quinta-feira, 6 de setembro de 2018

O fogo que dizima nosso futuro


Foto: Marcello Dias
POR FAHYA KURY CASSINS
Escrevo hoje com o peso de ser brasileira doendo pra caramba. Não são só as chamas do fogo que destruiu o Museu Nacional a nossa chaga. A nossa ferida aberta é sofrer num país tão bom, tão grande, com tanta riqueza. É ver bombeiros tentando conter a destruição de um acervo de milhares de anos frustrados porque não havia água. A aflição de quem tenta fazer algo pelo país é enorme, posso lhes dizer. Para quem reconhece o valor da cultura, da arte, da história, da educação é doloroso demais ver como nada disso tem o devido respeito no país.

O estopim deste texto, porém, é um artigo (na íntegra ao final) que saiu num jornal local. Nele, a ACIJ reclama que sobram pessoas com diploma de ensino superior e falta, infelizmente, mão de obra de quem “coloca a mão na massa”, quem faz curso técnico. Faz uma alusão ao empenho da dita entidade no incentivo ao ensino técnico, pois o caráter industrial da cidade assim o exige. Há uma clara crítica aos cursos de ensino superior que formam gente demais na cidade, assim há vagas para técnicos sobrando e gente desempregada.

A mentalidade de manter nossa juventude presa ao chão de fábrica não é nova e alimenta nosso subdesenvolvimento. Porém, começa a tomar vulto e a ser endossada por candidatos à presidência. Talvez seja necessário relembrar que, ainda, a maioria dos políticos e candidatos prevê governar em consonância com os grandes empresários do país – alguns destes, inclusive, tomaram para si diretamente o encargo de político, para defender melhor seus interesses, e nisso não há nada de novo.

Lembro que muito se comentou da entrevista do Jair Bolsonaro ao Jornal Nacional. Mas pouco ou quase nada foi falado da entrevista que ele deu ao Jornal da Globonews, horas depois. Sua posição em relação à Educação é claríssima – e atordoante. Sobre a Educação Básica ele propôs o ensino à distância, argumentando que “facilita” nas regiões mais pobres e afastadas, como também, segundo ele, hoje muitos pais querem educar seus filhos em casa (ao contrário do que se vê, a expansão do ensino integral que não quer a criança fora da escola). Então, teríamos uma “uniformização” dos conteúdos, passados via satélite, para crianças até doze ou treze anos. Basicamente é esta a proposta que levaria a Educação aos rincões do país e que eliminaria, também, a baixa qualidade do ensino dessa “gurizada” que não sabe nem a tabuada. Vale enfatizar que ele insiste em dizer que o ensino básico deve se restringir à Matemática e Português, interpretação de texto.

Bolsonaro chama de “tara” por diploma o anseio dos jovens pelo ensino superior. Quer tirar dinheiro do ensino superior (responsabilidade Federal) para investir na educação básica (responsabilidade dos municípios) porque “está ruim o que está aí”. Mas não assumiu federalizar a educação. Ao ser perguntado se a preocupação é melhorar o ensino básico ou imobilizar o ensino superior, a resposta é que este não é o objetivo principal, mas ele quer “salvar as universidades, salvar os nossos jovens”. Conta que como militar fez curso de “arrumar máquina de lavar, geladeira” e que poderia estar ganhando doze mil reais por mês. Mas, parece, ele preferiu ser político – e, com 28 anos de carreira, já tem mais de dois milhões de patrimônio (declarados).

Assisti, também, à entrevista do famoso Paulo Guedes à Globonews. Sua proposta para a economia é privatizar tudo. Com esta ilusão brasileirinha de que serviços privatizados ficariam modernos e mais baratos, vende-se a idéia de privatizar tudo, vender os 700 mil imóveis da União e assim “fazer dinheiro”. Como bem disse o Benevides na sua entrevista, brasileiro acha que nos Estados Unidos é tudo lindo. Veremos Paulo Guedes privatizar a Petrobrás, depois o Banco do Brasil, depois isso e aquilo. E amanhã estaremos pagando pelo raio-x no hospital, pela ambulância que chamarmos e, claro, não teremos como pagar a faculdade dos nossos filhos – igualzinho nos EUA. A teoria da privatização, para quem se refere ao ensino superior desta forma, é exatamente esta.

As críticas rasas ao Ensino Superior são baseadas em reportagens e em como ele foi insultado na Mackenzie. Talvez porque o candidato nunca tenha frequentado uma universidade ele não sabe bem ao certo o que se faz nestes ambientes. Ele só sabe falar em como o mundinho militar é maravilhoso, pois escolas militares são exemplo – mas, até nisso, só cita a questão da hierarquia. Vale lembrar que num debate ele propôs colocar militares como diretores das escolas de educação básica.

Não seria, obviamente, nenhum golpe militar. Seria mais uma “revolução” a exemplo de 1964, como ele chamou no Jornal Nacional, veremos militares e o “jeitinho” militar invadir as escolas das crianças e tudo o mais. Ao afirmar “deixa os historiadores pra lá!” ele demonstra, novamente, a sua ignorância total e irrestrita sobre o ensino superior. Mostra total desprezo pelos nossos historiadores, pesquisadores, cientistas que estudam e trabalham duro, em condições precárias, para construir nossa memória, nossa história, nossa nação.

Porque um país é construído pelo seu povo e pelas pessoas que cuidam, estudam e preservam tudo o que ele produz e o espaço onde ele habita. Um ignorante da caserna e da Assembléia Legislativa não tem como compreender isto. Este fogo que se abateu sobre o nosso patrimônio, o prédio e todo o acervo, é alimentado por esta gente rasa e pobre intelectualmente. Milhares de crianças que tiveram experiências incríveis no Museu Nacional conseguem entender o valor da nossa história, enquanto um candidato jamais conseguirá. Mas é a estas crianças que ele quer tirar o direito à Educação presencial, ao ensino crítico, humano e formativo. É destas crianças que ele quer tirar a opção do que ser quando crescer. Porque dizer que ensino técnico, como ele afirma, é ótimo para a nossa economia e que universidade cria vagabundo comunista, e, por isso, cortar as verbas, é tolher toda chance dos nossos jovens. É dizer para estes milhares de engenheiros que se formam todos os anos que eles deveriam se contentar com outra coisa.

O Museu Nacional, para alguém que não é ignorante como ele, demonstra a riqueza e maravilha do ensino superior e da ciência. Luzia foi nosso reconhecimento internacional na área, o mundo todo ouviu falar dela, que comprovou a teoria de um cientista brasileiro. Quem dera mais crianças e jovens possam ter contato com todo este conhecimento (que vai muito além da regra de três e interpretação de textos) e possam ter a oportunidade de estudar para produzir ainda mais conhecimento. É isso que fará a roda do país girar, a economia será consequência.

Texto no Jornal da Cidade

Bolsonaro na Globonews
Bolsonaro no Jornal Nacional
Paulo Guedes na Globonews

7 comentários:

  1. Incrível como eu e a autora temos pensamentos tão distintos sobre o candidato.

    Sim, falta português e matemática aos nossos alunos, sobra proselitismo políticos e ideologização burra vinda de professores despreparados. Quem sabe uma uniformização da educação “via satélite“ melhore, sim, a qualidade do ensino. A educação presencial está garantida pela Constituição, a proposta é usar a “videoaula” como apoio.

    Sobre a edução domiciliar, por que não? Se há tempo livre dos pais, comprovação de capacidade intelectual e organização, que a educação seja feita em casa. Garanto que a criançã terá uma educação melhor do que a da maioria dos alunos dos colégios públicos.

    Sim, temos que vender as estatais (todos nós sabemos o motivo!) e usar os recursos na educação de base. Sobre a federalização da educação de base, tem antes que mudar a Constituição que obriga apenas os Estados e Municípios, por isso o candidato fez referência ao envio de recursos federais aos demais entes, e só.

    Sobre o museu, é bom lembrar que a estrutura estava sob responsabilidade da UFRJ, cujo reitor, sub-reitor, sub-sub-reitor e o kr@llo-a-quatro estão TODOS (TODOS!!!) diretamente ligados aos partidos de esquerda e extrema-esquerda, os mesmos que apontam o dedo e reclamam da péssima educação, falta de investimento na cultura e outras platitudes. Hipócritas! Demagogos filhos de uma figa! Dê uma olhada na folha de pagamento desses caras, do corpo docente das universidade federais! Quanto os professores dessas instituições federais recebem para incentivar alunos a saírem das salas de aula e queimar pneus nas ruas, enquanto os mesmos aproveitam o tempo livre para prestar con$ultoria em alguma empresa privada, como existem aos montes de exemplos nos campis do país. Ainda, tem uma mau-caráter que já foi presidente do país, que cortou a verba de 20 mi para custear a manutenção desse museu, a apontar o dedo achando culpados. Minas Gerais merece essa sujeita como senadora!

    Tenho formação superior, vim de família humilde e, sim, o meu voto e o da maioria dos catarinenses terá como destino esse candidato que a pa-to-ti-ñaaa detesta.

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    1. A ignorância é a única arma de muita gente, não tenho mais dúvida.

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  2. Dois grandes grupos e um terceiro terão destaque nesta eleição:
    -os inconformados;
    -os ignorantes, e;

    -os indecisos (desonestos intelectuais).

    Faço parte do primeiro. Meu voto é Bolsonaro.

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    1. A cegueira levará o país ao abismo. Quem dera fosse possível evitar.

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  3. Porque é tão difícil a globo golpista afirmar que o sujeito que esfaqueou o candidato é um esquerdista, que provavelmente acusa vários de “discurso de ódio”?
    Hein?!

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  4. BOLSONARO PRESIDENTE!
    LULA PRESIDIÁRIO!

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