quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018
Cidades que excluem
POR FAHYA KURY CASSINS
Cheguei ontem em Joinville e, entrando pela Ottokar Doerffel, me deparei com uma cena vergonhosa. Uma senhora na cadeira de rodas era empurrada por um senhor, pelo acostamento, na contramão. Foi pela altura daqueles prédios novos. Não é nenhuma novidade que calçadas são um perrengue que ninguém quer resolver. Mas passou da hora de olharmos para a questão da acessibilidade.
Final do ano passado inaugurou uma nova loja no centro. Eu conheci uma da mesma rede em Itajaí, fui na daqui e elas têm mais de um andar, mas a daqui não possui elevador. Estive numa loja do Centro na Capital, além dos dois degraus para entrar na loja, caso a pessoa quisesse experimentar alguma peça, teria que descer uma escadaria. Pensei em almoçar num restaurante árabe e, novamente, escadaria e nenhuma acessibilidade.
Questiono, nesses empreendimentos, a fiscalização e o cumprimento das normas. Além, é claro, da própria consciência dos empresários. Você quer que o seu comércio atenda a todos? Ou você terá que dizer não para alguns (que não são poucos)? Hoje a moda é “pet friendly”, mas parece que se preocupar com acesso aos humanos não é assim tão importante. Vale para todo tipo de empreendimento e instituição, supermercados, escolas, igrejas, etc.. Ou quem não pode subir alguns degraus não tem, por exemplo, direito a ter fé?
E as cidades? Preocupam-se em ser acessível a todos? O que nós dizemos ao ver prefeituras “revitalizando” ruas e calçadas sem rebaixamento? Colocando as placas para deficientes visuais que trombam em postes? Nós nos preocupamos que a nossa cidade seja acessível?
Vi o auê que fizeram com a retirada da ciclofaixa da Plácido Olímpio, a pedido da igreja que fica no local. Eu sou contra essas ciclofaixas e acredito que é um embuste para ciclista aplaudir (se não pensar um pouco mais).
Há um esquema que gera e gerará muito lucro para alguns poucos nessa euforia da prefeitura sair tirando vaga de estacionamento e pintando (que é só isso mesmo) ciclofaixas. Quando demoliram prédios antigos no entorno da Plácido, ninguém reclamou. Aí o empresário fez um bom negócio, jogou brita e fez um novo estacionamento. Curioso, um mês depois “surgiu” a prefeitura e tirou as vagas de estacionamento da rua e pintou uma ciclofaixa. É um esquema que tem funcionado muito bem – para os amigos do rei.
Aí o ciclista (que é melhor que todo mundo) diz que não vai andar na calçada porque é ruim. Claro que é ruim, para o pedestre e para o cadeirante, inclusive. Mas, se contenta e briga com todo mundo para elogiar as ciclofaixas, um dos maiores embustes que esta cidade já viu. Por que o ciclista não briga por calçadas compartilhadas, que seriam a solução para todos? Calçadas compartilhadas é que protegem de verdade o ciclista. Pintar uma bicicleta no asfalto e chamar de “ciclorota” não protege – o expõe a mais riscos, na verdade.
Nós precisamos pensar a cidade para todos, não só para os meus interesses – como os grandes empresários fazem, aqueles que nós criticamos. Calçadas pensadas e bem realizadas são para todos e é o que deveríamos exigir. “Ah, mas a prefeitura não faz nada, ter feito uma ciclofaixa já é legal!” então contentar-se com pouco pode ser o suficiente para alguns. E é feio me contentar com algo que resolve o meu problema – e só.
Acessibilidade não é um problema só de quem precisa. É uma responsabilidade de todos. Do público, do privado, do indivíduo. Aquela senhora sendo empurrada pelo acostamento é culpa de todos nós. E para quem serve de massa de manobra para os interesses do grupo que manda na cidade, um pouco de autocrítica resolve.
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