quinta-feira, 14 de junho de 2018
Não é mais "lixo": eis a questão
POR FAHYA KURY CASSINS
Uma campanha nacional pretende conscientizar as pessoas, visitando os cerca de 160 mil domicílios até 2020, sobre a coleta seletiva na cidade. A iniciativa conta com vários órgãos para mostrar como a reciclagem é fonte de renda, necessidade ambiental e compromisso ético. Os dados da reciclagem em Joinville são críticos, apenas 6% é separado corretamente, sendo que poderíamos chegar a, pelo menos, 35%.
O lixo é um problema inerente à humanidade, apesar de muitos tentarem ignorar o fato. É inconcebível que um ser humano do século XXI, com seu smartphone na mão e sua cabeça multitarefa não separe adequadamente seus resíduos. Falar em “lixo” já é diminuir a questão, pois o que produzimos são resíduos, entre recicláveis, reutilizáveis, orgânicos, infectados, etc.. Vivemos cada vez mais tempo, produzimos ainda mais resíduos. Não é só, ao contrário do que muitos pensam, uma questão de cuidar do meio ambiente, preparar o planeta para gerações futuras: é ser ético. Nossas ações importam. E não estou falando em se achar fo*& porque separa o lacre da latinha de alumínio.
Por isso, a necessidade de falarmos cada vez mais sobre o assunto é grande. Porque as pessoas não se situam no planeta onde vivem. Não pensam no preço que é a sua vida para o meio onde vivem. Cada celular deste que muitos trocam todo ano é custoso para a natureza, tanto de onde ele vem quanto para onde ele vai. O uso da internet, por exemplo, tem um grande impacto no meio ambiente e nem falamos disso. Cada criança antes de nascer já tem centenas de fraldas ao seu dispor no chá de bebê – descartáveis, que poluirão a natureza. Mas ninguém quer voltar ao telefone fixo, às cartas de papel ou às fraldas de pano. Não temos tempo para isso.
Porém, temos a responsabilidade de viver neste mundo – que é nosso e de todos. Se não por nós, “ah, dane-se o meio ambiente, eu vou jogar a latinha aqui mesmo!”, nossas ações deveriam ser cobradas pelo bem de todos. E nem arriscaria falar em futuro, pois habitamos o hoje e este mesmo sofre as consequências da ignorância no caso dos resíduos.
É impossível alguém dizer que não sabe disso. Qualquer um que não separa corretamente seus resíduos é alguém que pratica a ignorância, no sentido pejorativo. Sabe-se que é uma necessidade ambiental, que produz trabalho e gera renda, que é fonte de novos produtos. Portanto, não há argumento algum que justifique o fato de pessoas não descartarem corretamente o “lixo” que produzem – dentro e fora de casa.
Contudo, esta campanha, que conta com o apoio da prefeitura, mostra-se ineficiente. A prefeitura não é boa conselheira no assunto. Faltam lixeiras pela cidade. De que adianta passar de casa em casa falando sobre a separação dos resíduos se a pessoa está no ponto de ônibus e não tem como separar adequadamente o pacote de salgadinho? De que adianta o cidadão separar o lixo e o caminhão nunca passar no dia da coleta? De que adianta denunciar vizinhos e cidadãos que descartam resíduos de forma incorreta e nada ser feito? De que adianta órgãos públicos, universidades, escolas, instituições, empresas, comércios, etc. não investirem também em lixeiras inteligentes e campanhas nos seus espaços? Se estamos pensando em reeducar nossos hábitos, eles não devem ficar restritos às nossas casas. É como aquela criança que aprende a não colocar os tênis no sofá, a não gritar, a comer de boca fechada – mas só dentro de casa, fora ela faz o que quiser.
A cidade é um espaço coletivo e assim precisa ser pensada. Falar em resíduos é falar por todos. Infelizmente o Brasil demorou para tratar do assunto, e, pior ainda, não cumprimos com os prazos estabelecidos. Não somos exemplo de educação e consciência ambiental, e ter uma população enorme não ajuda em nada. Precisamos correr atrás do prejuízo, começando pelo fato de que “lixo” não é mais tudo aquilo que despejamos no mundo.
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