segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Menos FM

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO
Há coincidências estranhas. Como ia sair de férias, decidi adiantar uns textos com a ideia de me manter o mais longe possível do computador. E um dos temas preparados era um elogio ao jornalismo da Mais FM, comandado pelo jornalista Marcão Braga. Mesmo vivendo do outro lado do Atlântico eu era um ouvinte assíduo (menos naqueles dias, não tão raros assim, em que a internet não funcionava). Mas agora que o Marcão Braga e o seu pessoal saíram do ar, tive que voltar ao teclado e emendar o texto.
A minha análise ia neste sentido: o rádio é um meio de comunicação muito maltratado em Joinville. É inacreditável que não se tenha evoluído quase nada em três ou quatro décadas. É triste que o rádio seja o porto seguro de incompetentes, inconsequentes e uma canalhada que só empurra a imagem da cidade para o lodo. O trabalho da equipe do jornalista Marcão Braga estava a ir em sentido contrário, a mostrar que é possível fazer radiojornalismo com profissionalismo e evitar o rame-rame foleiro que é uma marca da rádio local.
Ok... não me interessam as tricas que envolveram a saída. Não sei o que houve, não quero saber e não tenho raiva de quem sabe. E para o pessoal que adora ver interesses ocultos em tudo, deixo claro: o meu único interesse é o desejo de uma mídia moderna. Porque, bem sabemos, não é possível fazer uma cidade moderna com uma mídia que ainda vive em tempos goebbelianos. Quem percorre o dial do rádio em Joinville sabe que estamos a anos-luz de uma mídia decente. Mais do que isso, o que temos é um insulto à inteligência dos ouvintes. É um show de horrores.
Aliás, vale um comentário. As pessoas que me conhecem sabem que eu gosto de Joinville (tanto que passo todas as minhas férias aqui). E vez por outra dou por mim lá em Lisboa a pensar em voltar. Mas ao longo dos anos desenvolvi uma técnica desencorajadora. Sempre que bate uma vontade de voltar, eu vou para o computador e ouço certos “jornalistas” do rádio joinvilense. É tiro e queda. Qualquer pessoa com dois dedos de cérebro desiste logo, porque os caras fazem a cidade parecer um pântano ético e moral. É uma escrotidão.
O trabalho da equipe de Marcão Braga chegou a dar a esperança de que as coisas iam mudar e que finalmente o radiojornalismo iria caminhar para o profissionalismo, a credibilização e a seriedade. Mas parece que voltamos à estaca zero. Espero que seja por pouco tempo e que logo alguém decida assumir esse tipo de projeto. Porque ao longo dos últimos meses, graças ao trabalho do Marcão Braga e do seu pessoal, estive mais ligado a Joinville, mesmo vivendo a 10 mil quilômetros. Isso é modernidade.
Não sei como é para os leitores e as leitoras, mas eu acabo de ficar sem opção decente de radiojornalismo em Joinville. E ficamos todos com menos FM.

P.S.: Você, leitor anônimo, que já está pensando em fazer uma ligação entre este texto e o Charles Henrique, não perca o seu tempo. Não trouxe o meu computador... e também não estou com pachorra para essa discussão.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

O bom e velho asfalto novo

POR EDUARDO SCHMITZ

A quantidade de temas relacionados a Joinville para se tratar nesse espaço deve ser sem fim. Por esse motivo, demorei certo tempo para decidir sobre o que escrever. Recortei a cidade em um espaço um pouco menor ainda, mas que deve se repetir por todos os seus 1.143 quilômetros quadrados. Para os que não sabem, moro no bairro Vila Nova, mas nem por isso estou puxando a sardinha para a minha brasa. Eu resumiria o bairro como o ornitorrinco dos bairros. Mas como já disse, não deve ser filho único.

Quero começar com uma provocação: tente chegar no bairro entre 17h30 e 19h. Uma maravilha. Quer ver então sair dele lá pelas 8h. Aí começam as aberrações. O acesso ao bairro se resume quase que exclusivamente a uma alternativa. Eu moro lá há 23 anos e conheço cada rua, mas não conheço caminho mais perto para se chegar a região central sem ser pela rua Quinze de Novembro. Um trecho curto. Nada mais que uns oito ou nove quilômetros. Trecho para ser percorrido em uns 15 minutos, mas que podem levar até 40. Ou mais. Existem caminhos secundários, como a estrada dos Suíços (mas sem condições para transitar diariamente), pelo Morro do Meio (uma volta muito grande), ou pelo novo trecho da Rodovia do Arroz (útil, se estiver indo para o Distrito Industrial).

Como temos um governo de bom coração, foi escolhida a Vila Nova para receber uma mega obra no ano eleitoral. “O Binário da Vila Nova.” Chuto, por baixo, que escuto essa frase há uns cinco anos. Mas sobre isso o que tenho a dizer é que essa obra está defasada nos mesmo cinco anos que ouço falar dela. Não quero decepcionar os mais otimistas, mas só isso não será necessário para curar a chaga que é o trânsito da Vila Nova.

Parte do caos que são as ruas, principalmente a Quinze de Novembro, é culpa dos cidadãos. Sinto a necessidade de criticar também a população. Primeiro por ficar atônica ao descaso de governos. E depois pela falta de educação no trânsito. Não é possível que as pessoas não saibam a diferença entre rua, calçada, estacionamento e ciclo-faixa. Pedestres, ciclistas e carros freqüentam os quatro espaços. A infra-estrutura dificulta as coisas, mas a falta de educação salta aos olhos.

Tudo isso deve ser potencializado com a chegada de quase 600 novas famílias ao bairro. Elas não estão saindo do nada. São fruto do projeto Minha Casa Minha Vida. Os méritos do projeto podem ficar de lado por um instante. A discussão pode caminhar para outro caminho.

A administração municipal sabia há tempos desse fenômeno migratório. A dúvida é quanto à adequação da estrutura do bairro. As 600 famílias devem representar, no mínimo, umas 1.800 pessoas. Mas trabalhando com o número de famílias vamos fazer umas suposições. Que tal colocar todas essas pessoas no “Vila Nova – Centro” às 8h e às 18h? Ou então as 600 “pessoas” cada uma no seu carro indo trabalhar. Sem falar na estrutura de saúde e educação.

O Charles e o Jordi gostam de bater na tecla do planejamento urbano e não é por menos. Já passou do tempo de uma cidade com mais de 500 mil habitantes depender de vontades eleitorais ou jogos políticos. Os discursos de “se fosse qualquer outro partido no poder teria a mesma posição” já estão vencidos. O Binário da Vila Nova é uma das melhores caricaturas desse oportunismo eleitoral. 2012 será um ano onde as boas ações terão vários pais. “Vamos ficar de olho.”

Eduardo Schmitz é joinvilense, estudante de jornalismo e opina sobre tudo. Twitter: @erschmitz

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Aleluia: só o Ministério Público salva!

POR GUILHERME GASSENFERTH


[Este é o primeiro de uma série de textos sobre os perigos que a religião pode oferecer à sociedade. Além deste, outros dois - pelo menos - versarão sobre a questão do fundamentalismo religioso e sobre o Estado laico.  Acompanhe!]

Há em curso uma situação grave e crescente no país: o surgimento e crescimento das igrejas neopentecostais. Se as pessoas querem crer nos ensinamentos religiosos repassados pelos “profetas” e “apóstolos” (como os fundadores das seitas se autoproclamam), tudo bem. É direito delas. O problema é que algumas religiões estão aproveitando-se da ignorância do povo brasileiro para explorá-lo e enriquecerem à custa de falsas promessas.

As religiões neopentecostais, vale dizer, surgiram no Brasil a partir da Igreja Universal do Reino de Deus, IURD, criada por Edir Macedo em 1977. Nos parágrafos seguintes, veremos um pouco de como agem estes falsos profetas, usando o povo brasileiro para enriquecer seus bolsos, e tudo isso com a infeliz e constitucional imunidade de impostos. E um país com 75% de analfabetismo (funcional e total) é um terreno fértil para estes espertalhões.

O bispo Edir Macedo, dono da TV Record, é aquele que ensinava os pastores a pedir dinheiro para seus fiéis, lembrando-os de ameaçar os fiéis que não doassem com a ida pro inferno: “ou dá, ou desce”. A Câmara de Representantes (equivalente à nossa Câmara dos Deputados) da Bélgica disse que a IURD é uma “associação criminosa, cujo único objetivo é o enriquecimento” e “uma forma extrema de mercantilismo da fé”. Não é à toa que em 1992 Edir Macedo foi para a prisão, acusado de “delitos de charlatanismo, estelionato e lesão à crendice popular”. Infelizmente, não passou duas semanas na cadeia e voltou a explorar a fé – e principalmente o bolso – do povo. Enriqueceu tanto que chegou a oferecer mais de meio bilhão de reais para comprar as madrugadas da TV Globo, sua principal concorrente, que recusou a oferta.

Em 1998, o pastor Valdemiro Santiago, ou o “Apóstolo” Valdemir criou sua própria igreja, a Igreja Mundial do Poder de Deus. O apóstolo Valdemiro chorou diante das câmeras (é o televangelista com maior número de horas na TV brasileira) e conseguiu arrecadar R$ 23 milhões por meio de 150 mil doações de R$ 153, o número de peixes que um milagre de Cristo produziu. Os fiéis, ao associarem o valor ao milagre, fizeram a doação de bom grado. A Igreja Mundial é uma lojinha (inha?) da fé. Vendeu um martelinho de madeira que prometia quebrar mandingas, maus olhados e os obstáculos do caminho, por mil reais cada. Também comercializou “água ungida” em garrafas pet de 400 ml. As ofertas eram de R$ 100 a R$ 1.000, e bastava uma gota desta água para mudar a história da vida do comprador. Com tanto faturamento, fica fácil fazer milagres!

Há também um tipo intolerante entre os pastores, Silas Malafaia. O pastor homofóbico afirmou que o PLC 122 (que busca incluir a discriminação por orientação sexual na lei que proíbe o racismo e discriminação religiosa) seria o primeiro passo para a legalização da pedofilia no Brasil. Parece ser um idiota, mas não é. Em 2009, lançou a campanha de venda da Bíblia da Batalha Espiritual e Vitória Financeira (!), que troca um exemplar por apenas R$ 900. É possível também virar um Parceiro Ministerial, com doações mensais de R$ 15 a R$ 1.000. A Igreja Vitória em Cristo aceita Visa, Master, Diners, American Express e até mesmo Hipercard. Não tem desculpa pra não dar. Daqui a pouco vão parcelar o dízimo.

Há dois milênios Jesus Cristo, o nome invocado por todas as personagens acima, expulsava do templo os mercadores e os compradores, que usavam a casa de oração como espaço de comércio. Valdemiro Santigo, R. R. Soares, Edir Macedo, Silas Malafaia e os demais adeptos da Teologia da Prosperidade devem fazer inveja aos antigos mercadores do templo. A megalomania não está só no nome das igrejas, como Mundial, Internacional e até Universal, mas também na conta bancária dos pastores.

Como Lutero, que combateu a indulgência e o mercado da fé no século XVI não vai voltar, o Governo deveria impedir desde já a atuação destes charlatães, exploradores, comerciantes da fé. O perigo é iminente para todos nós. A lavagem cerebral que estes pastores aplicam nas mentes vazias de seus seguidores faz que os fiéis votem nos candidatos indicados pelos pastores. E aí, o problema vira meu e seu. No caso destas igrejas, só o Ministério Público salva!

“E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões”. Mateus 21:13

PS - após ter escrito este artigo, recebi uma reportagem de um jornal mineiro - cuja autenticidade não pude verificar - que falava que a Igreja Universal do Reino de Deus passaria a aceitar cartão de crédito para parcelar o dízimo em até 12x.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Vocês vão ficar milionários

POR JORDI CASTAN


"Vocês vão ficar milionários". Alodir Cristo - vereador

 O debate sobre a LOT, as sessões extraordinárias e as, digamos, audiências públicas promovidas pelo legislativo produziram algumas pérolas e, principalmente, evidenciaram uma boa parte do jogo de interesses em que tem se convertido o planejamento urbano de Joinville. A ganância de uns, a cobiça de outros, a desfaçatez de uma minoria e o idealismo de alguns setores propiciou um quadro bastante claro do que está em jogo, quem são os atores, quem é platéia e quem paga a conta. Uma das pérolas mais interessantes foi produzida pelo vereador Alodir Cristo, que num determinado momento lançou: “Vocês vão ficar milionários”. A frase, além da sua força retórica e de conseguir criar um jogo de efeito, ficou incompleta porque não ficou claro para os ouvintes atentos se ele se referia a:

 1.- Os representantes da Associação de Moradores da Estrada da Ilha, que manifestaram repetidamente e em alto e bom som que não concordam com a proposta defendida pelo vereador, e não só por ele, de reduzir o tamanho dos lotes para 600 m2, numa área tradicionalmente rural, historicamente sujeita a enchentes e com um perfil consolidado. Entendem os moradores que reduzir o tamanho dos lotes para permitir loteamentos naquela área descaracterizará completamente a região. E também que não há infraestrutura adequada para fazer frente ao crescimento populacional que a proposta acarretaria. Caso tivessem interesse em formar parte do seleto grupo de milionários a que o vereador faz referência, deveriam vender as suas áreas de cultivo e abandonar as atividades tradicionais que formam parte do seu modo de vida. Acrescente-se ainda que representa um aumento do perímetro urbano do município, algo que o Plano Diretor não permite.

 2.- Os representantes do setor imobiliário, proponentes das diversas emendas que tem como objetivo mudar o perfil da cidade, aumentar o seu perímetro, avançar sobre áreas que hoje são rurais e, portanto, de pouco valor imobiliário. E que, de forma definitiva, seriam os maiores beneficiados com as mudanças propostas.

 3.- Os vereadores que, imbuídos do mais elevado espírito social e político, aprovam emendas com efeitos questionáveis: descaracterizando o perfil da cidade, promovendo perdas irreversíveis de qualidade de vida para as pessoas que nela moram e estimulando o adensamento e a verticalização de áreas alagáveis. Tudo isso sem infraestruturas e de forma claramente contrária aos desejos da maioria dos moradores eleitores. Mas eles o fariam na certeza que há setores da sociedade que saberão reconhecer o sacrifício dos legisladores e que os poderão recompensar regiamente no futuro próximo, pelo desgaste político que agora enfrentam.

É importante que o vereador Cristo seja mais preciso, que esclareça exatamente quem ficará milionário. E seria ainda melhor que informasse a quanto ascenderá a riqueza gerada pelas suas ações e emendas. Ainda seria ideal se a unidade de medida que ele estaria utilizando para medir o enriquecimento que propõe seriam os reais, os votos, os amigos, os metros quadrados de área construída ou qualquer outra que agora nos escape.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O que é e o que não é utopia e a razão da nossa imobilidade


POR FELIPE SILVEIRA

Achar que toda proposta de avanço social é utopia é a maior barreira para o nosso desenvolvimento humano (aquele que importa, pois o econômico só é bom se servir ao desenvolvimento humano).

Desde sempre, mas principalmente desde a segunda-feira (30) – após a audiência pública sobre a licitação do transporte coletivo –, tenho ouvido que a passagem gratuita e a criação de uma empresa pública de transporte são utopia, coisa de doido e que não vai dar certo. O ponto comum entre todas as pessoas que falaram isso: elas não conhecem a proposta. Por isso, apresento-a vocês, aqui.

Ok. Agora que você leu pode dizer o que acha, se é possível ou impossível, se é justa ou se não é. Mas não se esqueça de que é a sua opinião e não a verdade. E você provar que a sua opinião é a mais correta, sem problema algum. Para isso, basta participar do debate. Você pode, inclusive, sugerir melhorias na proposta. Vou dar o exemplo de uma delas.

O ponto mais “polêmico” da proposta da gratuidade é a conta. Afinal, quem vai pagar essa conta? (vamos retornar a essa pergunta daqui a pouco). A proposta, que você acabou de ler, oferece algumas respostas. A principal delas é o IPTU progressivo, que além de financiar o transporte de milhares de cidadãos, permitindo o acesso à cidade, acabaria/reduziria a especulação imobiliária, resolvendo, ou chegando perto, pelo menos, de resolver o problema da falta de moradia. No entanto, a proposta também sugere, caso não seja possível o financiamento integral em um primeiro momento, o pagamento de mensalidade (baixa) a fim de fazer essa transição até a tarifa zero. Essa foi uma sugestão dada por uma das pessoas que se interessaram em debater e tornar a proposta cada vez mais viável. Assim ela foi e continua sendo construída.

Sacaram a diferença entre virar as costas e dizer que não é possível?

Mas, então, quem paga a conta? Aí entramos no debate político. Quem paga a conta do SUS, da educação? Todo mundo! Por que, então, que o transporte público, que só traz benefícios à mobilidade, ao meio ambiente, que diminui a fila no hospital e o nível de estresse da população, não pode ser financiado por toda a sociedade?

Fica claro aqui que a discussão é política, e não técnica. A segunda é importante, mas tem que estar submetida à primeira. E, para discutir tudo isso política e tecnicamente, é preciso vontade e coragem. Virar as costas, dizer que é utopia, e continuar a ser explorado pode ser mais fácil em um primeiro momento, mas essa é uma escolha sua.

terça-feira, 31 de janeiro de 2012

A preguiça, a incompetência e as irresponsabilidades das políticas urbanas

POR CHARLES HENRIQUE

“Ridículo”. Foi esta a expressão que saiu da boca de uma funcionária comissionada da Prefeitura ontem, após o término da Audiência Pública na Câmara de Vereadores, que tratava sobre a licitação do transporte coletivo. Óbvio que ela estava falando sobre as manifestações críticas que foram enunciadas pela sociedade civil, presente de forma organizada, ou não. Aliás, eu que por vezes critiquei a Frente de Luta pelo Transporte Público, tenho que elogiar e ressaltar a roupagem democrática de suas intervenções. Exaltar também a coragem da Prefeitura Municipal de Joinville em ouvir a população, fato que nunca foi feito quando o assunto é transporte coletivo.

Ocorre que, a população assistiu de camarote durante anos uma ação de política urbana ineficaz, caracterizada por momentos de preguiça, de incompetência, e de irresponsabilidades. Isso tudo culminou na noite de ontem, pois quando a população não discute propostas, e dá lugar a questionamentos sobre a base de todo o processo, é sinal de que algo não saiu da forma mais correta. A insatisfação com o sistema de transporte coletivo foi notória. E mais ainda com o modo em que as coisas estão sendo conduzidas.

A preguiça é identificada no simples fato de que a Prefeitura sentou com a população pela primeira vez na noite de ontem, para discutir os dados da Pesquisa Origem-Destino (primeira etapa de um Plano de Mobilidade, instrumento previsto no Plano Diretor de 2008), esta que foi elaborada no primeiro semestre de 2010. Praticamente um ano e meio de tempo para o diálogo, para a construção de um plano de mobilidade que pautasse as futuras intervenções, dando diretrizes e caracterizando programas de planejamento urbano. Querem que as pessoas entendam de Pesquisas, números e mais dados complexos (até para quem trabalha e estuda sobre isso), e ainda dêem sugestões (!!!) em duas audiências. A preguiça ceifou a oportunidade de termos quase uma centena de audiências por todos os bairros dessa cidade.

A incompetência aparece na não-confecção do Plano de Mobilidade antes das discussões sobre transporte coletivo. A mobilidade urbana é um reflexo de todos os condicionantes sociais, espaciais e econômicos, que, interligados entre si, formam tudo aquilo que hoje consideramos como cidade. Não dá para montarmos um sistema de transporte coletivo por ônibus sem pensarmos conjuntamente nestes fatores. Ontem, após pressão de vários setores sociais, o IPPUJ disse que o Plano de Mobilidade está sendo revisado e será enviado para o Conselho da Cidade, e, após isto, para aprovação na Câmara de Vereadores. Mas só agora? E as audiências com a população? Vai ser que nem na Lei de Ordenamento Territorial, um processo sem audiências públicas? Carroça na frente dos bois, sempre.

As irresponsabilidades se apresentam na junção das duas adjetivações supracitadas. A não-confecção do Plano de Mobilidade, juntamente com a preguiça de querer tratar a licitação do transporte coletivo, não ouvindo o povo no tempo de sobra que teve, e, após meses de expectativas, avisar que tudo é pra ser resolvido “pra ontem”. Uai (que nem diz o pessoal lá de Minas Gerais e do centro-oeste), agora querem que tudo seja rápido? Ridículo é a Prefeitura (e todos os órgãos que compõem a polêmica comissão criada para organizar o processo licitatório) querer dançar tango com passos de samba.

PS: para quem quiser ouvir a entrevista da Presidente do IPPUJ, Roberta Schiessl, sobre este tema, aí vai o link da entrevista que ela concedeu ontem (30jan) para o Jornalismo da MAIS FM: http://t.co/P6R0IIhr

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Udo Döhler vai abraçar a Viúva Porcina?

POR JOSÉ ANTÓNIO BAÇO

O nome mais fora de lugar entre os pré-candidatos à Prefeitura de Joinville é Udo Döhler. Por uma razão simples: ele não precisa do emprego para nada. Afinal, ao contrário da maioria dos seus pré-adversários, o empresário já está com a vida ganha e não lucra grande coisa ao se meter no lodaçal da política.
Aliás, neste momento deve haver muita gente a fazer a mesma pergunta: por que razão o empresário iria deixar uma aposentadoria dourada para ingressar numa atividade armadilhada como a política? Prestígio pessoal? O gostinho do poder? Vaidade? Tédio? Conselhos duvidosos? Ok... essa é uma questão de foro íntimo que só ele próprio poderá responder.
No entanto, há um fato incontornável: ninguém chega onde Udo Döhler chegou tomando decisões mal pensadas. E o empresário sabe que, ao avançar com a candidatura, tem um importante diferencial a seu favor: os eleitores andam com o saco cheio de políticos incapazes de cumprir o que prometem.
Todos sabemos que em política mais vale a percepção do que a realidade. E os políticos tradicionais simbolizam um acumular de decepções. Nada mais lógico, portanto, que construir a imagem do candidato Udo Döhler a partir do perfil de gestor. É uma poderosa arma de marketing pessoal, sem sombra de dúvida.
Muitos eleitores – por ingenuidade ou legítima fé – acham que a solução passa por um governo tecnocrata. Não passa. Nenhum município pode ser governado com soluções puramente empresariais. Ser um gestor tem vantagens, mas também os seus óbices. Haverá muitos momentos em que o administrador precisará vestir a pele de político. E o fator político pode ser a kriptonita de Udo Döhler.
A VIÚVA PORCINA –  O problema para o empresário não é a candidatura em si, mas tudo o que ela comporta. Ou seja, a sua vitória significa a volta da maralha do PMDB ao poder (se bem que nunca saíram de lá). E qualquer pessoa com dois dedos de memória sabe que isso não augura coisas boas.
O que é o PMDB, tanto no plano nacional quanto local? Uma gororoba ideológica. Uma mistela moral. Um esturricado ético. No caso de Joinville, ao longo das últimas administrações, o partido tem sido uma espécie de Viúva Porcina, aquela que foi sem nunca ter sido. Ou seja, esteve lá sem ter estado.
E como em política só falta ver boi voar, ninguém pode pôr de lado a possibilidade de coligações com os caras da tríplice. E aí corremos o risco de tudo virar um bordel fisiológico, com a Viúva Porcina no papel de cafetina. O risco da promiscuidade é tanto que nem a imagem de seriedade de Udo Döhler escapará ao contágio.
Há outro fator interessante. Tem gente a fazer analogias e a pensar que Udo Döhler pode ser uma espécie de Wittich Freitag dos nossos dias. Besteira. Todos sabemos que a história só se repete como farsa. E os tempos são muito diferentes. Hoje temos uma mídia mais democratizada. As redes sociais, por exemplo, são uma mídia incontrolável e capaz de provocar danos sérios na imagem dos políticos. Aliás,vivemos tempos tão diferentes que até um zé-ninguém como eu pode vir para um blog e tentar dissecar a candidatura do empresário.
Bem-vindo ao mundo da política, sr. Udo Döhler. É bom começar a conviver com a ideia de virar vidraça. Porque , não tenho dúvidas, tem gente a acumular pedras.

sábado, 28 de janeiro de 2012

A imprensa e o ônibus


POR JOSÉ ROBERTO PETERS


Quando cheguei a Joinville para estudar, no final dos anos 70, a cidade era muito diferente do que é hoje: poucos prédios e só a Santos Dumont asfaltada. Diziam que o lençol freático era muito alto para asfaltar e para grandes construções. Eram duas empresas de ônibus: os azuis dominavam o norte e os marrons o sul. Parecia uma espécie de guerra da secessão: de um lado, os caras do Norte, do outro, os caras do Sul.

A gente comprava os bloquinhos de passe — os azuis só recebiam os deles — que valiam até que as passagens aumentassem de preço. Aí tínhamos que dar um passe e completar o resto com dinheiro. Demorou até que as empresas entendessem de economia: a gente pagava adiantado, poxa. Os diretórios acadêmicos da FURJ e da FEJ até que tentavam lutas pelo passe estudantil. Mas quem respeitava estudante naquela época? Era o tempo da novembrada, do governo militar.

O tempo foi passando e algumas coisas foram mudando: os ônibus ficaram todos amarelos. Lembro que quando estava no DCE da Univille, já nos anos 90, fretamos dois ônibus para levar estudantes do centro direto até ao Bom Retiro. Era a nossa tentativa de lutar pelo passe estudantil, denunciar o monopólio e mostrar aos “empresários de visão” que havia gente suficiente para abrir uma nova linha.

Fomos barrados na Santos Dumont por várias viaturas da polícia com homens armados de escopeta e tudo. O aparato policial contra dois ônibus com cerca de oitenta estudantes armados até os dentes com cadernos, livros e canetas: gente perigosa. Ah! Junto com a polícia havia também um fiscal da prefeitura — em hora extra, pelo jeito — para conferir a licença dos ônibus.

Após uma negociação, um tanto quanto tensa, fomos liberados para ir até à faculdade. A partir desta foi colocada uma linha direta do centro até a Univille. A imprensa na época não deu uma linha do nosso protesto, mas gastou algumas para dizer da visão dos empresários que abriam uma nova linha para a população.

Quando anunciaram que Joinville ia ser uma das primeiras cidades do país a usar a bilhetagem automática, lembro-me de ter conversado com alguns cobradores e perguntar o que seria dos empregos. Eles diziam que os donos das empresas já haviam falado sobre isso: iriam transformar todos em motoristas. Que bom. Principalmente se fosse verdade. Parece que muita gente não sabia fazer as contas: um ônibus um motorista. E a imprensa — principalmente alguns radialistas — se vangloriava do status de primeiro mundo de Joinville.

Lá por 2007 — eu já não estava mais em Joinville — aparece o movimento pelo passe livre e alguns “jornalistas” atacaram. Qualquer um pode ver no Youtube as cenas e os comentários isentos enquanto mostravam as imagens: “Ele não tem dinheiro pra pagar ônibus, mas olha a banha”, dizia um dos “jornalistas” falando sobre um dos manifestantes. “A polícia tem de agir, pois é contra a constituição fechar as ruas”, dizia outro.

Pois é, mas as coisas mudam. Agora acertaram o tom. Quando a polícia usou gás de pimenta sobre os manifestantes contra o aumento das passagens, a mesma "imprensa" ataca o prefeito — que por um passe de mágica passa a ser o comandante da PM. A concessão do serviço público ganha espaço na mídia. Gente que nunca andou de ônibus ataca o monopólio. Discute-se a inflação com gráficos e que tais.

Tô gostando de ver. Acho até que vou recomendar este pessoal da "imprensa" de Joinville pra ajudar a dar um pau na polícia paulista. Uma polícia que prende e agride estudante na USP, que manda bomba de efeito moral nos que lutam pelo passe livre na Paulista e que agora está dando um show na desocupação do Pinheirinho, em São José dos Campos. A grande imprensa tem muito a aprender.


José Roberto Peters é matemático e foi professor universitário em Joinville.

Frituras, fritados e mais autoflagelação



sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Um filme feito com livros

ET BARTHES
Os livros podem construir uma boa história em vídeo? Claro que sim. É a prova é este filme feito por um casal de Toronto, que passou duas noites sem dormir para produzir os movimentos dos livros. É obvio que os dois tiveram a ajuda de outros voluntários. O cenário foi a livraria Type, em Toronto. O resultado final, um espetáculo de movimento, vale a pena.