sexta-feira, 5 de outubro de 2018
Vida longa à Constituição de 1988!
POR FAHYA KURY CASSINS
Eu sou filha da Democracia. Uma geração inteira que nasceu junto com ela, no raiar de novos dias para o país. Era, finalmente, tempo de liberdade. Meus irmãos nasceram na Ditadura. E mesmo o início da Democracia não foi nada fácil, ela foi sabotada várias vezes, ao gosto dos que não queriam a liberdade de todos, e, também, daqueles que nunca souberam dar a ela o devido valor.
Não é qualquer um que valoriza a liberdade. Há, até mesmo, quem a desgoste. E esta liberdade não era algo frágil, simples, ela constituiu-se no papel. Mais nova que eu é a nossa Constituição. Entrei na escola com o impeachment de Collor, o primeiro de nossa História, recém acontecido. Anos depois, ainda no Fundamental, na lista de material escolar constava a Constituição. Foi com orgulho que eu a carreguei na mochila, foi com orgulho que vi professores falarem dela – eles que, na maioria, haviam vivido a Ditadura e foram testemunhas dos novos tempos.
A Constituição não é só um papel. Ela é a nossa segurança e a nossa estabilidade. Fomos criados como democratas constitucionais, para respeitá-la e defendê-la. Os mais velhos podem não saber respeitá-la porque, afinal, a olham com desconfiança e desprezo, por terem vivido tanto tempo sem ela. Os mais jovens, infelizmente, nem a conhecem. Estes não sabem o quanto da vida deles depende da Constituição. As escolas não exigem-na mais nas listas de materiais escolares, não comemoram nem fazem homenagens no dia de hoje. Muitos destes jovens e destes idosos a rasgariam sem piedade.
Se depender de nós, filhos da Democracia, ela não será rasgada, nem trocada por qualquer uma das opções que estão tentando nos oferecer. Quem a despreza é porque sequer a conhece. É nela que estão garantidos o acesso à Educação, à Saúde, à Segurança; os direitos de Expressão, Liberdade, credo. Passaram vinte meses, mais de quinhentos constituintes e centenas de contribuições do povo, a escrevê-la porque ela é feita desta variedade de pensamentos e necessidades. Se ela é muito grande? É do tamanho do nosso país. Se ela é muito detalhada? É do tamanho dos nossos traumas. Ela é o resultado de um país experiente e de luta, que livrou-se do Império, livrou-se de ditadores travestidos de presidentes, livrou-se da escravatura, livrou-se de tudo o que nos impedia de dar voz ao povo. Um trabalho, mas acima de tudo uma experiência dessas, não se pode perder de um dia para o outro.
Não me venham falar de outras. As outras são as outras. São de países que têm outras experiências, outros traumas. Não é o nosso. Em tempos que aplaudimos discursos emocionados dos filhos da ditadura, de candidato presidencial, eu quis que houvesse o adendo dos filhos da Democracia: e não mexam na nossa Constituição. Os ratos dos porões da Democracia estão eufóricos, querem sair e roê-la. Não podemos deixá-los, porque eram eles que mandavam em outros porões que bem conhecemos. A História é uma só.
Assistia agora a uma reportagem de uma TV francesa. Sobre suíços que moram no Brasil, uma disse que para o Brasil ficar perfeito só falta produzir queijos e chocolates suíços. O outro disse que só queria um pouco da pontualidade dos suíços ao Brasil e que, na verdade, os suíços deveriam aprender com os brasileiros a pensar menos no amanhã, a permitirem-se mais viver o hoje. Os outros, até os suíços!, nos respeitam mais do que nós mesmos. Sempre desconfiei daquela conversa “ah, mas lá não-sei-aonde”. Não conhece o próprio país. Não acredita que somos bons. É este desprezo e ignorância que faz uma turma mal intencionada bradar contra a nossa Constituição.
A nossa é a melhor do mundo. E devemos protegê-la. Nos seus trinta anos, ela que universalizou o que ainda nem conseguimos concretizar, que percebeu todas as nossas diferenças, faltou nossa homenagem à altura. Pois lutaremos para mantê-las, a ela e à Democracia. O título de eleitora da minha mãe tem a minha idade. Foi quando, pela primeira vez, ela pôde fazê-lo – nascida na década de 1950. Gerações de brasileiros não souberam o que era poder, aos dezesseis anos, como eu, fazer o título e poder voluntariamente votar. Muitos o fazem hoje, sem nenhuma consciência da sua importância. Sei que votar é um dever, por ser obrigatório, mas vejo como um direito. Um direito que vejo tanta gente menosprezar por aí. E quando nos sentimos assim em relação a algo, não nos importaremos em perdê-lo. Pensem nisso. Vida longa à Constituição de 1988!
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Eu, por outro lado, sou filho da ditadura. Estudei em bons colégios públicos, lá aprendi a respeitar o professor, os mais velhos e os "diferentões" da novela Dancing Day que, veja só, passava na "tão nebulosa ditadura militar brasileira". Mas, enfim, de nada adianta explicar isso a quem cresceu ouvindo mentiras de professores e "artistas" da esquerda.
ResponderExcluirO fato é que a constituição esta aí, com todas as suas imperfeições. A única ameaça à constituição vem justamente daquele que deveria defendê-la: o STF.
Foram tantos anos de governos medíocres da esquerda, sobretudo do PT, que os ministros indicados pelos partidos (ex-adEVocados, filho da amiga da esposa, sindicalistas, etc) reproduzem toda essa mediocridade na insegurança jurídica.
Então pode apertar 17 numa boa, sem preconceitos infantis, que a constituição, a depender do novo presidente, só poderá ser melhorada, pois pior não dá pra ficar.
Um excelente filho, aprendeu a baixar a cabeça e ser submisso. Não defende a liberdade porque sequer a conhece.
ExcluirRá!
ExcluirAnônimo 20:10
Não sei se haverá uma ditadura com um ex-militar à presidência, mas tenho certeza que a frase “tomar o poder e acabar com o ministério público”, dita por alguém condenado a 30 anos e solto por parte da segunda turma do STF (suspeitíssima) é sim um forte indício de ditadura.
ResponderExcluirEntão, menos paixões e mais racionalidade com os fatos.
Há mais de um candidato propondo ataque à Constituição, foi o que eu disse no texto.
ExcluirÉ, nossa constituição é tão, tão democrática que obriga o cidadão a votar ou arcar com as consequências.
ResponderExcluirJoga fora e faz outra.
A Marina ficou com 0,5% dos votos.
ResponderExcluirONDE ESTAVAM AS FEMINISTAS?