quinta-feira, 4 de outubro de 2018
A eleição das mulheres
POR FAHYA KURY CASSINS
Na maioria adolescentes, jovens, todas mulheres, me procuraram nas últimas semanas com questões semelhantes sobre a eleição. Questionavam como lidar com parentes e familiares que anunciavam seu voto, em candidatos que ferem a nossa condição de mulher. Todas inibidas, pela idade, pela religião, pelo constrangimento familiar, em querer discutir, em querer mostrar que algumas escolhas políticas terão consequências graves para nós.
E seremos nós a definir esta eleição. Somos nós a maioria das chefes dos lares. Somos nós as definidoras do consumo. E nós fomos às ruas, dia 29, para dizer “ele não” contra candidato que se pronuncia, há décadas, negativamente em relação às mulheres. Teve gente que quis, inclusive, desmerecer esta movimentação nacional e em terras estrangeiras, mostrando fotos de que “nem foi tão grande quanto querem provar”. Bem, quanto a nos desmerecer, estamos acostumadas. A gente nasce e cresce ouvindo e vivenciando isso. Mas, claro, nem esperamos que um machão saiba do que se trata. Jamais saberá – para a sorte dele.
Até quando nascemos nos desmerecem - “dei uma fraquejada”, sabe? - nos desmerecem mesmo diante das nossas conquistas, dos nossos méritos, dos nossos diplomas. Querem, sempre, nos enfraquecer. Mas, em números já nos temem. Senão não teriam tanto trabalho em nos desqualificar o tempo todo – e a tentar conquistar nosso voto.
Decidi escrever este texto justamente para as mulheres. Porque eu ouço muito delas que Política é chato. Claro que é chato, porque é feita por homens e eles olham para nós com cara de “você não entende mesmo”. Mas as novas gerações começam a perceber que Política é importante, sim, para que não sejamos mais a estatística de uma assassinada por semana, só em Santa Catarina, para que não sejamos as preteridas na hora da promoção na empresa, para que não tenhamos nossos direitos vilipendiados.
Mas, pensando nisso, lembrei do texto do Kant, sobre esclarecimento. As mulheres, pela histórica e atroz condição de submissão e inferioridade, demoram muito a alcançar o que ele chama de maioridade intelectual. São mulheres, porém, que estudaram, em alguns casos, que trabalham ou trabalharam, que já saíram da casa dos pais, que namoram ou namoraram, que casaram. Mas, não são emancipadas intelectualmente. Para isso precisariam deixar de submeter seus sonhos, pensamentos, reflexões e atitudes aos pais/maridos/líderes religiosos. Se dizem entendidas, mas são sustentadas pelos maridos e a eles submetem seus pensamentos – nem elas percebem. São diplomadas, mas obedecem aos líderes religiosos. A maioridade intelectual é justamente libertar-se da dependência de pensamentos. Mas, no caso de ser dependente financeira e/ou emotiva, fica bem difícil libertar-se intelectualmente, não é?
O macho personifica o dominador, o arrimo emocional, o esteio financeiro e das decisões. E elas se enganam ao pensar que têm alguma opção nisso. A nossa submissão é tão entranhada, em nós e na sociedade, que muitas jamais percebem. São submissas aos pais, aos irmãos, aos namorados, aos maridos, aos líderes religiosos – a vida inteira. Porque ele é macho e, sei lá, tem gente que encontra dezenas de passagens nos livros religiosos que justificam a submissão das mulheres. Talvez porque já sejamos maioria, talvez porque eles queiram continuar mandando, talvez porque sintam-se ameaçados.
Teve uma moça que veio me contar: ficou dias sem falar com o pai. Ele estranhou e perguntou porque ela estava fazendo isso. Ela respondeu “Pai, você quer que eu case com um cara que vai mandar em mim? Que não vai me respeitar, que vai poder me agredir?” ele assustou-se e disse que não. Pois é, tem pais que não entendem a gravidade do que estão fazendo com suas filhas. Enquanto isso, conheço várias mulheres que estão sustentando seus maridos, porque ele não encontra trabalho, porque ele foi fazer o que sonhava e não deu certo, etc., e quem consegue pagar as contas é o trabalho dela (que, por vezes, ele despreza!), além de cuidar dos filhos e da casa. E mesmo entre essas a submissão está presente, mesmo algumas delas ainda não alcançaram a maioridade intelectual.
Libertar-se da tutela de alguém, intelectualmente, é a verdadeira liberdade. Mas, não nos ensinam isso. Aliás, mal ensinam Filosofia nas escolas. Vai que aparece algum babaca a chamar de esquerdismo. E liberdade significa nos livrarmos moral, afetiva, financeira, intelectualmente dos homens – sejam eles pais, irmãos, maridos, namorados, avôs, patrões, líderes religiosos, etc..
Apesar de lamentar ver estas meninas que andam de mãos dadas com pirralhos usando a camisa de candidatos machistas, e de saber que elas (mesmo não gostando muito) os apoiam, tenho esperança na eleição. Porque as mulheres são muito mais racionais do que os homens. Ao contrário do senso comum, que também sempre quis nos desmerecer, nos chamar de fracas e emotivas, nós somos, sim, muito mais racionais. Não é à toa que as campanhas estão apelando tanto para o voto feminino. Quem dera mais de nós fossem emancipadas, mas eu percebo que estamos no caminho.
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Na última pesquisa Ibope o Bolsonaro cresceu entre as mulheres. Isso após a campanha #elenão. Um conselho Fahya: tente sair do seu mundinho da esquerda. As mulheres querem saber de saúde, trabalho e segurança. Minha namorada, mãe e todas as minhas amigas vão voltar no Mito. O fato de ele ser um tosco não é problema para elas. O problema é votar em corrupto como o Haddad e Ciro. A propósito...pq você nunca fala do Ciro??? Querer cara mais machista que o Coroné.
ResponderExcluir"mundinho da esquerda" hahahaha
ExcluirJá veio um macho dizer como eu penso E o que as mulheres (sic) querem.
Nossa, fazem isso e nem percebem!
Existem processos contra o Bozonaro, Haddad e Ciro. A corrupção não é motivo pra escolher um entre eles. Próximo!
ExcluirSe VC referisse algo como alienação seria argumento ao anônimo, mas VC não tem útero, versão 2.0, é uma falácia de autoridade.
ExcluirDesculpe, mas eu acho uma baita de uma hipocrisia.
ResponderExcluirDentre os candidatos (e sub-candidato), vou lhe dizer quais deles “ferem a ‘condição’ de mulher”, veja se concorda comigo:
-Jair Bolsonaro;
-Ciro Gomes;
-Lula.
Todos os três citados acima já manifestaram algum tipo de atitude machista e misógina. Então essa revolta seletiva não cola.
Quer dizer, “vamos todas seguir a hashtag” sem questionar as consequências políticas e em pleno pleito eleitoral. Limitou-se a um sentimento sincero (embora seletivo, como sempre!) de uma maioria de mulheres que se viram usadas como massa de manobra. Sim, usadas! Foram às ruas em manifesto (delas, não das mulheres) contra alguém misógino e se viram no meio de bandeiras “#LulaLivre”, “Haddad é Lula”, “Ciro (o machão!) para Presidente”. Tinha alguém disposta a votar na Marina lá? Duvido!
Então essa manifestação se perdeu.
Quanto ao discurso da liberdade feminina, oras, vivam suas liberdades! Obviamente, a depender da profissão, de fato muitas mulheres têm seus rendimentos inferiores aos dos homens – mas isso as impedem de viverem “suas liberdades”? Até onde eu saiba a maioria das profissões regulamentadas em conselhos, onde as mulheres bem formadas e emancipadas atuam, têm os salários legalmente equiparados aos dos colegas de profissão, entretanto vejo muitas dessas profissionais felizes da vida com o seu companheiro a pagar a conta do restaurante, a abrir a porta do carro, a conduzi-la... “Ah, mas é por paixão!”, então as coisas são bem mais complexas do que simplesmente “um suposto tolhimento dessa tal liberdade” por parte dos homens.
Já disse nesse blog que é justamente a mulher quem reproduz essa submissão. Ela é mais submissa do que vítima de um submissor – e tem método nisso.
Por fim, os dados da última pesquisa da DataFoice indicam o quão esse manifesto do #EleNão foi entendido por homens e mulheres como massa de manobra. Então não sei até onde essa ojeriza ao “ver a menina de mãos dadas com o pirralho usando a camisa do candidato machista” não é, simplesmente, um inconformismo com o pensamento alheio, com a forma de ver o mundo a partir do ponto de vista das outras pessoas.
“Liberdade para os que pensam iguais a mim!”
A própria Marina esteve na manifestação.
ExcluirPor isso ela vai perder, até eu que votei nela nas eleições anteriores, não votarei nela nessa. Quis fumar a maconha estragada do PSOl.
ExcluirVocê cobra mais mulheres na política. Sou homem e também quero.
ResponderExcluirMas quando eu penso em mulheres na política, me vem a mente num primeiro instante:
. Cristiane Brasil (deputada que queria ser ministra do trabalho tendo processo trabalhista e zombando da sociedade. Processo na justiça, quem não tem?)
. Gleisi Hofmann (senadora, entre tantas coisas teve o azar de casar com um homem corrupto)
. Marta Suplicy (relaxa e goza)
. Dilma Rouseff (insira seu comentário...)
. Angela Guadagnin (ex-deputada Musa da Dança da Pizza)
. Manuela D'ávila (deputada e alienada, acredita que a corrupção generalizada é culpa de ET's)
. Ana Amélia Lemos (senadora, critica ferrenha da corrupção no governo petista e agora candidata a vice de um corrupto, ironia do destino)
. Zilnete Nunes (ex-deputada que utilizou o "bolsa passeio" à revelia em Santa Catarina, irmã do famoso deputado: Dá pra fazer)
. Lidiane Leite (prefeita ostentação)
. Roseana Sarney (IDH do Maranhão mandou lembranças)
. Ideli Salvati (adora pegar carona em jatos da FAB e helicópteros da PRF, mesmo recebendo o "bolsa passeio")
Se jogar no Google a cabeça pira.
Entrar na política e virar um homem? Entrar na política e votar "pela determinação do partido" inevitavelmente liderado por homem?
Enquanto houver essa falta de confiança entre as mulheres (na frente ai amiga, pelas costas xô amiga) a representatividade ainda será muito aquém do que deveria.
Vida que segue.
Em qual linha eu cobrei mais mulheres na política?
ExcluirPena que os homens políticos - com todo tipo de problemas crimes e comentários que possam ser feitos - não cabem aqui, né?
"Decidi escrever este texto justamente para as mulheres. Porque eu ouço muito delas que Política é chato. Claro que é chato, porque é feita por homens e eles olham para nós com cara de “você não entende mesmo”. (Sic)
ExcluirDesculpe-me, entendi que nessa parte as mulheres deveriam se envolver mais com política, participando do processo "eletivo" e mostrando que podem sim, fazer política e dialogar como iguais. Se é somente para dialogar, tudo bem. Perdão.
A manifestação foi linda!!! As mulheres decidirão está eleição não tenho dúvida. Querida Fahya, cansei de ler no meio às bobagens acima... A estratégia e sempre a mesma, desmercer, desqualificar algumas e coisas e exaltar aquelas que acham poder controlar. O coiso é muito mais que tosco, é intelectualmente incapaz alem de todos os preconceitos e maldadesmald carrega consigo, não é uma questão de direita ou esquerda, não eleger esta criatura é uma questão de humanidade... Bj Estamos juntas.
ResponderExcluirExatamente, humanidade. Não podemos mais tolerar discriminação, preconceito e violência. Estamos juntas, haja o que houver.
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