POR FAHYA KURY CASSINS
Ano de eleição é sempre interessante. Há as famosas coligações – com reforma ou sem, a “governabilidade” e a ambição por tempo de TV continuam refém disso –, há os discursos alterados a toda hora, há os candidatos surpresa e há, também, uma grande parcela do povo nem aí para nada.
Semana passada alguns candidatos a presidente foram entrevistados por nove jornalistas da Globonews, cada programa com duas horas de duração. Foi um bom momento para analisar os discursos, as posturas, os sorrisos, as mãozinhas nervosas, as faltas de resposta.
Sou daquelas que assiste a tudo que pode. Sou fã de horário eleitoral e de debate na TV. Quem dera todos fossem assim. Mas, é dada a largada com pouca discussão útil, com torcidas organizadas e palhaçadas novas. É, enfim, a politicagem brasileira que conhecemos tão bem.
Álvaro Dias demonstrou muito nervosismo, não parava quieto na poltrona. Pouco conhecido, talvez, país afora, velho conhecido de quem acompanha a política do Paraná.
Porém, apesar de toda a sua história e experiência, ele demonstrou que a memória e o nervosismo prejudicaram seu desempenho. Para quem teve a oportunidade de falar para o país todo, talvez pela primeira vez para uma grande parcela da população, ficou a desejar – o uso de palavras menos conhecidas, por exemplo, é um tiro no pé de quem quer falar com o povo. Mas é daqueles candidatos (não são poucos) que oferecem o que o povo mais almeja: honra e honestidade (segundo ele mesmo) – e não cansou de falar do Moro, é claro.
Marina Silva surpreendeu com uma desenvoltura e boas respostas. Para quem estava acostumado a vê-la de cara fechada foi um momento que perceptivelmente ela tentava lançar mão de um sorriso convidativo. Mostrou-se aberta ao diálogo – normalmente ela é acusada do contrário -, teve várias oportunidades e mostrar conhecimento em várias áreas e de discutir sem intimidação com os jornalistas. Lamentável a postura da Miriam Leitão (principalmente por ser mulher) de querer colocar Marina como mulher frágil e, por isso, não estaria apta a lidar com os “homens” da política. Mulher que se faz respeitar (não só na política) não precisa gritar, falar grosso, ser grandona e tal. E na dança dos vices foi a única que ganhou pontos positivos: levou Eduardo Jorge e arrebanhou uma parcela importante dos eleitores.
Alckmin foi decepcionante – ou não. Um cara que fala para os seus, não sabe se conectar com o povo, com o eleitor. Usando termos como “capilaridade” e siglas e muitos números foi o mais entediante de todos. Com um sorriso falso que não cedeu em nenhum momento (nem mesmo entre questões tensas) não convenceu – e não conseguiu esconder o tique nervoso da mão tamborilando o braço da poltrona quando esteve desconfortável. Baseia-se muito no “governei São Paulo”, sei de tudo”. PSDB está tão descreditado que parece difícil uma figura tão aguada como o Alckmin conseguir alguma coisa.
Ciro, o Cirão das massas, foi o mais interessante. Atacado por muito tempo com uma discussão infrutífera sobre seu destempero (este a gente já conhece) ficou nervoso porque queria discutir emprego e economia. E discutiu. E mostrou propostas – fazer a limpa nos gastos, por exemplo –, que muito agradam ao eleitorado. Fala como um professor de Direito, certamente. E o que poderia soar arrogante e indecifrável para o povo se transforma num discurso coerente e envolvente. Se o que ele fala está correto, bem, aí é outra coisa. Além de saber de tudo, Ciro também orgulha-se do seu passado limpo e da experiência como governador, ministro, etc.. Mas é o Ciro. Estouvado e bem humorado. Didático também. Errou feio na escolha da vice, uma parte do seu público não gostou (com razão). Talvez a figura em quem mais devemos ficar de olho.
Bolsonaro, confesso, foi demais pra mim. Mais da metade do programa foi para desmentir suas afirmações bizarras ao longo dos anos. Quando perguntado sobre várias delas, disse que as pessoas mudam, ele não pode ser culpado por ações e frases de vinte anos atrás. Mas, aí, ele começa a falar e… mostra que pensa exatamente a mesma coisa. Quis mostrar-se, inclusive, defensor das mulheres. Curiosamente, não cita Deus nem a Bíblia (Ciro, vale ressaltar, foi quem mais o fez, dentre todos os candidatos), somente quando perguntam sua citação favorita (que foi a mesma dita no programa Roda Viva, um frase da Bíblia. Mais curioso ainda é ele afirmar que seu livro de cabeceira é o do Ulstra. Pensei que seria a Bíblia, mas desta ele só repete uma frase. Para quem o vê como alinhado com seus preceitos religiosos, talvez estas informações devessem acender a luz vermelha. Discurso vazio, agressivo com o público e os jornalistas, não apresentou propostas e confirmou o que já sabemos: que não entende de nada. Detalhe: votou contra o Plano Real (a última boa coisa que aconteceu neste país) e só isso já diz muito sobre ele. Confesso que não consegui assistir a toda a entrevista, pois na mesma semana vi a do Roda Viva. Precisa nervos e estômago que não possuo. É, disparado, o nosso maior perigo nesta eleição. Um homem ultrapassado, com ideias fora de propósito e intenções obscuras. Enquanto isso a juventude o vê como um Messias.
Parece que Lula não pôde comparecer – vocês entendem o motivo. A última palhaçada da semana foi o PT escolher Lula candidato com Haddad como vice (a escolha mais neutra, obviamente). Os mesmos que louvaram o metalúrgico analfabeto presidente, agora defendem com unhas e dentes o tal cara com doutorado em Filosofia pela USP – o cara é foda, como se vê. Vai entender. Como a definição da chapa só sairá, em definitivo, lá pelo meio de setembro, neste período o partido trabalhará a transferência de votos Lula > Haddad – e dane-se o povo, dane-se os eleitores, há um projeto de poder nos bastidores. E ainda querem defender que Lula participe dos debates via internet, ou que Haddad o represente. O circo está armado, comprem suas pipocas.
Aproveito para repetir: Lula e Bolsonaro não têm eleitores, têm seguidores. E é uma merda nossa Política ser feita assim.
Que venha a campanha. E hoje à noite teremos debate na Band, às 22h. Preparem o suco de maracujá, eu diria.
Temos dois seguidores cativos do Luladrão - Baço e Gruner. Acho que a Fahya será banida do blog até o final da eleição.
ResponderExcluirBom mesmo é o Alckmin do Rouboanel e do Trensalão. Se fosse do PT estaria na cadeia, mas não vem ao caso...
ExcluirSeguidores do Lula? Cara, meus únicos votos no PT desde 1998 foram nos segundos turnos de 2006 e 2014.
ExcluirEssa pobreza argumentativa de ver Lula em tudo ainda vai render um artigo. Dedicado especialmente aos anônimos - dedicaria especialmente a você, se você tivesse a decência de não se esconder atrás do anonimato.
E o que foi aquela psicografia no final da inquisição do Bolsonaro?
ResponderExcluirPor falar nisso, se os candidatos estão aquém do que necessitamos, os jornalistas não ficam atrás. É uma fogueira das vaidades... parece que há uma competição para emparedar o candidato. Todos os jornalistas vão combativos, especialmente com os candidatos que não segue a cartilha do politicamente correto.
Minhas percepções.
ResponderExcluirNão assisti ao programa com Álvaro Dias, mas suas propostas não me enganam: “é, mas não é”, “vamos privatizar, mas manter no Estado”, “a reforma previdenciária é necessária, mas não é essa, é uma outra que não existe”.
A tirania de Ciro Gomes é gritante – para mim, de longe o pior!
Marina fala as platitudes dela, mas ao menos mostra-se aberta ao diálogo, ponto positivo para quem é de centro.
Sou simpático ao Alckmin: impávido, pensa antes de responder, reformista e tem uma excelente vice, o ponto negativo é o seu eterno pezinho na esquerda e a podridão do centrão, mas nada que o pragmatismo não resolva.
E o Bolsonaro é o boçao que nunca deixou de ser, mas confesso que estranhei a sanha belicosa (que era de se esperar) dos entrevistadores, todos munidos com pontos e tablets: “Bolsonaro, se for eleito democraticamente, o sr. implantará a ditadura?”, “por favor, a lista de impostos que o sr. pretende diminuir...”, “qual é a raiz cúbica de 2197?”…“ o sr. vai ser presidente e tem que saber isso, não pode chamar o ‘posto ipiranga’ a toda hora”. A tentativa de ridicularizar o entrevistado definitivamente não é papel da imprensa, e aquela resposta robótica de Mirian Leitão, afirmando uma coisa e informando outra, foi vergonhosa.
A que ponto chegamos? Como pode um candidato de 8 segundos incomodar tanto?
ResponderExcluirFahya, peço licença para um OFF-TOPIC:
ResponderExcluirCaros colegas aqui do blog, preciso de uma direção. Minha rua enfrenta problemas com perturbação do sossego há pelo menos 2 anos e ficou pior nos últimos meses. São 3 ou 4 casas que fazem algazarras quase todos os finais de semana até às 4 da manhã (ou viram a noite até o sol raiar). Parece que se revezam, garatindo que nenhum final de senama se tenha paz.
É muito som alto, gritaria, gente bêbada. Insuportável. Eu e outros vizinhos já reclamamos e recebemos como resposta risadas e aumento do volume ou xingamentos e aumento de volume.
A polícia já foi chamada incontáveis vezes, mas eles nunca aparecem. Que nos resta fazer? Preciso muito de uma luz!
Rojões!
ExcluirSério, não estou brincando. Acenda dois ou três rojões e jogue-os próximo às janelas. Se puder arremessar uma pequena esfera de ferro (pesada) contra a janela a ponto de partí-la, melhor.
Se morar ao lado de uma dessas casas, após as explosões, fique na janela a observar a reação com um dos dedos do indicador apontado por trás da cortina. Se eles disserem algo, responda: “vai ter mais!”
E feche a janela.
Te garanto que deixarão vocês em paz.