quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Nós falhamos: História e Memória


POR FAHYA KURY CASSINS
O prefeito de Medellín fechou o museu que enaltecia a vida de Pablo Escobar, atualmente mantido pela sua família. A notícia reverberou, apesar de ter sido fechado apenas porque não cumpria exigências de alvarás, e levantou a questão que a cidade enfrenta. Alguns pontos dela hoje vivem o boom turístico que a série da Netflix e sua espetacularização lançou nas mentes das pessoas. O prédio Monaco faz parte da peregrinação, assim como seu túmulo e a rota por onde ele escapou da prisão.

No momento a preocupação surge porque o mito alimenta o imaginário popular – majoritariamente estrangeiro – e endeusa um criminoso dos piores tipos que a humanidade já viu. É sabido o poder que a TV tem de criar mitos, ainda mais nos dias de hoje. Porém, a sociedade de Medellín se incomoda com o caminho que o turismo tem tomado, pois as cicatrizes das atrocidades do crime estão – literalmente – na pele dos seus cidadãos. Seria como se o espaço das Torres Gêmeas fosse mantido como “museu” dos talibãs, enaltecendo como e o que eles fizeram, disse um dos entrevistados.

E foi nisso que falhamos. Nós, brasileiros, falhamos. Quando se fala da História, pensa-se que basta ensiná-la, que ela por si basta para nos fazer refletir. Porém, no caso da maldade, das atrocidades, dos crimes, há um limiar perigoso a se romper. Quer-se, em muitos casos, esconder a História. Como tirar nomes de ruas e espaços públicos, demolir prédios, etc.. Como o prefeito de Medellín, tentar apagar o passado nebuloso da cidade, para que não se torne lugar de culto.

Mas, como lidar com a memória de um povo? Em alguns lugares da Europa, as atrocidades das guerras são mantidas aos olhos do povo. Praças têm seus nomes trocados pelos de vítimas do holocausto judeu, vilas inteiras – violadas e queimadas pelo nazismo – são mantidas em ruínas para que testemunhem o que a violência é capaz, os próprios campos de concentração são mantidos para que entendamos a crueldade de que a humanidade é capaz. Nisso os EUA são elogiáveis, pois fazem monumentos à História e aos seus mártires como nenhum outro país. Os cemitérios de combatentes e vítimas são permanentemente mantidos para que possam testemunhar o que houve de ruim e pelo que morreram muitos americanos.

Em Medellín o museu das vítimas do seu período mais violento é menos visitado, enquanto o irmão de Escobar viraliza na internet indo aos túmulos das suas vítimas e narrando como foram assassinadas. Mas, no Brasil achamos que aulas de História, em uma Educação Básica precária (em todos os níveis e âmbitos), dariam conta. Não dão. No máximo nós achamos que uns livros e alguns filmes nacionais fossem o suficiente. Mas, o brasileiro não lê, nem assiste aos filmes brasileiros. A atrocidade da Ditadura Militar que enlameia a nossa História não foi devidamente escancarada para o povo. E, assim, estamos fadados a não conhecê-la e, quiçá, resida aí a responsabilidade pela onda da sua volta nas mãos de um presidente eleito e de desejos por intervenção militar.

Precisávamos, em todas as cidades, de praças e monumentos com os nomes das vítimas da Ditadura. Precisávamos de museus (bem sabemos como eles são tratados por aqui) sobre a violência, sobre as mortes. Precisávamos que os lugares de tortura não fossem transformados em lugares de compras e lazer, ou trancados a sete chaves longe das nossas vistas, mas expostos como uma ferida aberta. Precisávamos de um braço forte que intervisse no poderio Militar e o fizesse andar de cabeça baixa pelo resto da nossa História com o devido mea-culpa. Tudo isso exposto nas ruas, no dia a dia do cidadão comum, e não dentro de livros ou em seminários para poucos.

Assim, talvez, hoje não houvesse criança do Ensino Fundamental acreditando que só os militares acabarão com a podridão e corrupção da Política. Talvez essa gurizada metida a macho não louvasse ídolos putrefatos do que de pior a caserna pode criar. Talvez os próprios militares andassem pela sua senda, sem enveredar por caminhos que não lhes cabem. Talvez a violência e a discriminação não viralizassem em vídeos na internet. Talvez soubéssemos dar valor à vida e, acima de tudo e de todos, à liberdade. Porque Deus cada um tem o seu e é muito fácil falar de quem não pode se defender. Quem não conhece o valor da liberdade só se dará conta quando perdê-la.

9 comentários:

  1. A isso dá-se o nome de revisionismo histórico, a forma mais nefasta que o politicamente correto usa para atacar a história na sociedade. E sabe do que mais? Esse revisionismo histórico é pleiteado por, veja só, profissionais do proselitismo ideológico travestidos de “historiadores” - TODOS de esquerda – nos fundilhos dos departamentos de universidades públicas, nas rodinhas das igrejinhas partidárias e no escambo político de câmaras de vereadores e deputados: “eu apoio aquele seu capacho corrupto para ocupar o tribunal de contas e, em troca, só pedimos para trocar o nome daquele logradouro”. O carguinho do capacho vai embora, idem para a história do Município, Estado ou país. “Ora, já que não podemos homenagear os nossos facínoras, como Che Guevara, por que homenagear os dos inimigos?”, pensam os esquerdistas.

    Eduardo, Jlle

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    1. Levanta a bola e não aguenta a cortada...

      Eduardo, Jlle

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    2. Onde está bobagem? Pois xingar e usar apelo ao ridículo é apenas um recurso retórico.
      Para mim a maior bobagem é dizer que alguém fala bobagens mas não especificar para que outro e para seu público de forma lógica onde ela esta!
      Já que gostam tanto dessa palavra fascista.Veja se não poderia ser uma forma de conceituar fascista como um sujeito portador de verdades prontas com pouca vocação para troca de argumentos e cheio de arrogância. O mundo hoje vive um monólogo, cada um em seu curral

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    3. Nossa, que machão, Eduardo. Morri de medo. Bobagem, sim. Associar historiador à Esquerda, só por esta bobagem eu encerraria a questão. Não é porque aqui é um espaço de artigos de opinião e análise que temos que dialogar com cada ignorante que aparece (sei que alguns colegas têm mais paciência pra isso). Para lecionar, livrar as pessoas da ignorância, eu cobro.
      Falta tanta qualidade na leitura e interpretação do texto, além da leitura enviesada pela viseira ideológica, que não vale a pena tentar pensar. Aí, realmente, fiquem nos seus currais.

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    4. Não são todos de esquerda. São uns 96%.

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  2. Se ensinassem nas escolas que os militares combateram comunistas, o apoio ao que eles fizeram acabaria sendo muito maior do que é hoje.
    Acho que esse tiro sairia pela culatra.

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    1. Eles ensinam, sabia? Tem um monte de historiador, graduado por universidade federal, que sai falando isso. E aí gerou uma leva de gurizão que acha que militar da ditadura só combateu comunistinha de merda e que a violência das guerrilhas foi maior do que a do poder instituído. Taí o público majoritário do candidato #elenão.
      Ignorância não se combate com mais ignorância.

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    2. Então obrigado militares por nos salvarem dos comunistas de merda.
      Gratidao.

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