivamente interessa que a história e os historiadores estejam presentes e atuantes. O problema não é apenas uma cidade centenária e seus mais de 500 mil habitantes terem com seu passado uma relação conformista, aceitando como verdade o que é apenas uma versão – e como toda versão, de força também retórica. O problema maior reside, a meu ver, na incapacidade crônica de contradizê-la, de desconstruir a verdade que ela não apenas insinua, mas pretende afirmar e impor; de mostrar, enfim, sua fragilidade, opondo a ela outras interpretações possíveis dos muitos passados que habitam a história joinvilense.

Como historiador, acredito que uma das funções do ofício que escolhi é nos educar para a descontinuidade. Historiadores prestam um desserviço ao presente quando insistem em escrever uma narrativa que estabelece um continuum entre o hoje e o ontem, entre o que somos e o que um dia já fomos. Indagado certa vez sobre a quem interessa a história, o filósofo francês Michel Foucault respondeu que ela interessa, sobretudo, ao poder. Apenas uma história capaz de nos libertar do fardo do passado cumpre uma função ética e política fundamental: mostrar que o que somos no presente não é natural, não é algo dado, mas uma construção. E se nosso presente não é a realização de uma vocação, o futuro pode ser indisciplinado na medida em que nossos desejos e nossa vontade o quiserem. Não é buscando no passado uma origem e uma identidade fixas e únicas, mas nos afastando dele, estabelecendo nossa distância e diferença, que Joinville talvez encontre um caminho para construir um futuro capaz de arrancá-la de sua incômoda zona de conforto. E a história terá valido a pena, porque não serviu apenas ao poder e aos poderosos.