quinta-feira, 1 de março de 2018
Joinville: exportadora de pessoas
POR FAHYA KURY CASSINS
Joinville tornou-se uma cidade exportadora. E não é de novos produtos oriundos da metalurgia, nem de novidades na área tecnológica, muito menos inovação na produção decorrente dos novos cursos em engenharia aeroespacial, por exemplo. Joinville exporta pessoas que querem viver bem.
Sabe-se da grande procura pela cidade de jovens em plena atividade laboral, pessoas que procuram trabalho, que vem de todo o Brasil e do mundo na ânsia de fazer sua vidinha numa cidade que promete emprego e renda. Eles chegam aos montes, ainda, como há décadas. Foi assim, inclusive, que a cidade “cresceu”. Suas empresas e indústrias precisam de mão de obra.
Porém, o que se vê hoje é uma crescente fuga de pessoas que buscam uma vida melhor. Na maioria aposentados que, agora que não precisam mais trabalhar, partem em busca de um lugar acolhedor, com infraestrutura, com condições dignas e qualidade de vida. Eles querem poder levar os netos em áreas de lazer, parques e praias, querem poder ir ao supermercado e shopping sem grandes transtornos, querem ter seus direitos respeitados. Querem, por exemplo, respirar um ar mais puro e não depender de uma saúde pública caótica.
Assim, a cada dia mais e mais pessoas trocam Joinville por muitas cidades, principalmente, da região. Seja a calmaria de Campo Alegre ou cidades mais completas como Balneário Camboriú e Florianópolis, não escapando as de médio porte, onde os valores são mais acessíveis e que oferecem muitos atrativos. Fato é que sair de Joinville torna-se imperativo para muitas pessoas que possuem uma situação estável.
Por que Joinville tem perdido moradores para essas outras cidades? Porque a qualidade de vida por aqui é ruim. Porque não temos espaços de lazer, diversão, contato com a natureza. Porque aqui o trânsito, além do problema da quantidade de carros, é organizado de uma forma estúpida. Porque aqui a saúde é um caos. Porque aqui o idoso é ignorado nas políticas da cidade. Porque o cidadão não é ouvido, sempre refém do poder público que manda e espera que aceitemos de cabeça baixa. Porque o meio ambiente não é respeitado. Porque a cidade é feia. Porque é insegura. Porque os atrativos naturais são desprezados. Porque o transporte público é refém de empresas usurpadoras.
Porque parece que trabalhamos e nada mais faz diferença. Devemos ir e voltar do trabalho calados e felizes por ter um emprego. Não é, em definitivo, uma cidade feita para as pessoas. Ficamos atrelados ao fato de que aqui se consegue trabalho, mas sonhamos com o dia de poder sair, ir embora em busca de aproveitar, de verdade, a vida. Aí, talvez, já não tenhamos mais tanta disposição, já tenhamos, quem sabe, desenvolvido doenças de tanto cheirar o ar fétido das fábricas. Alguns têm percebido isso, têm colocado na balança se vale a pena só trabalhar e não poder viver (no máximo ir aproveitar um sol no domingo, numa praia perto), e antecipam sua partida. Nem todos vêem vantagem em aguardar a aposentadoria.
Uma cidade que cresce, deve crescer por inteiro. Ser um jovem, em Joinville, é das experiências mais frustrantes da vida. A cidade precisa integrar e acolher a todos – seja ele mão de obra ou não. Em breve veremos os “mais de 500 mil habitantes” decairem ano a ano. Porque nem só de trabalho se vive.
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Nossa cidade não entende a frase: "Porque nem só de trabalho se vive". Ao mesmo tempo, Joinville não trabalha pelo bem do coletivo. Inception.
ResponderExcluirBom dia Fahya. Concordo com você que Joinville ainda carece de áreas para lazer e tem seus atrativos naturais, que considero belíssimos, desprezados pelo poder público. Porém não dá pra comparar Joinville com Florianópolis ou mesmo Balneário Camboriú. Em relação a Balneário Camboriú, considero uma cidade muito superficial onde seus cidadãos vivem de ostentação e sua infraestrutura e seus arranha céus, não refletem a realidade da economia do município, já que por lá não há indústrias e não tem o potencial de empregos de Joinville. Florianópolis e principalmente Balneário Camboriú, são cidades onde o sol não nasce para todos. Sabe o valor de um apartamento a beira mar, ou mesmo almoçar e jantar em um de seus restaturantes, ou ainda fazer compras em alguma loja da Avenida Brasil? É fora da realidade para um cidadão comum. Para morar nestas cidades e morar bem, o cidadão precisa ser pelos muito bem aposentado ou ser um turista muito rico. Como moro no litoral, em Bombinhas, sei da ganância e ambição que move as pessoas por aqui. Aqui quem manda é a construção civil. Penso que Joinville ainda tem um futuro grandioso, comparado com o resto das cidades catarinenses.
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