quinta-feira, 10 de maio de 2018
Onde devem ficar as fábricas da cidade?
POR FAHYA KURY CASSINS
Recentemente eu li um post no Facebook de pessoas comentando sobre a necessidade de mudança de uma antiga fábrica do Centro. Acusada de emitir odores desagradáveis na vizinhança, houve quem defendesse, dizendo que era raro sentir; enquanto há uma movimentação de moradores de um prédio vizinho, aparentemente liderados por algum peixe grande do judiciário, para que a fábrica se mude dali.
É, de fato, mais um problema que enfrentamos. Ainda há algumas fábricas instaladas no coração da cidade, além de outras em lugares privilegiados em vários bairros. Quem sofre é a população, exposta aos cheiros desagradáveis, à poluição de todo tipo, à poeira, ao tráfego pesado de caminhões, etc.. Mas como culpá-las de não quererem ir para o Distrito Industrial? É longe, um problema para todos, não possui estrutura alguma e nem terá. Se as fábricas se preocupassem com a população, muitas das suas ações seriam outras, não só a localização. Ou seja, elas não se preocupam mesmo.
Nem cabe cair na ladainha da ausência total de voz do poder público em mais este assunto. Não são poucas as fábricas que permanecem na região central e em zonas altamente populosas. Historicamente várias cidades do mundo passaram por isso. As fábricas localizavam-se no Centro por uma questão de acesso, dos funcionários e de escoamento da produção, etc.. Contudo, a cidade foi crescendo e espalhando-se, algumas sentiram a necessidade de expandir suas instalações e foram para lugares mais atrativos. Em Joinville foram poucos os casos de prédios industriais antigos que contavam a História da cidade que permanecem preservados – a maioria cedeu lugar à ganância, e onde havia, por exemplo, uma das mais famosas hoje temos o que foi nosso primeiro shopping center.
Diriam alguns que é o preço do progresso. Porém este nunca de fato chegou por aqui. Progresso é desenvolvimento aliado à preservação e bons níveis de qualidade de vida, por exemplo. Contudo, hoje os interesses de pequena parte da população na mudança de algumas fábricas diz respeito apenas à especulação imobiliária. Há um frenesi pelos terrenos centrais da cidade, poucos que têm muito os cobiçam sem disfarçar – e têm aliados poderosos. Assim, toda a memória do município está em risco, e vemos a paisagem de chaminés ser substituída por torres cada vez mais altas e luxuosas. Talvez valha lembrar da expressão “trocar seis por meia dúzia”. Esta mudança em nada contribui com a cidade, trocaremos o ar fedorento por total ausência de sol e fatal impermeabilização do solo – além de torná-la ainda mais feia e piorar outras áreas como a habitação, drenagem e trânsito, onde poderiam ser gerados projetos arquitetônicos inovadores. O assunto é gravíssimo e, como sempre, não é tratado da forma adequada.
As fábricas realmente precisam ser realocadas, de acordo com idéias e projetos organizados e inteligentes que agregarão à população e à cidade. Mas as fábricas pensarão em si mesmas, não querendo ir para lugares abandonados – sendo que elas têm força de exigir muito mais do poder público do que nós. Ou cederão às propostas tentadoras dos que têm espoliado a cidade, aumentando nossos problemas. Enquanto isso nós passaremos mal e fecharemos os vidros toda vez que passarmos por uma, acostumados aos problemas que nos cercam.
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Ótima análise. Joinville está passando agora pelo processo de verticalização e muitos prédios históricos estão desaparecendo. Uma pena, pois essas edificações contém a história da cidade. Em relação a preocupação das industrias com a qualidade de vida da população, essas não possuem nem um pouco. Como pode existir uma fundição em plena área urbana que gera toneladas de resíduos em plena área de preservação permanente de manguezal, contribuindo a anos para a degradação da Baía da Babitonga. Aos poucos, a cidade vai pagando o preço da ambição.
ResponderExcluirDe fato, seria importante que as operações fabris se mudassem para as Zonas Industriais e que essas as recebessem com infraestrutura, preferencialmente. Entretanto há uma questão interessante: Quem ocupou o lugar primeiro? (hoje em SP, por exemplo, muitos querem Congonhas distante, mas ignoram o fato de o aeroporto estar ali muito antes do apinhamento predial). O sujeito compra um imóvel ao lado de uma empresa consolidada e exige o afastamento dela, sem se importar com a cadeia que envolve as operações da atividade (infraestrutura, empregos, comércio)?
ResponderExcluirOutra questão não menos importante: uma vez que as operações se mudarem para a Zona Industrial, o que será do imóvel? Não esperem que aquela indústria têxtil ao lado do Cachoeira se transforme num shopping center, ou aquela outra indústria de parafusos num museu… Temos até o hoje um prédio com riquíssimo valor arquitetônico, que um dia abrigou um moinho, abandonado.
Ainda, como exemplo, em Jurerê Internacional (Florianópolis), endinheirados veranistas foram ao MP reclamar das festas que alguns “mauricinhos” fazem nos beaches-clubs do bairro. Recentemente TRF-4 exigiu que prédios inteiros de hotéis (que empregam, pagam impostos e movimentam o comércio) fossem demolidos porque “supostamente” estariam ocupando áreas de preservação permanente (no caso, um canal artificial foi caracterizado como rio com margens…). Os endinheirados veranistas acreditam piamente que os hotéis sumirão e ali voltará a “vegetação nativa linda e maravilhosa”. Ledo engano, vivemos no Brasil. Os hotéis demolidos se tornarão ruínas ocupadas por desocupados consumidores de drogas e “otras cositas más”.
Então tenho receio desses “peixões” com boas intenções.
A propósito, a câmara municipal aprovou recentemente o uso condicionado de algumas importantes atividades com baixo ou médio impacto em todas as regiões do perímetro urbano. Ponto positivo para os vereadores.
Deve-se pontuar que progresso =/= desenvolvimento.
ResponderExcluirResposta da insuportável fábrica, que de beleza arquitetônica não tem nada.
ResponderExcluirA Meister produz embalagens metálicas há 81 anos, no mesmo local. Sabemos que a cidade cresceu e estamos providenciando nossa mudança para a fábrica nova que será localizada na Avenida Santos Dumont, 7425.
Vamos nos mudar até dezembro de 2020.
Se a tão defendida nova LOT, tem como linha mestra o objetivo de fazer as pessoas morarem próximas ao trabalho, não só os prédios devem ser construídos próximos ás fábricas, como as fábrica devem permanecer onde estão.Isto é a leitura da lei. Caso contrário seria hipocrisia.
ResponderExcluirMinha primeira moradia em Joinville, quando meu pai aqui chegou com a família, era uma casa alugada, no beco ao lado do SENAC, nos fundos da Meister. A rua que hoje corta a fábrica, não existia. Dizia-se que nunca seria aberta a ligação entre Rua Duque de Caxias e Expedicionário Holz. Alegava-se que a Meister não deixaria. Deixou e hoje está lá.
Se a fábrica permanece no mesmo local, não é por insistência como os "Marcos Queirozes" bradam, mas por persistência. Se um dia mudar seu parque fabril, posso apostar que não será para um local em Joinville
Errado
ExcluirA "persistente" fabrica que incomoda os moradores já tem data limite e local definido para se mudar: avenida Santos Dumont 7425, até dez de 2020.
A LOT, quer adensar a cidade, permitindo uma maior ocupação do solo no centro com a verticalização, aplicação do IPTU progressivo. Uma das mudanças, para permitir industrias em locais habitados, foi a aprovação do usos condicionado, permitindo que industrias possam ficar onde estão.
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