quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Joinville: uma cidade que dorme sem pensar no futuro


POR FAHYA KURY CASSINS
Acabo de ouvir de um funcionário público municipal: “Esse prefeito veio pra complicar a nossa vida, dos funcionários, e a dos cidadãos. E é por isso que a gente tem que se unir pra mostrar pra ele que somos mais fortes, que somos cidadãos e temos nossos direitos.”.
Admira-me que acusem as pessoas que criticam o que ocorre na cidade de alguma suposta antipatia pelo atual prefeito, ou divergências entre partidos, etc.. Certo está que não é somente o prefeito que deve ser responsabilizado por tudo, nem somente a atual administração – visto que os problemas surgem das atitudes dos cidadãos, assim como a cidade possui problemas que se arrastam há anos.

Porém, é necessário culpabilizá-lo pelo que lhe diz respeito, sim. A indiferença ao cidadão, os serviços públicos abandonados, a total ignorância nos setores de trânsito e obras, o descaso com a saúde, a propaganda na TV que nos chama de idiotas, a tudo isso e muito mais é dever nosso, como cidadãos unidos, apontar o dedo para o prefeito.

É dele, justamente, a culpa pela maldade no tratamento com os idosos desta cidade. Joinville é um fracasso no atendimento aos idosos. Na campanha o outro candidato prometeu um centro de convivência e atendimento no espaço ocioso da Arena. Cresce a olhos vistos a quantidade de casinhas que abrem as portas com a placa de “lar para idosos” - os famosos asilos, que só mudaram de nome. Joinville não escapa ao que acontece com o mundo: a sua população envelhece. E é abandonada.

Um problema social mais amplo do que a nossa pacata Colônia, é claro. Quando uma pessoa passa a depender dos outros, quando antes era quem provinha e ajudava, e não “serve” mais para nada – não trabalha, não contribui com a renda familiar (aposentadoria é pouca e gastos com remédios e etc. é maior), não pode mais cuidar dos filhos e netos, não pode mais lavar, passar e cozinhar – então ela é relegada ao limbo da espera pela morte. É isso o que acontece na maioria das famílias e nos “lares” onde ajuntam-se idosos aguardando o fim. Perdeu a serventia? Então pra que cuidar, dar conforto, fazê-los felizes e suprir-lhes as necessidades?

Este problema social e humano não é, ainda, suficientemente encarado de frente. Não basta o dia do idoso e seu estatuto. Falta-nos cidadania – e amor. Ninguém é acometido de graves doenças na velhice porque quer. Ninguém usa fralda porque quer. Ninguém é condenado a viver anos preso a uma cama porque quer. Ninguém perde a memória e o comando dos movimentos e necessidades mais básicos porque quer. E todos – sem exceção – são dignos de uma boa vida. Vale sempre lembrar: pode acontecer com todos nós.

Admira-me que o prefeito, sendo um idoso de 75 anos, seja a personificação da briga por tirar direitos constitucionais dos idosos joinvilenses. Novamente ele cria empecilhos para que idosos consigam, por exemplo, acesso à fraldas geriátricas. Não é a primeira vez, a cada golpe ele cria novas artimanhas para atrapalhar a vida de pessoas que estão em condições especiais e delicadas de saúde e de vida. Como espanta-se incredulamente minha mãe: como dorme alguém que faz isso?!

Famílias são orientadas a buscar a Justiça. Porém, sabemos que a muitos idosos e familiares não têm informação, tempo e condições de correr atrás de todos os seus direitos. Assim, a prefeitura sai ganhando: não é obrigada, pela Justiça, a fazer o que lhe compete. Infelizmente é esta a situação. Para quem não sabia, que fique claro: os idosos só conseguem seus direitos básicos recorrendo a outros meios. Estou no aguardo da defesa dos que dizem que nós só criticamos, por alguma infelicidade qualquer.

Ao mesmo tempo, a fiscalização ignora as condições dos muitos asilos que se espalham pela cidade. Faltam funcionários (é o principal problema) ou são contratados sem qualificação mínima, limitam horários de visita, a alimentação é precária (muito mesmo), donos e familiares dão a recomendação de não acionar os serviços de emergência quando necessário (como dorme alguém que faz isso?!), e tantos outros graves problemas. Além, é claro, das internações forçadas, que visam o dinheiro e os bens dos idosos internados – mais um indício, inclusive, da especulação imobiliária na cidade. Como dorme o prefeito que não quer dar fraldas a idosos? Como dorme um filho que interna a mãe num asilo porque quer sua polpuda aposentadoria e vender sua casa?

Como dormimos todos, sabendo de tudo isso – e do que nos espera no futuro?

3 comentários:

  1. Sobre a reclamação de funcionários públicos municipais, em Jaraguá eles estão pensando o mesmo do prefeito, motivo: recente uso de biometria no controle de presença.

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  2. Excelente artigo, ou texto, mais o prefeito considerado grande gestor, caiu na lona, ou melhor foi à nocaute, as verdades vão aparecendo, melhor suas mazelas, os grandes ricos, e poderosos da cidade apoiaram mais sua competência diminui e assim problemas vão aumentando, grande massa da população, principalmente de baixa renda, e terceira idade, cidade rica porém ficou miserável não muda uma virgula, era grande esta cada dia menor, em suas ações, são entrevistas pagas que vão e estão caindo por terra, nisso temos dinheiro, e quem quiser ter direito recorra justiça que nem sempre justa ao seu tempo, balança meio desnivelada, os velhos um dia foram novos, e ajudaram cidade, e contribuíram com desenvolvimento, a cidade esta morrendo junto terceira idade, gestão falida! Esperamos que população olhe cada um que vir 2018, propaganda linda, na tv e realidade ai esta para qualquer um ver!!! Abandono

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  3. Concordo contigo quando nos diz que falta amor, e lhe digo nunca faltou tanto. Mas para amar há duas necessidades : uma necessidade de amor próprio, se não esse amor vira ressentimento e a uma necessidade de entender o aspecto trágico da existência que possibilita a concretude do amor.
    O idoso é uma abundância de aspectos trágicos,e como não sabemos lidar com isso nem mais cuidar de gente, torna-se muito melhor colocar num antiquário de gente. Quem se depara todos os dias com esta situação percebe claramente isso. Vivemos na época do amor líquido segundo zigmunt Bauman,onde não existem mais relações duradouras,como as relações se tornassem um comércio. Mas como trocar os idosos e como responder a este problema com a total desagregação familiar? Depender do famigerado leviatã(estado)? Mas o estado não ama.

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