quinta-feira, 5 de abril de 2018

Só a caserna ouvirá o povo?


POR FAHYA KURY CASSINS

Foi no final do Jornal Nacional de terça-feira que nossos piores medos tremularam novamente. O pessoal da caserna, agora munidos de uma conta de rede social onde adolescentes falam sobre seus contatinhos e adultos que não cresceram muito divagam suas incertezas da vida, veio nos acalmar dizendo que, se precisarmos deles, poderão intervir. Fomos dormir mais intranquilos, cogitando se na manhã seguinte, no caminho ao trabalho, encontraríamos tanques nas ruas.
Porque sabemos que há um contingente muito grande de rapazes em quartéis espalhados pelo país, a maioria em situações de “prontidão” (aquela guerra que não vem) e em espaços obsoletos. Dizem alguns que nossa soberania depende de termos, enfim, um exército. Mas, talvez, nossa democracia novinha e trôpega não dependa em nada desta força de guerra. Será tão difícil entender? Do que, afinal, querem nos proteger? De nós mesmos?
Fato é que eles têm um trunfo: estão propondo fazer o que uma parte do povo clama. Temerosa verdade, mas, sem dúvida, uma verdade. Desde as inúmeras manifestações e passeatas onde se viam faixas pedindo intervenção militar, até as pequenas e pacatas cidades, como Joinville, onde um idoso fica, por vezes, em frente ao batalhão balançando uma faixa que pede o mesmo, temos um povo que vê a farda no fim do túnel.
As características autoritárias e violentas de um poder militar parecem esquecidas. Talvez nem o próprio meio pelo qual o coronel se expressou tenhamos mais, sob intervenção. Guris que se consideram rebeldes por não gostar da escola são parte do público entusiasmado da defesa das fardas, guris que não aguentariam nem uns dias sob a rigidez pela qual o exército é reconhecido. É a ideologia da violência sendo propagada por pais, filhos, declarações, pelas ruas, por partidos, por movimentos e candidatos. Pregamos violência enquanto queremos defender a Democracia – como boa novinha, vítima fácil dos estupradores.
Neste país subdesenvolvido – aviso aos navegantes: nunca deixamos de ser – em convulsão não há tempo para refletir ou temer nada. A cada novo personagem, novo escândalo, novo bafafá, já nos deparamos com novo choque e absurdo. Neste momento, na TV aqui da sala os ministros do STF estão votando o Habeas Corpus. Nós, povo, assistimos à derrocada de camarote.
Gilmar Mendes adere ao coro contra a imprensa. Nos diz claramente que o povo e a opinião pública não devem ser ouvidos. Como a Dilma que não fez absolutamente nada para dialogar com as ruas – entupidas de milhões de pessoas (quando ainda não haviam sido cooptados por movimentos nem nada). Como os políticos, de todos os lados e centros, que se negam a ouvir o povo e reiteram suas balelas e más práticas. A Justiça e a Política se abstêm de ouvir o povo. O que nos resta?
Resta uma meia dúzia de milicos com sentimentos duvidosos a verem (eles também) seu momento de brilhar. E eles vieram dizer: nós ouvimos o povo. Não há nenhuma surpresa em saber que a única coisa que o povo quer é ser ouvido. O resto tomou o país para si e diz que nós não podemos opinar, que nós não sabemos de nada, que o nosso querer é inútil. Receita pronta para o pior.
Gilmar Mendes citou o “volksgeist” e como o nazismo foi chancelado pelo povo, para justificar que dane-se a opinião pública, a chantagem da imprensa e a vontade do povo. Além da canalhice do argumento (invariavelmente todos o são, quando citam fascismos), devemos lembrar que o povo era quem sofria de fome e desemprego na Alemanha entre guerras. O desespero de um povo quer, sim, soluções. E, na onda, pode alicerçar suas escolhas em promessas duvidosas. Um povo em desespero só quer ser ouvido, o primeiro que ouvi-lo será seu líder e terá apoio irrestrito. A quem, então, cabem nossas críticas?

(Deixo aqui uma cena de um importante filme de Bertold Brecht, produzido na Alemanha pré-nazismo; vale o filme inteiro, mas a cena nos retrata muito bem Kuhle Wampe)

11 comentários:

  1. Vejo essa manifestação militar com bons olhos. Trata-se uma espada apontada aos maus políticos e, nesse caso, juristas que querem manter a impunidade aos criminosos de colarinho branco.
    Pior se o militares estivessem ao lado dos corruptos e ditadores fascistas, como ocorre na Vanezuela e Coreia do Norte, por exemplo.

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    1. Mas os militares estiveram, de 64 a 85, não apenas ao lado de corruptos e ditadores fascistas. Eles foram corruptos e autoritários, além de incompetentes do ponto de vista administrativo, porque deixaram um país economicamente falido.

      Não bastasse isso, o Regime Disciplinar do Exército é bastante claro ao proibir que militares na ativa se manifestem, publicamente, sobre assuntos políticos partidários - o que, eu suponho, deva servir também e principalmente para o comandante do Exército.

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    2. Incopetentes na administração pública? Qual referência você usa para tal afirmação, essa da redemocratização?

      Me aponte um militar (ou familiares) que governou nesse período com 16 milhões em bens bloqueados por corrupção.

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    3. Dívida externa em níveis estratosféricos; inflação a 100% ao ano; níveis de desigualdade social abissais. Hoje em dia só acredita na competência dos governos militares quem quer:

      https://moemafiuza.jusbrasil.com.br/noticias/114847394/em-valores-de-hoje-divida-externa-deixada-pela-ditadura-militar-atingiria-us-1-2-tri-quatro-vezes-a-atual

      E sobre corrupção? Aqui tem alguma coisa a respeito:
      http://www.esquerdadiario.com.br/10-escandalos-de-corrupcao-da-ditadura-militar-abafados-pelas-Forcas-Armadas

      "Ah!, mas eu não acredito em um site que se chama 'Esquerda Diário'". Como diria Rogerinho do Ingá, achou que só sites de esquerda falam de ditadura e corrupção? Achou errado, otário:
      https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2015/04/01/conheca-dez-historias-de-corrupcao-durante-a-ditadura-militar.htm

      http://www.bbc.com/portuguese/brasil-38337544

      Aliás, a tese do historiador da entrevista da BBC está disponível para download. Duvido que você a leia, mas taí:

      http://www.historia.uff.br/stricto/td/1370.pdf

      Assim como na economia, hoje em dia só acredita que na ditadura militar quem quer, ou quem tem motivos pra propagar mentiras.

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  2. A declaração do comandante foi excelente. Recado dado pros nossos políticos criminosos e pro STF do rabo preso. Resultado de ontem: vitória prós brasileiros de bem. Desespero pra petista amante de lavador de dinheiro.

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    1. Tô esperando o recado do General para o Temer, o Aécio, o Geddel, o Jucá, o Beto Richa aqui no Paraná. Mas parece que com esses todo mundo fala fininho, né?

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    2. Pra esses pelo menos não tem militontos defendendo bandido. Já é um baita avanço. Ah, que sejam presos e apodreçam na cadeia com o alcoólatra.

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    3. Pelo contrário, 21:43, o que mais tem são militontos e comentaristas anônimos de blogs defendendo esses bandidos. Que, obviamente, não apodrecerão na cadeia.

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    4. Reclamando de novo de comentário anônimo? Pq não desabilita essa opção, JENIO?

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    5. Oh, imbecil, quem está reclamando de comentário anônimo aqui, seu iletrado?

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  3. As leis deveriam servir para educar, prevenir e punir. Deveriam,... mas parece que no Brasil elas incitam o contrário!

    Anônimo da Silva

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