quinta-feira, 30 de agosto de 2018
Joinville sem muito a oferecer
POR FAHYA KURY CASSINS
Que Joinville está abandonada, não há dúvida. Que o país também passa por uma situação crítica, é fato. Contudo, não vemos ações para minimizar os problemas decorrentes.
É fácil notar que a quantidade de moradores de rua cresceu muito nos últimos meses em Joinville. A cidade é atraente, para quem vê de fora, dizem que aqui há emprego. As marquises estão cheias, os lugares abandonados viraram teto para quem precisa de um lugar para passar a noite. E não é só na região central. Além disso houve um grande aumento nos vendedores de sinaleiro – é bala, pano de prato, acessórios para celular, urso de pelúcia, malabaristas, de tudo.
Estava pensando nisso quando, no balcão de atendimento de uma clínica, me deparei com uma paciente dizendo que era do Rio de Janeiro, estava aqui há dois anos. Ao que a atendente disse que sua colega ao lado também era carioca, chegada há seis meses. Enquanto conversavam, a paciente seguinte, identificada pelo sotaque, também afirmou que veio do Rio, há quatro anos. Na mesma semana conheci um rapaz que a família veio há dois anos. Todos têm o mesmo motivo em comum: fugir da criminalidade e da violência.
É um assunto pouco discutido no país, este êxodo interno, que já ocorreu em outras épocas, por outros motivos. Para a crise dos venezuelanos também não damos uma resposta digna. E, neste caso, estamos falando de brasileiros que estão fugindo dos seus Estados, das suas cidades, em busca de condições razoáveis de vida. Foi-se o tempo do sonho glamouroso de todo brasileiro de ir morar no Rio. O Rio faliu e levou muitas vidas junto. Agora estas pessoas tentam se arranjar em terras estranhas.
Muitos desses moradores de rua são consequência de uma cidade que de fora parece muito amigável e boa, mas que, na realidade, pouco se importa com seus cidadãos. Lembra daquele banco que cercou sua calçada para expulsar os que ali dormiam? Pois é, era só o início do problema. Cercar a calçada, vejam só, não solucionou nada – não fez com que as pessoas desaparecessem, não fez com que os problemas que essas pessoas enfrentam diariamente sumissem.
O que tem feito a administração da cidade? Nada. Nenhuma novidade. Porque é preciso saber quem são essas pessoas, é preciso auxiliá-las em moradia e emprego. Porque, afinal, são pessoas. E, infelizmente, sabemos que há um caminho perverso para quem não encontra trabalho e passa fome nas ruas. Se não for pela questão humana, em tratá-los dignamente, que seja pelo interesse em não ver a cidade assolada por tantas pessoas morando nas ruas e muitas caindo na criminalidade.
Quando vemos os candidatos à presidência discutindo os 14 milhões de desempregados, ou vinte e tantos, é disso que estamos falando na prática. Do trabalho informal, do pedido de esmola, de perder casa e não ter o que comer. Joinville é uma cidade de 500 mil habitantes e precisa saber o que fazer com a sua população, precisa pensar onde e no que se investe aqui. O que não pode é fechar os olhos para o que está acontecendo hoje, neste instante nas nossas ruas.
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Mas, como a autora mesmo admite, porque é ululante: o problema é geral. Joinville é de fato uma cidade bem atrasadinha se comparada com outras de seu tamanho e importância (Londrina, Ribeirão Preto, Jundiaí ou até Blumenau), mas o problema é geral no país inteiro, falta din din, falta gestão, e, para uma certa patotinha artística e sindicalista ou dona de veículos midiáticos, quem gera din din e emprego neste país é visto como malfeitor e escravocrata… Enfim.
ResponderExcluirE quando presidenciáveis têm espaço nas telas de TV para responder sobre questões importantes, é um show de lacração só! Quem-lacra-mais! É uma competição de lacração entre os presidenciáveis, porém, sobretudo, entre a bancada jornalística lacradora.
“Ah, é aquele candidato? Vou la-crar, porque antes de ser jornalista, sou uma figura pública, necessito ser amada(o) e de evidência!”
Mas o objetivo desse povo do jornalismo politicamente correto é lacrar com os desafetos, não ser lacrado!
Ora, porque não perguntam sobre reformas da previdência, sobre reformas tributárias, sobre o pacto federativo, sobre segurança, educação…
“Nãããão, são perguntas óbvias demais, e o nosso objetivo é ‘cau-sar’! Dá mais ibope perguntar sobre o kit-gay, diferenças salariais entre gêneros (como se um presidente fosse resolver um problema que é congênito no mercado de trabalho), casos de supostos racismos, uso de benefícios legais, aquele conhecido com problema na justiça...
Olha, concordo parcialmente. Encheu o saco mesmo essa burrice dos jornalistas. Mas é o que o povo quer, porque o último debate da TV Gazeta não teve essa chatice e nem os candidatos meme de Facebook e foi muito bom - mas ninguém assistiu ou comentou. Porque o povo está nem aí para propostas. Se estivessem certo candidato (que de proposta tem é nada) não seria tão popular.
ResponderExcluirE, ó, pesquisa básica no Google mostra que, sim, o governo pode (e deve) ser atuante no caso das diferenças salariais e de tratamento entre profissionais homens e mulheres.